Acerca da assembleia do Montepio realizada em 28/03/2018
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A SITUAÇÃO DIFICIL EM QUE A ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA
SE ENCONTRA E A NECESSIDADE DE FALAR A VERDADE AOS ASSOCIADOS
Há vários anos a esta parte, muitas vezes sozinho, alertei os
associados para a situação que a Associação
Mutualista caminhava fruto de uma gestão que sempre discordei. Penso
que agora ela é, infelizmente, clara para muita gente. Os dados das
contas de 2016 e 2017, agora divulgadas, provam a situação
difícil, para não utilizar outros termos, da
Associação Mutualista -Montepio Geral. Uma parte importante dos
ativos que garantem as poupanças dos associados foram delapidados pela
gestão desastrosa do atual presidente da Associação
Mutualista, que agora procura ocultar essa realidade aos associados recorrendo
aos "
Ativos por impostos diferidos
" que não criam qualquer valor, como provamos neste estudo
Resumindo as conclusões mais importantes que se tiram dos dados do
quadro anterior, que constam dos relatórios publicados, conclui-se
nomeadamente o seguinte:
A nível de Contas Consolidadas de 2016
, que dão a verdadeira situação da
Associação Mutualista, pois inclui os resultados das 21 empresas
em que estão aplicadas as poupanças dos associados, a
Associação Mutualista acumulou, em 4 anos (2013/2016),
907 milhões de prejuízos
. Entre 2012 e 2016, os Capitais Próprios da Associação
Mutualista, na parte que pertence aos associados, passaram de 870,8
milhões positivos para 346,8 milhões negativos,
portanto "
desapareceram" 1.217 milhões de Capitais Próprios.
No fim de 2016, o ATIVO da Associação Mutualista (o que ela
possuía), na parte que pertence aos associados, era inferior ao seu
PASSIVO (o que devia) em 346,6 milhões .
A nível de Contas individuais de 2017
, portanto sem incluir os resultados das empresas, a Associação
Mutualista apresentou, em 2017,
resultados negativos no montante de
220,9 milhões ,
e Capitais Próprios negativos no montante de 33,7 milhões .
Isto significa que, em 2017, sem incluir os efeitos das empresas do Montepio,
o ATIVO da Associação Mutualista (o que ela possui) era inferior
ao seu PASSIVO (o que deve) em 33,7 milhões .
Os dados das contas consolidadas de 2016 e das Contas individuais de 2017, que
foram divulgadas, revelam uma situação grave e difícil da
Associação Mutualista que não pode nem deve ser escondida
aos associados, e que não é resolvida com engenharias fiscais ou
contabilísticas, embora possam ser legais. E isto porque a sua a
situação real continua depois a ser a mesma após essas
engenharias.
A SITUAÇÃO DIFICIL DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA
NÃO SE RESOLVE COM A PERDA DA ISENÇÃO DE IRC, QUE
ATÉ VAI AGRAVAR O PROBLEMA
A isenção de pagamento de IRC que gozava a
Associação Mutualista não era uma benesse que só
ela tinha. A isenção resultava da própria lei
(Código de IRC). Segundo o artº 10º, nº 1, alínea
b) do Código do IRC a Associação Mutualista estava isenta
do pagamento de IRC,
porque estão isentas todas "as instituições
particulares de solidariedade social (IPSS) , bem como as pessoas coletivas
àquelas legalmente equiparáveis",
e a Associação Mutualista é uma IPSS. E estas só
perdem a isenção se existir
"qualquer interesse direto ou indireto dos órgãos
estatutários
" (nº3 alínea c do mesmo artigo) ou se tiverem
"rendimentos empresariais derivados do exercício das atividades
comerciais ou industriais desenvolvidas fora do âmbito dos fins
estatutários
(nº3 , do mesmo artigo 10º do Código do IRC).
