Lavar as mãos da Amazónia
por Ricardo M Santos
Quando se fala no Fundo da Amazónia, patrocinado por países
ricos, convém esclarecer quem contribui para esse fundo, no caso,
Noruega e Alemanha, juntamente com a Petrobras
. No caso da Noruega, ainda em 2018 uma empresa mineira cujo maior acionista
é, espante-se, o governo da Noruega,
esteve envolvida num caso de contaminação ambiental, que tentou esconder
.
De resto, recuando até 2006, o
governo do Reino Unido tentou tomar conta da Amazónia, considerando que é património mundial, iniciando assim o que é o movimento eco-imperialista
. Os países ricos do Hemisfério Norte a decidirem o que é
melhor para a Amazónia. Sem ter em conta, obviamente, o que são
os interesses dos indígenas e dos trabalhadores. Já nem coloco
aqui a evidente questão da soberania e o direito dos povos à
auto-determinação.
Sobre os incêndios dramáticos da Amazónia, convém
olharmos para dentro. É da Amazónia que vem alguma da carne que
comemos, da madeira, do cobre, ferro, diamantes, chumbo, estanho e de outros
minérios que consumimos. É de lá que saem petróleo
e gás natural, bananas, borracha, laranjas, cacau, guaraná,
óleos de coco, açaí. Assim, a Amazónia é, ao
mesmo tempo, um pulmão do mundo e um pulmão económico do
Brasil que é explorado pelos países desenvolvidos. Reduzir a
importância económica da Amazónia na economia brasileira
impõe uma mudança nos hábitos de consumo do mundo
desenvolvido. Por outro lado, seria necessário que o Brasil encontrasse
formas de compensar as perdas gigantescas para o povo brasileiro que vive da
exploração da Amazónia, empregados por grandes empresas de
países ricos ou suas subsididiárias, o que é praticamente
impossível no sistema económico vigente. Neste momento, o
desmatamento da Amazónia está ao nível dos anos 90 de
Fernando Henrique Cardoso, demonstrando que o país recuou mais de 20
anos nesta questão.
Como se vê pelo Fundo da Amazónia, não é o
assistencialismo que vai resolver o drama dos povos indígenas da
Amazónia e do povo brasileiro que vive da exploração
florestal. É a mudança do sistema económico vigente, que
nos faz esquecer que também há Amazónia quando não
arde e é de lá que vem muito do que usamos todos os dias e nem
pensamos nisso. O norte rico quer manter o seu quintal a sul, sem pensar em
quem lá vive. Simultaneamente, a ONU continua inerte, tirando o
já célebre
"Guterres preocupado"
, desta vez com situação na Amazónia".
O problema da Amazónia e do Mundo é político e
económico. E chama-se capitalismo.
23/Agosto/2019
O original encontra-se em
manifesto74.blogspot.com/2019/08/lavar-as-maos-da-amazonia.html
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
|