O estado a que Portugal chegou, porque chegou e como sair dele
Contributos para o debate nacional (2ª Parte)
RESUMO DESTE ESTUDO
O problema da Dívida externa não se circunscreve ao problema da
Dívida
Líquida
externa que analisamos no estudo anterior. No fim de 2010, a Dívida
Bruta
do País ao estrangeiro atingia 506.075 milhões ,
representando a Dívida do Estado ao estrangeiro apenas 17,4%, enquanto a
Dívida da Banca correspondia a 34,4%, e a das empresas e particulares
representava 36,3% da Dívida Total do País. A banca endivida-se
no exterior, e com esses meios e os depósitos que obtém
internamente, concede crédito. Em 2010, de um total de 277.196
milhões de empréstimos concedidos internamente pela banca,
33.485 milhões (12,1% do total) foram concedidos às
Administrações Públicas; 114.623 milhões
(41,4%) às empresas; e 129.088 milhões (46,6% do total) a
"Particulares". Portanto, no crédito interno, e contrariamente
ao que muitas vezes se pensa ou se diz, apenas a parcela menor (12,1% do total)
foi para o Estado, Autarquias e Regiões. A Dívida total do
País, e a Dívida do Estado (que inclui a Dívida externa e
interna atingia, no fim de 2010, 160.470 milhões , segundo o
INE), estão a levantar problemas extremamente graves cuja
solução temporária passa, nomeadamente,: (1) Pelo BCE ou
FEEF assumirem a função de "
emprestador de último recurso" (lender of last resort")
; (2) Renegociar a Dívida com o objectivo de alargar os prazos de
amortização e reduzir taxas; (3) Obter "ajuda" do
FMI/UE nos moldes impostos à Grécia e Irlanda, o que conduziria a
um espiral interminável de medidas de austeridade que atirariam o
País para recessão prolongada com consequências
económicas e sociais graves.
O endividamento vertiginoso do Pais resulta do elevado e constante
défice anual das contas externas portuguesas. Só no
período 2006-2010, Portugal acumulou na Balança de Pagamentos
Correntes, ou seja, nas transacções com o exterior um saldo
negativo de -89.849 milhões . Isto significa que Portugal teve de
pagar ao exterior mais 89.849 milhões do que recebeu do
estrangeiro. A resolução deste problema passa pelo aumento da
produção nacional de bens transaccionáveis. E
contrariamente ao que tem sido a politica do governo, e ao defendido pelo PS
(consta do seu programa eleitoral) e do que defende o PSD essa
produção deve ser, em primeiro lugar, orientada para substituir
as importações e, só depois, para aumentar as
exportações. Isso obriga a uma inversão de todos os
programas governamentais orientados quase exclusivamente para o aumento das
exportações. Basta analisar as importações
portuguesas por produtos para concluir que existem imensas potencialidades que
não têm sido exploradas.
É urgente inverter a politica de crédito da banca em Portugal que
tem promovido a especulação e o consumismo, em prejuízo
das actividades produtivas. E mais quando o crédito é escasso. O
credito à Agricultura e Indústria (Extractiva e Transformadora),
actividades produtivas por excelência representava apenas 7,2% do
crédito total em 2005 e 6,6% em 2010, enquanto que, em 2010, o credito
à empresas de Construção representava 9,4% do total, ao
Imobiliário 6,4%, o crédito à Habitação
correspondia a 44,4% e ao consumo 6,1%. A própria CGD, apesar de ser um
banco do Estado, tem participado activamente nesta politica. Em 2010, o credito
da Caixa à Agricultura, Pesca, Indústria Transformadora
representava apenas 6,2% do crédito concedido, enquanto às
empresas de Construção e Obras Publicas representava 7,9% e
à Habitação e Consumo 50,7%. É urgente inverter
toda esta política, começando pela CGD que se tem de transformar
num banco de fomento da actividade produtiva, nomeadamente de bens
transaccionáveis destinados à substituição de
importações
É possível aumentar as receitas do Estado sem aumentar impostos.
Para conseguir isto bastava desenvolver um combate eficaz à
evasão e fraude fiscal e contributiva, eliminar benefícios
fiscais injustos que continuam a gozar os grupos económicos e
financeiros, assim como inúmeras isenções. Segundo
estimativas realizadas, entre 2005 e 2009, em cinco anos, a evasão e
fraude fiscal atingiu 25.141 milhões , e a fraude e evasão
contributiva, e isenções determinaram que a Segurança
Social tenha perdido um volume de receita que avaliamos em 14.595
milhões . Somando estes dois valores, o Estado perdeu um volume de
receita que, no período 2005/2009, deve ter atingido 39.736
milhões , o que dá uma média de 7.947 milhões
por ano.
É urgente renegociar as Parcerias Públicas Privadas, eliminando a
taxa de disponibilidade e obrigando os privados a partilhar os riscos pois
actualmente, eles têm lucros assegurados à custa do OE. É
urgente assinar contratos de serviços públicos com as empresas de
transportes com o objectivo de definir as responsabilidades do Estado e
combater a má gestão. É urgente desenvolver um
esforço planeado sistemático para identificar desperdício
e subutilização de meios que continua a existir na
Administração Pública (SNS, Institutos, EP, etc.).
