A guerra termonuclear como possibilidade real
A Rússia deve esperar um ataque dos EUA
por Paul Craig Roberts
Já há muito queria entrevistar Paul Craig Roberts. Durante muitos
anos acompanhei seus escritos e entrevistas e sempre que o lia esperava ter um
dia o privilégio de entrevista-lo acerca da natureza do estado profundo
dos EUA e do Império. Recentemente, enviei-lhe um email e pedi-lhe uma
entrevista e, muito gentilmente, ele concordou. Fico-lhe muito grato por esta
oportunidade.
The Saker
The Saker:
Tem-se tornado bastante óbvio para muita gente, se não para a
maioria, que os EUA não são uma democracia ou uma
república, mas antes uma plutocracia dirigida por uma pequena elite
à qual alguns chamam "os 1%". Outros falam do "estado
profundo". Assim, minha primeira pergunta é a seguinte: Podia por
favor gastar algum tempo para avaliar a influência e pode de cada uma das
seguintes entidades, uma por uma? Em particular, pode especificar para cada uma
se tem uma posição "top" na tomada de decisão,
ou uma posição "média" na
implementação da decisão na estrutura real do poder (lista
sem qualquer ordem específica):
-
Federal Reserve
-
Grande banca
-
Bilderberg
-
Council on Foreign Relations
-
Skull & Bones
-
CIA
-
Goldman Sachs e bancos de topo
-
100 famílias do topo (Rothschild, Rockefeller, Dutch Royal
Family, British Royal Family, etc.)
-
Israel Lobby
-
Maçons e suas lojas
-
Big Business: Big Oil, Complexo militar-industrial, etc.
-
Outras pessoas ou organizações não listadas acima?
Quem, qual grupo, que entidade consideraria que está realmente no cimo
do poder na actual política dos EUA?
Paul Craig Roberts:
Os EUA são dirigidos por grupos de interesses privados e pela
ideologia neoconservadora que sustenta ter sido escolhido pela História
como o país "excepcional e indispensável" com o direito
e a responsabilidade de impor sua vontade ao mundo.
Na minha opinião os grupos de interesses privados mais poderosos
são:
-
O Complexo militar/segurança
-
Os quatro ou cinco bancos de mega dimensão "demasiado grandes para
falirem" e a Wall Street
-
O agronegócio
-
As indústrias extractivas (petróleo, mineração,
madeira).
Os interesses destes grupos coincidem com aqueles dos
neoconservadores. A ideologia neoconservadora apoia o imperialismo ou a
hegemonia financeira e político-militar americana.
Não há imprensa ou TV independente americana. Nos últimos
anos do regime Clinton, 90% dos media impressos e da TV estavam concentrados em
seis mega companhias. Durante o regime Bush, a National Public Radio perdeu sua
independência. Assim, os media funcionam como um Ministério da
Propaganda.
Ambos os partidos políticos, republicanos e democratas, estão
dependentes dos mesmos grupos de interesses privados para fundos de campanha,
assim ambos os partidos dançam para os mesmos mestres. A
deslocalização de empregos destruiu os sindicatos manufactureiros
e industriais e privou os democratas das contribuições
políticas de sindicatos trabalhistas. Naqueles dias, os democratas
representavam o povo trabalhador e os republicanos representavam os
negócios.
O Federal Reserve está ali para os bancos, principalmente os grandes. O
Federal Reserve foi criado como prestamista de último recurso para
impedir bancos de falirem devido a corridas bancárias ou retirada de
depósitos. O Fed de Nova York, o qual conduz as
intervenções financeiras, tem uma directoria que consiste nos
executivos dos grandes bancos. Os últimos três presidentes do
Federal Reserve foram judeus e o actual vice-presidente é o antigo
governador do banco central israelense. Judeus são proeminentes no
sector financeiro, no Goldman Sachs por exemplo. Nos últimos anos, os
secretários do Tesouro dos EUA e dirigentes das agências
regulatórias financeiras foram principalmente os executivos da banca
responsáveis pela fraude e pela alavancagem excessiva de dívida
que lançaram a última crise financeira.
No século XXI, o Federal Reserve e o Tesouro serviram apenas os
interesses dos grandes bancos. Isto tem sido a expensas da economia e da
população. Exemplo: pessoas reformadas não tiveram o
rendimento de juros durante oito anos a fim de que as
instituições financeiras pudessem tomar emprestado a custo zero e
ganhar dinheiro.
