Destruição de emprego continua em Portugal

- Destruídos 236,5 mil empregos entre 2º trim./2008 e 2º trim./2010
- No 2º trim./2010 foram destruídos 190 postos de trabalho por dia

por Eugénio Rosa [*]

O Instituto Nacional de Estatística acaba de publicar os dados sobre o emprego e desemprego em Portugal referentes ao 2º Trimestre de 2010 . E Sócrates, no lugar de analisar com cuidado e profundamente esses dados, com a pressa e a ignorância que o caracteriza, e sem respeito pela situação dramática em que já vivem centenas de milhares de portugueses, entrou na propaganda ignorando a realidade.

O problema grave que o 1º ministro e muitos outros se esqueceram de dizer é que a destruição do pouco emprego que existe em Portugal continuou no 2º Trimestre de 2010; que, apesar de muitos trabalhadores desempregados e válidos para o trabalho estarem a ser empurrados prematuramente para reforma com pensões próximas do limiar da pobreza, o desemprego efectivo, que inclui muitos desempregados não incluídos nas estatísticas oficias de desemprego, aumentou; que o apoio aos desempregados está a diminuir lançando muitos mais milhares na miséria devido aos cortes significativos que o governo está fazer, também por pressão do PSD e do CDS, na despesa pública, incluindo investimentos, devido à obsessão de reduzir o défice em plena crise económica e social; e que o desemprego vai continuar a aumentar por essa razão, até porque a destruição de emprego vai prosseguir. É tudo isso que vamos procurar mostrar, utilizando os dados oficiais do INE referentes ao 2º Trimestre de 2010, que Sócrates omitiu ou não quis intencionalmente ver.

DESDE O 2º TRIMESTRE DE 2008 JÁ FORAM DESTRUÍDOS EM PORTUGAL 236,5 MIL EMPREGOS, DOS QUAIS 17.100 NO 2º TRIM. DE 2010

O gráfico seguinte, construído com os dados publicados pelo INE, incluindo os do 2º Trimestre de 2010, mostra, de uma forma clara, a destruição continua de emprego que se está a verificar em Portugal, o que está a determinar que um numero crescente de portugueses não tenha trabalho.

Gráfico 1.

A destruição de emprego é continua e elevada em Portugal desde o 2º Trimestre de 2008, incluindo também no 2º Trimestre de 2010, facto esse que Sócrates procurou esconder aos portugueses. Segundo o INE, no fim do 1º Trimestre de 2010, a população empregada em Portugal era de 5.008,7 mil e, no 2º Trimestre de 2010, segundo também o INE, era já de 4.991,6 mil, ou seja, no último trimestre foram destruídos em Portugal 17.100 postos de trabalho, ou seja, à média de 190 por dia. Como se pode falar que o aumento do desemprego parou, quando a destruição do emprego continuou? É evidente, por um lado, que as estatísticas oficiais de desemprego não incluem a totalidade dos desempregados e, por outro lado, que muitos desempregados ainda válidos para o trabalho estão a ser empurrados prematuramente para a reforma, com pensões próximas do limiar da pobreza, deixando assim de fazer parte das estatísticas oficiais de desemprego, e baixando o desemprego.

A REDUÇÃO DO EMPREGO POR REGIÕES

O gráfico seguinte, construído também com dados divulgados pelo INE, mostra agora a variação da população empregada por regiões entre o 2º Trimestre de 2008 e o 1º Trimestre de 2010, e entre o 1º Trimestre de 2010 e o 2º Trimestre de 2010.

Gráfico 2.

Entre o 2º Trimestre de 2008 e o 2º Trimestre de 2010, a população com emprego passou de 1.829 mil para 1.738,9 mil na Região Norte; de 1.302,6 mil para 1.246,8 mil na região Centro; de 1.330,7 mil para 1.254,8 mil na região de Lisboa; de 334,5 mil para 326,9 mil no Alentejo; de 202,3 mil para 195 mil no Algarve; nos Açores manteve-se em 110,5 mil , e na Madeira passou de 118,5 mil para 118,7 mil.

O gráfico seguinte completa o anterior já que mostra o emprego destruído por regiões entre o 2º Trim.2008 e o 1ºTrim.2010, entre este e o 2º Trim.2010.

Gráfico 3.

Entre o 2º Trimestre de 2008 e o 2º Trimestre de 2010, foram destruídos, segundo o INE, 90,1 mil postos de trabalho na Região Norte; 55,8 mil postos de trabalho na região Centro; 75,9 mil postos de trabalho na Região de Lisboa; 7,6 mil postos de trabalho no Alentejo; 7,3 mil postos de trabalho no Algarve; nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira não foram destruídos postos de trabalho durante este período, certamente porque a politica de obsessão de redução do défice foi menos acentuada, e por isso teve consequência menos dramáticas. Mas em relação a estas duas regiões a questão que se coloca é a seguinte: Quanto mais tempo isso vai durar, se Sócrates apoiado pelo PSD e CDS (tenha presente que estes dois partidos estão a exigir maiores cortes na despesa pública o que, nesta altura, só pode agravar ainda mais a destruição de emprego em todo o País) até porque praticamente não houve criação de mais emprego nas R.A dos Açores e da Madeira, e todos os anos entram no mercado de trabalho jovens. E tenha-se presente que as consequências das últimas medidas tomadas pelo governo ainda não se fizeram sentir na sua totalidade, quando isso suceder a destruição de emprego será certamente maior em todas as regiões do País.

