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							A profunda crise política  da oligarquia espanhola
						
							 2019 termina com a mesma crise do bloco de poder na Espanha
						
							 Termina o ano de 2019 e o bloco de poder do sistema capitalista espanhol
							não encontra solução para a sua profunda crise interna. 
 Crise de carácter geral, pois afecta ao mesmo tempo os mecanismos
							fundamentais da sua legitimação social, as estruturas de
							acumulação de capital e a própria unidade interna das
							classes sociais que, desde há décadas, exercem a sua ditadura
							feroz.
 
 Em 1936, este bloco de poder conformou-se como uma aliança dos sectores
							mais reaccionários da sociedade  aristocracia
							latifundiária, capital financeiro, cúpulas militares e policiais
							fascistas, hierarquia da Igreja Católica  e, sempre confrontado
							com o desenvolvimento e avanço da história, recorreu a uma guerra
							criminosa contra a classe trabalhadora e contra os povos do Estado espanhol
							para manter seu sistema de dominação, o que levou a uma
							carnificina de dimensões dantescas. Por enquanto, essa
							opção não está na agenda das possíveis
							soluções para a sua profunda crise estrutural, devido a uma
							correlação de forças nacional e internacional que
							não lhe é favorável.
 
 O capitalismo, ao longo de sua história, escolhe entre duas
							saídas possíveis para a sua crise:   o fascismo ou a
							social-democracia.
 
 Nesta ocasião, os centros intelectuais da ditadura do capital na Espanha
							instrumentalizaram e financiaram o espantalho do fascismo criminoso da Vox a
							fim de forçar a opção por um governo social-democrata,
							é a opção que consideram mais adequada para a defesa dos
							seus interesses nesta difícil conjuntura concreta enfrentada pela classe
							dominante.
 
 Mas a realidade é teimosa e a crise não será resolvida por
							um governo da velha ou da nova social-democracia, que tem de recorrer a um
							apoio presunçoso de uma das forças que questionam sua hegemonia e
							que, mais uma vez, está a demonstrar ter uma capacidade táctica
							de que carece a mais selvagem oligarquia centralista. Com seus dirigentes na
							prisão ou no exílio, eles negociam com os carcereiros a
							formação de um governo.
 
 Está para ver como terminam, ou não terminam, essas
							negociações. Mas já se pode adiantar que esse governo
							embrionário não será capaz de abordar as questões
							centrais que estão na origem da presente crise estrutural:
 
 
								
								
									A corrupção do sistema do Partidos, 
								
								bem como a corrupção do sistema judicial e policial, que se
								desenvolvem sob o amparo da corrupção maior da casa dos Borbones
								e do capital.
								
								
									A posição do povo da Catalunha de optar por um referendo de
									autodeterminação
								
								, processo hoje encabeçado pela burguesia mas que se baseia na objectiva
								realidade nacional catalã. Essa burguesia catalã, que sempre fez
								parte do bloco de poder oligárquico, agora opta  de uma maneira
								ampla  pela separação.
								
								
									A gigantesca acumulação parasitária do capital monopolista
									espanhol 
								
								(Santander, BBVA, Repsol, Inditex, Endesa, Movistar etc), que está a
								aumentar a exploração da classe trabalhadora com salários
								de miséria, especialmente para as mulheres e juventude trabalhadora, e
								pelo empobrecimento generalizado dos trabalhadores e sectores populares.
								
								
									Violência sistemática contra as mulheres,
								
								 numa sociedade historicamente marcada pelas práticas mais
								reaccionárias, consolidada entre a Inquisição, a Igreja
								Católica e o fascismo.
								
								
									Integração nas políticas imperialistas internacionais.
								
								 Uma política internacional de espoliação e saqueio, que
								viola o direito internacional, a soberania das nações e o
								princípio da não interferência. Política que implica
								um conluio criminoso entre capital monopolista espanhol, partidos
								governamentais, monarquia, Exército (NATO) e serviços secretos
								(CNI).
								
								
									Políticas económicas de destruição do meio ambiente.
								
								Os processos especulativos, a execução de grandes
								infraestruturas, os combustíveis fósseis, os usos
								agrícolas e pecuários intensivos, etc, estão a levar o
								país a uma deterioração mais ampla das
								condições de vida, elevação do nível do mar,
								secas e grandes inundações.
								