Não importa quão ricas sejam algumas famílias, elas
não podem competir com poderosos grupos de interesses tais como o
complexo militar/segurança ou a Wall Street e os bancos. A riqueza
estabelecida há muito pode cuidar dos seus interesses e alguns, tais
como os Rockfellers, têm fundações activistas que na maior
parte trabalham provavelmente em estreita colaboração com o
National Endowment for Democracy para financiar e encorajar várias
organizações não governamentais (ONGs) pró
americanas em países que os EUA querem influenciar ou subverter, tal
como se verificou na Ucrânia. As ONGs são essencialmente Quintas
Colunas dos EUA e operam sob nomes como "direitos humanos",
"democracia", etc. Um professor chinês contou-me que a
Fundação Rockfeller criou uma universidade americana na China e
que ela é utilizada para organizar diversos chineses anti-regime. No
passado, e talvez ainda hoje, havia na Rússia centenas de ONGs com
financiamento estado-unidense e alemão, possivelmente até 1000.
Não sei se os bilderbergs fazem o mesmo. Possivelmente são apenas
pessoas muito ricas e têm seus protegidos em governos que tentam proteger
seus interesses. Nunca vi quaisquer sinais de bilderbergrs ou maçons ou
Rothchilds a afectarem decisões do Congresso ou do ramo executivo.
Por outro lado, o Council for Foreign Relations é influente. O conselho
é composto de antigos responsáveis da política
governamental e académicos envolvidos em política externa e
relações internacionais. A publicação do conselho,
Foreign Affairs,
é o principal fórum de política externa. Alguns
jornalistas também são membros. Quando fui proposto como membro
na década de 1980, fui vetado.
A Skull & Bones é uma fraternidade secreta da Universidade de Yale.
Algumas universidades têm tais fraternidades. A Universidade de
Virgínia, por exemplo, tem uma e a da Georgia também. Estas
fraternidades não têm tramas governamentais secretas ou poderes de
domínio. Sua influência seria limitada à influência
pessoal dos membros, os quais tendem a ser filhos de famílias da elite.
Na minha opinião, estas fraternidades existem para dar status de elite
aos membros. Elas não têm funções operacionais.
The Saker:
E quanto a indivíduos? Quem são, na sua opinião, as
pessoas mais poderosas nos EUA de hoje? Quem toma a decisão
estratégica final, em alto nível?
Paul Craig Roberts:
Não há realmente pessoas poderosas por si próprias.
Pessoas poderosas são aquelas que têm por trás grupos de
interesses poderosos. Desde que o secretário da Defesa William Perry
privatizou grande parte das funções militares em 1991, o complexo
militar/segurança tem sido extremamente poderoso e o seu poder é
ainda mais ampliado pela sua capacidade para financiar campanhas
políticas e pelo facto de que é uma fonte de emprego em muitos
estados. Essencialmente as despesas do Pentágono são controladas
pelos fornecedores da defesa.
The Saker:
Sempre acreditei que em termos internacionais, organizações
tais como a NATO, a UE e todas as outras são apenas uma frente e que a
aliança real que controla o planeta são os países ECHELON:
EUA, Reino Unido, Canada, Austrália e Nova Zelândia, também
conhecidos como "AUSCANNZUKUS" (também são mencionados
como a "anglo-esfera" ou os "Cinco olhos"), sendo os EUA e
Reino Unido parceiros sénior e os outros três parceiros
júnior.
Será correcto este modelo?
Paul Craig Roberts:
A NATO foi uma criação estado-unidense, alegadamente para
proteger a Europa de uma invasão soviética. Seu propósito
expirou em 1991. Hoje a NATO proporciona cobertura à agressão dos
EUA, bem como forças mercenárias para o Império Americano.
A
Grã-Bretanha, Canada, Austrália são simplesmente estados
vassalos dos EUA assim como a Alemanha, França, Itália,
Japão e o resto. Não há parceiros, apenas vassalos.
É o império de Washington, nada mais.
The Saker:
Diz-se frequentemente que Israel controla os EUA. Chomsky e outros dizem que
são os EUA que controlam Israel. Como caracterizaria o relacionamento
entre Israel e os EUA é o cão que abana a cauda ou
é a cauda que abana o cão? Diria que o lobby de Israel
está no controle total dos EUA ou ainda há outras forças
capazes de dizer "não" ao lobby israelense e impor a sua
própria agenda?