É necessário que os portugueses que financiam com os seus
impostos o ensino em Portugal participem no debate já que o sistema
actual não serve as necessidades de desenvolvimento do País (65%
dos empregados continuam a ter o ensino básico ou menos), e ele
não é uma reserva do ME, MCES, alunos e professores.
|
Este estudo é a continuação (2ª parte) do estudo
"
O estado a que Portugal chegou, por que chegou a ele, e como sair dele
" que publicamos em 17 de Abril p.p. Para que não hajam
mal-entendidos queremos já deixar claro que não nos move a
pretensão de apresentar quaisquer soluções acabadas para
os problemas do País, mas apenas contribuir para um amplo debate
democrático nacional sem exclusões, que é tão
necessário, disponibilizando dados, reflexões, etc., tal como
sucedeu com a 1ª parte. E isto porque as
"soluções" que podem surgir do chamado trabalho da
"troika" FMI/EU/BCE, e da sua "negociação"
com o governo PS, com o PSD e com o CDS, certamente não
resolverão os problemas do País, só os agravarão,
pois as "receitas" são sempre as mesmas e já
conhecidas, pois estão condicionadas por pressupostos ideológicos
neoliberais como aconteceu com Greenspan, ex-governador do Fed dos EUA, que
agora veio confessar que estava errado. Essas mesmas
"soluções" já foram aplicadas na Grécia e
na Irlanda com resultados desastrosos para ambos os países, que
estão actualmente mergulhados numa profunda recessão
económica, e numa "espiral" de taxas de juro e de medidas de
austeridade que agravam ainda mais a situação das economias e das
suas populações.
DÍVIDA BRUTA EXTERNA DO PAÍS E DÍVIDA INTERNA À
BANCA
No estudo anterior (1ª Parte) utilizamos dados da Dívida
Líquida
Externa, ou seja, os valores que se obtêm subtraindo aquilo que Portugal
deve ao exterior (Passivo) aquilo que tem a haver (Activo). No entanto, os
devedores e credores poderão e, em muitos casos, não são
os mesmos, por isso não será possível utilizar os activos
dos credores para reduzir as Dívidas de devedores já que
são entidades diferentes. Para além disso, os activos e passivos
poderão ter prazos de liquidez diferentes. Por isso, interessa conhecer
os valores brutos da Dívida do País (o Passivo) por principais
entidades devedoras, para se poder ter uma informação mais
correcta da situação que Portugal enfrenta, pois se não
descermos a este nível mais concreto de análise podemos cair no
irrealismo. O quadro seguinte, construído com dados constantes do
Boletim Estatístico de Março de 2011, do Banco de Portugal,
permite descer a análise a um nível mais desagregado.
Quadro 1- Dívida Bruta (Passivo) de Portugal ao estrangeiro e
Dívida à Banca em Portugal por entidades
ANOS
|
DÍVIDA BRUTA EXTERNA
(Passivo Total da Posição de Investimento Internacional)
Milhões
|
DÍVIDA À BANCA Crédito bancário interno
Milhões
|
PAÍS
|
Estado
|
Autoridades Monetárias
(Banco Portugal)
|
Banca
|
Empresas e Particulares
|
Das Administrações Públicas
|
Das Empresas
|
Dos particulares (*)
|
SOMA
|
2007
|
449.383
|
79.428
|
6.215
|
192.736
|
171.005
|
8.853
|
101.610
|
114.375
|
224.838
|
2008
|
448.623
|
89.003
|
18.957
|
181.432
|
159.232
|
9.753
|
115.809
|
119.917
|
245.479
|
2009
|
493.407
|
98.687
|
23.440
|
193.263
|
178.017
|
16.715
|
117.807
|
125.566
|
260.088
|
2010
|
506.075
|
87.862
|
59.971
|
174.342
|
183.900
|
33.485
|
114.623
|
129.088
|
277.196
|
Variação
|
12,6%
|
10,6%
|
865,0%
|
-9,5%
|
7,5%
|
278,2%
|
12,8%
|
12,9%
|
23,3%
|
(*) Crédito à habitação e ao consumo;
Fonte: Boletim Estatístico Março 2011- Banco de Portugal
Em 2010, a Dívida Bruta do País, ou seja, o seu
"Passivo" ao estrangeiro atingia 506.075 milhões euros quando
a Dívida Liquida era de 185.551 milhões de euros, ou seja, a
Dívida Bruta era 2,7 vezes superior à Dívida Liquida
Externa. Por outro lado, e em relação também a 2010, a
Dívida do Estado representava apenas 17,4% daquele total, enquanto a da
banca já correspondia a 34,4%, e a das empresas e particulares
representava 36,3% da Dívida Bruta Total do País.
Existe um outro aspecto que deverá ser tido também em conta para
uma correcta análise do problema. A banca endivida-se no exterior, e com
esses meios e com os depósitos que consegue obter internamente empresta
a diversas entidades: Administrações Públicas (Central,
Autárquica e Regional), a empresas e particulares. Em 2010, de um total
de 277.196 milhões de crédito concedido pela banca,
33.485 milhões (12,1% do Total) foi concedido às
Administrações Públicas; 114.623 milhões
(41,4% do total) a empresas, e 129.088 milhões (46,6% do total) a
"Particulares". Portanto, no crédito interno, e contrariamente
ao que muitas vezes se pensa ou se diz, apenas uma reduzida percentagem (12,1%)
foi para o Estado, Autarquias e Regiões. Uma situação
preocupante que os dados do Banco de Portugal revelam é a
redução do credito às empresas entre 2009 e 2010,
diminuiu de 117.807 milhões para 114.623 milhões
o que pode levar, a continuar, ao estrangulamento financeiro de muitas
empresas, à sua falência, e ao aumento do desemprego. Este
é um dos aspectos mais preocupantes da situação actual que
tem sido omitido pela generalidade dos media e até por muitos
políticos.
Os dados do Banco de Portugal revelam que embora o ritmo de aumento de
Dívida externa e interna do Estado seja um problema grave, é
ainda mais grave a dimensão da Dívida externa da banca e das
empresas, assim como da Dívida interna de empresas e particulares
à banca.
A solução para o problema da Dívida do Estado e das outras
entidades é diferente, embora elas se condicionem mutuamente. O problema
grave é que se deixou uma e outra chegar a um nível tal, que
facilmente se poderá chegar a um ponto que não seja
possível pagar aos credores na data acordada. Para além disso, os
credores estão a aproveitar a situação a que chegou tanto
o País como, em particular, o Estado, para impor, no caso em que se
pedem novos empréstimos, quer para cobrir os défices do
País e do Estado, quer a concessão de empréstimos para
pagar os que vencem este ano (80.000 milhões euros a nível do
País e cerca de 35 mil milhões de euros do Estado) taxas de juro
incomportáveis, sob a ameaça de "fechar a torneira.
