As perigosas versões rascas dos novos 007s
por Manuel Augusto Araújo
[*]
Andam por aí em roda livre, sem gozo nem peripécias bem
engendradas. Estes têm objectivos bem definidos, saudosos da Guerra Fria,
são rascas e muito mais perigosos.
Em
Alice no País das Maravilhas
a Rainha de Copas tinha um modo expedito e garantido de resolver todas as
dificuldades grandes ou pequenas: "cortem a cabeça!" sem
perder tempo a procurar justificação para o acto. À sua
semelhança, os dirigentes do "mundo livre" cortam
cabeças a esmo verbalmente quando passam à prática,
as vítimas são milhões.
Na fronteira entre as alegações do Ocidente e da Rússia
sobre o caso Skripal, seis notas para despejar alguma água fria,
racionalismo e realismo (não confundir com neutralidade ou
independência, uma moeda falsa com bastante curso) nos recentes ataques
do Ocidente à Rússia, começando por uma rápida
incursão pelos cenários em que começou e continua a ser
representada, que é o que realmente interessa.
Pano de fundo para uma crise geoestratégica
Os panos de fundo foram as vésperas de eleições
presidenciais nesse país, antes de Putin ser reeleito como era
previsível; a Grã-Bretanha estar em evidentes dificuldades nas
negociações do Brexit; as eleições em Itália
adubarem os eurocépticos por toda a Europa; o exército
sírio e seus aliados estarem à beira de tomar Gouta, o que se
tornou realidade, e de se comprovar que os terroristas assim chamados
pelos media ocidentais em Mossul, logo travestidos em rebeldes em Gouta como o
foram em Aleppo sequestraram os civis, dispararam sobre os que se
aventuraram nos corredores humanitários e tinham os instrumentos e a
capacidade para fabricar armas químicas o que calou a gritaria
pseudo-humanitária feita pela direita acolitada pelos seus lacaios
à esquerda; a guerra comercial que está a ser instalada com o
proteccionismo norte-americano e que por cá quase não é
falada (os media nacionais são uns cães de guarda do pensamento
único por manipulação ou omissão);
a entrada de rompante no mundo financeiro da Bolsa Internacional de Energia de Xangai com o petro-yuan
, uma
ameaça séria ao petro-dólar
que tem sido, desde os anos 70, o suporte da economia e finanças dos
EUA; e mais uns quantos mas não despiciendos conflitos de baixa e
média intensidade em que a unipolaridade norte-americana está a
ser fissurada.
Muitas são as sirenes anunciando que o mundo está a rodar
geoestrategicamente, o que será sempre um processo a médio e
longo prazo, mesmo que tenha efeitos imediatos. De todos os sinais o mais
inquietante para os EUA é o petro-yuan. Vai previsivelmente originar
novas crises nos mercados de títulos, acções e divisas, o
que coloca no fio da navalha a política económica-financeira dos
EUA, em que o petro-dólar é essencial para o dólar
continuar como divisa de reserva e principal divisa nas trocas comerciais,
possibilitando-lhe sugar recursos de todos os países e amontoar uma
dívida monstruosa. As ameaças ao petro-dólar são
intoleráveis para a oligarquia financeira que domina os governos dos EUA.
