Só a luta popular derrota o governo genocida!
É preciso ir às ruas para mudar a correlação
de forças e derrotar o governo antipopular
O Brasil está vivendo não só a mais complexa e
dramática crise do último meio século, mas principalmente
está diante de uma catástrofe que ameaça a grande maioria
da população e o destino de várias gerações.
É bem verdade que esta não é uma crise apenas do Brasil:
está inscrita no âmbito da crise sistêmica global. No
entanto, em nosso país existe uma singularidade perversa que combina a
crise econômica, social, política e, especialmente, a mais grave
crise sanitária de nossa história, combinada com um longo
processo de regressão econômica e social.
Do ponto de vista econômico, temos uma economia estagnada há mais
de seis anos, um desemprego que já atinge mais de 20 milhões de
trabalhadores (se contabilizarmos os desempregados oficiais mais os
desalentados), mais de 30 milhões na informalidade, 19 milhões
nas filas da fome, inflação de produtos básicos,
além da miséria generalizada e da mendicância que se pode
ver diariamente nas ruas de todo o país. Além disso, a crise
sanitária continua castigando a população: o Brasil
já se aproxima dos 500 mil mortos pela pandemia e mais de 16
milhões de contaminados.
Enquanto isso, Bolsonaro segue zombando do genocídio da
população, incentivando as aglomerações, receitando
cloroquina para a população, conspirando contra as liberdades
democráticas e provocando a China, com o objetivo evidente de sabotar a
vacinação e promover o caos, que é o ambiente no qual
imagina poder alcançar seus objetivos golpistas. Trata-se na verdade de
um governo criminoso, responsável pela tragédia que o povo
brasileiro está vivendo, capataz dos interesses das classes dominantes e
do imperialismo.
No entanto, não podemos esquecer que as classes dominantes brasileiras
são cúmplices da tragédia do povo, tanto por serem
responsáveis pela eleição desse genocida, mas
também porque vêm promovendo os ataques aos trabalhadores e
trabalhadoras, as contrarreformas e as privatizações. Essa mesma
burguesia se aproveita do caos para continuar impondo sua agenda neoliberal,
como a reforma administrativa, o assalto ao fundo público e ao
patrimônio nacional.
É importante atentarmos para o fato de que não devemos ter
ilusões sobre as divergências que eventualmente ocorrem no
interior das classes dominantes. Essas pequenas contradições
representam apenas disputas de interesses entre as várias
frações da burguesia. Todos eles estão unidos para retirar
os direitos da classe trabalhadora, rebaixar os salários, precarizar as
condições de trabalho, de forma a garantir e ampliar os lucros do
capital e do imperialismo.
Para compreendermos a dimensão mais ampla da crise, vale salientar que
nós estamos vivendo uma verdadeira tragédia social e que uma
conjuntura dessa ordem não pode durar por muito tempo. Nenhuma sociedade
pode naturalizar por um longo período 500 mil mortos, nem mesmo em
tempos de guerra, até porque a tragédia está atingindo a
todos. Inúmeras pessoas em nosso país perderam um parente, um
amigo, um conhecido. A grande maioria da população está
vivendo um drama social, com desemprego, fome e miséria.
É importante observarmos ainda que o Brasil não é um
compartimento estanque em relação ao mundo. Em vários
países do continente, especialmente na América Latina, as massas
desesperadas e enfurecidas contra o desastre neoliberal foram às ruas em
plena pandemia. É o caso da Bolívia, do Haiti, do Paraguai, do
Chile, da Colômbia e até mesmo dos Estados Unidos, onde a
juventude, os trabalhadores e as trabalhadoras foram às ruas contra a
barbárie capitalista. Quem imaginar que o povo brasileiro vai suportar
resignadamente essa tragédia social pode estar quadradamente enganado.
Ao longo da história, nenhuma sociedade deixou de lutar quando a crise
chegou a um limite insuportável. E a crise brasileira está
chegando ao limite do insuportável. Os mais de 20 milhões de
desempregados, os mais de 30 milhões na informalidade e os 19
milhões nas filas da fome não suportarão calados por muito
tempo, mesmo com as restrições da pandemia. Não se trata
de um exercício de futurologia, mas de uma situação em que
está faltando apenas a gota d'água para a
indignação contra essa tragédia se expressar de maneira
mais efetiva.
Por isso, não faz mais sentido neste momento lutar apenas nas redes
sociais ou fazer atos simbólicos. Essas formas de luta foram importantes
num determinado período, cumpriram um papel de manter a chama acesa, mas
a conjuntura atual requer uma mudança de tática, pois as classes
dominantes e esse governo genocida continuam com seus ataques exatamente porque
não têm ainda uma resposta popular que contribua para o
início da mudança na correlação de forças. E
isso só pode acontecer com as manifestações populares e a
entrada em cena da trabalhadora, mediante paralisações em defesa
da vida.