Paul Craig Roberts
: Nunca vi qualquer evidência de que os EUA controlam Israel. Toda a
evidência é de que Israel controla os EUA, mas só na sua
política do Médio Oriente. Nos últimos anos Israel, ou o
lobby israelense, foi capa de controlar ou impedir nomeações
académicas nos EUA e a estabilidade no emprego
(tenure)
para professores considerados críticos de Israel. Israel tem tido
êxito tanto em universidades católicas como nas estaduais em
travar estabilidades e nomeações. Israel pode também
bloquear algumas nomeações presidenciais e tem uma
influência vasta sobre os media impressos e da TV. O lobby israelense
também tem abundância de dinheiro para financiar campanhas
políticas e nunca falha em remover deputados e senadores dos EUA
considerados críticos de Israel. O lobby israelense foi capaz de
penetrar no distrito negro do Congresso de Cynthia McKinney, uma mulher negra,
e derrotá-la na sua reeleição. Como disse o almirante Tom
Moorer, Chefe de Operações Navais e Chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas: "Nenhum presidente americano pode enfrentar
Israel". O almirante Moore não pôde sequer conseguir uma
investigação oficial ao ataque mortífero de Israel ao
USS Liberty
em 1967.
Qualquer um que critique políticas israelenses, mesmo num
espírito colaborativo, é etiquetado como
"anti-semita".
Na política, nos media e nas universidades americanas, isto é uma
sentença de morte. Você pode ser atingido por um míssil
infernal.
The Saker:
Qual das 12 entidades de poder que listei acima tem, na sua opinião,
desempenhado um papel chave no planeamento e execução da
operação "falsa bandeira" do 11/Set? Afinal de contas,
é difícil imaginar que isto foi planeado e preparado entre a
posse de GW Bush e o 11 de Setembro deve ter sido preparado durante os
anos da administração Clinton. Não é verdade que a
bomba de Oklahoma City foi um ensaio para o 11/Set?
Paul Craig Roberts:
Na minha opinião o 11/Set foi o produto dos neoconservadores, muitos
dos quais são judeus aliados a Israel, Dick Cheney, e Israel. Seu
objectivo foi proporcionar "o novo Pearl Harbor" que os
neoconservadores disseram ser necessário para lançar suas guerras
de conquista no Médio Oriente. Não sei durante quanto tempo antes
foi
planeado, mas Silverstein obviamente fez parte disto e ele não teve o
World Trade Center durante muito tempo antes do 11/Set.
Quanto ao bombardeamento do Murrah Federal Building na cidade de Oklahoma, o
general Partin, da Força Aérea, seu perito em
munições, preparou um relatório técnico provando
para além de qualquer dúvida que o edifício explodiu a
partir de dentro, para fora, e que o camião com a bomba foi encobrimento.
O Congresso e os media ignoraram este relatório. O bode
expiatório, McVeigh, já estava definido e isso foi a única
estória permitida.
The Saker:
Pensa que as pessoas que dirigem os EUA hoje percebem que estão numa
rota de colisão com a Rússia a qual poderia levar à guerra
termonuclear? Em caso afirmativo, por que é que eles assumiriam tamanho
risco? Será que eles realmente acreditam que no último momento os
russos "piscarão" e recuarão, ou acreditam realmente
que podem vencer uma guerra nuclear? Não terão medo de que numa
conflagração nuclear com a Rússia perderão tudo o
que têm, incluindo seu poder e mesmo suas vidas?
Paul Craig Roberts:
Estou tão perplexo quanto você. Penso que Washington está
perdida no excesso de confiança e na arrogância e está mais
ou menos insana. Também há a crença de que os EUA podem
vencer uma guerra nuclear com a Rússia. Houve um artigo na
Foreign Affairs
cerca de 2005 ou 2006 na qual se apresentava esta conclusão. A
crença na "vencibilidade" da guerra nuclear tem sido promovida
pela fé nas defesas ABM (Anti-Ballistic Missile). O argumento é
que os EUA podem atingir a Rússia tão duramente num primeiro
ataque antecipativo
(preemptive)
que a Rússia não retaliaria por medo de um segundo ataque.
The Saker:
Como avalia o actual estado de saúde do Império? Durante muito
anos temos visto sinais claros de declínio, mas ainda não
há colapso visível. Acredita que um tal colapso é
inevitável e, se não, como poderia isto ser impedido? Será
que veremos o dia em que o US Dólar subitamente se tornará sem
valor ou será que algum outro mecanismo precipitará o colapso
deste Império?
