O Brasil sob a presidência Dilma:
um governo ao serviço do capital
- Revoltas operárias nos canteiros do PAC indicam caminho da luta
Os primeiros meses do Governo Dilma só vêm demonstrar a
correção da tática proposta pelo PCB no segundo turno das
eleições presidenciais de 2010: após a derrota de Serra
nas urnas, será preciso organizar e mobilizar os trabalhadores
brasileiros para derrotar Dilma nas ruas.
Dilma adotou o lema "País rico é país sem
miséria", projetando a erradicação da miséria
como principal meta de seu governo. Claro está tratar-se de mera
peça de propaganda, já que a política econômica
posta em prática, mantidas as bases traçadas por Lula, é a
do franco favorecimento às atividades promovidas pelo
agronegócio, grandes indústrias e bancos, visando à
continuidade da política de integração da economia
brasileira à ordem capital-imperialista mundial. Apesar de subalterna,
tal integração se dá de forma complexa e dinâmica,
com o país assumindo também o papel de exportador de capitais, ao
menos no cenário da América Latina e de outras regiões
periféricas ao centro do capitalismo. Sem a providencial ajuda do Estado
brasileiro, principalmente através do BNDES
[1]
, não seria possível alavancar o capitalismo nacional, cuja
burguesia estreita cada vez mais seus laços com as empresas
multinacionais.
O DEUS MERCADO
A depender do que sinaliza Dilma em suas primeiras ações, a
política voltada a atender prioritariamente as vontades e necessidades
do Deus Mercado seguirá seu curso. A opção por um
salário mínimo de R$545,00 [240; 1=R$2,275]
(praticamente 0% de reajuste, em termos reais) revela uma vez mais a
força do capital financeiro na definição dos rumos da
economia brasileira. Sob os argumentos de combate ao "retorno da
inflação" e ao desequilíbrio das contas
públicas, a medida, associada ao anúncio do corte de R$ 50 mil
milhões no orçamento (atingindo, como sempre, as despesas com
investimentos na área social) e o aumento das taxas de juros, busca
jogar sobre as costas dos trabalhadores todo o peso dos efeitos advindos da
ação sem controle do capital nacional e internacional.
Faltou dizer, por exemplo, que a mais recente alta dos preços foi
provocada centralmente pela pressão do mercado mundial de produtos
alimentícios, controlado por oligopólios transnacionais. O modelo
agrário brasileiro, centrado na promoção do
agronegócio, faz com que o Brasil seja um dos maiores importadores de
agrotóxicos do mundo e totalmente dependente do mercado externo.
Ao contrário do que alguns articulistas de esquerda apregoaram,
não há uma inversão da política desenvolvida antes
por Lula, como se Dilma estivesse voltando a adotar "práticas
neoliberais" que teriam sido abandonadas por Lula. Nem uma coisa nem
outra. Lula deu continuidade à política macroeconômica da
era FHC, aplicando apenas uma política compensatória mais
agressiva. Dilma segue a cartilha de Lula, com a diferença de que
porá o pé no freio em relação aos gastos sociais.
Mas isto não é novidade alguma: Lula fez o mesmo em 2003,
desacelerando o plano de crescimento, para fazer caixa e depois abrir o cofre
nos últimos anos de seu mandato.
Se a economia brasileira cresceu a uma taxa recorde de 7,5% em 2010, conforme
anunciado pelo IBGE
[2]
, alçando o país ao posto de sétima economia do mundo, a
desigualdade social aprofundou-se, como não podia deixar de ocorrer numa
nação em que as relações capitalistas tornaram-se
dominantes em todos os setores da vida econômica e social. Por conta
disso, o Brasil ocupa hoje a 70ª posição no ranking mundial
do IDH (Índice do Desenvolvimento Humano).
É fato que novos ataques virão sobre os direitos dos
trabalhadores. O ministério de Dilma é quase uma
repetição do gabinete de Lula, mantidas as disputas
fisiológicas entre os partidos da base aliada, com destaque para as
representações do PT e do PMDB e, secundariamente, as do PCdoB,
PDT, PSB e PP. Não haverá mudanças, pois, em
relação à tendência de privatização
dos serviços públicos, como a Saúde, a Segurança
Social e a Educação. É revelador da primazia dos
interesses de mercado sobre os interesses públicos a suspensão de
concursos públicos para contratação de novos servidores e
o adiamento da nomeação de 40 mil servidores já
selecionados. Além disso, os cortes anunciados no orçamento
atingem diretamente programas nas áreas do meio ambiente e da moradia,
justamente quando as fortes chuvas de verão provocaram
catástrofes de grandes proporções, matando centenas de
pessoas e deixando milhares de desabrigados em várias regiões do
país, evidenciando a tragédia da ocupação irregular
do solo, da falta de planejamento e total ausência de
participação popular nas cidades.
No setor do petróleo, o eterno ministro Edison Lobão (do PMDB do
Maranhão), capacho de Sarney, já anunciou a retomada dos
leilões dos campos de petróleo e de áreas de
exploração no pré-sal, mantendo a política de
dilapidação dos recursos naturais brasileiros, no momento em o
presidente Barack Obama dos Estados Unidos reafirma para o mundo a
intenção de recuperar a primazia dos interesses do império
estadunidense e de suas empresas no mercado global, dando provas desta
intenção ao mandar bombardear a Líbia, precisamente quando
estava em visita ao Brasil.
