Mobilizemo-nos contra a guerra da NATO na Líbia
Doze anos depois da "guerra humanitária" da NATO, que em
Março de 1999 começou o bombardeamento da Sérvia durante a
Primavera para retrocedê-la meio século, como declarou o general
Wesley Clark, as potências imperialistas fazem o mesmo com a Líbia
cem anos após a invasão italiana.
Sob o pretexto de salvar populações civis e com o selo branco de
uma resolução do Conselho de Segurança da ONU (10 votos,
com cinco abstenções: Brasil, China, Rússia, Índia,
Alemanha), fazem-se aquecer os motores dos caças Tornado. Na primeira
linha, desta vez, encontram-se a França, a Inglaterra e os Estados
Unidos, com Hillary Clinton prestes a igualar e a ultrapassar o empreendimento
do seu esposo que bombardeou a Sérvia, apoiado pela dama de ferro
Madeleine Albright.
Tal como em 1999, é também colocada em marcha a máquina
infernal das mentiras mediáticas e da diabolização do
"ditador" do momento para justificar a agressão militar contra
um país rico em petróleo e porta para a África Central (o
continente onde desde há muito as grandes potências entendem-se
para uma repartição neo-colonial). Os mesmos que apregoam a
urgência da guerra humanitária contra a Líbia, que dizem
ser impossível adiar para amanhã, nem sequer levantaram a voz
para deplorar a violência que Israel desencadeou entre Dezembro/2008 e
Janeiro/2009 contra a população de Gaza, prisão a
céu aberto para os palestinos, e que causou milhares de vítimas.
Tão pouco preocuparam-se com a violência mortífera dos
governos do Bahrein e do Iémen, ou da Arábia Saudita (um Estado
que ostenta o nome de uma dinastia!) quando intervém com as suas tropas
contra manifestantes. São estas mesmas petro-monarquias dos
emirados à Arábia de mãos com os Estados Unidos,
que enviam armas e tropas aos insurrectos contra Kadafi. Os quais seja
qual for a sua consciência subjectiva (dentre eles encontramos antigos
ministros e altos funcionários da Jamahiriya) são o
instrumento de que se servem as forças imperialistas para por a pata
sobre o país, não só pelos seus importantes recursos
energéticos como também pela sua posição
geográfica para o Mediterrâneo e para a África.
Nas condições concretas da Líbia, a
imposição de uma "zona de exclusão aérea"
implica um bombardeamento militar de grande amplitude. Como concordam numerosos
peritos, o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea na
Líbia deveria começar por um ataque, "neste sentido
explica o antigo chefe do Estado Maior da Aeronáutica, Leonardo
Tricarico há que neutralizar os meios anti-aéreos
inimigos, ou seja, destruir os radares e os postos de mísseis.
Nós temos esta capacidade dita SDAI, ou seja, 'supressão das
defesas aéreas inimigas' e ela é constituída por
caças Tornado, nós a utilizámos no Kosovo com os
alemães e em três dias já não voava qualquer
avião sérvio".
A Itália poderá por à disposição estes meios
aéreos, eventualmente com os caças F-16 e Eurofither, aptos para
a patrulha e a vigilância, além dos aviões Av8, de que
está equipado o porta-aviões Cavour. Foi dada por adquirida a
colocação à disposição das bases
aéreas, em particular as do centro-sul, tanto para a
redisposição dos aviões dos outros países como para
a assistência logística. Os aviões-radar Awacs, por
exemplo, poderiam ser dispostos em Trapan, que está equipada
especialmente para este tipo de aeronaves, mas todas as bases estão
aptas a acolher caças: de Grazzanise a Gioia del Colle. Poder-se-ia
recorrer, em caso de necessidade, mesmo a Lampeduza ou Pantelleria. Há a
seguir uma outra capacidade fundamental, lembra ainda o general Tricarico,
"que tem a ver com as informações e de que a Itália
está dotada: trata-se da constelação de satélites
Cosmo-Skymed que está completamente operacional e que regista
desempenhos superiores aos de qualquer outro sistema existente. Graças a
estes satélites, pode-se ter uma representação
fotográfica regular com uma definição muito alta, o que
há de melhor hoje no mercado". Para estes fins, podem igualmente
ser utilizados os aviões sem piloto (drones) "Predator",
dotados de uma grande autonomia e que poderiam ser pilotos a partir da sua base
de Amendola, nos Pouilles.