								
									Repressão como resposta à mobilização social.
								
								 A oligarquia responde com a criminalização da
								contestação social, com o sistemático encarceramento da
								dissidência, levando às prisões ou ao exílio um
								grande número de sindicalistas, aos jovens de Alsasua, ao colectivo de
								presos e presas do Euskal Herría, aos presos políticos
								catalães e aos presos e presas comunistas. Recentemente, a nova
								social-democracia permaneceu silenciosa para facilitar a
								aprovação da nova Lei da Mordaça Digital, como amostra
								solícita da sua servidão ao capital.
							 
							
								O imperialismo saca as garras mais ferozes contra o povo e contra a Humanidade
							
							
 O imenso desenvolvimento das forças produtivas
							
							 entrou em contradição irreconciliável e
							irresolúvel com as relações de produção
							capitalistas, com a propriedade privada. 
							
								A altíssima socialização da produção 
							
							entrou em contradição frontal com o grande capital monopolista
							internacional. Só há um obstáculo para que essa grande
							produção socializada possa satisfazer, como nunca antes,
							às necessidades da Humanidade: o 
							
								sistema capitalista internacional.
 
 Essa é a contradição fundamental
							
							 que explica, de maneira científica, os cenários cada vez mais
							frequentes de violência, exploração e opressão, que
							as potências capitalistas internacionais protagonizam.
 
 Uma longa lista na qual, a título de exemplo, é preciso
							mencionar: a guerra no 
							
								Mali
							
							 (com a participação das forças mercenárias
							espanholas), o golpe de Estado na 
							
								Bolívia
							
							, a guerra multifacética contra a 
							
								Venezuela
							
							, a intensificação do bloqueio contra 
							
								Cuba
							
							, o cerco brutal contra a 
							
								RP da Coreia
							
							, as várias guerras no 
							
								Médio e no Extremo Oriente,
							
							 o genocídio sionista contra o heróico povo 
							
								palestino
							
							, a ocupação do território 
							
								saharaui
							
							 pela ditadura marroquina com o apoio da monarquia espanhola, a feroz guerra no 
							
								Iémen
							
							 (com contribuição especial do armamento espanhol), as guerras e
							saqueios do continente africano na 
							
								Líbia, Congo, Somália, Sudão
							
							, etc, as repressões brutais contra as mobilizações no 
							
								Chile. Colômbia, Haiti
							
							, etc.
 
 Todos estes cenários locais não devem fazer esquecer o permanente
							risco letal que pode nos confrontar com um cenário de guerra mais
							generalizado e extenso.
 
 Essa mesma contradição sistémica
							
							 é a explicação do grotesco desenvolvimento da recente
							cimeira climática em Madrid. Os grandes monopólios internacionais
							utilizam estes encontros internacionais para impor suas estratégias
							parasitárias. A partir do discurso de uma suposta
							preocupação com a [suposta] crise climática, seu
							único objectivo é conseguir a aprovação de novos
							fundos públicos para as grandes empresas monopolistas, na forma de
							ajudas não reembolsáveis para a sua
							descarbonização. A compra, pela Endesa, das primeiras
							páginas dos jornais espanhóis no dia do início da Cimeira,
							fazendo propaganda do grande esforço que faz a mais poluente empresa
							ítalo-espanhola para evoluir rumo a um modelo de energia mais limpa,
							é um exemplo incontestável de quais são os interesses que
							movem estes encontros internacionais.
 
 Levantar um novo projecto histórico, livre, soberano e igualitário
 
 Não percamos tempo com os enganos do capitalismo e dos seus lacaios
							social-democratas. É necessário avançar no caminho da
							nossa própria emancipação. O 
							
								caminho rumo ao poder dos trabalhadores e à sociedade socialista.
							
							 Entre outras razões, porque o capitalismo não tem mais
							opção senão radicalizar o exercício de sua ditadura
							de classe, diante destas contradições irresolúveis a serem
							enfrentadas, 
							
								e para as quais não há mais solução
								histórica senão a destruição do próprio
								sistema que as gera.
 
 Há que levantar no nosso país um vasto movimento social de
							massas, hegemonizado pelas trabalhadoras e pelos trabalhadores, que enfrente
							com determinação seu próprio projecto de
							emancipação, sem recuar perante as violências da classe
							dominante e perante sua injustiça social. Um movimento de massas que
							não se detenha até alcançar a vitória total.
 
