Reciclagem da Dívida Ativa: um esquema altamente fraudulento
por
Poder Popular
"É um esquema altamente fraudulento, que quebrou a Grécia.
É ilegal, fere a Constituição". A frase é da
coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria
Lúcia Fattorelli, em entrevista ao Programa Viva Roda, apresentado pelo
jornalista Felipe Pena
[1]
.
Maria Fattorelli se refere à criação da chamada 'Empresa
Estatal Não Dependente', que ela descobriu na Grécia ao auditar a
dívida daquele país em 2015. Aqui no Brasil surgiram empresas
como essas, em sociedade com os estados e municípios, que emitem
papéis com garantia do Estado para reciclar a dívida ativa, mas
que apenas aumentam ainda mais a dívida pública.
Ela cita o exemplo da empresa PBH Ativos SA, de Belo Horizonte, cujo principal
sócio é o município. Começou a operar com capital
de apenas R$ 100 mil, mas emitiu 23 mil
debêntures
no valor de R$ 100 mil cada, com garantia do município. "Na
prática, isso é uma dívida pública
disfarçada", afirma a auditora.
Segundo Fattorelli, por esses papéis são cobrados o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor índice oficial da
inflação) mais 11% de juros, uma quantia impagável. Os
bancos, explicou, ganham com a emissão desses papéis e muitas
vezes com a compra desses mesmos papéis, tornando-se credores dos
estados e municípios.
Os papéis são criados para reciclar a dívida ativa, mas
tornam-se parte da dívida pública. Conforme explicado por ela,
enquanto a dívida pública representa o montante devido por
estados, governo e municípios (a União), a dívida ativa,
por sua vez, são créditos a receber de tributos não pagos
no prazo, a maior parte constituída de créditos podres, pois as
empresas devedoras já quebraram, muitas não existem mais.
São créditos dificílimos de receber.
"Essa fraude tem conivência dos parlamentares e do presidente
ilegítimo. Tanto isso é verdade que tais operações
ficaram de fora da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, já
aprovada, que estabeleceu um teto para todas as chamadas despesas
primárias educação, saúde, previdência
etc., afora as despesas financeiras. Isso mostra a geração da
dívida pública sem contrapartida alguma para a
população e o país".
Em seminário internacional realizado em novembro último,
promovido pela Auditoria Cidadã com apoio de diversas entidades, foi
aprovada uma nota de repúdio a esse esquema altamente fraudulento e
contra os Projetos de Lei PLS 204/2016, PLP 181/2015 e PL 3337/2015 que
"visam dar uma aparência de legalidade às
operações de securitização que estamos denunciando
como grandes fontes de expropriação de recursos públicos,
em todos os entes da federação brasileira, com o aumento das
dívidas públicas em milhões e até bilhões de
reais embasadas em falsas contrapartidas"
[2]
.
Maria Lúcia Fattorelli defendeu a auditoria da dívida
pública citando o exemplo do Equador, que comprou por 30% o valor total
da dívida após acordo com 95% dos credores. Explicou que os 5%
restantes sequer apareceram para negociar.
Lembrou, por fim, que a dívida pública serve como instrumento de
pressão do sistema financeiro para impor suas políticas para o
país, tais como a reforma trabalhista, as privatizações, a
tentativa de reforma da Previdência, o congelamento dos investimentos em
saúde, educação etc., sempre em prejuízo dos
trabalhadores.
05/Fevereiro/2018
[1]
www.youtube.com/channel/UCl5r_25WtDFFPiB_JBEGzzQ
[2]
www.auditoriacidada.org.br/...
O original encontra-se no jornal
Poder Popular
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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