Guerra imperialista no século XXI
Nenhuma análise ao imperialismo estaria completa sem a discussão
da tendência sistemática do imperialismo na direcção
da guerra. O carácter guerreiro do imperialismo e a sua
dependência do militarismo podem mesmo criar uma crise social profunda e
instabilidade nos Estados Unidos. Portanto, é importante discutir
algumas das características salientes do militarismo imperial ao longo
dos últimos 130 anos.
Três fases da guerra imperialista
Os poderes imperialistas envolveram-se em constantes guerras de agressão
desde que o monopólio se tornou a força dominante no mundo
capitalista. As guerras têm sido travadas por quase todos os poderes
imperialistas, qualquer que seja a sua administração
política: democrática liberal ou conservadora, social
democrática, monarquista ou fascista.
O período de guerras imperialistas começou com a guerra de 1898,
conhecida como a Guerra Hispano-Americana, na qual os EUA capturaram as
Filipinas, Cuba e Porto Rico. Desde então têm havido guerras
imperialistas incessantemente, com milhões de mortos e
destruição incalculável. A pulsão permanente para a
guerra tem persistido de formas diferentes através de períodos
históricos diversos: primeiro, o período de guerras
inter-imperialistas desde 1898 até 1946; depois o período de
guerra entre os campos socialista e imperialista; e finalmente, a guerra para a
reconquista do globo iniciada com a queda da União Soviética.
Guerra para redividir o mundo
Na sua obra
Imperialismo,
Lenine notou que a principal característica do imperialismo era a
divisão completa do globo em colónias e "esferas de
influência", provocando a luta permanente para dividir e redividir o
globo. Os conflitos militares entre os imperialistas pelas esferas de
influência predominaram até ao fim da Segunda Guerra Mundial que
foi, de vários modos, a continuação a uma escala superior
da Primeira Guerra Mundial. Nesta primeira, os imperialistas alemães
tinham perdido as suas colónias em África para os
britânicos. A Grã-Bretanha e a França tinham também
dividido o Império Otomano no Médio Oriente.
Na Segunda Guerra Mundial o imperialismo germânico tentou novamente
impor-se no palco mundial, desta vez numa aliança chamada o Eixo, com
imperialistas japoneses e italianos. O Eixo foi decisivamente derrotado, mas a
Grã-Bretanha e a França também saíram exaustas da
guerra. A questão de quem continuaria a dominar o campo imperialista
questão de fundo nas duas grandes guerras ficou finalmente
decidida quando os EUA emergiram como o poder imperialista proeminente. Ficou a
seu cargo a reorganização dos seus rivais capitalistas e de todo
o mundo capitalista sob o seu domínio.
Guerra entre os campos socialista e imperialista
Durante a 2ª Guerra Mundial, a URSS sobreviveu não apenas a uma
invasão massiva do imperialismo alemão mas continuando até
derrotar os exércitos fascistas nazis, embora com elevados custos. Na
China, os comunistas construíram um exército de trabalhadores e
agricultores para resistir à invasão do imperialismo
japonês. Após a guerra, a luta continuou numa base de classes
contra os proprietários e os capitalistas aliados aos imperialistas
a chamada burguesia compradora. Quando a Revolução Chinesa
triunfou em 1949 e a China se tornou aliada da URSS e da Europa de Leste,
emergiu um campo socialista que consistia em quase um terço da
população mundial.
Triunfante, o imperialismo nuclear dos EUA pôs fim a um período de
50 anos de guerras inter-imperialistas quando mobilizou as forças do
capitalismo mundial num luta total para conter a expansão do campo
socialista e das lutas nacionalistas de libertação na
África, Ásia e América Latina, que ameaçavam
derrubar o domínio colonial e neocolonial.
Os EUA visavam eventualmente destruir as forças do socialismo e de
libertação e a velha força condutora da guerra, de
divisão inter-imperialista do globo, foi relegada para segundo plano
pela luta entre os dois campos representando dois sistemas sociais
irreconciliáveis o socialismo e o capitalismo. A Guerra da
Coreia, a Guerra do Vietname, os financiamentos da CIA contra os movimentos de
libertação em Angola, Moçambique, Nicarágua e El
Salvador, a invasão da "Baía dos Porcos" em Cuba, e
muitos outros conflitos fizeram parte da luta imperialista global contra o
socialismo e a libertação nacional. A Guerra Fria, que foi na
realidade uma guerra de classes, tornou-se em muitas guerras quentes e
pequenas, com a ameaça de uma guerra mundial sempre à espreita,
sob a bandeira do anticomunismo.
