por Moon of Alabama
O
Washington Post
publicou hoje uma
narrativa
semi-verdadeira acerca do posto fronteiriço al-Tarif, ocupado pelos
EUA, entre a Síria e o Iraque. Subestimando a possibilidade de
acção militar em torno de al-Tarif, o jornal insere esta estranha
pérola:
O foco principal de Mattis ultimamente tem sido preparar-se para um
possível conflito com a Coreia do Norte.
Por que é que o secretário da Defesa Mattis está a
preparar-se para um conflito com a Coreia do Norte? Por que isto é o seu
"foco principal". Não vamos todos ter paz e amor depois de
Donald Trump e Kim Jong-un se encontrarem dia 12 de Junho em Singapura?
Não? Por que
não estou surpreendido
?
Suspeitei desde o princípio que todo o teatro entre Trump e Kim Jong-un
é um plano destinado a falhar. A Coreia do Norte oferece uma
desnuclearização faseada em troca de um tratado de paz e de uma
retirada (parcial?) dos EUA da Coreia do Sul. É improvável que os
EUA aceitem isso. Para os falcões estado-unidenses só é
aceitável nada menos que a capitulação total. Mas mesmo se
de repente a Coreia do Norte oferecesse suas ogivas nucleares os EUA exigiriam
mais. Provavelmente pediriam verificações intrusivas a todas as
instalações militares norte-coreanas e ainda a outras. A Coreia
do Norte certamente rejeitaria tais inspecções como um perigo
para as suas capacidades de defesa e como uma quebra da sua soberania. A
administração Trump alegaria isso como uma razão para
aquecer o conflito.
Isso seria uma reencenação da situação de 2008. A
seguir às conversações de seis partes a Coreia do Norte
explodiu
(vídeo) a torre de arrefecimento do seu único reactor. Ela
submeteu informação acerca do seu programa nuclear como fora
acordado. Os EUA não cumpriram sua parte do acordo, retirando a Coreia
do Norte da lista de "apoiante do terrorismo", mas exigiram acesso a
verificações adicionais. Isso liquidou o acordo.
De um relatório de autópsia
daquele tempo
:
O descarrilamento do acordo histórico para terminar os programas de
armas nucleares da Coreia do Norte começou poucas semanas após o
seu ponto memorável a destruição televisionada da
torre de arrefecimento do reactor nuclear Yongbyon no fim de Junho
quando negociadores dos EUA apresentaram a Pyongyang um plano vasto de
verificação das suas afirmações acerca dos seus
programas nucleares.
Sob proposta do Departamento de Estado,
fortemente influenciada pelos seus peritos em controle de armas
, os EUA exigiram "pleno acesso a todos os materiais" em
sítios que pudessem ter tido uma finalidade nuclear no passado. Queriam
"acesso pleno a qualquer sítio, instalação ou
localização" considerada relevante para o programa nuclear,
incluindo instalações militares, ...
Os Estados Unidos avançaram com tal proposta apesar das
advertências da China, da Rússia e de outros países de que
estava a pedir demasiado aos xenófobos norte-coreanos, disseram
responsáveis. A Coreia do Norte recusou de imediato e as
conversações outrora promissoras caíram num impasse.
O sub-secretário de Estado para Controle de Armas era até
2005 um John Bolton. Ele havia contratado "peritos"
falcões e continuava a influenciar o departamento depois de se ter
transferido para o American Enterprise Institute. Diz-se que a questão
da inspecção intrusiva foi ideia sua.
John Bolton está de volta
a vender Kool-Aid
[NR]
. Ele agora é o Conselheiro de Segurança Nacional de Trump. Em
Fevereiro publicou um
artigo
no
Wall Street Journal
no qual argumenta
falsamente
que um ataque à Coreia do Norte está legalmente justificado. Em
9 de Março Bolton apareceu no noticiário da Fox
e disse
(vídeo, aos 4 minutos) que seria positivo ter conversas de alto
nível tão rápido quanto possível porque elas
fracassariam e os EUA poderiam dar o passo seguinte.
Bolton é agora
descrito
como o homem com mais influência sobre Trump:
O sr. Bolton está a emergir com uma figura influente, com um canal
desimpedido para o presidente e
uma capacidade para controlar as vozes que ele ouve.
...
Mesmo que o sr. Mattis tivesse desejado combater a favor [do acordo nuclear com
o Irão anulado por Trump], não está claro em que medida
teria sido ouvido. O sr. Bolton, disseram responsáveis, nunca convocou
uma reunião de alto nível do Conselho de Segurança
Nacional para ventilar o debate.
Ele aconselhou o sr. Trump em sessões mais restritas, normalmente
mantendo fechada a porta do seu gabinete na Ala Oeste.
O sr. Bolton forjou um relacionamento confortável com o presidente,
disseram várias pessoas, direccionando o seu vocabulário do
"America First".
Bolton desde há muito tem argumentado a favor da guerra contra a Coreia
do Norte e agora ele está no comando. Portanto não é por
acaso que Mattis está a trabalhar sobre planos para atacar a Coreia do
Norte.
Mas agora, dez anos depois de Bolton ter sabotado o acordo das seis partes,
graças a Bolton a Coreia do Norte tem ogivas nucleares poderosas e pode
atingir alvos dentro dos Estados Unidos continental.
Estaria Trump desejoso de arriscar um ataque à Coreia do Norte e a
inevitável retaliação?
13/Maio/2018
Ver também:
Max Thunder 2018: US military drills threaten to derail Korea peace talks
[NR]
Kool-Aid
é o nome comercial de um pó para fazer refrescos. A
expressão "beber Kool-Aid" tem origem na tragédia de
Jonestown, uma aldeia isolada na Guiana. Em 1978 verificou-se ali um
suicídio colectivo promovido por Jim Jones, o "messias"
paranóico da seita "O templo do povo". A maior parte dos
adeptos da seita bebeu o refresco de uva que lhes foi servido com cianeto e as
mortes foram às centenas.
O original encontra-se em
www.moonofalabama.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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