Importante ainda constatar o fato de que muitos companheiros, diante do resgate
dos direitos políticos do ex-presidente Lula, estão deixando em
segundo plano a luta social e jogando todas as fichas nas
eleições de 2022, inclusive a maioria das centrais sindicais, que
abandonaram o terreno da luta concreta para realizar ações, como
no Primeiro de Maio, com os próprios inimigos de classe. Não
compreendem que priorizar o processo eleitoral agora é abandonar os
milhões de brasileiros que enfrentam o desemprego, a fome e a
miséria e se iludir em relação aos verdadeiros objetivos
dos nossos inimigos.
Não podemos ter ilusões: já está claro que as
diferenças entre os setores fascistas das classes dominantes e a chamada
direita tradicional são pontuais e todos eles se aproveitam do fato de
que as massas ainda não estão se movimentando para avançar
em sua ofensiva contra os trabalhadores e a juventude. É só
observarmos o conjunto de contra-reformas, como a trabalhista e a
previdenciária, os ataques aos direitos históricos dos
trabalhadores, o ataque ao meio ambiente e as privatizações. Se
aproveitam da pandemia para continuar passando a boiada, como disse um certo
ministro.
É bom lembrar a todos, especialmente àqueles que ainda não
se convenceram, que a conjuntura está exigindo uma mudança de
tática contra o governo e sua política antipopular. Até
porque a maioria dos trabalhadores, especialmente os informais, justamente os
mais pobres, já estão nas ruas, espremidos nos trens, nos
ônibus, nos metrôs para trabalhar e ganhar a vida. Poucos podem
sobreviver ou fazer distanciamento social com essa migalha de auxílio
emergencial, que não compra sequer meia cesta básica. Se os
trabalhadores podem ir ao trabalho de segunda a sexta, é justo que
também possam protestar contra a barbárie no sábado ou no
domingo.
Além disso, todos os que estão comprometidos com o processo de
transformações sociais em nosso país não podem mais
assistir as pessoas morrendo de tiro, de fome e do vírus sem nenhuma
reação organizada nas ruas. Ninguém aguenta mais esse
sufoco: é preciso romper com a inércia e dar o primeiro passo,
construindo as lutas organizadas, antes que as massas saiam às ruas
desesperadas sem nenhuma orientação.
É bem verdade que, neste momento, em função da
própria pandemia, as manifestações iniciais serão
ainda modestas, como foi na campanha das Diretas Já, no Fora Collor e em
outros grandes movimentos de massas, mas em algum momento não muito
distante a indignação latente que existe na maioria da
população brasileira se transformará em grandes
manifestações de massa. Para evitar que essas
manifestações ocorram de maneira desesperada e sem
direção, é fundamental que exista uma
orientação política consequente para evitar o que ocorreu
em 2013, quando as manifestações populares pegaram muitos de
surpresa.
Por isso, a hora de começar a construir o futuro é agora. As
massas vão identificar aqueles que nos momentos mais difíceis
romperam a inércia e se colocaram em defesa da vida e dos interesses
populares. Aqueles que nos momentos mais difíceis se colocaram ao lado
do povo, exerceram a solidariedade concreta e enfrentaram os poderosos
serão reconhecidos no futuro. As manifestações que
ocorreram no dia 13 de maio contra o genocídio da
população preta e pobre das periferias demonstraram que há
disposição de luta em vários setores da
população.
Portanto, é fundamental trabalharmos no sentido de fortalecer as
manifestações do dia 29 de maio, que está sendo convocada
por partidos políticos, movimentos sociais e populares. Costurar a
unidade dos setores classistas como condição fundamental para
impulsionar as lutas sociais mais amplas é uma tarefa essencial neste
momento. Esse governo não cairá de podre, nem será
derrotado em negociações de gabinetes ou alianças com
nossos inimigos de classe: pelo contrário, só o movimento de
massas nas ruas e a luta dos trabalhadores, das trabalhadoras e da juventude
tem a capacidade de reverter a correlação de forças e
abrir a perspectiva de uma mudança de qualidade na luta de classes em
nosso país.
Portanto, todas as forças classistas, especialmente a militância
comunista, devem realizar o máximo de esforço de
construção unitária para transformar o dia 29 de maio no
início de uma jornada de lutas nas ruas para derrotar esse governo e sua
política antipopular. Vacina no braço, comida no prato, emprego
para todos e Fora Bolsonaro-Mourão!
23/maio/2021
[*]
Secretário-Geral do PCB
O original encontra-se em
pcb.org.br/portal2/27317/so-a-luta-popular-derrota-o-governo-genocida/
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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