Prisões secretas estado-unidenses: 17 Guantanamos flutuantes
por Fausto Della Porta
Não uma, mas sim 17 Guantanamos: com prisioneiros encerrados não
em uma ilha mas sim em 17 navios de guerra. A denúncia provém da
ONG Reprieve, segundo a qual navios da US Navy seriam utilizados como
prisões para deter, interrogar com métodos próximos
da tortura e deslocar pelo mundo uma parte dos prisioneiros capturados
durante a "guerra ao terror". Washington desmentiu imediatamente o
relatório.
A utilização de navios prisão teria começado no fim
de 2001 (no princípio da campanha contra o Afeganistão dos
talibans). O relatório da
Reprieve
será publicado nos próximos dias mas foi antecipado pelo jornal
britânico
Guardian.
Nestas últimas semanas já fora questionada a possibilidade de os
EUA utilizarem navios de guerra em deslocação para esconder
detidos ilegais. Segundo os elementos recolhidos por aquela ONG, pelo menos
200 casos de
rendition
transferências ilegais nas prisões secretas deslocalizadas
em países onde é possível praticar a tortura
ter-se-iam verificado desde 2006. Contudo, há dois anos, o presidente
Georges Bush havia assegurado que tais práticas haviam acabado. Clive
Stafford Smith, o responsável jurídico da Reprieve, declarou ao
Guardian
que os Estados Unidos "escolheram os barcos a fim de manter as suas
malfeitorias longe dos olhos dos media e dos advogados das
associações humanitárias; mas no fim conseguiremos reunir
todos estes detidos fantasmas e fazer valer os seus direitos". "Os
Estados Unidos prossegue Smith detêm neste momento,
conforme a sua própria confissão, 26 mil pessoas nas suas
prisões secretas, mas as nossas estimativas são de que pelo menos
80 mil, a partir de 2001, passaram na engrenagem do sistema. Já
é tempo de a administração dos EUA mostrar um empenhamento
concreto pelo respeito dos direitos humanos". Dentre os numerosos
testemunhos recolhidos nos documentos da ONG britânica pode-se ler aquele
de um prisioneiro de Guantanamo (onde cerca de 300 muçulmanos permanecem
prisioneiros em regime de detenção administrativa, sem
acusações formais contra si) que relata a experiência de um
dos seus vizinhos de gaiola: "Ele me conta que eram uns cinquenta neste
navio, encerrados no fundo do porão, e que eram mais espancados do que
em Guantanamo".
O relatório suspeita, além disso, que certos prisioneiros
fantasmas hajam transitado por estruturas da base militar de Diego Garcia, no
Oceano Índico. Isto coincidiria com o reconhecimento parcial do
ministro dos Negócios Estrangeiros de Londres, David Miliband, que em
Fevereiro último havia dito que dois aviões estado-unidenses em
missão do tipo
"rendition"
haviam feito escala nesta base. "Passo a passo comentou Andrew
Tyrie, presidente da Comissão parlamentar sobre as missões
tortura a verdade sobre as
"renditions"
vem à luz: não é senão uma questão de
tempo. O governo faria melhor se esclarecesse isso imediatamente.
Um porta-voz da Marinha militar estado-unidense, entretanto, desmentiu as
conclusões da Reprieve. "Não há prisões
americanas" disse o comandante Jeffrey Gordon ao
Guardian.
Mas doravante é um facto estabelecido que as missões-tortura
estado-unidenses foram consolidadas e são prática comum: bases
secretas da CIA diz o Guardian operavam na Roménia,
Polónia, Tailândia e Afeganistão. "Todas estas bases
secretas fazem parte de uma rede global na qual as pessoas são detidas
indefinidamente, sem que sejam formalizadas peças de
acusação, e são submetidas à tortura em
violação total da Convenção de Genebra e da Carta
dos Direitos do Homem da ONU", disse Ben Griffin, ex-membro das
forças especiais britânicas. Griffin foi a seguir reduzido ao
silêncio pelo ministro da Defesa que obteve, contra si, uma
notificação para comparecer a tribunal.
11/Junho/2008
O original encontra-se em
il manifesto
, 03/Junho/2008
A versão em francês encontra-se em
http://www.legrandsoir.info/spip.php?article6779
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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