Uma parcela da "aflição" do Estado podia ser adiada com
o recurso a activos de instituições controladas pelo Estado cujas
aplicações poderiam ser orientações para a
Dívida pública portuguesa. Mas mesmo esta possibilidade tem
limites estreitos. Alguns exemplos concretos. O Fundo de
Estabilização da Segurança Social cujo valor actual, em
31/3/2011, era de 9.189 milhões , já 47,49% estão
aplicados em Dívida pública portuguesa, restando apenas 4.825
milhões de euros, que poderiam ser orientados para
aplicações em Dívida pública. Mas mesmo isso,
levanta problemas. Em primeiro lugar, a concentração num tipo de
activo contraria a norma de diversificação para reduzir o risco.
Em segundo lugar, a venda maciça de activos poderia determinar a uma
baixa nos seus preços o que determinaria perdas importantes para a
Segurança Social.
O mesmo se pode dizer em relação às reservas especiais da
CGA, que garantem fundos geridos por ela, em que 4.505 milhões
já estão aplicados em títulos da Dívida
pública, o mesmo se podendo dizer do Fundo de Pensões do Banco de
Portugal, cujo valor deverá rondar os 1.300 milhões em
que quase 1.000 milhões já estão aplicados em
títulos de Dívida pública. Restaria a carteira de
títulos do Grupo Caixa no valor de 30.500 milhões , sendo
18.925 milhões da actividade bancária e 11.623
milhões de actividade seguradora. Mas mesmo estes valores
não podiam ser, na sua maioria, utilizados para resolver o problema da
Dívida do Estado. Em primeiro lugar, porque uma parte deles já
está aplicado em títulos da Dívida pública. Em
segundo lugar, porque outra parte foram dados como garantia a
empréstimos obtidos junto do BCE. Em terceiro lugar, porque existem
aplicações que dificilmente seriam transaccionadas como 3.000
milhões de títulos do BPN.
Finalmente, se as maturidades dos empréstimos ao Estado não
coincidissem com as necessidades de liquidez das seguradoras e dos fundos para
pagar sinistros, pensões e levantamentos, estas empresas poderiam ser
obrigadas a vender títulos antes de eles vencerem com importantes
prejuízos (menos valias). Portanto, a mudança de
aplicações dos activos destas exigem previamente complexos
estudos ALM que não são conhecidos. Portanto, é uma
"solução" limitada para o problema da Dívida do
Estado.
Uma alternativa muito mais consistente seria o BCE ou Fundo de
Estabilização Financeiro Europeu assumir o papel de
"financiador de último recurso"
("lender last resort"),
à semelhança do Banco de Portugal quando tinha a
competência de emissão monetária, e à
semelhança do que se verifica actualmente nos Estados Unidos com o
"Fed" que financia o Estado. A não existência de uma
entidade com tais funções na UE só poderá ser
interpretado como a intenção expressa dos grandes países,
como a Alemanha, de colocar os países em dificuldade à total
mercê dos "mercados", ou seja, de construir uma UE em que
domine o neoliberalismo, e que a coesão social e desenvolvimento
equilibrado e sustentado esteja totalmente ausente.
Se tal solução for excluída pela UE, e tendo em conta a
gravidade da situação, e não se querendo entrar em
"default"
(interromper pagamentos), já que isso teria certamente como
consequência que o financiamento externo se fecharia e surgiriam
pressões/represálias da União Europeia, a
solução alternativa a curto prazo, para ultrapassar
momentaneamente as dificuldades seria renegociar a Dívida, com o
objectivo de aumentar significativamente prazos de pagamento e reduzir taxas de
juro da Dívida, pois Portugal não tem condições
para aguentar a manutenção da presente situação.
Uma solução semelhante à grega ou à irlandesa
atirará o País para uma sucessão interminável de
medidas de austeridade que o atirarão para uma recessão
económica cada vez mais prolongada e profunda, donde mais dificilmente
conseguirá sair. E ainda por cima o País seria obrigado a
reestruturar a Dívida pois a "solução"
FMI/BCE/UE determinaria a degradação da situação da
economia que tornaria tal "solução" inevitável,
como já está a suceder com a Grécia.
Portanto, falhando as soluções do BCE ou FEEF de servirem
"financiador de último recurso" ou a
renegociação da Dívida, Portugal poderá ser
rapidamente colocado perante a necessidade de sair, pelo menos temporariamente,
da Zona do Euro, para evitar um maior desastre e resolver os seus problemas
estruturais. Mas para isso seria importante que contasse com ajuda da
União Europeia para que as consequências económicas e
sociais dessa saída fossem minimamente controladas e suportáveis
pelo País e pelos portugueses. Mas toda esta situação
impõe uma negociação muito exigente com a UE, e não
uma atitude se submissão e de inevitabilidade como se verifica
actualmente por parte do PS, do PSD e do CDS, e de muitos comentadores com
acesso privilegiado aos media, se possível articulada com os
países que enfrentam dificuldades semelhantes, para encontrar ou um
quadro para a renegociação da Dívida ou, no caso de isso
não ser possível, uma saída controlada, com o apoio da UE,
da Zona do Euro. É uma questão para onde o País, e que se
colocará tarde ou cedo.
O DÉFICE ORÇAMENTAL EM 2011, SUA VERDADEIRA DIMENSÃO, E
NECESSIDADE DE ALARGAR O PERIODO DE CONSOLIDAÇÃO PARA ATENUAR
CONSEQUENCIAS ECONÓMICAS E SOCIAIS
Esquecendo a situação actual do País, Sócrates,
pressionado pelo PSD e CDS e com o objectivo de se apresentar como "bom
aluno" para os "mercados", e de total submissão à
Comissão Europeia prometeu objectivos irrealistas de
redução do défice.
