Do 'Pico do Petróleo' para a 'Transição Um'

por Ali Samsan Bakhtiari [*]

Ali Bakhtiari. Na minha humilde opinião, por esta altura já chegámos ao 'Pico do Petróleo'. É pois tempo de fechar este crítico capítulo na historia da indústria internacional de petróleo e dizer um grande adeus ao 'Pico'.

Presentemente a produção global de petróleo flutua à volta dos 82 milhões de barris de por dia (Mb/d), enquanto algumas instituições tentam em vão empurrar as estatísticas de 2005 para 83 e 84 Mb/d (tal como sempre fazem). Mas serão obrigados a rever os números quando a produção 'efectiva' não acompanhar a sua produção no 'papel'.

Na ressaca do 'Pico do Petróleo' estamos prestes a entrar naquilo a que chamo 'Transição Um' [T1] — uma fase algo bizarra, propícia a uma vaga 'terra de ninguém' entre uma produção de petróleo adequada e a clara evidência de que a procura deixou definitivamente a produção para trás. Vejo o trágico 'Tsunami de 2004' e os dolorosos 'Katrina e Rita de 2005' como os sinais precursores do 'T1'. Esta nova fase pode rebentar no palco global durante o próximo Inverno de 2005-2006 — apanhando talvez grande parte do público de surpresa.

Felizmente, a vantagem oculta do 'T1' é que a produção global de petróleo se manterá constante durante esta fase inicial, permitindo que aqueles com clarividência, inteligência e agilidade se prepararem para o seguinte, as fase mais turbulentas: 'T2', 'T3', ...

Daqui para a frente 'preparação' será o nome do jogo. Avanço agora com a minha primeira lista de ' afazeres' resumida nos 'Cinco R':

(1) RE-PROGRAMAR: primeiro e antes de tudo, re-programar 'a mente'; simplesmente abandonar o 'negócio-como-de-costume' [bussiness-as-usual] e outros cenários optimistas semelhantes (nada se manterá como 'de costume'); utilizar tanto quanto possível o 'pensamento lateral' ( vide o super-guru 'Edward de Bono'); pensar não só no 'Plano B', mas também nos Planos 'C', 'D', e 'E'; começar também a 'Pensar o Impensável' e a 'Esperar o Inesperado'. (Vi recentemente uma fotografia do 'greater Phoenix' [megalópolis do Arizona] à noite que me provocou arrepios na espinha com o seu 'mar de luzes' (enquanto imaginava o ar condicionado oculto e sussurrante) para um aglomerado urbano de 163 km por 173 km (nada menos que 28 200 km 2 !) albergando 4 milhões de pessoas — com um crescimento diário de 500 habitantes!).

(2) REDUZIR: primeiro cortar sem misericórdia o desperdício: os habituais 30% devem ser cortados à partida; comprimir o nível de dívida o mais possível (o 'T1' trará inevitavelmente mais inflação); reduzir as viagens de todo o tipo para economizar os combustíveis cada vez mais preciosos (optimizar o uso da Internet); gradualmente reduzir todos os tipos de consumo (emagrecer e preparar cortes maiores); rever os sistemas de iluminação e aquecimento caseiros (investindo o necessário, enquanto for inferior aos custos operacionais anuais); reduzir o tamanho e número de carros o mais rápido possível. (Conheci uma família australiana que vive nos subúrbios e que tem cinco carros — um para cada membro da família. Contei-lhes acerca da chegada do 'Pico do Petróleo'; ficaram siderados, perguntando o que fazer perante o disparo dos preços? Bem, respondi: "Podem facilmente ver-se livres de dois carros, sem grande sacrifício, apenas com um pouco de planeamento, cortando as vossas despesas com os carros em dois quintos duma só vez, sem contar com a poupança no combustível".).

(3) REUTILIZAR: há tantas coisas que são facilmente reutilizáveis, um pouco de atenção pode ter um grande efeito: desde sacos de plástico; recauchutar pneus; o mais importante pode ser a 'água' inócua, que está destinada a uma redução de abastecimento; a 'madeira' também. (A filosofia de 'reutilizar' requer uma nova forma de pensar pois ninguém está habituado a fazê-lo).

(4) RECICLAR: o grande crescimento industrial do amanhã será a indústria da 'reciclagem'; a reciclagem dos resíduos domésticos deveria ser obrigatória (tal como na Alemanha e num punhado de cidades dos EUA como Seattle e Pittsburgh); muito do que se 'deita fora' hoje pode ser 'reciclado'; eventualmente muitos produtos serão fabricados com o intuito de mais tarde serem reciclados. (A reciclagem de carros deve ter prioridade máxima, dado que enormes benefícios podem daí advir).

(5) RECOMPENSAR: recompensar toda a acção maciça para reduzir, reutilizar e reciclar; é melhor usar subsídios 'positivos' em vez de 'negativos'. (Um exemplo seria recompensar os 19 milhões de americanos que compraram um bicicleta nos últimos 12 meses).

Com as minhas maiores felicidades para a 'Transição Um'...

[*] Perito da National Iran Oil Company (NIOC).

O original encontra-se em
http://www.sfu.ca/~asamsamb/Five%20T1/'Five%20Rs'%20for%20'Transition%20One'.htm
Tradução de Luís de Sousa, webmaster de http://picodopetroleo.net/


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
04/Nov/05