Guerra da reconquista global
O período que se seguiu ao colapso da USSR em 1991, em vez de trazer uma
nova época de paz, como grande parte do mundo esperava, viu a
imparável pulsão imperialista ressurgir novamente na forma de
luta para reconquistar os territórios previamente perdidos na era das
revoluções socialistas e de libertações
nacionalistas. A burguesia estava determinada a prevenir outros países
de se libertarem do imperialismo.
Antes da Revolução Bolchevique, como disse Lenine, quase todo o
globo estava sob o domínio directo ou indirecto de um poder
imperialista. Desde a criação de União Soviética, o
capitalismo perdeu o seu poder sobre um sexto da superfície do planeta.
A esfera geográfica de domínio imperialista contraiu-se
constantemente durante 74 anos, inicialmente na Europa e Ásia, mas
também no Médio Oriente, África e América Latina. O
período após o colapso da URSS foi a primeira vez que o
imperialismo se expandiu geograficamente desde a chamada divisão de
África no final do século XIX.
Tal não significa que as guerras inter-imperialistas estejam agora
permanentemente riscadas do mapa. Sob relações de forças
alteradas, outros imperialistas não hesitariam em desafiar Washington. O
desenvolvimento díspar dos poderes imperialistas, em particular a
crescente força da Alemanha e Japão em relação ao
capitalismo dos EUA é um factor adicional de motivação
para o Pentágono usar a força militar para intimidar os seus
rivais, para mostrar quem é o chefe e para assegurar que os
imperialistas estado-unidenses ficam com a maior fatia do saque como,
por exemplo, no ataque da NATO à Jugoslávia, liderado pelos EUA.
Mas num futuro previsível, o domínio militar da classe dominante
dos EUA parece inquestionável na esfera militar. Assim, a luta
inter-imperialista vê-se confinada às esferas económica e
diplomática. Se os imperialistas europeus e japoneses procuram melhorar
as suas forças militares actualmente, não é com o
propósito de desafiar o Pentágono militarmente, mas apenas para
ganhar alguma capacidade independente de participar na reconquista do mundo sem
ter de depender tanto de Washington.
'Mudança de regime' de Clinton a Bush
A nova orientação do instinto de guerra imperialista na
direcção da reconquista não começou apenas nas
mentes de George W. Bush e os chamados
neocons,
Foi inicialmente codificada pela administração Clinton em
relação ao Iraque. De facto, o termo "mudança de
regime" foi pela primeira vez introduzido na lei em 1998 sob
pressão da direita. Uma mudança de regime no Iraque foi
explicitamente exigida numa carta de 1998 assinada por, entre outros, Donald
Rumsfeld e Paul Wolfowitz. Foi então levada à prática pela
administração Clinton com sanções e com
bombardeamentos contra o Iraque e uma guerra aérea não provocada
e sem misericórdia contra a Jugoslávia, o último
país semi-independente na Europa Central e do Sul, que havia retido
elementos do socialismo após a era do presidente Tito.
O conceito de mudança de regime foi expandido pela
administração Bush na sua doutrina de "Estratégia de
Segurança Nacional" de Setembro de 2002, generalizando o direito do
imperialismo dos EUA impor "mudanças de regime" e
começar as chamadas "guerras preventivas". Bush identificou
claramente o Iraque, o Irão e a República Democrática da
Coreia no seu infame discurso sobre o "Eixo do Mal".
Embora não tenha apontado explicitamente Cuba no seu discurso, a
administração Bush fez tudo que podia para derrubar o seu governo
e restabelecer o velho regime colonialista. Também usou medidas
subversivas contra a Venezuela, a Bolívia, o Equador e outros governos
que procuravam libertar-se do imperialismo.
A "Revisão da Postura Nuclear"
(Nuclear Posture Review)
de Bush anunciou a adopção pela primeira vez da política
do "primeiro ataque nuclear", revendo a doutrina dos militares
estado-unidenses para integrar ataques tácticos nucleares em campos de
batalha, juntamente com armas convencionais. Junto com a mudança de
doutrina, Bush mandou marcar sete países como potenciais alvos de
ataques nucleares.
Ao mesmo tempo, de forma menos publicitada, o Pentágono também
começou a modernização das suas forças de ataque na
região do Pacífico construindo um sistema anti-míssil
regional. Também construía bases na Ásia Central, no
flanco Sul da Rússia e da China, deslocando forças da Europa
Ocidental para a Europa de Leste e Balcãs.