No PEC: 2010-2013, apresentado em Março de 2010, a
programação da redução do défice era
seguinte: 2010: 8,3% do PIB; 2011: 6,6% do PIB; 2012: 4,6% do PIB; 2013: 2,6%
do PIB. No PEC: 2011-2013, apresentado em Março de 2011, a
programação da redução do défice era
já seguinte: 2010: 7,3% do PIB; 2011: 4,6% do PIB; 2012: 3% do PIB;
2013: 2% do PIB; 2014: 1% do PIB. E esta antecipação
significativa da redução do défice orçamental ainda
é mais insólita e irresponsável, porque não tinha
em conta a grave crise económica e social que o País enfrentava,
e quando uma parte importante da redução do défice de 2010
era ilusória, não real, porque tinha sido conseguida com a
transferência do Fundo de Pensões da PT e da Marconi para a CGA no
valor de 2.278 milhões , o que corresponde a 1,3% do PIB.
Portanto, se o Fundo de Pensões não tivesse sido transferido o
défice orçamental real de 2010 teria sido de 8,1% do PIB, o que
significa que a redução efectiva relativamente ao de 2009
9,3% do PIB tenha sido apenas de 1,2% do PIB. Mesmo que não se
entre em conta com as correcções do défice
orçamental impostas pelo FMI 1,8% + 0,5% que fez subir o
défice de 2010 para 9,1% do PIB, já que estes adicionais
não têm como base acréscimos permanentes de despesa
pública, mesmo assim a redução do défice
orçamental, entre 2010 e 2011, é de 8,1% para 4,6% do PIB, ou
seja, uma redução de 3,5 pontos ou seja, quase o triplo da
redução efectiva verificada entre 2009 e 2010, o que
insustentável sob o ponto de vista económico e social. Portanto,
é fundamental diminuir a redução do défice
orçamental para menos de 1 ponto percentual do PIB ao ano, o que obriga
a duplicar o prazo dos 4 anos previstos (2010/2014) para, pelo menos, 8 anos. E
mesmo uma redução do défice orçamental em
período de grave crise económica e social constitui um
obstáculo à recuperação.
PRODUZIR MAIS PARA DEVER MENOS, E PARA AUMENTAR O EMPREGO
E REDUZIR O DESEMPREGO
O endividamento do País só se conseguirá reduzir de uma
forma consistente quando se estancar o défice anual permanente e elevado
das contas externas portuguesas. O quadro seguinte, com dados do INE, mostra
défice acumulado nos últimos cinco anos de governo de
Sócrates.
Quadro 2- Saldo da Balança de Pagamentos Corrente
ANOS
|
BALANÇA DE PAGAMENTOS Milhões euros
|
BENS
(Balança Comercial)
|
Serviços
|
Rendimentos
(lucros, juros, royalties transferidos para o exterior )
|
Transferências Correntes
|
TOTAL
|
2006
|
-16.763
|
4.954
|
-6.301
|
2.521
|
-15.589
|
2007
|
-19.206
|
6.533
|
-7.004
|
2.603
|
-17.074
|
2008
|
-22.985
|
6.602
|
-7.781
|
2.464
|
-21.700
|
2009
|
-17.794
|
5.985
|
-8.728
|
2.135
|
-18.402
|
2010
|
-17.931
|
6.709
|
-8.037
|
2.175
|
-17.084
|
SOMA
|
-94.679
|
30.783
|
-37.851
|
11.898
|
-89.849
|
Fonte: Boletim Estatístico - Banco de Portugal
Só no período 2006-2010, Portugal acumulou na Balança de
Pagamentos Correntes, ou seja, nas transacções com o exterior um
saldo negativo de -89.849 milhões . Isto significa que Portugal
teve de pagar ao exterior mais 89.849 milhões do que recebeu do
estrangeiro. E isso só foi possível endividando-se muito mais.
É evidente que este elevado endividamento só parará quando
se acabar ou, pelo menos, se reduzir significativamente o elevado défice
anual nas contas externas. Portanto, nem a renegociação da
Dívida, nem a chamada "ajuda" externa, nem mesmo a compra pelo
BCE ou pelo FEEF de parte da Dívida externa portuguesa resolverá
o problema do constante e elevado do endividamento se não se conseguir
eliminar o elevadíssimo défice anual das contas externas
portuguesas.
Como mostra o quadro 2, este elevado e constante défice resulta da
acção conjugada de dois défices: o da Balança de
Bens, também chamada Balança Comercial
(Exportações-Importações) e o da Balança de
Rendimentos. O défice desta última resulta, em grande parte, do
endividamento crescente do País, pois são juros, mais-valias e
lucros de empresas vendidas a estrangeiros que são transferidos todos os
anos para o exterior. Mas o grosso do défice resulta fundamentalmente da
Balança de Bens (-94.679 milhões em 5 anos), devido ao
facto das importações de bens serem muito superiores às
exportações.
Contrariamente ao que pretende fazer crer o pensamento económico
neoliberal dominante, este grave problema não se resolve apenas
exportando mais, mas fundamentalmente produzindo muito mais para substituir uma
parcela cada vez maior do que se importa actualmente do estrangeiro. E isto
até porque o crescimento das exportações tem limites
porque a concorrência externa são cada vez maiores e mais
agressivas. O quadro seguinte, construído com dados do Comercio
Internacional divulgados pelo INE, mostra as importações por
produtos no período 2005-2009.
