Três exércitos na guerra de classes brasileira
por Ney Nunes
Por trás das aparências enganosas do jogo político
burguês desenvolve-se no Brasil um confronto, cada vez mais radicalizado,
entre as três vertentes políticas da guerra de classes sociais. Em
meio a esse confronto, as diversas siglas partidárias, centrais
sindicais, denominações religiosas, aparelhos de
comunicação de massa e ONGs formam um nevoeiro que pode nos
turvar a visão. Na verdade, toda essa aparente diversidade se resume
basicamente em três eixos, eles constituem os três exércitos
em confronto na guerra de classes brasileira.
O primeiro exército, aquele que está no poder desde o fim da
ditadura empresarial-militar de 1964, é o da Democracia Burguesa. Ele
é dirigido pelo setor hegemônico da grande burguesia,
essencialmente composto pelo setor financeiro, pelas megaempresas dos ramos de
comunicação de massa, oligopólios industriais/comerciais,
do agronegócio e da mineração. Estão umbilicalmente
ligados às potências capitalistas, numa relação
subalterna e oportunista que visa garantir seus lucros no processo em curso,
há três décadas, de reprimarização da
economia brasileira
[NR]
. O seu arco político é bem amplo também, abarcando
direita, centro e esquerda. Acomoda o neoliberalismo e o neodesenvolvimentismo
na perspectiva do mercado e de uma suposta harmonia entre as classes sociais.
O segundo exército é a extrema-direita, neofascista, uma variante
radical do primeiro exército. Emergiu da crise político-social da
própria democracia burguesa que acumulou muitos desgastes, passando a
ser questionada por amplos setores da população. Foi maturado na
situação caótica e de pré-barbárie instalada
nas periferias das grandes cidades brasileiras. Chegou à
presidência nas eleições de 2018 graças a
aliança com os evangélicos pentecostais (anteriormente aliados
dos governos petistas), o que lhe conferiu um apoio de massas, conseguindo
derrotar os candidatos preferenciais da grande burguesia, que por seu turno,
fez do candidato neofascista seu plano B para impedir a volta do PT ao governo.
Esse segundo exército é liderado por grandes e médios
empresários dos mais variados setores econômicos e regiões
do país, articulados com as seitas pentecostais, forças armadas,
policiais e o banditismo miliciano. Seu projeto político de poder
é uma ditadura empresarial-militar de cunho fascista, aprofundando a
relação subalterna com o imperialismo, suprimindo
oposições e reprimindo com violência qualquer tentativa de
resistência das massas exploradas.
O terceiro exército ainda carece de um programa,
organização, unidade e poder de fogo à altura da tarefa
que tem pela frente. Podemos dizer que, nesse momento, dos três, ele
é o mais fragmentado e desarticulado. Estamos falando do exército
do proletariado. A sua debilidade atual nasceu justamente da enorme
pressão exercida pelo primeiro exército (democracia burguesa)
sobre todos os seus flancos, corrompendo e cooptando seus oficiais
em todos os níveis, ao ponto de se conformar uma quinta coluna poderosa
que se tornou hegemônica no seu interior pregando a doutrina da
conciliação de classes e da humanização do
capitalismo. Essa quinta coluna tem nome e sobrenome, trata-se da velha
socialdemocracia, agora travestida com sua roupagem pós-moderna.
A guerra prossegue, as investidas da burguesia e do imperialismo contra o
proletariado são cada vez mais incisivas e radicais, direitos
elementares são retirados, necessidades básicas são
negadas, tudo em função da maximização do lucro e
da concentração de riquezas. O Bloco burguês-imperialista
conta com dois exércitos experientes e bem armados: a democracia
burguesa e o neofascismo. A história já nos ensinou
através dos golpes de estado, intervenções militares e,
principalmente, duas Guerras Mundiais, das barbaridades e genocídios de
que são capazes esses dois exércitos.
Apesar das condições adversas, acreditamos que a possibilidade de
uma vitória do exército proletário repousa em três
pilares a serem cimentados por sua vanguarda (instruída e coesionada
pelo seu partido revolucionário):
1- Resgatar o projeto histórico de poder da Comuna de Paris e da
Revolução Soviética.
2- Desvencilhar-se da quinta coluna socialdemocrata, denunciando suas
traições e seu oportunismo a serviço da gestão
capitalista e do imperialismo.
3- Reconstruir suas organizações no calor dos combates, forjando
o programa e a unidade necessários para derrotar os dois
exércitos do inimigo de classe em todos os terrenos da luta.
08/Fevereiro/2021
[NR] Acerca da reprimarização da economia brasileira ver o artigo
premonitório de James Petras, escrito em 2013:
Brasil: O capitalismo extractivo e o grande salto para trás
.
A mais recente manifestação deste primeiro exército foi o
chamado
manifesto dos banqueiros
, datado de 21/Mar/2021.
O original encontra-se em
pagina1917.blogspot.com/...
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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