"Não há mais espaço para soluções
reformistas"
O Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) saúda os
partidos comunistas presentes, homenageando o anfitrião, o Partido
Comunista Grego, referência para todos os revolucionários e
trabalhadores do mundo, com seu exemplo de luta sem tréguas contra o
capital.
O aprofundamento da crise sistêmica do capitalismo coloca para o
movimento comunista internacional um conjunto de complexos desafios.
Estamos diante de um estado de guerra permanente contra os
trabalhadores, uma espécie de "guerra mundial", na
qual o grande capital busca sair da crise colocando o ônus na conta dos
trabalhadores. Esta é uma guerra diferente das anteriores, que tinham
como centro disputas interimperialistas.
Apesar de persistirem contradições interburguesas e
interimperialistas na atual conjuntura, as grandes potências (sobretudo
os Estados Unidos e os países hegemônicos da União
Européia) promovem hoje uma guerra de rapina contra todos os
países periféricos, sobretudo aqueles que dispõem de
riquezas naturais não renováveis e contra todos os trabalhadores
do mundo.
A guerra é o principal recurso do capitalismo para tentar sair da crise:
ativa a indústria bélica e ramos conexos, permite o saque das
riquezas nacionais e a queima de capitais; os capitalistas ganham também
com a indústria da reconstrução dos países
destruídos.
Em meio à simultânea ocupação e
destruição de diversos países nos últimos anos
(Iraque, Afeganistão, Líbia), já começam a preparar
as próximas agressões: a Síria e o Irã se destacam
na atual fila. Todos os países vítimas são criteriosamente
escolhidos segundo objetivos estratégicos hegemonistas.
Os métodos são sempre os mesmos: satanização,
manipulação, estímulo ao sectarismo e a divisões
entre nacionalidades, cooptações, criação ou
supervalorização midiática de manifestações
e rebeldias, atentados de falsa bandeira.
Daqui a algum tempo, poderemos estar diante de uma invasão de um
país que, no dia de hoje, nos pareça improvável.
Na guerra permanente, pelo menos nesta fase, têm sido poupados os
chamados países emergentes, sócios minoritários do
imperialismo, que legitimam a política das grandes potências,
compondo, como atores coadjuvantes, o chamado Grupo dos 20. Seus
mandatários aparecem na fotografia que simboliza o consenso entre os
parceiros, mas as grandes decisões são tomadas em fóruns
reservados, de que nunca se tem notícia.
Estes países emergentes (os chamados BRICs) se têm beneficiado da
crise, na medida em que ajudam a superá-la; em seguida, poderão
ser as próximas vítimas tanto da crise como de agressões
militares. Fazem o jogo de linha auxiliar do imperialismo, como na
omissão vergonhosa em relação à invasão da
Líbia. Só levantam a voz quando algum interesse nacional é
ameaçado. Caso contrário, lavam as mãos.
Em nosso país, nunca os banqueiros, as empreiteiras, o
agronegócio e os monopólios tiveram tanto lucro. A
política econômica e a política externa do estado
brasileiro estão a serviço do projeto de fazer do Brasil uma
grande potência capitalista internacional, nos marcos do imperialismo. As
empresas multinacionais de origem brasileira, alavancadas por financiamentos
públicos, já dominam alguns mercados em outros países,
notadamente na América Latina.
Já a guerra contra os trabalhadores independe da
classificação do país. É levada a efeito nas
grandes potências, nos países emergentes e nos periféricos.
Em meio a esta grave crise e sem a consolidação ainda de um
importante pólo de resistência proletária, o
capital realiza uma violenta ofensiva para retirar dos trabalhadores
os poucos direitos que lhes restam. Para fazê-lo, tentam cada vez mais
fascistizar as sociedades, criminalizar os movimentos políticos e
sociais antagônicos à ordem. A correlação de
forças ainda nos é desfavorável. Ainda sofremos o impacto
da contra-revolução na União Soviética e da
degeneração de muitos partidos ditos de esquerda e de setores do
movimento sindical.
Analisando este quadro, o PCB tem feito algumas reflexões.
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A nosso juízo, não há mais espaço para
ilusões reformistas. Aliás, os reformistas, mais do que nunca,
são grandes inimigos da revolução socialista, pois iludem
os trabalhadores e os desmobilizam, facilitando o trabalho do capital. Em cada
país, as classes dominantes forjam um bipartidarismo em verdade
um monopartidarismo bicéfalo em que as divergências, cada
vez menores, se dão no campo da administração do capital.
Como não conseguem gerenciar a crise, aqueles que fazem o papel de
oposição de turno invariavelmente vencem as
eleições seguintes. É o que chamam de
"alternância de poder".
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Perdem sentido projetos nacional-desenvolvimentistas, não só
porque é impossível desligar as economias capitalistas locais da
esfera do imperialismo como também porque há cada vez menos
contradições entre este e o núcleo hegemônico das
chamadas burguesias nacionais.
