O agravamento da situação financeira do SNS com o governo de
Sócrates e a degradação dos serviços de saúde
RESUMO DESTE ESTUDO
Nos primeiros 10 meses de 2007, segundo o INE, os preços dos bens e
serviços de "Saúde" aumentaram em Portugal 8,1%
quando comparamos com idêntico período de 2006. Isto significa que
o aumento nos preços da "saúde" em 2007 foi cerca de
3,4 vezes superior à taxa de inflação média, que
inclui todos os bens e serviços, verificada em 2007, que foi de 2,4%.
Este aumento significativo do custo da saúde para a
população resulta também da degradação
financeira do Serviço Nacional de Saúde (SNS) consequência
da sua transformação, pelo actual governo, em instrumento de
redução do défice orçamental.
Assim, entre 2005 e 2008, as transferências do OE para o SNS passaram de
7.634 milhões de euros para 7.900 milhões de euros, o que
corresponde a um aumento de apenas 3,5%, quando no mesmo período os
preços subiram em 4,3%, o que determina que o SNS receba, em termos
reais, em 2008 menos 326,5 milhões de euros do que em 2005. Entre 2005 e
2008, o crescimento médio das transferências, a preços
correntes, é inferior a 1,2% ao ano quando, no período 1995/2006,
foi de 8,1% ao ano, ou seja, 6,7 vezes mais.
Como consequência, a situação quer financeira quer
económica das diferentes entidades que integram o SNS está-se a
degradar rapidamente. Assim, de acordo com o Relatório 1/2007 do
Tribunal de Contas, o saldo financeiro negativo acumulado do Serviço
Público Administrativo (SPA) do SNS, que não inclui os Hospitais
EPE, aumentou, entre 2005 e 2006, portanto num ano apenas, em +31,4%, pois
passou de -744,1 milhões de euros para -978,0 milhões de euros.
Por outro lado, os chamados "resultados operacionais" dos Hospitais
EPE, ou seja, os prejuízos acumulados atingiram, em Setembro de 2007,
cerca de 805 milhões de euros. Como os prejuízos que estão
a se acumular nestes hospitais não contam para o défice
orçamental o governo, desta forma, reduz aquele défice à
custa da degradação destes hospitais, a que se junta a
redução resultante das transferências insuficientes do OE
para o SNS.
Durante o debate do OE2008 na Assembleia da República perguntamos ao
governo como tencionava resolver o problema dos elevados prejuízos
já acumulados nos Hospitais EPE, que não paravam de crescer,
até porque muitos deles estavam a ser obrigados a utilizar o seu capital
para pagar despesas correntes, aproximando-se da situação de
falência técnica. O ministro das Finanças respondeu que o
governo não tencionava aumentar o capital dos Hospitais EPE porque isso
poderia determinar o agravamento do défice orçamental se fosse
utilizado para pagar despesas correntes. E o secretário da Saúde
informou que o Ministério estava a assinar planos de reequilíbrio
financeiro com os Hospitais EPE para períodos de 4 a 5 anos, o que
significa que esses hospitais terão de criar excedentes para anular
aqueles prejuízos o que, a concretizar-se, determinará uma
degradação ainda maior dos serviços de saúde
prestados à população devido à insuficiência
dos meios financeiros mínimos indispensáveis.
Como consequência de tudo isto, a divida do SNS disparou nos
últimos anos. Assim, de acordo com o próprio Ministério da
Saúde as dividas do SNS passaram, entre 2005 e 2006, de 1.412,2
milhões de euros para 1989,4 milhões de euros, ou seja, registou
um aumento de 40,9% num ano apenas. No entanto, o Tribunal de Contas no seu
relatório 1/2007, corrigiu o valor do governo referente a 2006 para
2.214,7 milhões de euros. Deste total, 1.047 milhões de euros
é divida dos Hospitais EPE que aumentou, entre 2005 e 2006, em 52,5%. No
entanto, as dividas ao SNS atingiam, em 2006, cerca de 1.740 milhões de
euros, sendo 852 milhões de euros de "clientes e outros
devedores", onde se incluem as empresas de seguros.
Estes dados do Tribunal de Contas e do próprio governo mostram de uma
forma clara o agravamento rápido da situação financeira e
económica do SNS, que está a ter consequências graves quer
na qualidade dos serviços de saúde prestados à
população quer no custo da saúde em Portugal, que resulta
da utilização do SNS, pelo governo, como instrumento
também da politica fundamentalista da redução do
défice orçamental para além dos compromissos assumidos com
a Comissão Europeia. A continuar essa utilização, e essa
parece ser a intenção deste governo, poderá levar ao
colapso do SNS como está definido na Constituição da
República.