Para conseguir a perda de isenção de IRC junto do
Ministério das Finanças, a administração da
Associação Mutualista apresentou uma declaração da
Comissão de Vencimentos de que o seu estatuto remuneratório, para
além da remuneração mensal que varia entre 28.000
(vogais) e 31.000 (presidente) por mês , ainda tinha
"eventualmente, um subsidio anual de montante fixo , pago no mês de
Abril de montante que não excede 11% da remuneração fixa
anual
(entre 43.120 e 47.740),
conforme vier a ser deliberado pela comissão de vencimentos
" , portanto um prémio que não deixa de ser insólito
pela facto da sua gestão só ter acumulado elevado
prejuízos. Foi com este argumento que o conselho de
administração provou que tinha
"interesse direto ou indireto".
No entanto, o Ministério das Finanças acrescentou na
resposta ao "pedido de interpretação vinculativa"
solicitada pela Associação Mutualista o facto de que a perda de
isenção tem também como causa "
rendimentos empresariais derivados do exercício das atividades
comerciais ou industriais desenvolvidas fora do âmbito dos fins
estatutários",
o que não foi contestado pelo conselho de administração,
impedindo no futuro que a Associação Mutualista obtenha de novo a
isenção.
Como foram "criados" os 808 milhões de "Ativos por
impostos diferidos" que transformaram, como por milagre, 220,9
milhões de prejuízos que a Associação Mutualista
teve em 2017, em 587,5 milhões de resultados positivos?- Eis a
questão.
202 milhões correspondem a prejuízos da
Associação Mutualista, e prejuízos não são
lucros.
Apenas conferem à Associação Mutualista o direito de os
deduzir no IRC de lucros futuros quando e se os tiver num montante suficiente.
Mas isso não representa um novo benefício pois a
Associação Mutualista estava isenta do pagamento de IRC.
Os restantes 606 milhões correspondem as chamadas
"diferenças temporárias".
Essas "diferenças temporárias" resultam do facto do
resultado apurado pela contabilidade, que é o real, ser diferente do
resultado obtido com base nas normas fiscais. A nível
contabilístico uma despesa pode ser registada como custo, reduzindo os
resultados, mas o fisco pode não aceitar a totalidade ou parte dela como
custo, tendo de ser imputado a anos futuros. E impõe isto para que o
Estado não tenha uma grande perda de receitas fiscais. Como consta do
próprio relatório e contas de 2017 (pág. 98), "
No que respeita às diferenças temporárias que deram origem
a Impostos Diferidos, as mesmas decorrem, essencialmente, da não
dedução fiscal das provisões técnicas ou
matemáticas para encargos com modalidades associativas",
ou seja, essas provisões embora sejam um custo para a
Associação Mutualista, pois correspondem às
poupanças rentabilizadas têm que ser pagas aos associados, a
Administração Fiscal não as considera como custo no
momento em que os associados entregam essas poupanças à
Associação, embora na contabilidade desta sejam registadas como
um custo. Para obter os 606 milhões de "Ativos por impostos
diferidos" utilizou-se uma taxa de 30,18%
(IRC+ derramas)
aos 3.155,6 milhões de provisões técnicas que
garantem as poupanças dos associados, e
depois deduziu-se, por uma questão de segurança, 330
milhões conforme consta da pág. 98 do relatório e
contas de 2017.
É evidente que também neste caso não são lucros,
pois os "Ativos por impostos diferidos" diminuem automaticamente
à medidas que os associados sejam reembolsados das suas poupanças.
É fácil de concluir que, em qualquer um destes casos, não
é acrescentado qualquer valor, nem dá origem à entrada de
dinheiro ou de qualquer outro ativo.
A situação mantém-se na mesma, ou seja, àquela que
existia antes de se ter perdido a isenção, determinando mais
custos e menos benefícios para os associados, o que configura um ato de
má gestão.
A ENGENHARIA FISCAL E CONTABILISTICA VAI DETERMINAR QUE, EM 2018, A
ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA TENHA DE PAGAR JÁ IRC, O QUE NUNCA
ACONTECEU
Segundo o artº 52º do Código do IRC, que Tomás Correia
ignorava, "
a dedução dos prejuízos
(os chamados "ativos por impostos diferidos")
nos lucros eventuais futuros só pode ser feita até 70% dos lucros
fiscais",
o que significa que se terá de pagar sempre IRC em relação
a 30% dos lucros ou excedentes da Associação Mutualista. Isto
para assegurar que o Estado tenha sempre uma receita mínima.