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Cada vez também faz menos sentido a "escolha" de aliados no
campo imperialista e mesmo entre seus coadjuvantes emergentes, como se houvesse
imperialismo do "bem" e do "mal". A diferença
é apenas na forma, não no conteúdo. Isto não
significa subestimar as contradições que vicejam entre eles.
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Não podemos conciliar com ilusões de transição ao
socialismo por vias fundamentalmente institucionais, através de maiorias
parlamentares e de ocupação de espaços governamentais e
estatais. O jogo da democracia burguesa é de cartas marcadas. A luta de
massas, em todas as suas formas, adaptada às diferentes realidades
locais, é e continuará sendo a única arma de que
dispõe o proletariado.
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Por mais bem intencionados que sejam, correm risco de esgotamento
político os processos de mudanças progressistas baseados em
líderes populares carismáticos, se esses processos não
avançarem na construção do duplo poder, na
destruição gradual do estado burguês e na autodefesa
popular e de massas.
Temos avaliado também que o atual modelo de encontros de partidos
comunistas e operários, que vêm cumprindo importante papel de
resistência, precisa se adaptar às complexas necessidades da
conjuntura mundial, com suas perspectivas sombrias no curto prazo e suas
possibilidades de acirramento da luta de classes, com a emergência das
lutas operárias.
Pensamos que é preciso romper com o "encontrismo" em que, ao
final dos eventos, nossos partidos decidem a sede do próximo encontro e
se despedem até o ano seguinte, inclusive aqueles dos países da
mesma região.
Para potencializar o protagonismo dos partidos comunistas e do proletariado no
âmbito mundial, é necessária e urgente a
constituição de uma coordenação política
que, sem funcionar como uma nova internacional, tenha a tarefa de organizar
campanhas mundiais e regionais de solidariedade, contribuir para o debate de
ideias, socializar informações sobre as lutas dos povos.
Mas, para além da indispensável articulação dos
comunistas, parece-nos importante a formação de uma frente
mundial mais ampla, de caráter antiimperialista, onde cabem
forças políticas e individualidades progressistas, que se
identifiquem com as lutas em defesa da autodeterminação dos
povos, da paz entre eles, da preservação do meio ambiente, das
riquezas nacionais, dos direitos trabalhistas, sociais e políticos;
contra as guerras imperialistas e a fascistização das sociedades.
Em resumo, as lutas em defesa da humanidade.
Deixamos claro que o nosso Partido valoriza qualquer forma de luta. Não
podemos cair no oportunismo de fazer vistas grossas ao direito dos povos
à rebelião e à resistência armada. Em muitos casos,
esta é a única forma de fazer frente à violência do
capital e de superá-lo. Os povos só podem contar com sua
própria força.
Neste marco, concluímos nossa intervenção saudando os
povos que hoje enfrentam as mais duras batalhas. Saudamos os trabalhadores
gregos e portugueses que já se levantam em greves nacionais e grandes
jornadas e os demais trabalhadores da Europa, que enfrentam terríveis
planos do capital para tentar superar a crise, hoje mais acentuada no
continente europeu e que poderá agravar-se e espalhar-se para outros
países e regiões.
Saudamos o povo palestino, em sua saga duradoura e dolorosa no enfrentamento ao
sionismo que o sufoca e reprime, ocupa seu território, derruba suas
casas, prende seus melhores filhos e impede seu direito a um Estado soberano.
Da mesma forma, saudamos os também sofridos povos do Iraque, do
Afeganistão, da Líbia. Saudamos os povos do Egito, do Iêmen
e de vários países árabes, em sua luta contra a tirania e
a opressão.
Saudamos os sírios e iranianos, contra os quais já batem os
tambores de guerra do imperialismo. Sua resistência pode barrar os planos
do sinistro consórcio EUA/OTAN/Israel para o Oriente Médio, a
África, a Ásia e o mundo em geral.
Chegando até nossa América Latina, saudamos nossa querida Cuba
Socialista em sua luta contra o cruel bloqueio ianque. Saudamos nossos Cinco
Heróis. Saudamos os processos de mudanças concretas na
América do Sul (Venezuela, Bolívia e Equador), neste momento
decisivo, uma encruzilhada entre o avanço dos processos ou sua derrota.
Saudamos o povo colombiano que, nas cidades e nas montanhas, resiste,
através de variadas formas de luta, contra o estado terrorista de seu
país, a grande base militar norte-americana na América Latina, um
dos regimes mais sanguinários do mundo.
Concluímos nos associando à proposta de realização
de nosso próximo encontro anual no Líbano, em pleno Oriente
Médio, palco principal das guerras imperialistas neste período.
Desde já, reiteramos nossa proposta de criação de
coordenações políticas internacionais e regionais dos
Partidos Comunistas, tendo como princípio fundamental o
internacionalismo proletário.
Atenas, 10 de dezembro de 2011
PCB Partido Comunista Brasileiro
[*]
Secretário-Geral do PCB.
Intervenção no XIII Encontro Mundial dos Partidos Comunistas e
Operários.
O original encontra-se em
www.pcb.org.br/...
Este discurso encontra-se em
http://resistir.info/
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