A propaganda enganosa e o reformismo
PcdoB: diga com quem andas ...
O programa institucional do Partido Comunista do Brasil (PcdoB), exibido na
televisão na última
quinta-feira, revela sem disfarce seu reformismo e oportunismo, além de
sua falta de escrúpulos. Assistimos uma grosseira
falsificação da história.
Se nosso Partido fosse legalista, poderíamos reclamar no Procon
[1]
, no TSE
[2]
, na justiça comum, contra a tentativa de seqüestro da
história do PCB: propaganda enganosa, falsidade ideológica,
estelionato político, apropriação indébita.
Todas as pessoas razoavelmente informadas, todos os intelectuais,
historiadores, militantes políticos e sociais sabem que o PcdoB foi
fundado em 1962, por uma insignificante minoria do Comitê Central do PCB,
após ser fragorosamente derrotada no V Congresso do nosso Partido.
Não foi o único partido maoísta (com nosso respeito ao
inspirador político desta corrente) fundado no início dos anos
60. Em quase todos os países, invariavelmente por iniciativa de minorias
dos Partidos Comunistas fundados na década de 20, no bojo da
Revolução Russa, surgiram novos partidos ligados ao Partido
Comunista Chinês, então em divergência com o da União
Soviética. Esses novos partidos adotaram como receita universal a
experiência chinesa de revolução do campo para a cidade.
Este também foi o caso do PcdoB que, aprofundando o afastamento das
posições soviéticas, alguns anos depois se ligou ao
Partido do Trabalho da Albânia, aderindo de corpo e alma às
formulações teóricas de Enver Hoxha.
Num roteiro de farsa, o PcdoB, que em 2012 comemorará 50 anos anunciou
que completará 90, apropriando-se, de forma oportunista, de uma
história que sempre repudiou e negou, sobretudo a ligação
do PCB com o Partido Comunista da União Soviética, com o
Movimento Comunista Internacional e inclusive com a Revolução
Cubana, da qual esses dissidentes foram ferrenhos opositores.
Esta tática de renegar hoje sua própria trajetória
para tentar se apropriar da história que rejeitaram em 1962 vem
sendo aplicada em razão de uma realidade que os dirigentes desse partido
nunca imaginaram possível: a reconstrução
revolucionária do PCB. Com a transformação do PcdoB numa
organização social-democrata na prática (na linha
política e no caráter do partido), precisam fingir que são
o PCB, fundado em 1922, confundindo a opinião pública.
Para falsificar a história, exibiram como membros do PcdoB camaradas que
morreram antes da criação deste partido e outros que, na
cisão de 1962, notoriamente ficaram com a maioria, permanecendo no PCB.
A manipulação mais grosseira, absurda e desrespeitosa foi a de
querer reivindicar os legendários Luiz Carlos Prestes e Olga
Benário como expressões do partido que fundaram em 1962. Na
verdade, os principais protagonistas dos embates políticos travados no
momento desta cisão foram João Amazonas, que liderou a
fundação daquele PCdoB original, e Luiz Carlos Prestes, o
Cavaleiro da Esperança, que ficou no PCB e foi seu Secretário
Geral até 1979, quando saiu do Partido, por divergências com a
maioria de sua direção.
Se o verdadeiro comunista João Amazonas estivesse vivo ficaria
envergonhado de assistir à manipulação de sua
própria história e pelo reformismo que tomou conta do partido que
criou, pensando que seria revolucionário.
No conteúdo político do programa o reformismo aparece com toda a
sua expressão. Em 2011, exibem um programa eleitoral voltado para as
eleições de 2012! Como todos os partidos da ordem, passam os anos
ímpares se preparando para as eleições dos anos pares!
Com efeitos especiais, exibiram cinco atuais parlamentares que já
estão em campanha para prefeituras, uma manobra comum a todos os
partidos eleitoreiros. No meio de seus mandatos, sem risco de perder nada,
senadores e deputados federais se candidatam a prefeitos de grandes cidades.