Lembre-se que quando Saddam Hussein e Khadaffi tentaram começar a
negociar o petróleo noutras divisas, um em euros o outro sonhando com um
dinar-ouro, passaram de amigos a inimigos e foram rapidamente eliminados. Os
protagonistas agora são outros e de peso completamente diferente. Isto
explica a campanha contra a Rússia, como primeiro alvo, com a China em
segundo embora seja o alvo principal, lá ao fundo os BRICS, apesar das
grandes diferenças entre eles. Explica ainda a fúria contra o
Irão, a negociar em yuans o petróleo e o gás com a China e
a procurar substituir os petro-dólares noutros compradores. A visita do
inefável príncipe herdeiro da Arábia Saudita, reino aliado
de sempre dos EUA e aliado secreto de Israel, foi um desfile de
imprecações contra o Irão e,
numa entrevista ao Washington Post
, um mimo de hipocrisia, cinismo e exibição de poder
económico de quem sabe, sem mostrar as mãos, puxar cordéis
no gabinete de Trump. Não se exime a confirmar que a Arábia
Saudita foi directamente financiadora, a pedido do Ocidente, do terrorismo
internacional, com a instalação maciça de mesquitas
wahabitas, os núcleos difusores da radicalização
islâmica. Apoio aos radicais islâmicos que continua a garantir,
agora de forma indirecta, por interpostas fundações e variegados
testas de ferro, no dizer subliminar mas esclarecedor do sorridente
príncipe, feliz com as bombas que despeja no Iemen. A casa Saud tem
forte influência na OPEP, é o grande sustentáculo do
inquietado petro-dólar. São essas as questões centrais das
batalhas geo-estratégicas a que se assiste, em que a Grã-Bretanha
foi e é utilizada como peão de brega, aproveitando a necessidade
que tinha de atirar para segundo plano as negociações do Brexit e
de alimentar
as fantasias imperiais de Theresa May, numa Grã-Bretanha em decadência
.
Notas que têm bem presente duas frases de Georges Orwell que se aplicam
perfeitamente ao auto denominado "mundo livre":
"para sermos corrompidos pelo totalitarismo, não temos que viver num
país totalitário";
"numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um acto
revolucionário".
Primeira Nota
Os
"novitchoks",
supostamente usados na tentativa de assassinato de Skipral e filha, em
que o químico Mirzanyanov trabalhou num laboratório secreto da
União Soviética podem, escreveu ele em 1995 já nos EUA,
onde reside fugido da Rússia, ser fabricados num qualquer
laboratório químico de relativa sofisticação. Num
livro publicou várias fórmulas de armas químicas que andam
a circular na internet.
A Dra. Robin Black, chefe de um laboratório de investigação militar em Porton Down, Salisbury, numa declaração feita em 2016, coloca alguma dúvidas
:
"Nos últimos anos, tem havido muita especulação sobre
o desenvolvimento na Rússia de uma quarta geração de
agentes
nervosos ("Novichok", novato) , iniciada nos anos 70 do século
passado como parte do
programa "Foliant", com o objectivo de encontrar agentes que pudessem
comprometer contra-medidas defensivas. Informações sobre esses
compostos têm sido esparsas no domínio público, na sua
maioria provindo de um químico militar russo dissidente, Vil Mirzayanov.
Não há confirmação independente das estruturas ou
propriedades desses compostos que tenham sido publicadas".
São conhecidos outros países que estudaram a mesma tipologia de
compostos químicos como a Checoslováquia, a Eslováquia, a
Suécia, a Inglaterra e os EUA.
Segunda Nota
A investigação e desenvolvimento das armas químicas na
União Soviética estavam centralizadas num laboratório,
onde trabalhou Mirzanyanov, localizado no Usbequistão, república
que se tornou independente quando da desagregação da União
Soviética e não integra a Federação Russa.
Actualmente, quem tem presença militar nesse país asiático
são os EUA, com uma base militar. Anote-se que os EUA participaram
activamente no desmantelamento do referido laboratório de armas
químicas.
Terceira Nota
Theresa May e
o comissário Neil Basu, chefe do departamento anti-terrorista da Scotland Yard
,
têm que se entender. Ao contrário da opinião da
polícia, que considera que a investigação vai ser muito
demorada para ser séria, ela conclui, muito rápida, que
"a única explicação possível é o Estado
Russo ser responsável da tentativa de assassinato de Sergey Skripall e a
filha",
imediatamente corroborada por essa personagem altamente credível
que é Nikki Haley, provocadora com várias mentiras no
currículo de embaixadora dos EUA na ONU, embora nas suas teatradas
não tenha ainda alcançado o patamar de Colin Powell quando
desdobrou mapas com a localização de fábricas de armas de
destruição no Iraque que não existiam. Diz ela:
"pensamos que a Rússia é responsável(...)".
