Todo o mundo ocidental vive em dissonância cognitiva
por Paul Craig Roberts
Neste artigo vou utilizar três das notícias actuais para ilustrar
a desconexão que permeia toda a mente ocidental.
Vamos começar com a questão da separação familiar.
A separação de filhos dos pais imigrantes/refugiados/asilados
provou tal protesto público que o presidente Trump recuou na sua
política e assinou uma ordem executiva terminando a
separação familiar.
O horror a crianças aprisionadas em armazéns operados por
negócios privados com lucros extraídos dos contribuintes
estado-unidenses, enquanto os pais são processados por entrada ilegal no
país, desperta do seu estupor mesmo americanos "excepcionais e
indispensáveis" satisfeitos consigo próprios. É um
mistério que o regime Trump opte por desacreditar sua política de
fiscalização de fronteiras com a separação de
famílias. Talvez a política pretendesse deter a
imigração ilegal enviando a mensagem de que se você vier
para a América os seus filhos lhe serão tomados.
A questão é: Como é que americanos podem ver e rejeitar
esta desumana política de controle de fronteiras e não ver a
desumanidade da destruição de famílias que tem sido o
resultado predominante da destruição por Washington, no todo ou
em parte, de sete ou oito países no século XXI.
Milhões de pessoas foram separadas das suas famílias pela morte
infligida por Washington e, durante quase duas décadas, os protestos
têm sido praticamente inexistentes. Nenhum clamor público travou
George W. Bush, Obama e Trump de actos clara e indiscutivelmente ilegais
definidos no direito internacional estabelecido pelos próprios EUA como
crimes de guerra contra os habitantes do Afeganistão, Iraque,
Líbia, Paquistão, Síria, Iémen e Somália.
Podemos acrescentar a isto um oitavo exemplo: Os ataques militares pelo estado
fantoche neo-nazi da Ucrânia, armado e apoiado pelos EUA, contra a
secessão de províncias russas.
As mortes maciças, destruição de cidades e infraestrutura,
a mutilação física e mental, a deslocação
que lançou milhões de refugiados a fugirem das guerras de
Washington para inundarem a Europa, onde os governos consistem de uma
colecção de palhaços idiotas que apoiarem os crimes de
guerra de Washington no Médio Oriente e Norte de África,
não produziram clamor comparável ao da política
imigratória de Trump.
Como é possível que americanos possam ver desumanidade na
separação de famílias por imposição do
organismo de imigração mas não nos crimes de guerra
maciços cometidos contra povos em oito países? Estaremos
nós a experimentar uma forma de psicose em massa de
dissonância cognitiva
?
Vamos agora ao segundo exemplo: a retirada de Washington do Conselho de
Direitos Humanos das Nações Unidas.
Em 2 de Novembro de 1917, duas décadas antes do holocausto
atribuído à Alemanha nacional-socialista, o secretário
britânico dos Negócios Estrangeiros, James Balfour, escreveu a
Lord Rothschild que a Grã-Bretanha apoiava tornar a Palestina uma
pátria judia. Por outras palavras, o corrupto Balfour descartava os
direitos e as vidas de milhões de palestinos que haviam ocupado a
Palestina durante dois milénios ou mais. O que eram estas pessoas em
comparação com o dinheiro de Rothschild? Elas eram nada para o
secretário britânico dos Negócios Estrangeiros.
A atitude de Balfour em relação aos direitos dos habitantes da
Palestina é a mesma atitude britânica em relação aos
povos em cada colónia ou território sobre o qual prevaleceu o
poder britânico. Washington aprendeu este hábito e tem-no
sistematicamente repetido.
Ainda outro dia a embaixadora de Trump na ONU, Nikki Haley, a enlouquecida e
insana cadelazinha de Israel, anunciou que Washington se havia retirado do
Conselho de Direitos Humanos da ONU devido a "um esgoto de viés
político" contra Israel.
O que fez o Conselho de Direitos Humanos da ONU para justificar esta
repreensão da agente de Israel, Nikki Haley? O Conselho de Direitos
Humanos denunciou a política de Israel de assassinar palestinos
médicos, crianças pequenas, mulheres, idosas e idosos, pais e
adolescentes.
Criticar Israel, não importa quão grande e óbvio seja o
seu crime, significa que você é um anti-semita e um "negador
do holocausto". Para Nikki Haley e Israel, isto coloca o Conselho de
Direitos Humanos da ONU nas fileiras dos nazis adoradores de Hitler.
O absurdo disto é óbvio, mas poucos, se é que algum, podem
detectá-lo. Sim, o resto do mundo, com a excepção de
Israel, denunciou a decisão de Washington, não só os
inimigos de Washington e do palestino como até os seus fantoches e
vassalos.
Para ver a desconexão é necessário prestar
atenção ao fraseamento das denúncias de Washington.