Ganham de qualquer forma. Vencendo as eleições, se tornam
prefeitos. Se as perdem, antecipam em dois anos a campanha para sua
reeleição ao parlamento.
O discurso pasteurizado apresentado por esses candidatos não tem
qualquer diferença com o de qualquer político profissional da
burguesia. Eis os adjetivos com que definem como serão as cidades que
governarão, caso eleitos: limpas, tranqüilas, planejadas, de paz,
organizadas, humanas, sustentáveis, dignas, justas.
Em 10 minutos de programa, não houve menção alguma ao
imperialismo e ao capitalismo. Parece que, para esse partido, nem o
imperialismo está inventando guerras contra os povos nem os
trabalhadores do mundo estão lutando contra as retiradas de seus
direitos, em meio à crise sistêmica do capitalismo. Pelo
contrário, a principal proposta apresentada pelo presidente nacional do
partido é uma conciliação de classe: um pacto social para
um maior desenvolvimento capitalista do Brasil, envolvendo, numa união
nacional, o governo, os trabalhadores e o empresariado.
Jovens, certamente aspirantes a vereador, aparecem no programa se dizendo
socialistas (não comunistas) e explicam o que significa ser socialista.
Segundo eles, ser socialista "é fazer as cidades mais justas",
"é ser ético sempre", "é tratar as pessoas
com dignidade", "é ser responsável com o dinheiro
público".
Aliás, por falar em dinheiro público, o PCB, na crítica
política e ideológica que faz ao PcdoB, não
centrará suas divergências nas recentes denúncias contra o
ministro dos Esportes. Ficamos com o benefício da dúvida,
aguardando os desdobramentos do caso e a apuração das
denúncias, pela CGU
[3]
, MPF
[4]
, Polícia Federal, Procuradoria Geral da República, STF
[5]
e inclusive pelo TCU
[6]
, sobre supostos desvios, no total de
R$49 milhões [120 milhões], que teriam ocorrido em 67
convênios do Ministério dos Esportes com entes públicos e
privados, entre os quais muitas ONGs, algumas de fachada. Esta pode ter sido,
inclusive, a principal motivação da candidatura do deputado Aldo
Rabelo a ministro do TCU.
Mas, como dissemos, nossa discussão é no campo político,
na tática e na estratégia que devem adotar os que se reivindicam
comunistas.
Até porque não somos falsos moralistas e não entramos na
onda da direita que trabalha o tema da corrupção (inerente
à política institucional na sociedade capitalista) para afastar
os trabalhadores de seus verdadeiros partidos e da luta política,
indispensáveis para acabar com a exploração. Estimulam o
onguismo e o movimentismo, de forma a que os cargos públicos sejam
ocupados majoritariamente pelos de cima, alguns originários das classes
dominantes, outros terceirizados.
A luta do PCB contra a corrupção é aberta e radical, no
sentido de ir às raízes do problema. É parte da luta
contra o capitalismo. Dizemos claramente que a corrupção é
inerente ao capitalismo, é sistêmica. De alguma forma, mais ou
menos "esperta", é usada por todos os partidos que apostam e
jogam no cassino da democracia burguesa, onde a concorrência depende de
financiamentos privados e caixas dois.
Nas eleições de 2010, o PcdoB recebeu doações da
Coca-Cola, do Bradesco e do MacDonald's, empresas patrocinadoras das
Olimpíadas de 2016 e da Copa do Mundo de 2014, eventos coordenados pelo
Ministério dos Esportes.