A forma como são registadas na contabilidade da Associação
as entregas dos associados poderá determinar o pagamento de IRC muito
elevado
Na contabilidade da Associação Mutualista
as poupanças entregues pelos associados são registadas como
"proveitos inerentes a associados"
e o reembolso das poupanças como
"custos inerentes aos associados".
A diferença
(positiva ou negativa),
é registada como
"variação das provisões técnicas".
Portanto, se num ano a administração fiscal não aceitar,
como custo fiscal, o aumento das provisões técnicas, devido ao
facto das entradas terem sido muito superiores aos reembolsos, e as considerar
como lucros fiscais, embora não sejam lucros, a Associação
Mutualista terá de pagar IRC, pelo menos, 30% destes lucros fiscais
(artº 52º do Código de IRC),
embora nos anos futuros possa ser ressarcida desse pagamento, não
pagando na altura em que reembolsar aos associados dessas poupanças.
Uma simulação feita com nos dados constantes do Orçamento
da Associação Mutualista aprovado para 2018, em que se
prevê uma Margem Associativa de 442,4 milhões , e um
excedente de 30,5 milhões , daria um lucro fiscal de 472,9
milhões , que não correspondente ao previsto pela
contabilidade, que é apenas de 30,5 milhões . Aquele lucro
fiscal de 472,9 milhões obrigaria a Associação
Mutualista a pagar, em 2018, 29,7 milhões de IRC, o que nunca
aconteceu. Desafiei o auditor e o conselho de administração a
apresentarem as análises de sensibilidade que fizeram para avaliar o
impacto da perda da isenção de IRC pela Associação
Mutualista, mas ambos, auditor e conselho de administração,
mantiveram-se calados e mudos, o que é suficientemente esclarecedor.
O ATAQUE DE TOMÁS CORREIA AO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
ANTERIOR DA CAIXA ECNÓMICA FEITO NA ASSEMBLEIA DE ASSOCIADOS
Em mais um dos seus habituais ataques públicos ao conselho de
administração executivo anterior da Caixa Económica e,
como eu estava na assembleia, procurou envolver também o conselho geral
de supervisão, acusando-o de ter aprovado por unanimidade como se ele
tivesse qualquer responsabilidade na gestão, afirmou que a
Associação Mutualista tinha sido obrigada a recapitalizar a Caixa
Económica, em 2016, com 270 milhões e, em 2017, com mais
250 milhões , devido ao facto do conselho de
administração anterior não ter vendido uma carteira de
credito de 1.200 milhões , cuja negociação ele tinha
feito. Mais uma vez utilizou a mentira, o que é habitual nele, e revelou
também ignorância.
Como foi na altura divulgado, entre 2012 e 2015, portanto com a
administração de Tomás Correia, a Caixa Económica
vendeu carteiras de credito no montante de cerca de 600 milhões ;
nos anos de 2016 e 2017, a Caixa Económica, com a
administração de Félix Morgado a venda de carteiras de
crédito foi muito superior (+ 60%). A dificuldade não é
vender carteiras de crédito; o problema é vendê-las sem ter
mais prejuízos que destroem capital, e exigem novas
recapitalizações. Atualmente, no setor bancário, o maior
negócio é a venda de carteiras de credito, de que se aproveitam
fundos predadores, nomeadamente americanos, que as compram em saldo, obtendo
depois lucros que variam entre os 20% e 30%.
Mas os dados do quadro seguinte permitem avaliar com objetividade
(são dados dos relatórios e contas da Caixa Económica),
o que representou a gestão da administração de
Tomás Correia e a administração de Félix Morgado, e
o papel do conselho geral de supervisão em 2016 e 2017.
Entre 2011 e 2015, portanto com a administração de Tomás
Correia, a Caixa Económica-Montepio Geral acumulou imparidades de
crédito
(perdas de crédito)
no montante de 1.381 milhões , e imparidades totais, que inclui
perdas de crédito e em outros ativos, num montante de 1.777
milhões , e teve de abater ao Ativo, por se ter considerado
definitivamente perdido, 1.230 milhões de crédito, o que
determinou que neste período os prejuízos tenham atingido 681
milhões . Devido a estes prejuízos e à
aquisição do FINIBANCO, que se revelou um desastre para a Caixa
Económica por falta de uma avaliação correta, a
Associação Mutualista teve de recapitalizar a Caixa
Económica cinco vezes, com 1.100 milhões .
