Quebra significativa do emprego e da riqueza criada no país (PIB)
Desorganização da atividade produtiva causada pelo
teletrabalho e
pelo
lay-off
Diminuição da produtividade do trabalho
Estatísticas oficiais do desemprego que enganam
Conhecer a situação da economia e seus efeitos sociais não
é menos importante que conhecer a situação
epidemiológica pois tanto uma como outra causam mortes
(mesmo deduzindo os óbitos causados pelo COVID 19, o total de mortes
está acima da média dos 13 últimos anos, há 1405
mortes a mais segundo o INSA).
Encontrar o equilíbrio entre defesa da saúde e a defesa da
economia é o desafio mais importante que se coloca aos portugueses e que
tarde ou cedo todos acabarão por compreender. Até porque teremos
de aprender a viver e sobreviver durante muito tempo com o
"coronavírus" pois não sabemos quando a crise de
saúde terminará. Por isso é necessária
informação objetiva e equilibrada sobre ambas
situações. Neste estudo analisa-se a situação da
economia e seus efeitos sociais.
NO 2º TRIMESTRE DE 2020 FORAM DESTRUÍDOS 135.000 EMPREGOS, OU SEJA,
EM MÉDIA 1.500 EMPREGOS POR DIA, MAS O "DESEMPREGO OFICIAL" DO
INE DIMINUIU EM 69.700: UM
"MILAGRE"
QUE NÃO É REAL
O gráfico 1 mostra a variação do emprego em Portugal no
período entre 2º trimestre de 2019 e o 2º trim. 2020
(os dados são do Inquérito trimestral ao Emprego do INE e
não da estimativa mensal do INE)
Num trimestre apenas
(entre o 1º Trim.2020 e o 2º Trim.2020)
foram destruídos no nosso país 135.000 empregos, pois a
população empregada neste período diminuiu de 4,866
milhões para 4,731 milhões. Mas segundo o
"Inquérito ao Emprego, 2ºTrim.2020 do INE"
, a população desempregada diminuiu de 348,1 mil para 278,4 mil,
ou seja, em 69.700
(tenha-se presente que são valores médios de cada trimestre, e
não do último mês do trimestre).
É um verdadeiro "milagre" realizado pelo INE. São
destruídos 135.000 postos de trabalho e, portanto, 135.000 perdem o
emprego. No entanto, o "
desemprego oficial
" calculado pelo INE, no lugar de aumentar nesse período até
diminuiu em 69.700. A ocultação da realidade é tão
grosseira que é evidente que a metodologia utilizada pelo INE para
determinar o número de desempregados não permite conhecer a
realidade do desemprego no nosso país.
Estes dados do INE não traduzem a realidade.
Qual é a
"engenharia
" utilizada pelo INE para reduzir o "
desemprego oficial
", e assim ocultar a verdadeira e dramática situação
do "
desemprego real"
em Portugal?
É considerar como não desempregado todos os trabalhadores
desempregados que não procuraram emprego no período em que foi
realizado o inquérito
(os que o INE designa por "inativos disponíveis").
E estes, entre o 1º trim. e o 2º trim. de 2020 aumentaram de 166,4
mil para 312,1 mil, ou seja, em +87,6%. Se adicionarmos os
inativos disponíveis
ao desemprego oficial, obtemos, para o 1º trim.2020, 514.500
desempregados, e, para o 2º trim.2020, 590,5 mil (+76.000), portanto um
"
desemprego real
" muito superior ao "
desemprego oficial"
do INE, mas a subida é ainda inferior à destruição
de emprego registada neste período. Os dados do INE também
não explicam esta discrepância. Se no lugar de compararmos dados
trimestrais compararmos os valores de 31 de março com os de 30 de
jun.2020, as conclusões são muito mais graves. Segundo
Estimativas Mensais de Emprego e Desemprego do INE de jun.2020,
entre Mar.2020 e jun.2020, a população empregada diminuiu de
4,812 milhões para 4,658 milhões (-154,5 mil), enquanto o
desemprego oficial
aumentou de 317,2 mil para 350,9 mil (+ 33,7 mil), mas o
desemprego real
subiu de 497,2 mil para 632,5 mil (+135,3 mil
)
.
