por Mohamed Belaali
Mais de quatro semanas de revoltas populares, o exército atira com balas
reais sobre a multidão, mortos às dezenas, cessar-fogo,
desaparecimento e execução de sindicalistas, prisão de
bloguistas, etc, etc. Estes acontecimentos não se desenrolam nem em
Cuba, nem na Venezuela, nem na Bolívia, nem na China e nem no
Irão mas na... Tunísia! Os países europeus, a
França de Sarkozy à cabeça, sempre prontos a se
imiscuírem nos assuntos do Irão ou da Costa do Marfim, por
exemplo, desta vez contentaram-se com alguns comunicados após semanas de
silêncio cúmplice: "a Tunísia confronta-se com
problemas económicos e sociais. Só o diálogo
permitirá aos tunisinos ultrapassá-los" dizia servilmente um
comunicado do Ministério francês dos Negócios Estrangeiros.
Que contraste entre a violência da propaganda contra o Irão na
Primavera de 2009 aquando das eleições presidenciais e o
servilismo das declarações oficiais a propósito da revolta
do povo tunisino. Bastaria na época ler os títulos dos jornais e
olhar as imagens difundidas em cadeia pelas televisões americanas e
europeias para perceber o ódio do imperialismo à República
Islâmica do Irão. Mas a revolta do povo tunisino não merece
senão o desprezo e o silêncio. Pois "A Tunísia
é um país amigo, estamos extremamente vigilantes com o que se
passa lá em baixo e muito preocupado (...) Ao mesmo tempo, a
França não tem de se ingerir nos assuntos da Tunisia",
declarava Luc Chatel na Radio Classique e i-Télé .
Sempre invocando cinicamente o direito de não ingerência nos
assuntos dos outros países, os governo francês, através da
sua ministra dos Negócios Estrangeiros Michèle Alliot-Marie,
chega mesmo a propor aos regimes tunisino e argelino sua
colaboração em matéria de seguranças e
manutenção da ordem: "Propomos que o know how das nossas
forças de segurança, reconhecido no mundo inteiro, resolva
situações securitárias deste tipo. Esta é a
razão pela qual propomos aos dois países [Argélia e
Tunísia], no quadro das nossas cooperações, agir neste
sentido para que o direito de manifestar possa ser feito ao mesmo tempo que a
garantia da segurança"
[1]
. É que a França é um dos primeiros investidores
estrangeiros na Tunísia. Ela ocupa mesmo o primeiro lugar quanto ao
número de empresas instaladas neste país (1200 empresas). Pode-se
citar dentre muitas Lacoste, Valeo, Sagem, Danone, Sanofi-Aventis, Fram, Accor,
Club med, BNP-Paribas, Société générale, Groupe
Caisse d'épargne etc. etc.
[2]
As burguesias ocidentais que apregoam incessantemente desejarem difundir a
democracia por todo o mundo, na realidade não fazem senão
sustentar, directa ou indirectamente, as ditaduras e impedem deste modo todo
progresso no caminho da democracia e do progresso social. Toda a
história do imperialismo não é senão o apoio aos
regimes mais ferozes, quando não são instalados directamente por
ele. Seria difícil e fastidioso pretender estabelecer uma lista
exaustiva destas ditaduras pois são demasiado numerosas. Citemos ainda
assim as mais conhecidas e as mais terríveis: Augusto Pinochet no Chile,
Videla na Argentine, Somoza na Nicarágua, Suharto na Indonésia,
Marcos nas Filipinas, Musharraf no Paquistão, o xá Reza Pahleve
no Irão, Hosni Mubarak no Egipto, Omar e Ai Bongo no Gabão, etc,
etc. O apoio indefectível das burguesias ocidentais aos regimes mais
sangrentos é uma constante na história do capitalismo.
Hoje, o levantamento do povo tunisino, sua coragem e sua
determinação a enfrentar um dos regimes mais repressivos, mostra
o caminho a seguir a todos os oprimidos não só do Magreb como de
todo o mundo árabe!
As massas populares árabes sofreram demasiado desta cumplicidade
objectiva das suas próprias burguesias corrompidas até a medula e
da burguesia ocidental que os mantêm na dependência e na
miséria. O mundo árabe hoje é uma verdadeira bomba que
pode explodir a qualquer momento.
Exploradas, marginalizadas e humilhadas por longo tempo, as massas populares
árabes lentamente levantam a cabeça e tentam sair desta longa
noite na qual foram mergulhadas.
Trabalhadores, progressistas e democratas europeus: é nosso dever apoiar
o povo tunisino na sua luta contra um regime de outra era. A sua vitória
nesta região do mundo árabe será igualmente a nossa aqui
na Europa.
14/Janeiro/2011
(1)
www.rue89.com/...
(2)
www.ambassadefrance-tn.org/...
O original encontra-se em
www.legrandsoir.info/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.