No âmbito da política externa, o governo Dilma é mais
consequente que Lula na disposição em favorecer o processo de
expansão do capitalismo monopolista brasileiro na América Latina,
de que é sintomática a clara atitude de voltar a priorizar as
relações com os EUA, em detrimento do intercâmbio
privilegiado, também marcado por interesses dos grandes capitalistas
brasileiros, com os governos da região mais preocupados em atender as
demandas sociais internas. A decisão do presidente do Supremo Tribunal
Federal, Antônio Cezar Peluso, não contestada por Dilma, da recusa
em libertar Cesare Battisti após decisão de Lula pela não
extradição do militante revolucionário italiano, demonstra
com precisão a tendência mais conservadora deste governo. Este
ainda preserva, sem nenhuma indicação de que tal política
será alterada, a presença das tropas brasileiras no Haiti.
Crescem, portanto, os desafios da classe trabalhadora neste ano de 2011. O
recrudescimento da crise internacional do capitalismo deverá encontrar
no Brasil um governo não mais disposto a liberar crédito para
aumentar o consumo (na verdade, uma política de endividamento crescente
da população e de cooptação das camadas populares
para a ilusória sensação de melhoria das
condições de vida).
Os primeiros meses do governo Dilma foram também demonstrativos da
crescente insatisfação de diversos grupos sociais.
Manifestações de estudantes e de trabalhadores em protesto contra
a elevação dos preços das passagens de ônibus em
várias cidades do Brasil, nas quais a violência policial sempre se
faz sentir, refletem a indignação da população
urbana com os péssimos e cada vez mais caros serviços de
transportes, controlados pelos cartéis e oligopólios dos
transportes. Foruns populares em todo o país debatem a
situação da saúde pública e organizam
mobilizações contra o processo de privatização,
iniciativas que se estendem à área da educação,
envolvendo os sindicatos dos professores e as representações de
alunos, pais e funcionários.
PLANO DE ACELERAÇÃO DO CAPITALISMO
Trabalhadores da construção civil reagem às
condições abjetas de superexploração e
semiescravidão impostas pelas empreiteiras empresas
multinacionais, como a Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz
Galvão, Mendes Júnior e outras nas obras do
PAC
, o Plano de Aceleração do Capitalismo, um dos maiores programas
de transferência de verbas públicas para as mãos do grande
capital (são 21 obras com despesas previstas em mais de R$ 105,6 mil
milhões desde o início do programa, em 2008). Os trabalhadores
vão à luta contra os salários de fome, o não
pagamento de horas extras, as péssimas condições de
trabalho e a repressão da parte dos seguranças e forças
policiais locais, verdadeiros capangas armados a serviço dos
capitalistas.
Mais de 80 mil trabalhadores já cruzaram os braços nas obras
espalhadas pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país: Usina de Jirau
(Rondônia), onde alojamentos, 50 ônibus, veículos e
escritórios da empresa foram incendiados pela massa em revolta;
Hidrelétrica de Santo Antônio (também no rio Madeira, em
Rondônia); Hidrelétrica São Domingos (Mato Grosso do Sul),
em que trabalhadores também tocaram fogo nos alojamentos; Complexo do
Suape, reunindo a Refinaria Abreu e Lima e a Petroquímica (Pernambuco),
onde 30 mil operários entraram em greve; Termelétrica de
Pecém (Ceará), com 6 mil trabalhadores parados; Ponte sobre o Rio
Madeira (Rondônia), com 300 grevistas. Além disso, em diversas
regiões, o Programa Minha Casa, Minha Vida sofre
paralisações com cerca de sete mil operários da
construção civil recusando-se a trabalhar nas
condições impostas.
As centrais sindicais governistas foram chamadas a conter o ânimo dos
trabalhadores, pois o medo do governo, tendo o ministro da Casa Civil, Gilberto
Carvalho à frente como mediador do conflito, é a explosão
de revoltas espalhar-se pelo conjunto de obras do PAC, que empregam cerca de um
milhão de operários. Manter aceso o rastilho de pólvora
iniciado na Usina de Jirau pode significar uma crise sem precedentes para um
governo que quer transformar o Brasil numa grande UPP e garantir a "paz
social" necessária ao desenvolvimento pleno do capitalismo
monopolista.
Para o PCB, é hora de dar um salto de qualidade na busca da unidade dos
movimentos populares, das forças de esquerda e entidades representativas
dos trabalhadores, no caminho da formação de um bloco
proletário capaz de contrapor à hegemonia burguesa uma real
alternativa de poder popular em nosso país. A criação de
uma
Frente Anticapitalista e Anti-imperialista
, com vistas à construção de um poderoso sistema de
alianças capaz de dar vez e voz aos produtores da riqueza, é um
dos caminhos para a luta contra os imperativos do capital e pela
edificação da sociedade socialista em nosso país.
09/Abril/2011
[1] Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social
[2] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
[*]
Do Comité Central do PCB
O original encontra-se em
www.pcb.org.br/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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