Para se poder ficar com uma ideia da situação dramática
que enfrentam já os trabalhadores que perderam o emprego, interessa
dizer que, segundo as Estatísticas da Segurança Social, o numero
de desempregados a receber subsidio de desemprego, em Março de 2020, era
de 173.815, em junho de 2020 aumentou para 221.701 (apenas +47.886), sendo o
subsidio médio de desemprego pago a estes desempregados apenas
504,65.
Em junho de 2020, 410.799 desempregados não recebiam subsídio de
desemprego
A REDUÇÃO SIGNIFICATIVA DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E DA RIQUEZA
CRIADA NO PAÍS
No 2º trimestre de 2020, registou-se uma quebra muito significativa da
riqueza criada no país (PIB) mas também se verificou nesse
período uma redução muito grande da produtividade por
empregado, ou melhor, daqueles que nas estatísticas oficiais do INE
são considerados como estando empregados. O quadro 1, mostra
precisamente essa realidade duplamente grave.
Os dados divulgados trimestralmente pelo INE revelam uma redução
em volume
(preços constantes)
da riqueza criada no país (PIB) a partir do 4º trim.2019
crescentemente acentuada. Por ex. no 2º Trim.2020, a riqueza criada neste
trimestre
(42.169 milhões )
é inferior em 8.837 milhões
(-17,3%)
ao PIB do 4º Trim.2019
(51.006 milhões ).
Mas há outro lado desta questão que tem sido ignorada. E ela
é a seguinte. Apesar do emprego ter diminuído significativamente
desde o início da crise, a produtividade daqueles que continuaram
empregados diminuiu também e muito. Por ex., se compararmos o PIB por
empregado do 4º Trim.2019 com o de 2º Trim.2020 conclui-se que a
produtividade por empregado
(daqueles que mantiveram o emprego)
diminuiu 14,2%
(pois passou de 10.393 por trimestre e por empregado para apenas
8.913 por empregado e por trimestre).
E sem aumento da riqueza criada por trabalhador e sem uma mais justa
repartição da riqueza criada, cabendo ao
"Trabalho"
uma parcela mais significativa que a atual, não é
possível o desenvolvimento do país.
A DESORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÓMICA CAUSADA PELO
TELETRABALHO E PELO
LAY-OFF
CONSEQUÊNCIA DA CRISE PROVOCADA PELO CORONAVIRUS
E PELA FALTA DE UMA COMUNICAÇÃO RESPONSÁVEL E
EQUILIBRADA, DE PLANEAMENTO E DE MEDIDAS ADEQUADAS À NOVA REALIDADE
O quadro 2, construído com dados divulgados pelo INE em 5/8/2020 na
publicação
"Trabalho a partir de casa devido à pandemia abrangeu um
milhão de
pessoas, 2.º Trimestre de 2020"
mostra a dimensão do teletrabalho e a forma desorganizada e apressada
como ele foi implementado
(não havia outra solução no início).
Segundo o INE, no 2º Trimestre de 2020, 1.094.000 de empregados
desenvolveram a sua atividade em casa, e destes 1.038.000 utilizaram das TIC
(teletrabalho). No entanto, apenas 6,3% destes (65.700) é que já
utilizavam antes da crise e, consequentemente, as respetivas entidades e
trabalhadores tinham experiência desta forma de trabalho. 972.300 (93,7%
do total) não trabalhavam em teletrabalho. Foram compelidos a isso, sem
que as entidades e eles próprios tivessem qualquer experiência
nessa forma e organização de trabalho, devido à pandemia
do COVID 19. As consequências a nível económico eram
inevitáveis, nomeadamente a nível de produtividade, como
efetivamente aconteceu. Isto apesar, segundo o INE, das horas trabalhadas da
população empregada que "
trabalhou sempre ou quase sempre em casa"
ser 33 horas, e em relação àqueles que "
não trabalhou em casa ou não trabalhou sempre ou quase sempre em
casa
" ser de 25 horas. Mas em muitos casos aquelas 33 horas eram as horas de
computador ligado, smartphone, correio eletrónico, telefone ou de estar
disponível, e muitas vezes nem isso aconteceu. Para além disso, a
maioria das entidades, incluindo as Administrações
Públicas, não possuíam meios nem organização
para acompanhar, apoiar e orientar os trabalhadores em teletrabalho. A juntar a
isto, muitos trabalhadores estavam em casa, em teletrabalho, a tomar conta e a
apoiar os filhos
(tiveram de ser professores dos seus filhos).