Macron em linha
"tudo leva a crer"
no que é acompanhado por Merkel
"são muitas as pessoas que pensam que".
Neil Basu que já ninguém ouve nem interessa ouvir disse
que
"o assunto é tão complexo que só uma
investigação de semanas o poderá esclarecer".
Uma declaração que fica silenciada debaixo das pedras de
"explicação possível"
"pensamos que",
"tudo leva a crer",
"são muitas as pessoas que"
o que é o necessário e suficiente para às
investigações dizerem nada ou prepararem-se para fazer
investigações de que o Conselho Consultivo Científico
(Scientific Advisory Board, SAB) da Organização para a
Proibição de Armas Químicas (OPCW) é
convenientemente excluído, talvez por não ter reconhecido os
"novichoks"
como armas químicas, porque encontrou poucas evidências de
que existam. Suposições consideradas suficientes para declarar
uma guerra diplomática, expulsando centenas de diplomatas russos.
Quarta Nota
Alguma estranheza deveria provocar tudo isto acontecer em Inglaterra. Já
Alexander Litvinenko, que se transferiu dos serviços secretos russos
para os ingleses e fazia por conta própria contrabando de armas
nucleares, foi supostamente assassinado a mando da Rússia, era Theresa
May ministra da Administração Interna. Agora, com Sergey Skripal,
Theresa May é primeira-ministra. A histeria é rápida e
igual.
As dúvidas de Jeremy Corbyn e de outros deputados trabalhistas
apesar das muitas cautelas, a histeria é sempre difícil
de enfrentar lembrando casos como as armas de destruição
maciça do Iraque, são rapidamente enterradas ou mesmo nem sequer
referidas na comunicação social estipendiada ao serviço do
pensamento único. Corbyn tem dúvidas legitimas mas caminha sobre
ovos porque dentro do Partido Trabalhista enfrenta as facções
saudosas de Blair, o travesti de Thatcher que foi leader desse partido.
A desinformação é arma poderosa nas mãos dessa
gente. A anterior grande campanha de desinformação foi e continua
a ser centrada na Síria. Poucos se lembram, quando se acusa a
Síria do uso de armas químicas, das declarações de
Carla del Ponte, que se demitiu da Comissão de Inquérito
Independente da ONU para a Síria,
depois de ter feito várias denúncias sobre o uso de armas químicas pelos "rebeldes"
, apontando para o Conselho de Segurança que "não quer fazer
justiça". Lembrar que Carla del Ponte, de 1999-2007, procuradora do
Tribunal Penal Internacional para a Jugoslávia, acusou duramente
Slobodan Milosevic que antes de ser condenado, o que tudo indicava ser mais que
garantido, morreu na prisão e anos antes de completamente inocentado
pelo mesmo tribunal dos crimes de que era acusado. Não se poderá
dizer que Carla del Ponte seja um agente do Kremlin.
Quinta Nota
A propalada credibilidade da Inglaterra, o rigor dos seus procedimentos nos
inquéritos, é arrasada em séculos de histórias de
mentiras e hipocrisias. Um dos últimos e excelentes exemplos é
o relatório do embaixador Chilcot
sobre a guerra desencadeada por Bush e Blair contra o Iraque. Se, por um lado,
até parece arrasador ao dizer que
"Em março de 2003, não havia nenhuma ameaça iminente
de Saddam Hussein contra o Ocidente",
por outro acrescenta que
"a guerra foi baseada em dados imperfeitos dos serviços de
informações e levada adiante de maneira totalmente
inadequada",
para concluir que as circunstâncias com as quais foi estabelecida
a guerra estavam
"longe de serem satisfatórias".
Uma linguagem de trapos ao gosto dos diplomatas, que abriu a porta para
Tony Blair se escudar na sua
"boa fé",
coisa de que o inferno está cheio. Quantos
"dados imperfeitos"
ou
"decisões inadequadas"
são necessárias para desencadear guerras reais ou
diplomáticas em circunstâncias
"longe de serem satisfatórias"?