Quadro 3 As importações de bens por Portugal no
período 2005-2009
PRODUTOS
|
Milhões
|
% TOTAL
|
Agrícolas
|
25.250
|
8,9%
|
Alimentares
|
10.461
|
3,7%
|
Combustíveis Minerais
|
40.221
|
14,2%
|
Químicos
|
25.315
|
8,9%
|
Plásticos e Borrachas
|
13.496
|
4,8%
|
Peles e Couros
|
2.743
|
1,0%
|
Madeira e Cortiça
|
3.512
|
1,2%
|
Pastas Celulósicas e Papel
|
6.587
|
2,3%
|
Matérias Têxteis
|
8.289
|
2,9%
|
Vestuário
|
7.704
|
2,7%
|
Calçado
|
2.418
|
0,9%
|
Minerais e Minérios
|
4.609
|
1,6%
|
Metais Comuns
|
25.460
|
9,0%
|
Máquinas e Aparelhos
|
56.423
|
19,9%
|
Veículos e Outro Material de Transporte
|
36.007
|
12,7%
|
Óptica e Precisão
|
6.012
|
2,1%
|
Outros Produtos
|
8.657
|
3,1%
|
TOTAL
|
283.162
|
100,0%
|
Fonte: Estatísticas do Comercio Internacional: 1993-2009-INE
No período 2004-2009, Portugal importou bens no valor de 283.162
milhões , o que correspondente a 1,7 vezes o valor do PIB de 2009.
Se analisar as importações por produtos, conclui-se que o
País importou 35.711 milhões , de produtos agrícolas
e alimentares; 22.963 milhões e de produtos de "Peles e
Couros", "Madeira e Cortiça", Pastas Celulósicas e
Papel", Vestuário" e "Calçado", ou seja, de
produtos que o País tem condições para os produzir ou,
pelo menos, uma parte importante. O mesmo se pode dizer de
"Plásticos e borrachas", "minerais e
minérios", etc. Portanto, um esforço nacional com esse
objectivo é urgente pois terá resultados.
O aumento da produção nacional de bens transaccionáveis
para, em primeiro lugar, substituir as importações e, só
depois, aumentar exportações não é uma tarefa
fácil e que se possa resolver num curto período de tempo. Exige
um grande esforço nacional e nomeadamente por parte do governo. Um
exemplo apenas. Produtos alimentares e agrícolas que representam, em
média, 12,6% das importações portuguesas. Os principais
importadores são os grupos de distribuição (Pingo Doce da
Jerónimo Martins, Continente da Sonae, Dia, LIDL, Intermaché).
Não se conseguirá reduzir as importações destes
produtos sem se conseguir reorientar estes grupos económicos que
estão mais interessados em obter lucros do que em contribuir para um
esforço nacional para reduzir importações e fomentar a
produção nacional estabelecendo contratos com produtores
nacionais. Aqui o papel do Estado é fundamental assim como dos
portugueses. Estes últimos podiam ser orientados para a compra de
produtos nacionais com base numa forte campanha em que comprar produtos
portugueses era também uma forma de dar emprego a mais portugueses.
Neste momento muito difícil para o País e para os portugueses
seria importante criar uma consciência nacional de que comprar produtos
estrangeiros, quando existem portugueses, é lançar no desemprego
mais portugueses. Esta é uma questão que os media
sistematicamente ignoram. Será que os sindicatos que tanto lutam contra
o desemprego estariam dispostos a apoiar uma campanha deste tipo? Mas seria
também importante assegurar que os resultados de mais
produção fossem também melhor distribuídos. Um
esforço desta natureza para ter resultados teria que ser planeado,
nacional e com grande visibilidade.
CORRIGIR AS PROFUNDAS DISTORÇÕES QUE EXISTEM NA POLITICA DE
CRÉDITO DA BANCA
A politica de crédito da banca não se tem orientado pelas
necessidades de desenvolvimento do País, mas sim visando obter lucros
elevados e garantidos, o que levou a banca a fomentar e apoiar a
especulação e o consumismo em prejuízo das actividades
produtivas, como mostra o quadro seguinte construído com dados sobre o
crédito do Banco de Portugal.
Quadro 4 Os sectores mais prejudicados e os mais beneficiados com a
politica de crédito da banca
ANOS
|
Crédito Total
(Sociedade não Financeiras e Particulares)
|
Agricultura, Pescas e Indústria
|
Construção
|
Imobiliário
|
Habitação
|
Consumo
|
2005-Milhões
|
186.491
|
13.352
|
21.651
|
10.716
|
79.237
|
9.406
|
2006-Milhões
|
206.834
|
13.299
|
21.664
|
13.231
|
91.591
|
11.379
|
2007-Milhões
|
228.888
|
14.646
|
24.140
|
14.922
|
100.585
|
13.790
|
2008-Milhões
|
248.383
|
16.940
|
26.152
|
16.995
|
104.465
|
15.452
|
2009-Milhões
|
255.773
|
17.508
|
26.223
|
17.187
|
109.835
|
15.731
|
2010-Milhões
|
255.834
|
16.917
|
24.034
|
16.316
|
113.604
|
15.484
|
2005-% Total
|
100,0%
|
7,2%
|
11,6%
|
5,7%
|
42,5%
|
5,0%
|
2006-% Total
|
100,0%
|
6,4%
|
10,5%
|
6,4%
|
44,3%
|
5,5%
|
2007-% Total
|
100,0%
|
6,4%
|
10,5%
|
6,5%
|
43,9%
|
6,0%
|
2008-% Total
|
100,0%
|
6,8%
|
10,5%
|
6,8%
|
42,1%
|
6,2%
|
2009-% Total
|
100,0%
|
6,8%
|
10,3%
|
6,7%
|
42,9%
|
6,2%
|
2010-% Total
|
100,0%
|
6,6%
|
9,4%
|
6,4%
|
44,4%
|
6,1%
|
Var. 2005-2010
|
37,2%
|
26,7%
|
11,0%
|
52,3%
|
43,4%
|
64,6%
|
Fonte: Boletim Estatístico - Março 2011 - Banco de Portugal
O credito concedido à Agricultura, Silvicultura, Indústria
Extractiva e Transformadora, actividades produtivas por excelência,
representa uma parte muito pequena do crédito total concedido a empresas
e particulares (7,2% em 2005 e apenas 6,6% em 2010) e tem revelado uma
tendência de diminuição. Em relação ao
credito total concedido pela banca a percentagem é ainda mais reduzida
(menos de 6%). Enquanto se verificava esta politica de credito em
relação às actividades produtivas por excelência, em
2010, o credito concedido às empresas de Construção
representava 9,4% do total concedido a empresas e particulares, ao
Imobiliário 6,4%, representando o crédito à
Habitação 44,4% daquele total e ao consumo 6,1%. Pode-se dizer
com propriedade que as actividades produtivas são o parente pobre da
política de crédito da banca em Portugal. Esta tem estado mais
interessada em promover a especulação e o consumismo.
