Wall Street contra os pobres e a classe média:
O orçamento 2012 de Obama é uma ferramenta da guerra de classe
por Paul Craig Roberts
[*]
O novo orçamento de Obama é uma continuação da
guerra de classe da Wall Street contra os pobres e as camadas médias.
A Wall Street não acabou connosco quando os banksters venderam os seus
derivativos fraudulentos aos nossos fundos de pensão, arruinaram as
perspectivas de empregos e planos de aposentação dos americanos,
asseguraram um salvamento de US$700 mil milhões a expensas dos
contribuintes enquanto arrestavam os lares de milhões de americanos e
sobrecarregavam o balanço da Reserva Federal com vários
milhões de milhões de dólares papel financeiro lixo em
troca de dinheiro recem criado para escorar os balanços dos bancos.
O efeito da "facilidade quantitativa" da Reserva Federal sobre a
inflação, as taxas de juro e o valor cambial do dólar
ainda está para nos atingir. Quando o fizer, os americanos
obterão uma lição do que é a pobreza.
As oligarquias dominantes atacaram novamente, desta vez através do
orçamento federal. O governo dos EUA tem um enorme orçamento
militar e de segurança. Ele é tão grande quanto os
orçamentos do resto do mundo somados. Os orçamentos do
Pentágono, da CIA e da Segurança Interna representam US$1,1
milhão de milhões do défice federal que a
administração Obama prevê para o ano fiscal de 2012. Este
gasto deficitário maciço serve apenas a um único
propósito o enriquecimento de companhias privadas que servem o
complexo militar/securitário. Estas companhias, juntamente com aquelas
da Wall Street, são quem elege o governo dos EUA.
Os EUA não têm inimigos excepto aqueles que os próprios EUA
criam ao bombardearem e invadirem outros países e pelo derrube de
líderes estrangeiros e instalação de fantoches americanos
no seu lugar.
A China não efectua exercícios navais ao largo da costa da
Califórnia, mas os EUA efectuam jogos de guerra junto às suas
costas no Mar da China. A Rússia não concentra tropas nas
fronteiras da Europa, os EUA instalam mísseis nas fronteiras da
Rússia. Os EUA estão determinados a criar tantos inimigos quanto
possível a fim de continuar a sangrar a população
americana para alimentar o voraz complexo militar/securitário.
O governo dos EUA gasta realmente US$56 mil milhões por ano a fim de que
os americanos que viajam de avião possam ser porno-rastreados e
sexualmente tacteados de modo a que firmas representadas pelo antigo
secretário da Segurança Interna Michael Chertoff possam ganhar
grandes lucros vendendo o equipamento de rastreamento
(scanning).
Com um défice orçamental perpétuo conduzido pelo desejo de
lucros do complexo militar/securitário, a causa real do enorme
défice do orçamento dos EUA está fora dos limites para
discussão.
O secretário belicista da Guerra, Robert Gates, declarou: "Se
evitarmos as nossas responsabilidades da segurança global é sob o
nosso risco". As altas patentes militares advertem contra o corte de
qualquer dos milhares de milhões de ajuda a Israel e ao Egipto, dois dos
funcionários da sua "política" para o Médio
Oriente.
Mas o que são as "nossas" responsabilidades globais de
segurança? De onde vieram? Por que a América ficaria em perigo se
cessasse de bombardear e invadir outros países e de interferir nos seus
assuntos internos? Os riscos que a América enfrenta são criados
por ela própria.
A resposta a esta pergunta costumava ser que do contrário
seríamos assassinados nas nossas camas pela
"conspiração comunista mundial". Hoje a resposta
é que seremos assassinados nos nossos aviões,
estações de comboios e centros comerciais por "terroristas
muçulmanos" e por uma recem criada ameaça imaginária
"extremistas internos", isto é, manifestantes contra a
guerra e ambientalistas.
O complexo militar/securitário dos EUA é capaz de criar qualquer
número de invencionices
(false flag)
a fim de fazer com que estas ameaças pareçam reais para um
público cuja inteligência é limitada à TV,
experiências em centros comerciais e jogos de futebol.
Assim os americanos estão fincados em enormes défices
orçamentais que a Reserva Federal deve financiar imprimindo dinheiro
novo, dinheiro que mais cedo ou mais tarde destruirá o poder de compra
do dólar e o seu papel como divisa de reserva mundial. Quando o
dólar se for, o poder americano também irá.
Para as oligarquias dominantes, a questão é: como salvar o seu
poder.
A sua resposta é: fazer o povo pagar.
E isso é o que o seu mais recente fantoche, o presidente Obama,
está a fazer.