 Hoje, esse movimento social de massas, articulado unitariamente na 
							
								Frente Operária e Popular para o Socialismo,
							
							 há de ser capaz de integrar amplos sectores operários e
							populares com o objectivo comum de levantar 
							
								um novo projecto histórico,
							
							 republicano, soberano e socialista. Uma 
							
								República Socialista Confederal,
							
							 que seja uma união voluntária de povos e nações
							livres, reconhecendo o exercício do direito à
							autodeterminação e abrindo caminho para a
							construção da sociedade socialista.
 
 Um movimento político que inicie seu processo de
							organização e activação social com propostas tais
							como:
 
 
 
								
								Revogação imediata das contra-reformas laborais. SMI 1.200 euros.
								
								Recuperação pública das empresas e serviços que
								foram privatizados.  Pensões públicas e suficientes pagas
								pelos PGE e revisão garantida com o IPC.  Amnistia imediata para
								presas e presos políticos (colectivo basco, sindicalistas, comunistas,
								anarquistas, catalães, etc).
								
								Reforma imediata das leis para que se tipifiquem de forma consequente todo tipo
								de violências contra as mulheres. Garantia de igualdade salarial. 
								Reconhecimento imediato ao povo da Catalunha do seu direito a um referendo de
								livre autodeterminação.
								
								Nova política de migratória, com encerramento dos CIES,
								acolhimento de migrantes e legalização de situações
								irregulares. Remoção de cercas de arame farpado em Ceuta e
								Melilla.
								
								Revogação da Lei Mordaça.
								
								Luta contra o fascismo e contra qualquer manifestação de
								limitação de liberdades e direitos.
								
								Luta pela paz e contra as guerras imperialistas, contra os bloqueios e as
								ingerências nos assuntos internos de outros países.
							 
							Este movimento político de massas deve-se dotar de um projecto
							estratégico, articulado em propostas como:
							
 
 
								
								Saída do euro, da UE e da NATO. Recuperação da soberania
								para uma política económica própria. Retirada das bases
								militares estrangeiras e redução drástica dos gastos
								militares.
								
								Nacionalização da banca e das principais empresas do país.
								
								Reforma agrária integral, expropriação de grandes
								latifundiários e terra para o campesinato pobres e jornaleiros sem terra.
								
								Proclamação da República e depuração dos
								órgãos repressivos, militares e policiais.
								
								Dissolução da Guarda Civil e da Legião.
								
								Política internacional baseada no princípio do benefício
								mútuo, na não ingerência e na não
								participação em acções militares do imperialismo,
								solidariedade entre os povos.
							 
							Qualquer governo que hoje se possa formar no nosso país não
							desenvolverá um programa democrático e social com esta
							orientação. Por isso, 
							
								desde o primeiro dia em que se constitua esse governo, o PCPE apelará ao
								seu combate com todas as forças disponíveis, trabalhando pela
								mais ampla unidade do movimento operário e popular, formando plataformas
								de luta em todo colectivo particularmente explorado e/ou oprimido, e
								impulsionando um amplo movimento de unidade de todos os colectivos mobilizados,
								bem como, de modo especial, a unidade de todas as organizações
								operárias e sindicais. 
							
							
 Nem um minuto de confiança àqueles que, submissos à
							gestão das necessidades de capital, logo defraudarão as
							esperanças num governo que execute políticas em favor da classe
							operária e dos sectores populares. Uma contestação de
							massas que, além disso, será baseada em cada uma das promessas
							que deixem de cumprir desde o primeiro dia, e em todas as medidas
							anti-operárias e anti-populares que começarão a adoptar
							daquilo a que chamarão: "sua responsabilidade institucional"
 
 O PCPE faz um apelo para que o ano de 2020 seja o da recuperação
							da capacidade de mobilização e combate que se exprimiu há
							31 anos com a grande Greve Geral de 14 D. Esse será o caminho
							impulsionar o processo urgente e necessário de mudança social.
 
 
								21/Dezembro/2019
							Secretaria Política do Comité Central do Partido Comunista dos
								Povos de Espanha, Dezembro 2019 
 O original encontra-se em 
								 diario-octubre.com/...
 
 Esta declaração encontra-se em
								 https://resistir.info/
								.
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