Em 2016 e 2017, com a administração de Félix Morgado,
apesar de ter sido obrigada a constituir 320 milhões de
imparidades de credito devido ao mau crédito concedido pela
administração anterior de Tomás Correia, e 417
milhões de imparidades totais consequência também de
maus negócios anteriores, em 2016 os prejuízos foram reduzidos
para 84 milhões , que compara com os prejuízos de 242
milhões em 2015, último ano da administração
de Tomás Correia e, em 2017, conseguiu já ter um lucro de 30
milhões . Os 520 milhões que a
Associação Mutualista teve de recapitalizar a Caixa
Económica neste período resultou das elevadas imparidades que se
tiveram ainda de suportar neste período por maus créditos e maus
negócios feitos pelas administrações anteriores, por um
lado, e, por outro lado, pela necessidade de aumentar os rácios de
capital exigido pelo Banco de Portugal.
Após a alteração de modelo de governo
(passou de um sistema dualista para um sistema monista que determinou a
eliminação do conselho geral de supervisão)
e da substituição dos órgãos sociais por uma nova
administração, a que ainda lhe faltam membros executivos
fundamentais, e devido à instabilidade que isso provocou numa
instituição financeira que estava numa fase de
convalescença, é com preocupação que os associados
naturalmente acompanharão os resultados da atual
administração, não podendo ser esquecido que a
Associação Mutualista tem investido no capital social da Caixa
Económica 2.420 milhões , a maioria deste valor são
poupanças dos associados, cujo valor contabilístico atual
é apenas de 1.777 milhões , pois estes são os
Capitais Próprios da Caixa Económica em 31.12.2017
(nas Contas de 2017 da Associação Mutualista, a Caixa
Económica está avaliada em 1.877,8 milhões - ver
pág. 34)
A SITUAÇÃO GRAVE DA SEGURADORA LUSITÂNIA, SA (não
vida) CONTINUA POR RESOLVER
Após a compra da seguradora Real que pertencia ao BPN em 2009, por valor
superior ao que valia, que foi integrada na Lusitânia SA
(não confundir com Lusitânia Vida que sempre teve lucros),
cuja situação não foi corretamente avaliada no ato de
aquisição, como aconteceu com a compra do FINIBANCO, a
Lusitânia SA começou a ter elevados prejuízos causados
pelos problemas
("lixo")
herdados da Real. Só no período compreendido entre 2010 e 2016 a
Lusitânia SA acumulou 102 milhões de prejuízos e
estima-se que, em 2017, tenha tido mais prejuízos que devem situar-se
entre os 20 e 30 milhões .
Enquanto na Caixa Económica se tinha iniciado a
recuperação, embora difícil e lenta, devido à
pesada herança deixada pela administração anterior e ao
clima deprimente que ainda enfrenta o negócio bancário, a
Lusitânia SA continua a afundar-se com consequências graves para a
Associação Mutualista que tem, no fundo, de suportar os
prejuízos com novas recapitalizações utilizando as
poupanças dos associados. Segundo o relatório e contas, em 2017 a
Associação Mutualista teve de registar mais 80 milhões
de perdas (imparidades) devido aos prejuízos da Lusitânia
SA, o que fez aumentar as imparidades registadas para 149,4 milhões
(Nota 22, pág. 91 do Relatório e contas de 2017).
Em 2017, foi assinado um acordo estratégico com o grupo chinês
CEFC para a venda de 60% do Montepio Seguros SGPS, que detém as
seguradoras Lusitânia SA e Lusitânia Vida, cujo presidente
está a contas com a justiça na China, segundo os
órgãos de comunicação social, acordo esse que os
associados continuam a desconhecer, mas que era urgente serem informados
(mas assim vai a informação e a participação dos
associados no Montepio, embora todos estes negócios sejam feitos com as
suas poupanças).