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O governo de Sócrates não se cansa de repetir e de se gabar do
rigor e da forma como está a resolver os problemas do País. No
entanto, quer o Relatório do Tribunal de Contas nº 1/2007, tornado
público no mês de Novembro de 2007, quer os dados fornecidos pelo
próprio governo durante o debate do OE2008 na Assembleia da
República revelam que, em relação ao Serviço
Nacional de Saúde (SNS), não existe qualquer rigor na
informação disponibilizada e a situação tem-se
agravado durante este governo. É o que vamos mostrar utilizando apenas
dados oficiais.
A FALTA DE FIABILIDADE E DE CONSISTÊNCIA TÉCNICA DA
INFORMAÇÃO SOBRE O SNS
O Tribunal de Contas tornou público o seu relatório 1/2007 sobre
o "Acompanhamento da Situação Económico Financeira do
Serviço Nacional de Saúde (SNS) 2006". Nesse
relatório, o Tribunal de Contas faz uma análise do SNS sob dois
aspectos fundamentais: (1) Fiabilidade da informação
económico-financeira disponibilizada pelo SNS; (2) A
situação económico-financeira actual do SNS.
Assim, no que se refere à consistência da informação
fornecida pelo governo sobre o SNS, o Tribunal de Contas caracteriza essa
informação da seguinte forma: (a) Continua a não dar uma
imagem verdadeira e apropriada da situação financeira e dos
resultados do conjunto das entidades que integram o SNS (pág. 9 do
Relatório); (b) A metodologia seguida pelo IGIF para tornar o universo
comparável em relação aos Hospitais EPE conduziu, quanto a
2005, a uma redução do défice financeiro global do SNS
(saldo financeiro acumulado) de cerca de 25% (de -812 milhões de euros
para -615 milhões de euros) e a uma melhoria do saldo financeiro do
exercício de 140% (um excedente de 27 milhões de euros no lugar
de um défice de -68 milhões de euros (pág. 9); (c)
Após a análise relativa aos fluxos financeiros (receita e despesa
) dos Hospitais EPE verificou-se que ela não oferece uma
confiança razoável para dela se tirarem conclusões
(pág. 10); (d) Relativamente às entidades SPA, da
comparação do valor dos créditos a receber constante dos
mapas da situação financeira (658 milhões de euros ), no
balanço (578 milhões de euros) e nos mapas de acompanhamento do
IGIF (658 milhões de euros) resultam valores não coincidentes,
colocando em causa a fiabilidade da informação disponibilizada
(pág. 12 do Relatório).
Para além de tudo isto, tanto no relatório anterior
(Relatório nº 20/2006, pág. 43) como neste
(Relatório 1/2007, pág. 14) sobre o SNS, o Tribunal de Contas
chama a atenção para a necessidade de serem apresentadas contas
consolidadas (Balanço e Demonstração de Resultados), pois
o que tem sucedido é que para além da informação
fornecida ser tecnicamente pouco consistente e credível ainda por cima
ela tem sido apresentada de uma forma fragmentada e incompleta. Por ex.,
são apresentadas contas incompletas, por um lado. do Serviço
Público Administrativo (SPA) do SNS e, por outro lado, dos Hospitais
EPE. E mesmo em relação a cada um destes dois subsectores
não é apresentado um balanço consolidado, o qual
permitiria obter uma ideia mais completa e verdadeira sobre a
situação do SPA e dos Hospitais EPE.
Em relação à consolidação de todas as
entidade que constituem o SNS SPA e Hospitais EPE durante o
debate do Relatório do Tribunal de Contas na Assembleia da
República em 28 de Novembro de 2007, o próprio ministro da
Saúde afirmou que se opõe utilizando argumentos técnicos
pouco consistentes. Relativamente à proposta que apresentamos durante o
debate na Assembleia da República para que fosse feita, enquanto
não fosse realizada a consolidação total como reitera o
Tribunal de Contas, pelo menos a consolidação a nível de
cada um dos subsectores SPA e Hospitais EPE e apresentados os
respectivos Balanços e Demonstração de Resultados, embora
o secretário de Estado da Saúde tenha afirmado que era uma
proposta a considerar, no entanto o governo não quis tomar qualquer
compromisso de os vir a publicar. Se isso suceder, ficará claro que a
verdadeira razão do governo é ocultar a verdadeira
situação do SNS não fornecendo os dados necessários
para que se possa fazer uma avaliação fundamentada e integral.