Vale a pena notar que em Março de 1992, após o colapso da URSS e
no fim da administração Bush I, um documento interno do
Departamento de Defesa chamado "Guia de Planeamento de Defesa"
declarou a intenção do imperialismo dos EUA de dominar o mundo e
avisou que nenhum poder ou combinação de poderes poderia alguma
vez pensar desafiar Washington ou o Pentágono. Foi escrito por Paul
Wolfowitz, Dick Cheney e "Scooter" Libby, que mais tarde foi
condenado no caso envolvendo a agente da CIA Valeria Plame. Os três
homens avalizaram o documento.
Partes deste documento chegaram ao
New York Times,
mas o documento completo nunca foi tornado público. Durante as
seguintes administrações de Bill Clinton e George W. Bush,
ocorreu uma evolução significativa da estratégia expansiva
de imperialismo dos EUA de um domínio estático para a
reconquista activa, isto é, "mudança de regime".
Os slogans reaccionários da era da reconquista têm sido modelados
para cativar as massas nesta era pós-soviética: "a guerra
contra o terrorismo", a necessidade de eliminar e prevenir "armas de
destruição em massa", a campanha para "espalhar a
democracia" e para "acabar com a tirania", etc
e
estão a ser tomados por todos os media capitalistas e pelos
políticos no poder como slogans gerais para a época. Já
circulavam antes do 11 de Setembro, mas assumiram força total desde
então.
Tais slogans, claro, são dirigidos contra os governos de países
que se afastaram do imperialismo no último século ou contra
movimentos e países que estejam a lutar pela sua
libertação. Esta ofensiva ideológica na era da reconquista
é o equivalente à cruzada anticomunista na era da Guerra Fria. Os
gritos de "comunismo maldito," etc, eram uma cortina de fumo para a
tentativa de incendiar preconceitos e esconder o carácter de luta de
classe entre os dois campos do socialismo e imperialismo.
Quando a URSS, a República Democrática Alemã e a Europa de
Leste entraram em colapso, o imperialismo reconquistou o acesso a mais de um
quinto do globo. Os poderes imperialistas também ficaram com
rédea solta para explorar muitos países burgueses
semi-independentes, que se tinham apoiado na URSS e no campo socialista para
resistir às agressivas tentativas de penetração
neocolonialista pelo imperialismo. No entanto, ainda havia
porções significativas do globo fora do domínio do
imperialismo. Washington desde então pôs como prioridade a
reconquista destas partes do mundo que ainda têm qualquer forma de
independência e que possam constituir um obstáculo ao
avanço do capital monopolista.
Assim, apesar da forma do impulso de guerra imperialista ter mudado com o
tempo, adaptando-se às novas situações no mundo e
às novas relações de forças à escala global,
a natureza fundamental do impulso explicada por Lenine é tão
verdade hoje como o era no seu tempo. O seu objectivo é assegurar e
expandir os lucros do capital monopolista, cuja pulsão para acumular
capital é incontrolável.
Colossos com pés de barro
Ao planear a guerra com o Iraque, o então secretário da Defesa
Donald Rumsfeld desenvolveu a doutrina que reflectia a sua visão militar
em apoio ao documento da "Estratégia Nacional de
Segurança" de 2002, a doutrina estratégica de reconquista
que foi exposta publicamente por Bush. A doutrina Rumsfeld foi testada no
Iraque mas faz parte de uma estratégia global e planeamento para uma
"transformação militar" promulgada à partida
pela administração Bush. A sua essência era usar a
combinação de sistemas de direccionamento de alta tecnologia da
terra, mar, ar e espaço para coordenar ataques altamente letais e
precisos que criassem "choque e espanto" o suficiente para derrubar
ou ferir de morte um regime. Apoiava-se também em forças
terrestres com números limitados, dando ênfase a forças
especiais altamente treinadas que fossem rapidamente enviadas por todo o globo
para consumar a conquista.
Tendo isto em vista, esta doutrina foi feita à medida para demonstrar
que o imperialismo dos EUA tem a capacidade para empreender a sua campanha de
reconquista. A doutrina Rumsfeld tentou conscientemente ultrapassar o ponto
fraco fatal do imperialismo estado-unidense como lidar com as massas em
casa e no estrangeiro concentrando-se no que considerava serem os seus
pontos mais fortes: alta tecnologia e poder militar avassalador.