Um porta-voz da União Europeia disse que a retirada de Washington do
Conselho de Direitos Humanos da ONU "arrisca minar o papel dos EUA como um
campeão e apoiante da democracia na cena mundial". Pode
alguém imaginar uma declaração mais imbecil? Washington
é conhecida como um apoiante de ditadura que aderem à sua
vontade. Washington é conhecida como uma destruidora de toda democracia
latino-americana que tenha eleito um presidente que representasse o povo do
país e não os bancos de Nova York, os interesses comerciais dos
EUA e a política externa estado-unidense.
Mencione um lugar onde Washington tenha sido um apoiante da democracia.
Só para falar dos anos mais recentes, o regime Obama derrubou o governo
democraticamente eleito de Honduras e impôs ali o seu fantoche. O regime
Obama derrubou o governo democraticamente eleito na Ucrânia e impôs
ali um regime neo-nazi. Washington derrubou os governos na Argentina e no
Brasil, está a tentar derrubar o governo da Venezuela e tem a
Bolívia na sua alça da mira, juntamente com a Rússia e o
Irão.
Margot Wallstrom, ministra sueca dos Negócios Estrangeiros, disse:
"Entristece-me que os EUA tenham decidido retirar-se do Conselho de
Direitos Humanos da ONU. Ela vem num momento em que o mundo precisa de mais
direitos humanos e uma ONU mais forte não o oposto". Por que
razão Wallstrom pensa que a presença de Washington, um conhecido
destruidor de direitos humanos basta perguntar aos milhões de
refugiados dos crimes de guerra de Washington que inundam a Europa e a
Suécia fortaleceria ao invés de minar o Conselho? A
desconexão de Wallstrom é estarrecedora. Ela é tão
extrema que se torna inacreditável.
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Julie Bishop,
falou como o mais bajulador de todos os vassalos de Washington quando disse
estar preocupada com o "viés anti-Israel" do Conselho de
Direitos Humanos da ONU. Aqui temos uma pessoa com o cérebro lavado
tão absolutamente que é incapaz de se conectar a qualquer coisa
real.
O terceiro exemplo é a "guerra comercial" que Trump
lançou contra a China. A afirmação do regime de Trump
é que devido a práticas injustas a China tem um excedente
comercial contra os EUA de aproximadamente US$400 mil milhões. Esta
vasta soma supostamente deve-se a "práticas injustas" por
parte da China. Nos factos reais, o défice comercial com a China deve-se
à Apple, Nike, Levi e ao grande número de
corporações dos EUA que deslocalizaram na China a
produção das mercadorias que vendem aos americanos. Quando a
produção deslocalizada de corporações
estado-unidenses entra nos EUA elas são contadas como
importações.
Tenho apontado isto durante muitos anos, remontando mesmo ao meu testemunho
perante a Comissão China do Congresso dos EUA. Tenho escrito numerosos
artigos publicados por quase toda a parte. Eles estão resumidos no meu
livro de 2013,
The Failure of Laissez Faire Capitalism
.
Os media financeiros presstitutos, os lobistas corporativos, os quais incluem
muitos economistas académicos com "nome", e os
miseráveis políticos americanos cujo intelecto é quase
não-existente são incapazes de reconhecer que o défice
comercial maciço dos EUA é o resultado da
deslocalização de empregos. Este é o nível da
estupidez absoluta que domina a América.
Em
The Failure of Laissez Faire Capitalism,
revelo o erro extraordinário de Matthew J. Slaughter, membro do
Conselho de Assessores Económicos de George W. Bush, o qual de modo
incompetente afirmou que para cada emprego estado-unidense deslocalizado seriam
criados dois empregos nos EUA. Também revelei como uma farsa um
"estudo" do professor Michael Porter da Universidade de Harvard feito
para o chamado Conselho sobre Competitividade, um grupo de lobby para a
deslocalização, o qual fabricou a afirmação
extraordinária de que a força de trabalho dos EUA estava a
beneficiar-se com a deslocalização dos seus empregos de alta
produtividade e alto valor acrescentado.
Os idiotas economistas americanos, os idiota media financeiros americanos e os
idiotas responsáveis políticos americanos ainda não
compreenderam que a deslocalização de empregos destruiu
perspectivas económicas da América e empurrou a China para o
primeiro plano 45 anos à frente das expectativas de Washington.
Para resumir isto, a mentalidade ocidental e as mentalidades dos russos
atlantistas-integracionistas e da juventude chinesa pró americana,
estão tão cheias de insensatez propagandista que já
não há conexão com a realidade.
Há o mundo real e há o mundo propagandístico inventado que
encobre o mundo real e serve interesses especiais. Minha tarefa é fazer
com que o povo saia do mundo inventado e entre no mundo real. Apoio meus
esforços.
21/Junho/2018
Ver também:
Trump aims to dismantle protections for immigrant kids and radically expand the family detention system
The war on immigrantes
O original encontra-se em
www.paulcraigroberts.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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