Wall Street como inimigo público nº 1
Em círculos veteranos de esquerda há conversas acerca da
necessidade de "educar" politicamente aqueles teimosamente sem
liderança, principalmente brancos jovens, que desde 17 de Setembro
fizeram do Parque Zuccotti, distrito financeiro em Manhattan, o centro da
esquerda estado-unidense.
Embora haja uma grande porção de tolos estilo hippie na
composição de Zuccotti a espécie de activismo que
parece mais aroma do que substância o núcleo é
constituído claramente por pessoas sérias e determinadas a acabar
com o domínio do "Um Por Cento". A fórmula 99% versus
1% é bastante poderosa, dirigindo a ira do povo contra a classe que
conduz seus negócios opressivos na Wall Street: os capitalistas
financeiros.
A equipe do
Occupy Wall Street
(OWS) identificou a besta no seu covil o que é um grande feito
nos Estados Unidos, país que
é o mais politicamente atrasado e confuso no mundo industrial devido ao
racismo endémico desde o seu nascimento o que sempre prejudicou o
crescimento de uma esquerda forte.
Os que acampam no Zuccotti Park estão anos-luz à frente dos
falsos radicais e "progressistas" que, aterrorizados pelo Tea Party e
os bufões republicanos candidatos à presidência, em breve
retornarão ao aprisco obamista na sua eterna busca do mal menor.
Uma vez que tantas das "velhas cabeças" da esquerda há
apenas uns poucos anos atrás colocaram-se ao serviço do candidato
presidencial da Wall Street um talentoso e atraente homem negro que se
tornaria de longe o mal mais efectivo ao facilitar o desmantelamento do New
Deal pode ser melhor que mantenham as suas classes de
educação política para si próprios.
Ao identificar o capital financeiro como o inimigo comum, os supostamente
"apolíticos" ocupantes do parque estão sob certos
aspectos mais avançados do que um bocado de sujeitos que se
auto-denominam socialistas científicos mas não chegaram a
enfrentar plenamente o que isso significa quando o capital financeiro
alcança hegemonia política absoluta uma realidade que
é central para determinar como o imperialismo estado-unidense finalmente
entrará em colapso.
COMO PIRANHAS
É uma classe [a do capital financeiro] que nada produz; que existe
unicamente através do ludíbrio, da coerção de
mercados e da destruição de tudo o que não possa ser
monetizado; que activamente suprime e faz guerra contra o potencial produtivo
humano, à escala mundial; e que se voltou agora, como piranhas, contra
as estruturas de estado que ela própria ajudou a construir na Europa e
na América do Norte.
O domínio político do capital financeiro é o jogo final.
Nas etapas iniciais da Grande Depressão, o barão da banca Andrew
Mellow pressionou o presidente Herbert Hoover a "liquidar o trabalho,
liquidar as acções, liquidar os agricultores, liquidar o
imobiliário" a fim de resolver a crise. Mellon não conseguiu
que os seus desejos fossem atendidos porque a classe capitalista financeira
ainda não exercia poder hegemónico na sociedade estado-unidense.
Ela agora o exerce.
Com todos os outros sectores capitalistas totalmente subservientes à
Wall Street incluindo os meios de comunicação de massa
eles estão a financiarizar o Estado, procurando converter muitos
dos seus componentes (Segurança Social, cuidados de saúde,
educação pública e muito mais) em centros de lucro e
descartando grande parte do resto. Isto é necessário, porque o
capital financeiro já não pode preservar-se de qualquer outro
modo.
No sector capitalista nada é deixado de pé para lhe resistir. Por
essa razão, não há Hoover, muito menos um Roosevelt, para
articular uma visão capitalista alternativa, um novo pacto, uma
"reforma" acomodatícia. O capital financeiro precipita-se em
frente, criando condições nas quais a sua própria
destruição iminente pode ser apenas temporariamente impedida pela
predação frenética da economia real e do próprio
Estado.
Os democratas de Obama e os seus sósias republicanos, cativos da
hegemonia, facilitam a pilhagem.
Viver na era da hegemonia capitalista financeira é diferente do tempo em
que Vladimir Lenine disse "os capitalistas lhe venderão a corda
para os enforcarem". Wall Street diariamente inventa e brinca com fogo com
a sua própria forma de dinheiro: derivativos que são
nocionalmente valorizados em US$600 milhões de milhões
(trillion)
a US$1000 milhões de milhões (ninguém realmente sabe),
muitas vezes o Produto Planetário Bruto da Terra.
O poder hegemónico das finanças está desconectado da
economia real, mas parasita-o. Ele não está no negócio de
vender ou fabricar cordas, ou qualquer outra coisa. Ele transforma o mundo em
capital, para alimentar o capital, para a transformação do
capital. Ele já não pode coexistir com a vida humana.
Portanto, a virtuosa demonização da Wall Street, a sede
simbólica e literal da classe que é a ameaça
primária à existência humana, é um belo lugar para
começar um movimento de massa. A relação 99% 1%
é uma vantagem encorajadora e um reflexo preciso da realidade.
"WALL STREET IS WAR STREET"
A ocupação da Freedom Plaza em Washington, DC, que começou
em 6 de Outubro, deveria exibir o governo nacional como o super-poder
serviçal do capital financeiro interno e internacional e Barack
Obama como o Serviçal-em-Chefe. O comício da United National
Anti-War Coalition (UNAC) em 15 de Outubro no acampamento OWS que assinala o
décimo aniversário da guerra estado-unidense ao
Afeganistão proclama que "Wall Street is War Street".
E a conferência nacional de 5 de Novembro da Black Is Back Coalition for
Social Justice, Peace, and Reparations, em Filadélfia, nos
recordará que a guerra europeia contra o resto do mundo começada
há mais de cinco séculos atrás ainda está a ser
travada em benefício de uma classe predatória cujo
endereço primário está exactamente junto ao Zuccotti Park.
05/Outubro/2011
Ver também:
Statement of Solidarity, Occupy Wall Street, Zucotti Park
http://occupywallst.org/
The Democratic Party: An Insidious Threat To the Occupy Wall Street Movement
[*]
Editor executivo de Black Agenda Report
O original encontra-se em
mltoday.com/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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