Vendo as consequências desastrosas no Iraque e o falhanço redondo
do Pentágono para antecipar uma resistência sustentada e poderosa
à ocupação pelos EUA, esta doutrina pode parecer agora
ter-se baseado numa ilusão. Mas tinha um propósito claro do ponto
vista da estratégia imperialista. Foi usada para tentar mostrar que os
militares estado-unidenses, usando alta tecnologia, elevado poder de fogo
explosivo e forças terrestres em número reduzido, poderiam
conquistar o mundo deitando abaixo regimes que se lhe opusessem sem terem de
recorrer ao recrutamento militar obrigatório a
conscrição. O seu objectivo era conseguir a conquista
imperialista no exterior mantendo a estabilidade social em casa.
O falhanço da doutrina Rumsfeld em face da resistência iraquiana
confirma a caracterização do imperialismo que Lenine fez durante
a luta dos bolcheviques para se manterem no poder. Em Outubro de 1919, Lenine
abordou o assunto da marcha da guerra contra os exércitos imperialistas
de intervenção e as forças contra-revolucionárias
internas cercando a revolução por todos os lados:
A vitória numa guerra vai para o lado cujos membros sejam mais
numerosos, tenham maiores reservas de força e maior resiliência.
Nós temos mais de todas estas qualidades que os Brancos, mais que o
"todo-poderoso" imperialismo anglo-francês, esse colosso com
pés de barro. Nós temos mais gente que eles porque podemos
recrutar, e por um longo tempo poderemos continuar a recrutar, mais e mais
profundamente, de entre os trabalhadores e agricultores, essas classes que eram
oprimidas pelo capitalismo e que por todo o lado formam uma avassaladora
maioria da população
Os nossos inimigos, quer sejam russos ou a burguesia mundial, não
têm nada que se assemelhe sequer a estas reservas; o chão cede
cada vez mais sob os seus pés; estão a ser abandonados por
números cada vez maiores dos seus anteriores apoiantes entre
trabalhadores e agricultores.
A doutrina Rumsfeld foi formulada precisamente para minimizar o papel das
massas. Ela mostra que apesar de Bush, Cheney e Rumsfeld (e agora os seus
sucessores no Pentágono), terem subestimado o papel do povo, a sua
estratégia não obstante procurava fazer tudo militar e
tecnologicamente possível para circundar o problema da resistência
aos recrutamentos em casa e uma guerra mais extensa no Iraque,
Afeganistão e outros.
No Iraque, as coisas acabaram exactamente como Lenine previa. A
resistência, apesar de confrontada com poder de fogo
inultrapassável, com dezenas de milhares dos seus apanhados e
aprisionados, milhares de mortos e apesar de estar dividida em várias
facções, apoiou-se fortemente nas massas iraquianas enquanto a
força invasora dos EUA começa a ficar exausta e "o
chão começava mais e mais a ceder sob os seus pés".
Quando o fumo se dissipar no Iraque, ou talvez antes, os imperialistas
terão de voltar à mesa de planeamentos. Washington e o
Pentágono terão de recalcular a sua abordagem militar.
A questão que o movimento contra a guerra enfrenta é o seguinte:
Será que a classe dirigente, vendo a sua vulnerabilidade no Iraque,
Afeganistão e Irão, declarará que as suas
ambições estão além dos seus recursos e
retirar-se-á para um modo menos beligerante e menos expansivo? Ou
orientar-se-á ainda mais na direcção do aventureirismo
militar?
O confronto em desenvolvimento com o Irão é o caso em
questão. O Pentágono está atolado no Iraque e no
Afeganistão. A administração Bush e os seus principais
estrategas militares foram humilhados. O grande, "todo-poderoso"
colosso, para usar o termo de Lenine, foi mantido à distância. A
administração Bush está agora na posição de
ter de restaurar o estatuto de superpotência invencível de
Washington.
Assim, há constantes conversas de ataques nucleares a países em
desenvolvimento sem capacidades nucleares como o Irão, que nem sequer
está em guerra com os EUA. Uma perspectiva tão horrenda, caso
tivesse sido contemplada durante a era soviética, nunca poderia ter sido
sequer sussurrada em público. (Foi revelado após a Guerra do
Vietname que Henry Kissinger, o secretário de Estado de Nixon,
ameaçou os vietnamitas com ataques nucleares várias vezes durante
as negociações de "paz". Mas tal façanha nunca
foi trazida à luz do dia na altura.)