Sexta Nota
Muito mais apreensivo e alarmado fica-se ao ouvir
o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg
, reafirmar a solidariedade da NATO perante o ocorrido porque, segundo ele, se
insere num "
padrão temerário de comportamento russo ao longo de muitos anos
". O norueguês deu como exemplos "
a mistura de armas nucleares e convencionais em doutrina e exercícios
militares
". Conclui-se que só à NATO é permitido misturar
essas armas em exercícios militares, que é o que tem feito e
intensificado ao longo dos últimos anos.
Alega o uso crescente de "
tácticas híbridas, como soldados sem insígnias
" deve estar a referir-se a acusações feitas pela
Ucrânia, em relação à presença de soldados da
Federação Russa sem insígnias na Crimeia e nas
regiões de Donetsk e Lugansk. A Ucrânia é fonte pouco
confiável como é sabido, e tem sido várias vezes
desmentida pelos observadores da OSCE
que ninguém pode acusar de estar ao serviço dos separatistas ou
dos russos. Não deixa de ser curioso que os países da NATO andem
a infiltrar no Médio Oriente, em particular na Síria, tropas
especiais descaracterizadas alguns já foram presos pelas
forças governamentais sírias e usem mercenários em
larga escala. Como classificará Stoltenberg essa soldadesca e as
missões que desempenham a mando dos países da NATO? O homem deve
sofrer de forte estrabismo divergente. Olha para a mesma "táctica
híbrida", de um lado vê tácticas condenáveis do
outro lado tácticas legítimas.
Refere
"a anexação da Crimeia; o apoio aos separatistas na
Ucrânia".
Na Ucrânia houve um golpe de estado de forças de direita,
para-fascistas e fascistas apoiado pela União Europeia
mas sobretudo pelos EUA, como esclareceu de forma célebre para que não houvesse dúvidas Victoria "Que se Foda a Europa" Nuland
, mulher de mão de Hillary Clinton nessas golpadas. A NATO tem apoiado,
treinado e armado as tropas regulares e
os grupos para-militares neo-nazis
que integram
dois batalhões do Exército Islâmico
facto real mas menos referido que nesse país lutam contra
os separatistas ucranianos. Será de lembrar que a Crimeia só
integrou em 1954, por decreto, a República Soviética da
Ucrânia. Foi sempre uma região autónoma onde a
população russa é maioritária. Tem um enorme
interesse estratégico para a Rússia que tem lá instalada
uma poderosa base militar no que é o seu único acesso ao
Mediterrâneo. É uma evidência que se a Crimeia não
tivesse, por referendo, retornado à Federação Russa, a
esquadra do Mar Negro russa seria rapidamente expulsa, fechando de forma
impetuosa o cerco que se tem vindo a fazer à Rússia depois da
desagregação da União Soviética, o que explica esta
disputa e o interesse na Ucrânia e na Crimeia, a ordem é
comutativa, para o Ocidente. Outra evidência é que a
Rússia, conhecendo bem a região, sabendo muitíssimo bem
que a população russa e russófona era largamente
maioritária, recorreu ao referendo para legalizar o retorno da Crimeia
à situação de região autónoma, estatuto que
tinha desde o tempo dos czares.