A própria CGD, apesar de ser um banco do Estado, tem participado nesta
actividade especulativa. Para além dos casos que vieram a público
em que a CGD concedeu empréstimos de milhões de euros a Manuel
Fino para especular com acções da CIMPOR, e quando não
amortizou esse empréstimo ter sido obrigado a entregar à CGD
acções no valor de quase 10% do capital da CIMPOR, e de ter feito
empréstimo semelhante a Joe Berardo para este comprar
acções do MIllennium e quando este entrou em incumprimento ter
aceite a renegociação da Dívida, o Relatório e
Contas da CGD de 2010 revela que, neste ano, o credito da Caixa à
Agricultura, Pesca, Industria Transformadora representou apenas 6,2% do credito
total concedido, enquanto às empresas de Construção e
Obras Publicas representou 7,9% e à Habitação e Consumo
50,7%.
É evidente que esta politica de crédito só podia ter
conduzido o País ao estado em que se encontra e ao crescimento
económico endémico. É urgente inverter toda esta politica
de especulação, de consumismo e de atraso em que a banca em
Portugal tem participado activamente, começando pela CGD que se deve
transformar preferencialmente num banco de fomento à actividade
produtiva, nomeadamente de apoio à produção de bens
transaccionáveis destinados fundamentalmente à
substituição de importações. A
aplicação dos Fundos Comunitários devia ser reorientada
também com esse objectivo. Recorde-se que até 31/12/2010 ficaram
por utilizar 6.439,6 milhões de fundos do QREN (ver nosso estudo
de 5/2/2011 disponível em
www.eugeniorosa.com
).
AUMENTAR AS RECEITAS DO ESTADO SEM AUMENTAR OS IMPOSTOS É POSSIVEL
ATRAVÉS DE UM COMBATE EFICAZ À EVASÃO E FRAUDE E
ELIMINANDO BENEFICIOS FISCAIS INJUSTOS
Em Portugal, as receitas fiscais e as receitas da Segurança Social
podiam aumentar significativamente sem aumentar taxas de impostos ou taxas
contributivas, que é a solução adoptada habitualmente quer
pelo governo quer pelo FMI. Os dados do quadro seguinte obtidos com base em
cálculos a partir de dados oficiais prova com clareza isso.
Quadro 5- Acréscimo de receitas fiscais e da Segurança Social
que podia ser obtido com o aumento da eficácia do combate à
evasão e fraude e eliminando isenções injustas
ANOS
|
EVASÃO E FRAUDE FISCAL
Milhões
|
SEGURANÇA SOCIAL
(Evasão e Fraude contributiva e isenções)
Milhões
|
SOMA
Milhões
|
2005
|
5.073
|
2.663
|
7.736
|
2006
|
5.129
|
2.717
|
7.846
|
2007
|
4.910
|
3.063
|
7.973
|
2008
|
4.128
|
2.991
|
7.119
|
2009
|
5.901
|
3.161
|
9.062
|
SOMA
|
25.141
|
14.595
|
39.736
|
Fonte: Eurostat, INE e Relatorio OE-2005/2011
Os dados da evasão e fraude fiscal foram obtidos tomando com base a
capitação média da receita fiscal na UE, e depois
calculando uma proporção que tem como base a
proporção que o PIB per capita português representa em
relação ao PIB per capita da UE, e determinado depois a
diferença em capitação da receita fiscal por habitante em
Portugal. A evasão e fraude contributiva em relação
à Segurança Social foi calculada com base no valor dos
Salários e Ordenados pagos no País, a que se retirou as
remunerações da Administração Pública. No
entanto, este valor está subestimado, pois um número já
importante dos trabalhadores da Função Pública descontam
para a Segurança Social, e nos nossos cálculos esse facto
não foi considerado. No entanto, os dados obtidos já são
suficientemente esclarecedores.
No período 2005-2009, a evasão e fraude fiscal e contributiva
determinou que o Estado tivesse perdido um volume de receitas que estimamos em
39.736 milhões , o que dá uma media de 7947,2
milhões /ano. Portanto, uma importância que permitiria
reduzir o défice sem ter as consequências que um aumento das taxas
de impostos determinam. Para além disso seria até uma forma de
estabelecer em Portugal uma maior justiça fiscal. Se este combate fosse
associado a eliminação de privilégios fiscais injustos que
continuam a gozar os grupos económicos e financeiros em Portugal, de que
são exs. os artº 14º e 51º do Código do IRC, que
isenta os lucros de empresas a operar em Portugal a grupos económicos
desde que estes detenham mais de 10% do capital daquelas empresas, e a
introdução e de uma taxa adicional de 25% a nível do IRC
que incidiria sobre os lucros distribuídos, a fim de evitar a
descapitalização das empresas, seriam dados passos importantes
não só na sustentabilidade Financeira do Estado, mas
também na criação de condições que
permitissem ao País sair da grave crise em que se encontra mergulhado.
Mas um combate eficaz à evasão e fraude em Portugal exigem meios
que a Administração Fiscal e a inspecção
contributiva da Segurança Social não possuem, que o governo
tem-se recusado a disponibilizar, já que estão cada vez mais
fragilizadas devido à aposentação prematura de quadros
qualificados e experientes e à falta de outros meios devido à
obsessão do défice.