Se os EUA usarão efectivamente armas nucleares ou levarão a cabo
ataques militares não provocados contra o Irão é algo que
não se sabe. Mas o facto de o Pentágono andar a acenar com
ameaças nucleares é não só um sinal de loucura
militar como de desespero e, em última análise, de fraqueza
estratégica na sua luta para reconquistar o mundo.
Paz, um interlúdio entre guerras
Uma das principais teses do Leninismo é que a guerra na era do
imperialismo é inevitável. Os períodos de paz são
apenas interlúdios de preparação de novas guerras. A
sangrenta história do imperialismo corrobora esta tese. A postura
agressiva de Democratas e Republicanos em relação ao resto do
mundo é uma demonstração diária na esfera
política de como está fortemente entranhada na classe dirigente
esta tendência na direcção da aventura militar, chauvinismo
do grande poder e dominação.
As forças dominantes do imperialismo, como afirma Lenine, são os
maiores e mais poderosos monopólios tais como as grandes
petrolíferas, o complexo industrial-militar, os bancos transnacionais,
etc. É necessário fortificar o movimento nesta causa e continuar
a criar estratégias que alcancem os trabalhadores com uma mensagem
anti-militarista.
Isto é particularmente pertinente na questão de manter a
independência do movimento dos trabalhadores em relação ao
Partido Democrata controlado pelo imperialismo e quaisquer outros movimentos
políticos ligados ao imperialismo. A possibilidade de uma
evolução pacífica do imperialismo resume-se à
questão de o capitalismo poder ou não suavizar as suas
contradições económicas e funcionar em sentido oposto
às leis da acumulação capitalista e da necessidade de
maximização do lucro. Mas essas são forças
irreprimíveis que direccionam a classe dominante para a guerra, quer
esta queira, quer não.
Expandir ou morrer
A luta para penetrar e reconquistar o globo não é uma escolha
feita pela classe dominante, assim como a luta anterior para redividir o globo
também não o era, tendo resultado em duas guerras mundiais, na
luta contra o campo socialista que ameaçou uma guerra termonuclear e
provocou grandes guerras de agressão na Coreia e no Vietname. Qualquer
guerra individualmente pode parecer uma questão de escolha, mas a
consistência da pulsão para a guerra durante um período que
atravessa séculos mostra o seu carácter altamente enraizado.
Todas estas guerras foram impulsionadas pela necessidade orgânica que o
imperialismo tem de se expandir ou morrer.
Estas aventuras militares foram o resultado das pressões subjacentes
para encontrar novas esferas de investimentos, de matérias-primas e de
mercados para as forças produtivas e em desenvolvimento dinâmico
do capitalismo mundial, que há muito ultrapassaram os limites do
Estado-nação. A pressão pela guerra vem das
contradições internas do desenvolvimento massivo da capacidade
produtiva, que ultrapassa sempre o desenvolvimento lento do consumo sob o
capitalismo, do que resulta inevitavelmente a sobre-produção
capitalista, a contracção da exploração
capitalista, o encolher dos lucros e o desemprego em massa também
conhecidos como Depressão.
A guerra é um evento disruptivo e potencialmente desestabilizante para o
capitalismo. A maior parte da burguesia, exceptuando o complexo
industrial-militar, preferiria indubitavelmente a paz à guerra. A paz
com a opressão de classes é o melhor cenário
possível para a burguesia, pois garante a exploração
ininterrupta e "pacífica" do trabalho e o acumular de lucros.
Mas mesmo aqueles das classes dominantes que preferem a paz irão para a
guerra se esse for o único caminho disponível para continuar a
expandir lucros e atrasar ou afastar uma crise económica de
acumulação capitalista. É a classe dominante que controla
o Estado. É a classe dominante que tomará as decisões
acerca da guerra e da paz até que a classe trabalhadora lhes tire das
mãos esse Estado e construa um para si.
[*]
Vive em Nova York e escreve sobre assuntos internacionais e internos dos EUA
numa perspectiva marxista. A versão final destre trabalho foi
apresentada na IV Conferência Internacional 'A obra de Karl Marx e os
desafios do século XXI', realizada em Havana, Cuba, em Maio de 2008.
O original encontra-se no posfácio de
"Low Wage Capitalism: colossus with feet of clay what the new globalized, high-tech imperialism means for the class struggle in the U.S."
, de Fred Goldstein, World View Forum, New York, 2008, pp. 281-288,
ISBN-10:0-089567-151-6. Traduzido por João Camargo.
Este posfácio encontra-se em
http://resistir.info/
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