A Itália as regiões meridionais em particular
está directamente implicada. O governo põe à
disposição homens e meios, sistemas de radar e bases militares. O
ministro da guerra Larussa recorda-se da estrofe "Tripoli, bela terra de
mor... Tripoli será italiana ao som do canhão!" e põe
à disposição sete bases militares "sem nenhum limite
restritivo de intervenção". Trata-se de Amendola, Gioia del
Colle, Sigonella, Aviano, Trapani, Decimomannu e Pantelleria: algumas, diz
ainda Larussa, já foram pedidas pelos ingleses e pelos americanos.
"Temos uma forte capacidade para neutralizar os radares hipotéticos
adversários e poderíamos estar na iniciativa disso: podemos
intervir de todos os modos possíveis".
(La Repubblica)
Salvo algumas defecções de um lado e do outro (Liga do Norte e
Itália dos Valores), todo o parlamento, governo e oposição
"democrata", põe o capacete de guerra.
Bersani, secretário do Partido Democrata, põe mais lenha na
fogueira: depois de ter quase corrigido a ONU por ter atrasado a decisão
por alguns dias, declara que ele e seu partido estão "prontos a
apoiar o papel activo da Itália. O governo sabe da nossa
disponibilidade, pedimos apenas que nestas horas não haja
declarações improvisadas e contraditórias. É
preciso falar com os outros países disponíveis e com a NATO. Que
ninguém faça de estratega, isso é grave".
O presidente Napolitano não fica atrás. Ele que deveria defender
a Constituição
(artigo 11: A Itália repudia a guerra como instrumento de ofensa
à liberdade dos outros povos e como meio de resolução das
controvérsias internacionais; consente, na condição de
paridade com os demais Estados, nas limitações de soberania
necessárias para regras que assegurem a paz e a justiça entre as
nações; promove e apoia as organizações
internacionais que tendem a este objectivo).
Na sua intervenção no Teatro Regio de Turim no quadro das
celebrações do 150º aniversário da Unidade da
Itália ocasião solene ele disse: "Nas
próximas horas, a Itália deverá tomar decisões
difíceis, que a comprometerão na situação que se
criou na Líbia. Mas se pensarmos no que foi o Risorgimento, como grande
movimento liberal e libertador, não podemos ficar indiferentes à
repressão sistemática das liberdades fundamentais e dos direitos
humanos em qualquer país que seja. Não podemos deixar serem
destruídas, espezinhadas, as esperanças que nasceram de um
Risorgimento igualmente no mundo árabe, uma coisa decisiva para o futuro
do mundo... Espero que as decisões a tomar sejam portanto rodeadas do
máximo consenso possível e da consciência dos valores que
encarna a Itália unida e que devemos preservar por toda a parte".
Em 1911 havia decorrido meio século desde o Risorgimento. Este entrou na
dança para a guerra na Líbia, com a retórica pascoliana
[1]
da "grande proletária que se pôs à deriva". Hoje
faz-se intervencionismo ou melhor, imperialismo
democrático e "guerra humanitária".
Ninguém menciona a única proposta internacional séria, a
do presidente venezuelano Chavez e dos países progressistas
latino-americanos, para uma mediação entre as partes em conflito.
A paz não serve às potências que, em concorrência
entre si, querem retomar "seu lugar ao sol". Esta guerra interna na
Líbia foi alimentada pelas potência que hoje dizem querer trazer a
paz e a democracia: aos insurrectos de Benghazi chegam armas, equipamentos e
conselheiros militares das potências ocidentais. Alimenta-se a guerra
civil para justificar a agressão externa. Velha história...
Contra a participação na guerra à Líbia
exprimiram-se o secretário do PdCI, Oliviero Diliberto, e o do PRC,
Paolo Ferrero.
Começam a mobilizar-se em diversas cidades as redes militantes contra a
guerra.
20/Março/2011
(1) Referência ao poeta italiano
Giovanni Pascoli
(1855-1912)
[*]
Director da revista italiana
L'Ernesto.
O original encontra-se em
solidarite-internationale-pcf.over-blog.net/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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