Obrigado pela tua vida camarada Alfonso Cano
por Pável Blanco Cabrera
[*]
O comunicado do Estado-maior Central confirma: o nosso querido camarada
Alfonso
Cano, Comandante Supremo das FARC-EP, morreu em combate.
Há meses que os operacionais militares no Cañón de las
Hermosas e na região do Cauca, perseguiam esse objectivo, com
bombardeamentos constantes de grande escala e mobilização de
milhares de efectivos da oligarquia. Várias vezes foi anunciada a sua
morte.
Todas as vozes do poder exigiam a sua rendição; os
trânsfugas da esquerda juntaram-se grotescos, bailando ao ritmo marcado
por Santos. O papel do renegado aponta sempre para a
imobilização, para quebrar a insubmissão, para abandonar a
rebeldia. Uns quantos segundos de glória mediática nas
páginas de
El Tiempo
bastaram-lhes para atirar borda fora as ideias anteriores que os enalteciam,
não do culto da violência, mas da defesa do direito do povo de
lutar pela liberdade e pela emancipação. A esses respondeu o
Comandante Alfonso Cano, na entrevista concedida ao diário espanhol
Publico:
"Desmobilizar-se é sinónimo de inércia, é
uma entrega cobarde, é uma rendição e uma
traição à causa popular e ao ideário
revolucionário que cultivamos e segundo o qual lutamos pelas
transformações sociais, é uma indignidade que tem
implícita uma mensagem de desesperança para o povo que confia no
nosso compromisso e na proposta bolivariana".
[1]
Contrariamente a esses, o camarada Alfonso Cano escolheu o caminho da
consequência, o difícil e agreste solo por onde se deve caminhar
com bastante alegria, com a mochila de necessidade, com a confiança
infinita no povo trabalhador o sujeito da História e a
convicção objectiva e inabalável na
Revolução. Caminho tão alumiado pelos pirilampos de
esperança e no qual cada passo é um alívio, pois é
"a satisfação do dever cumprido", onde as bandeiras
hasteadas ondeiam de dia e de noite.
Alfonso Cano, militante comunista, íntegro, sólido intelectual
marxista-leninista, conhecedor profundo da história da América e
de Bolívar, estratega político e militar, organizador,
despedimo-nos sem dúvida, com dor, de um dos quadros comunistas de maior
valia do Continente, como Mella, Mariátegui, o Che, Arismendi.
Com a melhor escola em qualquer parte do mundo, que é a Juventude
Comunista, chegou a completar a sua formação ao lado de Manuel
Marulanda e de Jacobo Arenas. E como comunista, dos verdadeiros, foi um homem
de ideias e de acção.
O camarada Alfonso Cano é indissociável das FARC-EP; todo o
revolucionário, se o é, dissolve-se na obra colectiva, na
organização, no Partido, e por isso o seu nome brilha mais alto.
Quando, há 20 anos, meio mundo abjurou, renegou, se quebrou, em
consonância com o movimento contra-revolucionário que se seguiu
à derrocada da construção socialista, as luzes da
resistência intensificaram o seu resplendor, no nosso continente, na
maior das Antilhas e nas montanhas da Colômbia. Não vamos julgar
os processos de negociação de El Salvador e da Guatemala, mas
temos o dever de reconhecer que as FARC-EP fizeram o que era correcto: manter
desembainhada a espada do Libertador, levantar a espingarda e a bandeira
vermelha e o lema vigente, duma Colômbia nova e socialista. Consequente
com a história da sua organização, o Comandante Alfonso
Cano, não se rendeu, não se vendeu, não se entregou e
morreu em combate.
O Comandante Alfonso Cano, cumprindo as tarefas da sua
organização, impulsionou a Coordenadora Guerrilheira Simon
Bolívar, e os diálogos para a paz. A experiência da UP
mostrou aos camaradas das FARC-EP que a luta não pode parar até
que o povo conquiste o poder, e viria a ser esse o marco para as maiores
contribuições estratégicas do Comandante Alfonso Cano: a
organização do Partido Comunista Colombiano (clandestino) e o
Movimento Bolivariano por uma Nova Colômbia. Sementes em que
germinará a Revolução Colombiana. Consciente de que a
libertação de toda a nossa América é uma
necessidade, o camarada Alfonso Cano fazia parte da presidência do
Movimento Continental Bolivariano.
Numa organização revolucionária, perder a vida na luta
é uma possibilidade. As que são baseadas em métodos
caudilhistas não resistirão à prova. Mas a que nasceu em
Marquetalia é uma genuína obra colectiva. O mito dizia que as
FARC-EP não resistiriam à morte do Comandante Manuel Marulanda,
nem aos golpes que foram iniciados a 1 de Março de 2008, contra os
Comandantes Raul Reyes e Ivan Rios. Mas Alfonso Cano, no seu papel de
Comandante em Chefe, superou o escolho e com criatividade estratégica
reposicionou-a no combate desigual com a oligarquia e a
intervenção militar norte-americana. A sua morte dói-nos,
mas sabemos que a organização nossa irmã, com o seu
exemplo, continuará até à vitória.
O melhor balanço da sua vida e da sua obra será feito pelos
próprios camaradas das FARC-EP, com quem estamos irmanados nos ideais,
nós só podemos reconhecer a grandeza de todos os combatentes e a
consequência exemplar do Comandante Alfonso Cano, marxista-leninista,
bolivariano, guerrilheiro, comando, estadista, libertador, homem de
confiança infinita na luta de massas.
Na hora da sua morte, acorrem as cenas anteriores da história dos nossos
povos. Há meses que era claro que o imperialismo e a oligarquia
concentravam o seu objectivo militar na sua morte. Recordamos a
perseguição a Francisco Villa, e o vergonhoso cartaz em que se
oferecia uma recompensa pela sua captura, vivo ou morto. O Comandante Alfonso
Cano manteve-se na linha. Dizer que foi assassinado, é retirar-lhe o
mérito da sua disposição combativa, dizia-me com toda a
razão Marco Riquelme, coordenador do Movimento Patriótico Manuel
Rodriguez, do Chile, e tem razão. Caiu combatendo. Do despacho de
várias agências citado pelo diário mexicano
La Jornada,
de 5 de Novembro, extraímos o seguinte: Segundo um soldado
entrevistado pela rádio, "o homem (Alfonso Claro) não se
entregou e praticamente enfrentou a tropa até à morte".
Assim são os combatentes de Manuel Marulanda, dessa têmpera, assim
são os homens do Partido, assim vivem e morrem os comunistas.
Ao morrer combatendo, o Comandante Alfonso Cano defendeu, até ao
último suspiro, o direito dos povos à rebelião, deixando-o
intacto, salvaguardando-o. Fica o exemplo. A sua organização, no
breve comunicado, rende de imediato a melhor homenagem: a luta continua,
não abandonaram as armas, juram cumprir.
Também cumpriremos os nossos deveres internacionalistas de
solidariedade, para com tão digna organização.
Adeus, querido camarada Alfonso Cano. Até breve Comandante Alfonso Cano.
[1]
Alfonso Cano, o Comandante das FARC responde ao diário espanhol
Público:
Marquetalia Editores; Montañas de Colombia, 2011
[*]
Primeiro Secretário do Partido Comunista do México
O original encontra-se em
www.comunistas-mexicanos.org/...
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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