Para um governo que pretende vender uma imagem de rigor e de credibilidade
técnica, os relatórios do Tribunal de Contas, uma entidade
independente e credível, mostram bem o tipo de rigor que se oculta por
baixo da repetição cansativa da palavra "rigor".
TRANSFERÊNCIAS DO OE PARA O SNS MANIFESTAMENTE INSUFICIENTES
O fundamentalismo do actual governo a nível do défice
orçamental, de que é a prova a redução do
défice para além dos compromissos assumidos com a Comissão
Europeia pelo 3º ano consecutivo, está a ter consequências
desastrosas para o SNS. E um aspecto em que isso é claro é a
evolução das transferências do Orçamento do Estado
para o SNS que têm sido inferiores, em valores nominais, mesmo à
taxa de inflação como revelam os dados do quadro seguinte:
Em termo nominais, ou seja, a preços correntes, as transferências
do Orçamento do Estado (OE) para o Serviço Nacional de
Saúde (SNS) cresceram, entre 2005 e 2008, apenas 3,5%, o que significa
um aumento inferior a 1,2% ao ano, menos do que metade da taxa de
inflação. Esta variação da taxa de
inflação superior em mais de duas vezes ao crescimento
médio anual das transferências do OE para o SNS determina que o
valor da transferência prevista no OE2008 seja inferior, a preços
constantes de 2005, em -4,3% (-326,5 milhões de euros ) à de
2005.
Para se poder ficar com um ideia clara do que isto significa interessa recordar
que, de acordo com o Relatório de sustentabilidade do financiamento do
SNS, elaborado por uma comissão designada pelo Ministro da Saúde,
o crescimento da despesa do SNS no período 1995/2006 foi , em
média , de 8,1% ao ano (pág. 127), ou seja, 6,7 vezes mais que
entre 2005 e 2008. E entre 2005 e 2008 a despesa total do Estado
aumentará, segundo o OE2008, cerca de 9%, ou seja, 2,5 vezes mais do que
o crescimento verificado nas transferências do OE para o SNS durante o
mesmo período..Se as transferências para o SNS aumentassem apenas
de acordo com a taxa de inflação, o valor para 2008 seria de
8.252,9 milhões de euros, ou seja, 352,97 milhões de euros mais
do que consta do OE2008.
É evidente que aquela redução significativa nas
transferências para o SNS representou um contributo importante para a
redução do défice orçamental, mas determinou, por
outro lado, a degradação dos serviços de saúde
à população e também um aumento significativo quer
do endividamento quer dos prejuízos acumulados no SNS, nomeadamente nos
Hospitais EPE como iremos mostrar..
SALDO FINANCEIRO ACUMULADO CRESCENTE E NEGATIVO NOS SPA DO SNS
Como consequência das transferências do Orçamento do Estado
serem insuficientes para cobrirem a totalidade das despesas, o défice
financeiro dos Serviço Público Administrativo (SPA), que inclui a
totalidade dos serviços do SNS com excepção dos Hospitais
EPE, aumentou rapidamente e já atinge valores muito elevados com revela
o quadro II construído com dados constantes do Relatório nº
1/2007 do Tribunal de Contas
A diferença entre aquilo que o Serviço Público
Administrativo do SNS recebe e aquilo que tem de pagar é muito grande,
como prova quer o elevado ritmo de crescimento do saldo negativo financeiro
acumulado do SPA (entre 2005 e 2006, aumentou em 31,4%) quer o elevado
montante já atingido por esse saldo (-987,03 Milhões de euros)
É evidente que quer a variação quer este elevado valor
negativo revela dificuldades financeiras crescentes do SPA.