É NECESSÁRIO RENEGOCIAR AS PPP PARA QUE OS PRIVADOS PARTILHEM OS
RISCOS, E NÃO SEJA APENAS O O.E. A TER DE OS SUPORTAR COMO ACONTECE
ACTUALMENTE
As Parcerias Publico Privadas (PPP), nomeadamente as rodoviárias foi um
investimento elevadíssimo que distorceu profundamente o sistema nacional
de transportes, com consequências para o País, e que vão
custar aos portugueses mais de 60.000 milhões . Mais de metade
delas PPP são as relativas a auto-estradas, promovendo-se assim o
transporte rodoviário que é mais caro, mais poluente e mais
dependente do estrangeiro, mas que deram e continuam a dar elevados lucros aos
grandes grupos da construção civil que são simultaneamente
também concessionários. Para agravar ainda mais a
situação, o governo assinou com esses grupos económicos
contratos leoninos em que não existe qualquer partilha de risco cabendo
todo o risco ao Estado. Assim, nesses contratos existe uma chamada "
clausula de disponibilidade
", que estabelece mesmo que não se verifique tráfego
suficiente para gerar uma receita mínima (e sucede isso em mais de um
terço das auto-estradas), o Estado, através do OE, garante uma
receita mínima aos privados, ou seja, assegura os seus lucros. É
necessário renegociar todos estes contratos para eliminar esta clausula
nos contratos em que ela exista, e se se revelar mais vantajoso para o Estado
substituir a gestão privada pela gestão publica, como sucedeu no
Hospital Amadora Sintra, seria a solução a adoptar. No entanto,
é preciso não esquecer que se não existirem portagens,
essas receitas que assim não se obtêm, têm de ser
substituídas por receitas de mais impostos, porque os custos dessas
auto-estradas têm de ser pagos. Como diz o ditado popular
"não existem almoços grátis". É
necessário não ter essa ilusão.
É URGENTE ASSINAR CONTRATOS DE SERVIÇOS PÚBLICOS COM AS
EMPRESAS PÚBLICAS DE TRANSPORTES QUE O GOVERNO SE RECUSOU PARA APURAR AS
CAUSAS DA SITUAÇÃO ACTUAL
Já no fim de 2009, o Passivo das empresas públicas de transportes
colectivos era superior ao seu Activo, em cerca de 5.000 milhões ,
resultante de elevados prejuízos acumulados, estando elas profundamente
endividadas (em mais de 10.000 milhões . Os encargos financeiros
eram já superiores às despesas com Pessoal. A
situação destas empresas resulta, por um lado, da recusa
continuada do governo em assinar com elas contratos de prestação
de serviços com o objectivo de definir com rigor as responsabilidades do
Estado (quanto a indemnizações compensatórias e
investimentos) e das administrações das empresas e, por outro
lado, da má gestão dos "boys" que os sucessivos
governos têm colocado nestas empresas. É urgente fazer esse
trabalho que não foi feito para apurar quanto o Estado deve realmente a
essas empresas e as responsabilidades das suas administrações.
Era importante que "a culpa não morresse solteira". A
solução da"troika" (FMI/BCE/UE) será
inevitavelmente a privatização da parte rentável destas
empresas e aumentos brutais dos preços dos transportes colectivos (em
intervenções anteriores do FMI, os preços dos transportes
subiram 30%).
É NECESSÁRIO DESENVOLVER UM COMBATE EFICAZ AO DESPERDICIO E
À MÁ GESTÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
E NAS EMPRESAS PÚBLICAS
É urgente fazer um levantamento rigoroso do desperdício, da
subutilização de meios, e da má gestão que existe
nas Administrações Públicas (SNS, Institutos, empresas
públicas, empresas municipais, etc), com o objectivo de tomar as medidas
adequadas para os eliminar. É inaceitável que o Tribunal de
Contas tenha feito em 2003 uma auditoria ao SNS e que tenha concluído
que 20% da despesa podia ser reduzida, o que corresponde a cerca de 1800
milhões , e que nenhum governo tenha ainda mandado fazer um
levantamento rigoroso do desperdício, da subutilização de
meios, de actos de má gestão existentes em cada unidade de
saúde e, caso se confirmem as conclusões daquele Tribunal, tomar
as medidas para as eliminar. Esta é altura de fazer e de tornar publica
as suas conclusões. A situação do País e dos
portugueses não se compadece com o desperdício, com a
subutilização de meios, com a má gestão que
continua a existir. A recusa do PS e do PSD em aprovar a lei que obrigava os
médicos a receitarem com base no principio activo está a custar
anualmente ao SNS cerca de 400 milhões , e também
representa um adicional pesado que os utentes do SNS têm de pagar, mas
é uma fonte de lucros para as multinacionais dos medicamentos.
UMA POLITICA EFECTIVA DE APOIO SOCIAL, E NÃO UMA POLITICA DE
INSENSIBILIDADE SOCIAL COMO TEM SIDO A DO GOVERNO DE SÓCRATES
Como consequência da politica do governo de Sócrates o
número de desempregados a receber o subsídio de desemprego, o
número de famílias a receber o abono de família ou
rendimento social de inserção diminuiu significativamente no
último ano, apesar da situação social se ter agravado
muito. Assim, entre Março de 2010 e Março de 2011, segundo os
dados da Segurança Social que estão disponíveis no seu
"site", o número de desempregados a receber subsídio de
desemprego diminuiu de 359.873 para 294.116 (-65.757); o número de
crianças a receber abono de família passou de 1.726.810 para
1.118.953 (-607.857), e o número de famílias a receber o
rendimento social de inserção reduziu-se de 159.404 para 118.745
(-40.659). Foi um verdadeiro ataque aos mais desfavorecidos, atirando muito
deles para a miséria. É urgente inverter esta politica de
insensibilidade social, e de redução do défice à
custa dos que menos têm, nomeadamente prolongando o subsídio
social de desemprego para os desempregados que deixaram de receber
subsídio e que não tenham meios para viver e alterar "a
condição de recursos", que aumentou administrativamente e
apenas no papel o rendimento "per-capita" das famílias,
excluindo milhares de portugueses de apoio social, numa altura que mais
precisavam.