Sublinha "
a presença militar na Moldávia e Geórgia
". Comparar a presença militar na Moldávia e na
Geórgia com as bases da NATO que já existiam e as que, depois do
fim da guerra fria, foram implantadas à volta da Rússia,
é, no mínimo, extraordinário. Na Europa, são 50 as
bases da NATO em doze países que aceitaram que aí fossem
instaladas e armazenadas armas nucleares. Há que referir que a
presença russa na Geórgia localiza-se nas regiões
autónomas associadas a esse país que reivindicam e querem manter
autarcia. Para a anular foram invadidas a mando de Mikhail Saakashvili, na
altura presidente da Geórgia, um amigo do Ocidente. Um personagem que
iniciou a carreira política no Instituto de Direitos Humanos na Noruega,
antes de se candidatar e ser eleito presidente da Geórgia contra Eduard
Shevardnadze, figura de proa da perestroika mas apesar disso menos
confiável para o Ocidente,
em eleição com números que deveriam e provocaram inúmeras dúvidas
, tudo atirado para debaixo do tapete por Saakashvili ser um
pró-americano convicto. Decidiu invadir a Abcássia e a
Ossétia que recorreram à Rússia para defenderem o seu
estatuto. Saakashvili é hoje um apátrida. Acusado de
inúmeras fraudes, fugiu da Geórgia para se albergar na
Ucrânia, refugiando-se nos braços amigos de Poroschenko que,
depois de lhe conferir a nacionalidade e a governação de Odessa, acabou por o expulsar e retirar a nacionalidade
. Tudo gente da mesma estirpe. Não se sabe, mas é bastante
provável, que continue a receber os favores da NATO de que é
ardente apologista.
Fala de
"a ingerência nas eleições ocidentais".
Acusação curiosíssima que ou é um atestado
de estupidez às populações desses países ou
é a admissão que dezenas de anos de agressão
comunicacional, de mentiras e semi-verdades, esclerosaram tanto a esmagadora
maioria dos povos submetidos ao pensamento dominante até os fazer perder
sentido crítico, pelo que são facilmente manipuláveis
tanto por uns como por outros. Um bom exemplo são os media corporativos
não questionarem Jens Stoltenberg sobre nenhuma dessas suas
considerações, um atestado de idiotia a quem as ouve, feitas com
o cinismo de quem sabe que não será desconfortado por uma plateia
subserviente.
Sublinha
"o envolvimento na guerra na Síria".
Um pedregulho no sapato. Andam os EUA e os seus aliados da NATO a
invadir o Iraque, a plantar primaveras árabes com os resultados
conhecidos, a olhar para o lado para não verem a catástrofe
humana brutal que acontece no Iemen, a apoiar o rei da Arábia Saudita e
os emires seus amigos que fazem Bashar el-Assad parecer um democrata, a
inventar, financiar e armar uma oposição democrática
moderada síria, uma ficção que é uma porta
escancarada para financiar e armar o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e mais
uns tantos grupos de igual quilate que espalham o terrorismo localmente e pelo
mundo e a Rússia decide intervir, a pedido do governo sírio, para
combater o terrorismo. Não é admissível, há que
condenar quem trama o terrorismo amigo da NATO. Stoltenberg é espaldado
por Boris Johnson, ministro dos Negócios Estrangeiros da
Grã-Bretanha, um dos principais fornecedores de armas à
Arábia Saudita que delas tem feito uso intensivo no Iemen, que tem o
desaforo de dizer que "há uma relação directa entre a
indulgência manifestada por Putin para com as atrocidades cometidas por
Bashar-el-Assad na Síria e o Estado russo não ter dúvidas
em usar uma arma química em território britânico".
Não se exime a atribuir culpas directas a Putin mas cobardemente
acrescenta que é "muito provável". Insinua mas
não assume. Gente deste calibre confia na impunidade de mentir mesmo que
sejam refutados sem remissão
como o fez recentemente Boris Johnson
garantindo que os cientistas de Porton Down, onde estão a ser feitas
análises ao agente utilizado no envenenamento de Skipral e filha, o
tinham informado em termos categóricos de que "não havia
dúvidas" de a Rússia estar na origem do agente nervoso
usado. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da
Grã-Bretanha publicou um tweet corroborando o seu chefe. Tudo se
desmoronou quando
os cientistas de Porton Down vieram a público dizer exactamente o contrário de Boris Johnson, desmentindo-o em toda a linha
. O ministério apagou rapidamente o tweet. Boris Johnson ainda nada
disse, mas de um vendilhão de vigésimos premiados tudo é
de esperar. Está condenado a esconder-se dentro de um caixote de lixo de
onde a história não o resgatará, até lá vai
vendendo banha da cobra.