O Ministério da Saúde e o Grupo Parlamentar do PS na
audição que teve lugar na Assembleia da República em 28 de
Novembro de 2007 procuraram contestar o Relatório do Tribunal de Contas
mas, tecnicamente, de uma forma pouco credível e consistente. Para
concluir isso, basta referir a sua contestação ao saldo
financeiro negativo do SNS apurado pelo Tribunal de Contas relativo ao ano de
2006 (-272,2 Milhões de euros). O Ministério da Saúde na
consolidação dos valores dos dois subsectores do SNS SPA e
Hospitais EPE em relação aos Hospitais EPE apenas
considerou, do lado das receitas, o valor das transferências correntes
feitas pelo SNS em 2006 para estes hospitais (2.244,8 milhões de
euros) e, do lado das despesas, o valor dos contratos programas assinados (
2.199,1 milhões de euros) transformando com este passo de mágica
o saldo negativo do exercício calculado pelo Tribunal de Contas de -272,
2 milhões de euros, num saldo positivo de + 104,3 milhões de
euros. No entanto, o Ministério da Saúde "esqueceu-se"
de considerar as receitas cobradas pelos Hospitais EPE para além da
transferência que recebem do SNS, que são manifestamente
insuficientes, e as despesas totais dos Hospitais EPE, que são muito
superiores aos valores dos contratos programas, sendo precisamente esta
diferença para entre as despesas efectivas totais e os valores dos
contratos programas que tem determinado uma acumulação de
prejuízos elevados nos Hospitais EPE. Se é certo que na
consolidação feita pelo Tribunal de Contas haverá que
anular os movimentos em duplicado entre as diferentes entidades do SNS,
também não é tecnicamente correcto aquilo que foi
defendido pelo Ministério da Saúde e apoiado pela bancada do PS
de, na consolidação que fez dos SPA e dos Hospitais EPE,
considerar apenas uma parte das receitas (as transferências do OE, que
constituem a maioria das receitas destes Hospitais) e apenas uma parcela pouco
superior a metade das suas despesas (os valores que constam dos contratos
programas). . Para concluir isso, basta referir que, em 2006, de acordo dados
fornecidos pelo próprio governo durante o debate do OE2008 na Assembleia
da República, os custos operacionais dos Hospitais EPE, sem incluir
amortizações e provisões, totalizaram 2.833,2
milhões de euros, quando o valor dos contratos programas com estes
hospitais somaram apenas 2.199,1 milhões de euros, ou seja, menos 634,1
milhões de euros.
PREJUÍZOS OPERACIONAIS ACUMULADOS NOS HOSPITAIS EPE SUPERIORES A 800
MILHÕES DE EUROS , O QUE CORRESPONDE A UMA CLARA
DESORÇAMENTAÇÃO
A nível dos Hospitais EPE, com contabilidade empresarial, as
dificuldades crescentes não são apenas financeiras mas
também económicas, traduzidas pela acumulação de
elevados prejuízos. O quadro III, construído com dados dos
relatórios do Tribunal de Contas e com dados fornecidos pelo governo na
Assembleia da República durante o debate do Orçamente do Estado
para 2008, revela uma situação extremamente preocupante.
Os Resultados Operacionais resultam da actividade normal de cada Hospital, que
é essencialmente clínica. Os Resultados Líquidos resultam
dos Resultados Operacionais a que depois se adiciona ou subtrai os ganhos ou
prejuízos financeiros e extraordinários que não têm
nada a ver com a actividade normal de um hospital.
E como mostram os dados do quadro, entre 2003, primeiro ano dos Hospitais
empresa chamados Hospitais SA, e Setembro de 2007, último mês a
que se referem os dados disponibilizados pelo governo aquando do debate do
OE2008 na Assembleia da República, os Resultados Operacionais dos
Hospitais EPE , que são públicos, somavam mais de -805
milhões de euros. No entanto, o governo utilizando movimentos
contabilísticos, reduziu aqueles prejuízos
"operacionais"de -805,1 milhões de euros para apenas - 497,7
milhões de euros, ou seja, para cerca de 62%. Como esclarece o Tribunal
de Constas no seu Relatório nº 1/2007, "os resultados
extraordinários , que traduzem os ganhos ou perdas alheios à
exploração e que deviam resultar de factos ocasionais ou
acidentais, assumem , nos hospitais, montantes elevados devido, essencialmente
à contabilização das anulações de dividas
inter-instituições relacionadas, nomeadamente, com MCDT e
medicamentos" (pág. 24). Por outras palavras, estes hospitais,
naturalmente por indicação do Ministério da Saúde,
anularam dividas que tinham constituídas antes da sua
transformação em Hospitais EPE a outras entidades do SNS, e como
contrapartida dessas anulações contabilizaram esses valores em
"Ganhos extraordinários", que depois utilizaram para reduzir,
através também de simples movimentos contabilísticos,
cerca de 40% dos resultados operacionais negativos da sua actividade acumulados
desde 2003. Como é evidente, por um lado, esta redução
contabilística dos prejuízos não muda em nada a
situação destes hospitais que é grave sob o ponto de vista
financeiro e económico e, por outro lado, é evidente que esta
forma artificial de reduzir prejuízos tem limites, que são os
valores das dividas do passado, pois à medida que são anuladas
vão desaparecendo, ficando menos para poderem ser utilizadas como forma
de reduzir os prejuízos da actividade operacional no futuro.