DESEMPREGO EFECTIVO CONTINUOU A AUMENTAR ATINGINDO, NO 2º TRIM.2010, 730 MIL

O quadro seguinte, construído também com dados publicados pelo INE, mostra que, apesar de muitos trabalhadores terem sido empurrados para a reforma prematura, mesmo assim, o desemprego efectivo, que inclui muitos desempregados não incluídos nas estatísticas oficiais de desemprego, continuou a aumentar.

Quadro I – Variação do desemprego oficial e efectivo em Portugal
Portugal
VALOR TRIMESTRAL
Milhares de indivíduos
2ºT-2009
3ºT-2009
4ºT-2009
1ºT-2010
2ºT-2010
1- DESEMPREGO OFICIAL 507,7 547,7 563,3 592,2 589,8
2- Inactivos disponíveis 64,2 82,7 73,5 71,1 66,1
3- Subemprego visível 63,3 66,5 67,2 66,0 74,1
4- DESEMPREGO EFECTIVO (1+2+3) 635,2 696,9 704,0 729,3 730,0
5- População activa 5 583,9 5 565,3 5 586,8 5 600,8 5 581,4
6- População activa + inactivos disponíveis 5.648,1 5.648,0 5.660,3 5.671,9 5.647,5
7- Taxa desemprego oficial (1:5) 9,09% 9,84% 10,08% 10,57% 10,57%
8- Taxa desemprego Efectivo (4:6) 11,25% 12,34% 12,44% 12,86% 12,93%
Fonte: INE, Estatísticas de emprego - 2º Trimestre 2010 –

Entre o 1º Trimestre e o 2º Trimestre de 2010, o desemprego oficial diminuiu, mas o desemprego efectivo aumentou como mostram os dados quadro anterior, o que não deixa de ser significativo. Enquanto isto se verificou, o numero de desempregados que o INE não inclui no número oficial de desemprego, incluindo-os nos grupos designados por "inactivos disponíveis " e por "subemprego visível", aumentou de 137,1 mil para 140,2 mil. Portanto, para além dos desempregados que foram empurrados para a reforma prematura, muitos mais desempregados foram incluídos naqueles dois grupos, ou por não terem procurado emprego no período em que foi feito o inquérito (por ex, os desempregados que se desencorajaram de procurar emprego por o não conseguirem encontrar), ou porque fizeram um pequeno biscate para sobreviver (muitos deles sem já direito a receberem subsidio de desemprego) Todos estes, de acordo com a metodologia oficial, não são incluídos no número oficial de desemprego, embora estejam sem trabalho. Se os incluirmos, o desemprego sobe no 2º Trimestre de 2010 para 730 mil e, entre 1º e o 2º Trimestre de 2010, aumenta embora não muito. E isto porque muitos desempregados foram obrigados a se reformaram por não encontrarem nem trabalho nem terem direito a subsidio de desemprego. Entre o 1º e o 2º Trimestre, segundo o INE, o numero de reformados aumentou em 17.600, pois passou de 1.827,7 mil para 1.845,3 mil, em apenas um trimestre. E o aumento não foi maior devido à morte de muitos reformados.

O APOIO AOS DESEMPREGADOS CONTINUA A DIMINUIR EM PORTUGAL:
entre Abril e Junho de 2010, perderam o direito ao subsídio 16.033 desempregados


Apesar do emprego continuar a ser destruído em Portugal a um ritmo elevado e, consequentemente, o desemprego real aumentar, o apoio aos desempregados, como consequência das alterações à lei do subsidio de desemprego (Decreto Lei 220/2006 e outras), como referimos em estudo anterior, está a diminuir. A prová-los estão os próprios dados publicados pelo Ministério do Trabalho. Assim de acordo com o Boletim Estatístico de Julho de 2010, entre Abril e Junho deste ano, o numero de desempregados a receber o subsidio desemprego baixou de 252.522 para 245.594 (menos 6.928), e o numero de desempregados a receber o subsidio social de desemprego, cujo valor é inferior ao limiar da pobreza, conforme consta de um nosso estudo anterior, baixou de 118.609 para 109.502 (menos 9.105). E as consequências das alterações à lei do subsidio de desemprego ainda não se fizeram totalmente sentir, já que algumas delas só entraram em vigor no dia 1 de Agosto de 2010.

É tudo isto que Sócrates tem sistematicamente omitido nas suas declarações, apesar destes dados terem sido também publicados quer pelo INE quer pelo Ministério do Trabalho, e que é preciso que seja dito também aos portugueses para a opinião publica não ser enganada com as declarações do 1º ministro. A omissão ou a tentativa de esconder a realidade, e a situação dramática em que já vivem mais de 730 mil portugueses, a quem lhes é negado o direito constitucional ao trabalho, só poderá servir para que não se tomem medidas urgentes, contribuindo assim para que a situação se prolongue e se agrave ainda mais.

17/Agosto/2010
[*] Economista, edr2@netcabo.pt , www.eugeniorosa.com

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
22/Ago/10