O SISTEMA DE ENSINO NÃO PODE CONTINUAR A NÃO SERVIR AS
NECESSIDADES DE DESENVOLVIMENTO DO PAÍS
O quadro seguinte, construído com dados do INE, mostra de uma forma
clara que o actual sistema de ensino em Portugal (básico,
secundário e superior) não tem correspondido às
necessidades de desenvolvimento do País e, também das
próprias pessoas, constituindo um importante obstáculo à
saída da crise e ao aumento do nível de vida dos portugueses.
Quadro 6 Repartição da população empregada e
da população desempregada por níveis de escolaridade
2003/2010
NIVEIS DE ESCOLARIDADE
|
2003
|
2004
|
2005
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
|
2010
|
2010-03
|
Milhares de indivíduos
|
POPULAÇÃO EMPREGADA -Total
|
5 118,0
|
5 122,8
|
5 122,6
|
5 159,5
|
5 169,7
|
5 197,8
|
5 054,1
|
4 978,2
|
-139,8
|
Até ao básico - 3º ciclo
|
3 867,4
|
3 748,6
|
3 694,8
|
3 668,1
|
3 660,1
|
3 629,4
|
3 405,6
|
3 244,0
|
-623,4
|
Secundário e pós-secundário
|
669,9
|
697,9
|
740,9
|
777,3
|
776,6
|
791,8
|
848,8
|
904,4
|
+234,5
|
Superior
|
580,6
|
676,3
|
686,9
|
714,1
|
733,0
|
776,6
|
799,7
|
829,8
|
+249,2
|
Até ao básico - 3º ciclo - % Total
|
75,6%
|
73,2%
|
72,1%
|
71,1%
|
70,8%
|
69,8%
|
67,4%
|
65,2%
|
|
POPULAÇÃO DESEMPREGADA - Total
|
342,3
|
365,0
|
422,3
|
427,8
|
448,6
|
427,1
|
528,6
|
602,6
|
+260,3
|
Até ao básico - 3º ciclo
|
255,4
|
275,1
|
311,2
|
307,5
|
320,2
|
301,9
|
383,1
|
423,8
|
+168,4
|
Secundário e pós-secundário
|
49,9
|
52,1
|
64,8
|
71,9
|
69,1
|
67,6
|
90,6
|
115,0
|
+65,1
|
Superior
|
37,0
|
37,9
|
46,2
|
48,4
|
59,3
|
57,6
|
55,0
|
63,8
|
+26,8
|
Fonte: Estatísticas de Emprego 4º Trimestre de 2010
INE
No fim do primeiro decénio do séc. XXI, ainda 65,2% da
população empregada portuguesa tinha apenas o ensino
básico ou menos. E mesmo esta percentagem só foi conseguida, por
um lado, através de elevado número de despedimentos de
trabalhadores de baixa escolaridade (com o ensino básico ou menos)
provocados pela crise (entre 2003 e 2010, o número de empregos ocupados
por trabalhadores com uma escolaridade até ao ensino básico
diminuiu em 623,4 mil, tendo o desemprego destes trabalhadores disparado (70,3%
do desemprego total no 4º Trimestre de 2010) e, por outro lado, o governo,
para branquear as estatísticas, já que através do Programa
de Novas Oportunidades tem distribuído milhares de certificados do
9º ano e do12º ano. A crise está a alterar mais o nível
de escolaridade da população empregada do que o próprio
sistema de ensino, expulsando do mercado de trabalho principalmente os
trabalhadores de baixa escolaridade. Entre 2007 e 2010, ou seja, em quatro
anos, a população empregada com o ensino básico ou menos
diminuiu 5,6 pontos percentuais passou de 70,8% para 65,2% ,
enquanto entre 2003 e 2007, ou seja, nos cinco anos anteriores, diminuiu apenas
em 4,8 pontos percentuais, pois passou de 70,8% para 65,2% da
população empregada. Estes dados objectivos mostram que o sistema
actual de ensino não está a corresponder às necessidades
de desenvolvimento do País, constituindo a situação nesta
área o baixo nível escolaridade da maioria dos portugueses
um dos maiores obstáculos que impedem que se atinjam elevadas
taxas de crescimento económico e de desenvolvimento. E é preciso
ter a coragem de dizer, que o problema não é só a escassez
de meios financeiros como se pretende muitas vezes crer. É urgente saber
quantos anos leva em média um aluno para obter o 12º ano nas
diversas escolas do Pais, ou para obter uma licenciatura em Portugal, nas
diversas universidades, estudo este que nunca foi feito em Portugal, cujos
resultados não se conhecem. E ele era fundamental para identificar os
problemas e causas. É inadmissível também que devido
à inadequabilidade das saídas do ensino às necessidades de
desenvolvimento do País muitos licenciados sejam obrigados a trabalhar
em áreas que nada têm a ver com o que aprenderam ou a fazer novas
licenciaturas ou mestrados para mudar de área de
qualificação (até existe um programa pago com dinheiros
públicos para 5000 licenciados poderem mudar de profissão).
São duplicações de custos que o País e as
famílias não podem continuar a suportar.
É urgente introduzir uma cultura de exigência, de rigor, de
responsabilidade e de esforço (aprender, como qualquer coisa na vida,
exige trabalho e esforço) para alterar profundamente a
situação existente. Para além disso, o ensino, seja
básico, secundário ou superior não poderá ser
considerado uma "coutada" que diz respeito apenas aos alunos, aos
professores e/ou ME e MCES, porque todo o País está a sofrer as
consequências da situação existente nele, por um lado, e,
por outro lado, cerca de 4/5, ou mesmo mais, da despesa do ensino em Portugal
é paga com impostos pagos por todos os portugueses e não por este
ou aquele grupo particular. É urgente um grande debate nacional sobre a
situação do ensino em Portugal e sobre o seu
papel/responsabilidade no desenvolvimento do País, pois o ensino
não é apenas uma questão individual.
30/Abril/2011
A primeira parte deste artigo encontra-se em
http://resistir.info/e_rosa/estado_do_pais_1.html
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
,
www.eugeniorosa.com
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|