Cenas dos próximos capítulos
Enquanto se aguardam as próximas cenas,
a Rússia tem enviado uma série de perguntas à Inglaterra, França e NATO, que continuam sem resposta
.
Esta gente, que andou pelo Norte de África e Médio-Oriente a
espalhar a morte e a destruição, a matar e a destruir a vida de
milhões de pessoas na base de mentiras e meias-verdades, está
convencida que dezenas de anos a controlar e manipular a
informação lhes permite continuar a martelar nas cabeças
que julgam todas formatadas, prontas a aceitar sem questionamentos qualquer
coisa que lhes seja vendida mesmo se embrulhada em papel manhoso. Estão
à beira de um ataque de nervos por verem as suas criminosas
políticas irem por água abaixo na Síria, os terroristas
amigos a ser derrotados. Não os preocupa nem nunca os preocupou que o
regime de Assad fosse ou seja opressivo. O verdadeiro crime da Síria
é a sua independência em relação aos EUA, seus
aliados da NATO e a Israel. Num mundo que os EUA querem, com o apoio dos seus
aliados, dominar o que lhes é intolerável é que um
país, independentemente da sua dimensão, poder económico,
político ou militar, se manifeste soberano e autónomo, não
se vergue aos seus
diktats.
Clama o secretário-geral da NATO que a Rússia
"apagou a linha entre a paz, a crise e a guerra".
Proclamação de um terrorista verbal que procura um
pretexto para passar à acção. Um ventríloquo dos
trump's & companhia, nas suas variegadas versões, de hoje como foi dos
de ontem e será dos próximos, capaz de negar todas as
evidências para vender cenários de guerra que a propaganda
ocidental travestida de informação vende diariamente em doses
maciças para originar uma histeria colectiva cega.
Esperar pelos resultados de uma investigação credível
não interessa às theresasmays & companhia. Aliás, no ponto
que se atingiu, nem parece possível uma averiguação
rigorosa. Segue o caminho de outros inquéritos ditos independentes em
que algumas das partes interessadas, portadoras de informações
importantes, são exiladas para não perturbarem as
conclusões que circulam pelos media de modo a não possibilitar
que se separe a verdade da mentira. Lembre-se, é sempre bom soprar as
brasas da memória para iluminar as situações, o que se
passou com Viktor Ioutchenko. Em 2004, todo o Ocidente vociferou contra a
cumplicidade da Rússia na tentativa de envenenamento do candidato
pró-ocidental por ucranianos seus adversários. Estranhamente ou
não, Ioutchenko eleito presidente, com todo o aparelho de Estado
à sua disposição, não mexeu uma palha para
investigar e acusar quem o tinha tentado envenenar. Porquê? A
questão é, como diria Sherlock Holmes ao seu caro Watson, num
crime a primeira pergunta é quem é beneficiado. A histeria
colectiva dentro e fora da Ucrânia foram forte suplemento para a
eleição de Ioutchenko. Objectivo alcançado, deixou de ter
interesse apurar a verdade.
Como disse
Harold Pinter, ao receber o Prémio Nobel da Literatura em 2005
, "existe uma manipulação do poder à escala mundial,
se
bem que mascarando-se como uma força para o bem universal, um esperto,
mesmo
brilhante, acto de hipnose altamente conseguido".
É o que contumazmente tem acontecido em dezenas de anos
praticando acções que seguem os princípios da Rainha de
Copas na
Alice no País das Maravilhas:
"Condene-se primeiro, investigue-se a seguir".
Os resultados são trágicos, com milhões de vitimas
inocentes. Como dizia um personagem do filme de João César
Monteiro
Le Bassin de John Wayne,
"hoje, os novos fascistas apresentam-se como democratas".
05/Abril/2018
[*]
Arquitecto.
O original encontra-se em
www.abrilabril.pt/internacional/007s-em-perigosas-versoes-rascas
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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