PLANOS DE REEQUILIBRIO FINANCEIRO IMPOSTOS PELO GOVERNO AOS HOSPITAIS EPE
VÃO DEGRADAR AINDA MAIS OS SERVIÇOS PRESTADOS À
POPULAÇÃO
Durante a audição na Assembleia da República confrontamos
o ministro da Saúde com a seguinte questão: Como é que o
governo tencionava resolver o problema dos elevados prejuízos que se
estão a acumular nos Hospitais EPE, pois muitos deles já
estão numa situação próxima da falência
técnica? Será através de novas entradas de capital? . A
resposta foi dada pelo secretário de Estado que informou que o
Ministério da Saúde estava a assinar contratos de
equilíbrio financeiro com os hospitais para que estes, num
período de 4 a 5 anos, alcancem uma situação de
reequilíbrio financeiro, sem entradas de capital. É evidente,
portanto, que serão os próprios hospitais que terão de
gerar excedentes para anular os prejuízos que acumularem, o que
determinará inevitavelmente a degradação das
condições de funcionamento e os serviços de saúde
prestados à população. E embora o secretário de
Estado negasse que essa fosse a intenção do governo, no entanto a
imposição de anular com meios próprios levará a uma
degradação dos serviços de saúde prestados à
população. E como não apresentou qualquer outra
solução, ficou claro que a degradação será
inevitável se a solução tiver que ser feita à custa
das receitas já insuficientes desses hospitais.
DIVIDAS DO SNS SUPERIORES A 2.214 MILHÕES DE EUROS
O elevado saldo financeiro negativo acumulado pelos SPA (-987 milhões de
euros em 2006) assim como os elevados prejuízos também acumulados
pelos Hospitais EPE está a determinar que, por falta de meios
financeiros para fazer face às necessidades financeiras que decorrem de
toda esta situação, a divida quer do SPA quer dos Hospitais EPE
esteja a aumentar rapidamente atingindo já valores muito elevados.
Entre 2005 e 2006, as dividas do SNS, de acordo com os dados fornecidos pelo
Ministério da Saúde ao Tribunal de Contas, passaram de 1.412,16
milhões de euros para 1.989,39 milhões de euros, ou seja,
registaram um aumento de 40,9% num ano apenas. No entanto, o Tribunal de
Contas, com base nos balanços que foram disponibilizados pelo IGIF/ACSS
do Ministério da Saúde, corrigiu aqueles valores concluindo que a
divida do SNS era, em 2006, de 2.214,673 milhões de euros, ou seja, mais
225,3 milhões de euros. Deste total, 1.047,02 milhões de euros
diziam respeito a dividas dos Hospitais EPE, as quais registaram um aumento de
52,5% entre 2005 e 2006.
Na audição de 28 de Novembro de 2007 na Assembleia da
República de 2007, o ministro e o secretário da Saúde
contestaram os valores apurados pelo Tribunal de Contas. No entanto, o
próprio governo reconheceu no documento que distribuiu aos deputados que
os 1.989,39 milhões de divida constam de um quadro que "é
elaborado mensalmente pelo IGIF/ACSS do Ministério da Saúde com o
único objectivo de monitorizar a divida a fornecedores (contas 22 e 26),
ou seja, apenas uma parte da divida"
DÍVIDAS A RECEBER PELO SNS SUPERIORES A 1.740 MILHÕES DE EUROS
De acordo com o Relatório nº 1/2007 do Tribunal de Contas os
créditos a receber pelas entidades que integram o SNS somavam, em 2006,
1.740,8 milhões de euros. Deste total, 522,4 milhões diziam
respeito a entidades que não pertenciam ao SNS. Segundo o Tribunal de
Contas "as entidades com maior volume de créditos a receber eram,
em 2006, os Hospitais EPE, seguidos dos Hospitais do SPA." (pág. 35
do Relatório). Efectivamente os créditos dos Hospitais EPE por
cobrar totalizavam, em 2006, 748,6 milhões de euros.
Em resumo, o SNS, por um lado, tem elevadas dividas (em 2006, mais de 2.214
milhões de euros segundo o Tribunal de Contas, sendo 1.125,7
milhões de euros a fornecedores) e, por outro lado, possui elevados
créditos a cobrar ( em 2006, 1.740,8 milhões de euros segundo o
Tribunal de Contas, sendo 851,6 milhões de euros de clientes e outros
devedores, entre as quais estão as seguradoras). Por aqui também
se vê o tipo de gestão rigorosa que continua a imperar a
nível do SNS e, nomeadamente, nos Hospitais EPE que são as
entidades com maiores dividas por cobrar.
02/Dezembro/2007
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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