Paul Craig Roberts:
A economia dos EUA está esvaziada. Não tem havido qualquer
crescimento do rendimento real mediano das famílias durante
décadas. Alan Greenspan, como presidente do Fed, utilizava uma
expansão do crédito ao consumidor para substituir o crescimento
em falta no rendimento do mesmo, mas a população está
agora demasiado endividada para contrair mais crédito. Assim, não
há nada para conduzir a economia. Tamanha quantidade de empregos na
manufactura e em serviços profissionais transaccionáveis, como
engenharia de software, foram removidos para o exterior que a classe
média sofreu uma contracção. Licenciados em universidades
não podem obter empregos que permitam uma existência independente.
De modo que não podem constituir famílias, comprar casas,
electrodomésticos e mobílias para o lar. O governo produz baixas
mensurações de inflação ao não medir a
inflação e baixas taxas de desemprego ao não medir o
desemprego. Os mercados financeiros são manipulados
(rigged)
e o ouro deitado abaixo apesar do crescimento da procura através de
vendas
shorts
a descoberto no mercado de futuros. É um castelo de cartas que tem
aguentado mais tempo do que eu pensava possível. Aparentemente, o
castelo de cartas pode suster-se até que o resto do mundo cesse de
manter o US dólar como reservas.
Possivelmente o império impôs demasiada tensão à
Europa ao envolvê-la num conflito com a Rússia. Se a Alemanha, por
exemplo, abandonasse a NATO, o império entraria em colapso, ou se a
Rússia pudesse encontrar engenho
(wits)
para financiar a Grécia, a Itália e a Espanha em troca de
abandonarem o Euro e a UE, o império sofreria o golpe fatal.
Alternativamente, a Rússia pode dizer à Europa que não tem
nenhuma alternativa excepto alvejar capitais europeias com armas nucleares uma
vez que a Europa se juntou aos EUA na guerra contra a Rússia.
The Saker:
A Rússia e a China fizeram algo único na história e
foram para além do modelo tradicional de constituir uma aliança:
concordaram em tornar-se interdependentes poder-se-ia dizer que
concordaram em ter um relacionamento simbiótico. Acredita que aqueles que
são responsáveis pelo Império tenham compreendido a
mudança tectónica que acaba de acontecer ou estão
simplesmente a cair numa negação profunda porque a realidade os
assusta demasiado?
Paul Craig Roberts:
Stephen Cohen diz que simplesmente não há discussão de
política externa. Não há debate. Penso que o
império pensa que pode desestabilizar a Rússia e a China e que
isto é uma das razões porque Washington tem
revoluções coloridas a actuarem na Arménia,
Quirguistão e Uzbequistão. Como Washington está
determinada a impedir a ascensão de outras potências e está
perdida no excesso de confiança e arrogância, ela
provavelmente acredita que terá êxito. Afinal de contas, a
História escolheu Washington.
The Saker:
Na sua opinião, será que eleições presidenciais
ainda importam e, em caso afirmativo, o que é a sua melhor
esperança para 2016? Pessoalmente tenho muito medo de Hillary Clinton a
quem considero como uma pessoa excepcionalmente perigosa e absolutamente
perversa, mas com a actual influência neocon entre os republicanos,
podemos realmente esperar que um candidato não neocon obtenha a
nomeação do Partido Republicano?
Paul Craig Roberts:
O único meio pelo qual uma eleição presidencial poderia
importar seria se o presidente eleito tivesse por trás um movimento
forte. Sem um movimento, o presidente não tem poder independente e
ninguém para nomear quem fará a sua parte. Os presidentes
estão cativos. Reagan tinha algo de um movimento, apenas o suficiente,
com o que fomos capazes de curar a estagflação apesar da
oposição da Wall Street e fomos capazes de acabar com a
guerra-fria apesar da oposição da CIA e do complexo
militar/segurança. Reagan era idoso e vinha de um outro tempo. Ele
assumiu que o gabinete do presidente era poderoso e actuou dessa forma.
The Saker:
O que diz acerca das forças armadas? Pode imaginar um Chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas a dizer "não, Sr.
Presidente, isso é louco, não faremos isto" ou espera que os
generais obedeçam a qualquer ordem, incluindo uma para começar
uma guerra nuclear contra a Rússia? Tem alguma esperança de que
os militares dos EUA pudessem interferir e travar os "loucos"
actualmente no poder na Casa Branca e no Congresso?
Paul Craig Roberts:
Os militares dos EUA são criaturas das indústrias de
armamentos. O objectivo completo de se fazer general é qualificar-se
para ser um consultor na indústria da "defesa", ou tornar-se
um executivo ou ir para a direcção de um empreiteiro da
"defesa". Os militares servem como fonte para carreiras de
aposentação quando então os generais ganham o dinheiro
grosso. Os
militares dos EUA estão totalmente corruptos. Leia o livro de Andrew
Cockburn,
Kill Chain
.