As consequências a nível de queda de produtividade eram
inevitáveis.
643.800 EMPREGADOS NÃO DESENVOLVERAM QUALQUER ATIVIDADE
Para além dos empregados que desenvolveram a sua atividade em
teletrabalho nas condições referidas, ainda há muitos mais
que, apesar de serem considerados empregados, e por isso não constam dos
números do desemprego oficial do INE, não produziram nada.
Segundo o INE, 643.500 empregados não desenvolveram qualquer atividade,
apesar de serem considerados empregados. Deste total, 419.500, ou seja, 76,3%
foi devido ao COVID 19, os restantes 152.300 não
trabalharam também, portanto não produziram também riqueza
, mas o INE não deu qualquer explicação. E tudo isto teve
consequências drásticas na redução da riqueza
produzida no país
O VOLUME DE RIQUEZA QUE NÃO FOI CRIADA PELOS 643.800 EMPREGADOS QUE
NÃO DESENVOLVERAM QUALQUER ATIVIDADE DEVIDO AO COVID 19 OU POR OUTRAS
RAZÕES
Estes 643.800 trabalhadores que não produziram nenhuma riqueza segundo o
INE, se tivessem produzido teriam acrescentado à riqueza produzida no
último trimestre mais 5.738 milhões , o que corresponde a
13,6%. Se tal situação se multiplicar durante quatro trimestres,
o país terá perdido riqueza correspondente a 22.952
milhões a preços constantes, pois se for calculado a
preços correntes o montante será muito maior. Se juntarmos a
baixa de produtividade da esmagadora maioria dos trabalhadores que foram
"empurrados" para o teletrabalho sem eles e as respetivas entidades
estarem preparadas e organizadas para esta forma de trabalho é
fácil de concluir que nenhum país se aguenta assim durante muito
tempo sem consequências económicas, sociais e de saúde
graves (e aqui não estamos a referir às do COVID 19). É
urgente pensar e organizar o futuro sem medo, mas com segurança pois,
caso contrário, o retorno será muito mais difícil e muito
mais demorado. E seja qual for o caminho que se escolher, não há
nenhuma via sem riscos.
O AUMENTO RAPIDO DO DÉFICE ORÇAMENTAL E DA DIVIDA DO ESTADO QUE
TERÃO DE SER PAGOS PELOS PORTUGUESES
O quadro 4, com os últimos dados divulgados pela Direção
Geral do Orçamento do Ministério das Finanças sobre a
execução orçamental do 1º semestre de 2020, mostra de
uma forma clara a profunda deterioração das contas das
Administrações Públicas, incluindo a Segurança
Social.
O
saldo global negativo
das contas de todas as Administrações Públicas do
período janeiro a junho de 2020, quando comparado com o de
idêntico período de 2019, aumentou mais de 10 vezes, pois passou,
entre 2019 e 2020, de -654 milhões para -6776 milhões
. A própria Segurança Social que apresentava sempre
elevados saldos positivos, viu o seu saldo das contas do 1º semestre de
2020 corresponder apenas a 16,4% (1/6) do de 2019 referente a idêntico
período. Embora sejam valores em contabilidade publica, no entanto
já são um claro indicador da forte deterioração das
contas publicas que deve preocupar todos os portugueses pois são eles
que acabarão por pagar com uma forte política de austeridade que
afeta fundamente as classes da população com rendimentos mais
baixos, nomeadamente trabalhadores, pensionistas e micro e pequenos
empresários.
Finalmente é importante ainda mencionar o aumento significativo da divida
publica, o que confirma a degradação enorme da
situação. Segundo o Banco de Portugal, entre dez.2019 e mai.2020,
a Divida Pública aumentou de 310.349 milhões para 326.659
milhões (+16.310 milhões ). Um crescimento
rápido que deve merecer também reflexão.
14/Agosto/2020
[*]
edr2@netcabo.pt
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