Com os EUA na pior recessão desde a Grande Depressão, uma grande
recessão que John Williams e Gerald Celente, assim como eu
próprio, afirmaram estar a aprofundar-se, o "orçamento
Obama" tem como objectivo programas de apoio para os pobres e os
desempregados. As elites americanas estão a transformar-se em idiotas
quando procuram replicar na América as condições que
levaram aos derrubes de elites analogamente corruptas na Tunísia e no
Egipto e a desafios crescentes aos demais governos fantoches.
Tudo o que precisamos é de uns poucos milhões mais de americanos
sem nada a perder a fim de trazer as perturbações no Médio
Oriente para dentro da América.
Com os militares estado-unidenses atolados em guerras lá fora, uma
revolução americana teria óptima oportunidade de
êxito.
Políticos americanos têm de financiar Israel pois o dinheiro
retorna em contribuições de campanha.
O governo dos EUA deve financiar os militares egípcios para haver alguma
esperança de transformar o próximo governo egípcio em
outro fantoche americano que servirá Israel pelo bloqueio
contínuo dos palestinos arrebanhados no gueto de Gaza.
Estes objectivos são de longe mais importantes para a elite americana do
que o
Pell Grants
que permite a americanos pobres obterem educação, ou água
limpa, ou
block grants
comunitários, ou o programa de assistência em energia aos baixos
rendimentos (cortado na mesma quantia em que os contribuintes americanos
são forçados a dar a Israel).
Também há US$7.700 milhões de cortes no
Medicaid
e outros programas de saúde ao longo dos próximos cinco anos.
Dada a magnitude do défice orçamental dos EUA, estas somas
são uma ninharia. Os cortes não terão qualquer efeito
sobre as necessidades de financiamento do Tesouro. Eles não
interromperão a necessidade de imprimir dinheiro do Federal Reserve a
fim de manter o governo dos EUA em operação.
Estes cortes servem apenas uma finalidade: reforçar o mito do Partido
Republicano de que a América está em perturbação
económica por causa dos pobres. Os pobres são preguiçosos.
Eles não querem trabalhar. A única razão porque o
desemprego é alto é que os pobres preferem confiar no estado
previdência.
Um novo acréscimo ao mito do estado previdência é que
membros da classe média saídos recentemente de faculdades
não querem os empregos que lhes são oferecidos porque os seus
pais têm demasiado dinheiro e os rapazes gostam de viver em casa sem
terem de fazer nada. Uma geração mimada, eles saem da
universidade recusando qualquer emprego que não seja para começar
como executivo principal de uma companhia da Fortune 500. A razão porque
licenciados em engenharia não conseguem entrevistas de emprego é
que não os querem.
Tudo isto leva a um assalto aos "direitos adquiridos", o que
significa Segurança Social e Medicare. As elites programaram,
através do seu controle dos media, uma grande parte da
população, especialmente os que se consideram conservadores, a
assimilar o conceito de "direitos adquiridos" ao de estado
previdência. A América está a ir para o inferno não
por causa de guerras externas que não servem qualquer objectivo
americano, mas porque o povo, que durante toda a sua vida pagou 15% das suas
remunerações para pensões de velhice e cuidados
médicos, quer "dádivas" nos seus anos de
aposentação. Por que estas pessoas egocêntricas pensam que
trabalhadores americanos deveriam ser forçados através de
contribuições sobre remunerações a pagar as
pensões e cuidados médicos dos afastados do trabalho? Porque os
afastados não consomem menos e preparam a sua própria
aposentação?
A linha da elite, e a dos seus porta-vozes contratados em "think
tanks" e universidades, é de que a América está
perturbada devido aos afastados do trabalho.
Demasiados americanos tiveram os seus cérebros lavados a fim de
acreditar que a América está em perturbação por
causa dos seus pobres e afastados do trabalho. A América não
está perturbada porque coage um número decrescente de
contribuintes a suportarem os enormes lucros do complexo
militar/securitário, governos fantoche americanos lá fora e
Israel.
A solução da elite americana para os problemas da América
não é simplesmente arrestar as casas dos americanos cujos
empregos foram exportados, mas aumentar o número de americanos aflitos
com nada a perder, de doentes, afastados do trabalho e privados de tudo e de
licenciados das universidades que não podem encontrar os empregos que
foram enviados para a China e a Índia.
De todos os países do mundo, nenhum necessita uma
revolução tão urgentemente quanto os Estados Unidos, um
país dominado por um punhado de oligarcas egoístas que têm
mais rendimento e riqueza do que pode ser gasto durante toda uma vida.
Ver também:
Obama's Budget is a Fantastic Comedy
[*]
Ex-editor do
Wall Street Journal
e ex-secretário assistente do Tesouro dos
EUA. Seu livro mais recente,
HOW THE ECONOMY WAS LOST
, acaba de ser publicado pela CounterPunch/AK Press.
PaulCraigRoberts@yahoo.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/roberts02182011.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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