The Saker:
Se os EUA estão realmente e deliberadamente descendo o caminho rumo
à guerra com a Rússia o que deveria a Rússia fazer?
Deveria recuar e aceitar ser subjugada como uma opção
preferível à guerra termonuclear, ou deveria resistir e portanto
aceitar a possibilidade de uma guerra termonuclear? Acredita que uma
deliberada e muito poderosa demonstração de força por
parte da
Rússia poderia deter um ataque dos EUA?
Paul Craig Roberts:
Tenho muitas vezes desejado saber acerca disto. Não posso dizer que
sei. Penso que Putin é bastante humano para capitular ao invés de
provocar a destruição do mundo, mas Putin tem de responder a
outros dentro da Rússia e duvido que nacionalistas apoiassem a
capitulação.
Na minha opinião, penso que Putin deveria centrar-se na Europa e
torná-la consciente de que a Rússia espera um ataque americano e
não terá qualquer opção excepto exterminar a Europa
como resposta. Putin deveria encorajar a Europa a desligar-se da NATO a fim de
impedir a 3ª Guerra Mundial.
Putin também deveria assegurar-se de que a China entende que representa
a mesma ameaça para os EUA, tanto quanto a Rússia, e que ambos os
países têm de se manter unidos. Talvez se a Rússia e a
China mantivessem suas forças num alerta nuclear, não o alerta
máximo, mas um alerta elevado que transmitisse o reconhecimento da
ameaça americana e transmitisse esta ameaça ao mundo, os EUA
pudessem ser isolados.
Talvez se a imprensa indiana, japonesa, francesa, alemã,
britânica, chinesa e russa começassem a informar que a
Rússia e a China perguntam se receberão um ataque nuclear
antecipativo
(pre-emptive)
de Washington o resultado fosse impedir esse ataque.
Tanto quanto posso dizer a partir das minhas muitas entrevistas com os media
russos, não há consciência russa da
Doutrina Wolfowitz
. Os russos pensam que há alguma espécie de mal entendido acerca das
intenções russas. Os media russos não entendem que a
Rússia é inaceitável porque a Rússia não
é um vassalo dos EUA. Os russos acreditam em toda asneirada ocidental
acerca de "liberdade e democracia" e acreditam que têm pouco
disso mas estão a fazer progressos. Por outras palavras, os russos
não têm ideia de que são visados para a
destruição.
The Saker:
Quais são, na sua opinião, as raízes do ódio de
tantos membros das elites estado-unidenses para com a Rússia?
Será isso apenas um resto da Guerra-fria ou haverá uma outra
razão para a russofobia quase universal entre as elites dos EUA? Mesmo
durante a Guerra-fria, não estava claro se os EUA eram anti-comunistas
ou anti-russos. Haverá algo na cultura, nação ou
civilização russa que dispare essa hostilidade e, em caso
afirmativo, o que é?
Paul Craig Roberts:
A hostilidade para com a Rússia remonta à Doutrina Wolfowitz:
"Nosso primeiro objectivo é impedir a re-emergência de um
novo rival, tanto no território da antiga União Soviética
como alhures, que coloque uma ameaça da ordem daquela colocada
anteriormente pela União Soviética. Isto é uma
consideração dominante subjacente à nova estratégia
de defesa regional e requer que nos empenhemos para impedir qualquer
potência hostil de dominar uma região cujos recursos, sob controle
consolidado, seriam suficientes para gerar poder global".
Enquanto os EUA estavam centrados nas suas guerras no Médio Oriente,
Putin restaurou a Rússia e travou a invasão da Síria
planeada por Washington e o bombardeamento do Irão. O "primeiro
objectivo" da doutrina neocon foi rompido. A Rússia tinha de ser
posta em linha. Essa é a origem do ataque de Washington à
Rússia. Os media dependentes e cativos dos EUA e da Europa simplesmente
repetem "a ameaça russa" para o público, o qual
está despreocupado e além disso desinformado.
A ofensa da cultura russa também está aqui éticas
cristãs, respeito à lei e à humanidade, diplomacia ao
invés de coerção, costumes sociais tradicionais mas
isto é o pano de fundo. A Rússia é odiada porque ela (e a
China) é uma restrição ao poder uno e unilateral de
Washington. Esta restrição é o que levará à
guerra.
Se os russos e os chineses não esperarem um ataque nuclear antecipativo
por parte de Washington serão destruídos.
24/Março/2015
O original encontra-se em
thesaker.is/the-saker-interviews-paul-craig-roberts/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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