Independente dos resultados da apuração das denúncias, um
fato já é cristalino: integrado ao sistema, o PcdoB, durante os
nove anos em que dirige o Ministério dos Esportes e outros
espaços de poder, se enredou na promiscuidade com esquemas,
públicos e privados, e com delinquentes como o que hoje acusa o
ministro, mas que já foi filiado e candidato pelo mesmo partido do
acusado. Não se armam esquemas de financiamento eleitoral sem sujar as
mãos, sem acordos pragmáticos e espúrios que levam
partidos com história de luta a conciliarem com o agronegócio e o
capital em geral, com torturadores e assassinos, com as multinacionais do
petróleo. Um partido que se diz comunista mas que participa
acriticamente dos governos burgueses que lhe abrem as portas, se torna um
bombeiro da luta de classes, refém de seu oportunismo, para não
perder seus cargos.
É notório que, como nos casos de ministros caídos e por
cair, independentemente de seu partido, sempre há fogo amigo ou inimigo.
Os políticos profissionais e a mídia burguesa trabalham com
dossiês contra todos, inclusive aliados de ocasião; não se
sabe o dia de amanhã! Mas só é abatido na luta pelo poder
no estado burguês quem tem telhado de vidro. Não adianta vir agora
evocar o anticomunismo como causa das atuais denúncias, até
porque não se comportam como comunistas, apesar do nome. Os cinco
ministros que já foram abatidos no governo Dilma eram de partidos da
ordem. Um deles era da cota pessoal do maior dos oligarcas brasileiros, o
indefectível José Sarney. E assim mesmo caiu!
Na década de 80, eram poucas as diferenças entre o PCB e o PCdoB.
Ambos eram reformistas e apostavam tudo na questão eleitoral, em
aliança com partidos burgueses. A diferença é que,
enquanto a militância do PCB, em 1992, derrotou seus reformistas, no
PcdoB os reformistas não só ficaram mais reformistas como se
multiplicaram, alguns já sendo deformados desde a juventude, para
garantir o reformismo futuro. A UNE, de saudosa memória, transformou-se
numa escola de quadros de parlamentares reformistas.
A causa da voracidade por "recursos não contabilizados"
é o reformismo deslavado. A prioridade na ocupação de
cargos públicos, seja de que esfera ou instância for, é de
tal ordem que até a atuação dos seus militantes de base
nos movimentos populares (muitos deles honrados e combativos, alguns ainda
comunistas) está atrelada aos objetivos eleitorais de um partido que
incha, que filia pela internet futuros candidatos, venham de onde vierem, mesmo
do PMDB, PSDB ou DEM e até criaturas sinistras que depois se voltam
contra seus criadores, por questões de partilha.
Esperamos que um partido intitulado comunista não caia na vala comum dos
partidos burgueses, abatido por aqueles que querem o Ministério dos
Esportes não para acabar com a promiscuidade, mas para
administrá-la. Ou o PcdoB se depura e corrige seu rumo ou que mude de
nome, o que seria uma atitude de respeito aos verdadeiros comunistas.
O desgaste provocado pela degeneração do PcdoB tem sido muito
grande para a luta dos comunistas e outros revolucionários, permitindo
à mídia hegemônica criar uma imagem de que todos são
"farinha do mesmo saco", inclusive os comunistas.
O PCB não pode e não deve abrir mão de se diferenciar dos
reformistas e oportunistas, para que os trabalhadores não os confundam
com o nosso Partido. Não podemos deixar de zelar pela memória de
todos nossos camaradas que honraram o PCB, muitos pagando com a própria
vida, e por uma história de 90 anos de luta, heróica, cheia de
erros e acertos, de vitórias e derrotas, de perseguições e
acusações de toda sorte, mas sempre de mãos limpas.
VIVA OS 90 ANOS DO PCB!
Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central
25 de outubro de 2011
_____________________
[1] Organismo de defesa do consumidor
[2] Tribunal Superior Eleitoral
[3] Controladoria Geral da União
[4] Ministério Público Federal
[5] Supremo Tribunal Federal
[6] Tribunal de Contas da União
O original encontra-se em
www.pcb.org.br/...
Esta nota política encontra-se em
http://resistir.info/
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