Governo brasileiro curva-se ao imperialismo
A vinda de Obama ao Brasil foi um gesto forte que marcou, para o Brasil e o
mundo, um claro movimento de estreitamento das relações entre os
governos brasileiro e norte-americano. O governo Dilma aponta para a
continuidade, em nova fase, das ações de defesa dos interesses do
capitalismo brasileiro no exterior.
A agenda midiática da visita sinaliza claramente um realinhamento do
Brasil ao imperialismo norte-americano. Obama, por decisão do novo
governo, foi o primeiro estadista estrangeiro a visitar o Brasil após a
posse de Dilma. Mas não foi uma visita qualquer.
O governo brasileiro montou um palanque de honra e um potente amplificador para
Obama falar ao mundo, em especial à América Latina, para ajudar
os EUA a recuperarem sua influência política e reduzir o justo
sentimento antiamericano que nutre a maioria dos povos. Nem na ditadura
militar, um presidente estadunidense teve uma recepção tão
espalhafatosa como a que Dilma lhe ofereceu.
Os meios de comunicação burgueses do mundo todo anunciam hoje em
suas manchetes
"o carinho do povo brasileiro com Obama"
e a
"amizade Brasil/Estados Unidos".
Caiu a máscara de uma falsa esquerda que proclama a política
externa brasileira como "antiimperialista".
Em verdade, o Brasil esteve três dias sob intervenção do
governo ianque, que decidiu tudo, desde os acordos bilaterais a serem assinados
à agenda, à segurança, à repressão a
manifestações, ao itinerário, ao alojamento, às
visitas e até ao cardápio de Obama. No Rio de Janeiro, a
diplomacia americana e a CIA destituíram o governador e o prefeito, que
queriam surfar na visita ilustre, decidindo tudo a respeito da presença
de Obama na capital do Estado. Até a Câmara Municipal do Rio de
Janeiro, que fica na Cinelândia, foi obrigada a suspender suas atividades
na sexta-feira. Foi ocupada por agentes norte-americanos e militares
brasileiros para os preparativos do comício de domingo, que seria na
praça em frente.
No caso da América Latina, foi um gesto de solidariedade aos EUA em sua
luta contra os processos de mudança, sobretudo na Venezuela,
Bolívia e no Equador e uma vista grossa ao bloqueio a Cuba Socialista e
à prisão dos Cinco Heróis cubanos.
A moeda de troca para abrirmos mão de nossa soberania foi um mero aceno
de apoio norte-americano à pretensão obsessiva do Estado
burguês brasileiro de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de
Segurança da ONU, um símbolo para elevar o Brasil à
categoria de potência capitalista mundial. Tudo para expandir os
negócios dos grandes grupos brasileiros no mercado norte-americano e
mundial.
Enganam-se os que pensam que existe contradição entre a
política externa do governo Lula e a de Dilma, ambas fundamentalmente a
serviço do capital. Trata-se agora de uma inflexão
pragmática. Após uma fase em que o Brasil expandiu e consolidou
os interesses de seus capitalistas por novos "mercados" como
América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, a
tarefa principal agora é dar mais atenção aos maiores
mercados do mundo, para cuja disputa segmentos da burguesia brasileira se
sentem mais preparados.
Vai no mesmo sentido a vergonhosa atitude de Dilma lavar as mãos para
facilitar a extradição de Cesare Battisti ao governo italiano,
dirigido pelo degenerado cafetão Berlusconi, entregando um militante de
esquerda na bandeja do imperialismo europeu, no exato momento em que cresce na
região a resistência dos trabalhadores.
O governo brasileiro, durante os três dias em que Obama presidiu o
Brasil, não fez qualquer gesto ou apelo aos EUA, sequer de
caráter humanitário, pelo fim do bloqueio a Cuba, o desmonte do
centro de tortura em Guantánamo, a criação do Estado
Palestino, o fim da intervenção militar no Iraque e no
Afeganistão.
Debochando da soberania brasileira e da nossa Constituição
que define nosso país como amante da paz mundial e da
autodeterminação dos povos , Obama ordenou os ataques
militares contra a Líbia a partir do território brasileiro,
exatamente em Brasília, próximo à Praça dos
Três Poderes, que se ajoelharam todos diante desta
humilhação ao povo brasileiro. Não se deu ao trabalho de
ir à Embaixada americana, para de lá ordenar a agressão
militar. Fê-lo em meio a compromissos com seus vassalos, entre os quais
ministros de Estado brasileiros que se deixaram passar pelo vexame de serem
revistados por agentes da CIA.
O principal objetivo da vinda de Obama ao Brasil foi lançar uma
ofensiva sobre as reservas petrolíferas brasileiras do pré-sal,
uma das razões da reativação da IV frota naval americana
nos mares da América Latina. No caso de alguns países, o
imperialismo precisa invadi-los militarmente para se apoderar de seus recursos
naturais. No Brasil, bastam três dias de passagem do garoto propaganda do
estado terrorista norte-americano, espalhando afagos cínicos e discursos
demagógicos.
Outro objetivo importante da visita tem a ver com a licitação
para a compra de aviões militares, suspensa por Dilma no início
do ano, justamente para recolocar no páreo os aviões
norte-americanos. Além disso, os EUA garantiram outros bons
negócios na agricultura, no setor de serviços, na maior abertura
do mercado brasileiro e latino-americano em geral.
Obama só foi embora fisicamente. Mas deixou aqui fincada a bandeira de
seu país, no coração do governo Dilma. Cada vez fica mais
claro que, no caso brasileiro, o imperialismo não é apenas um
inimigo externo a combater, mas um inimigo também interno, que se
entrelaçou com os setores hegemônicos da burguesia brasileira. O
pacto Obama/Dilma reforça o papel do Brasil como ator coadjuvante e
sócio minoritário dos interesses do imperialismo norte-americano
na América Latina, como tristemente já indicava a vergonhosa
liderança brasileira das tropas militares de intervenção
no Haiti.
O PCB, que participou ativamente das manifestações contra a
presença de Obama no Brasil, denuncia o inaudito aparato repressivo no
centro do Rio de Janeiro. Repudia a repressão exercida contra ativistas
políticos e se solidariza de forma militante com os companheiros presos.
Desde a época da ditadura, nunca houve tamanha repressão e
restrição à liberdade de expressão e ao direito de
ir e vir. No domingo, o centro do Rio de Janeiro foi cercado por tropas e
equipamentos militares. Uma passeata pacífica foi encurralada por
centenas de militares armados, agentes à paisana, cavalaria e tropa de
choque. Nunca houve tamanho aparato militar, mobilizado pelas três
esferas de governo Federal, Estadual e Municipal , sob o comando
da CIA e do Pentágono, em clara e desavergonhada submissão ao
imperialismo.
A resistência do movimento popular teve uma vitória importante: a
pressão exercida levou à suspensão de um comício de
Obama em praça pública, na Cinelândia, local que simboliza
as lutas democráticas e da esquerda brasileira. Obama fugiu do povo e
falou em local fechado para convidados escolhidos a dedo, pelo consulado
americano, a nata da burguesia carioca: falsos intelectuais, empresários
associados, jornalistas de aluguel, artistas globais, políticos
oportunistas, deslumbrados e emergentes, enfim, uma legião de puxa-sacos
que se comportaram como claque de programa de auditório de mau gosto
para o chefe dos seus chefes.
Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central 20 de março de 2011
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