Hugo Chávez
por Paul Craig Roberts
[*]
"Ontem, o Diabo em pessoa esteve aqui, nesta tribuna, falando como se fosse dono do mundo. O ar ainda cheira a enxofre.A Assembleia Geral da ONU jamais ouvira antes coisa semelhante, nem nos tempos em que ali estava presente a militarmente poderosa União Soviética. Viram-se sorrisos de solidariedade e aprovação. Mas ninguém se atreveu a aplaudir: estava em jogo o dinheiro, muito dinheiro, dos EUA, para aqueles países acovardados. Delegados dos EUA e do Reino Unidos deixaram a sala vampiros que fugiam da réstia de alho e da cruz, ou lobisomens, da bala de prata. Chávez falou sobre a falsa democracia das elites que se impõem pela força, "pelas armas, pelo fogo e pelas bombas". Chávez perguntou: "Que tipo de democracia vocês impõem pelo mundo, com Marines e bombardeio?" Olhe para o lado que olhar, disse Chávez, George W. Bush "só vê extremistas. Olha para você, meu irmão, vê a cor de sua pele e diz oh, yes, mais um extremista. Evo Morales, o valoroso presidente da Bolívia, aos olhos de George W. Bush, tem cara de extremista. Os imperialistas veem extremistas em toda parte. Mas não somos extremistas. Não se trata disso. Trata-se, isso sim, de que o mundo está despertando. Por todos os cantos, o mundo desperta. E os povos puseram-se de pé." Em frase curta, cerca de 20 palavras, Chávez definiu por séculos e séculos adiante a Washington desse início do século XXI: "O império teme a verdade, morre de medo de vozes independentes. Por isso nos chamam de extremistas. Os extremistas são eles!" Na América do Sul e em todo o mundo não ocidental, a morte de Chávez está sendo atribuída a crime de Washington. Os sul-americanos lembram bem das audiências no Congresso dos EUA, nos anos 1970s, quando a Comissão Church [3] investigou e trouxe à luz as várias tentativas da CIA para envenenar Fidel Castro. O documento oficial apresentado ao presidente John F. Kennedy pelo Comandante do Estado-maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, conhecido como "Projeto Northwoods", permanece acessível online. [4] O Projeto Northwoods consistiu num plano para ataque de militares norte-americanos contra cidadãos norte-americanos, que em seguida seria atribuído a Cuba, de modo a induzir a opinião pública e a comunidade internacional a aceitar que os EUA invadissem Cuba e impusessem ali a 'troca de regime' de praxe. O presidente Kennedy rejeitou a proposta, que implicaria trair todos os seus compromissos com a moralidade e a transparência no governo dos EUA. Alastra-se pela América Latina a suspeita de que Washington, mestra das mais odiosas tecnologias para matar, teria contaminado Chávez com algum tipo de doença incurável, para, assim, remover esse específico obstáculo ao controle da América do Sul. Aí está suspeita que jamais desaparecerá, mesmo que jamais se confirme: Washington assassinou Chávez, o maior comandante latino-americano desde Simón Bolívar. Verdade ou não, a suspeita já se implantou. Mas verdade indiscutível e já confirmada é que quanto mais Washington e a globalização operem para destruir mais e mais países, mais precária se torna a vida, não dos Chávez do mundo, mas das elites. O presidente Franklin Delano Roosevelt compreendeu bem que para que haja segurança para os ricos é preciso que haja segurança econômica para os pobres. Roosevelt estabeleceu nos EUA uma modalidade fraca de social-democracia que políticos europeus já haviam entendido que seria indispensável para que houvesse coesão social e política e estabilidade econômica. Os governos Clinton, Bush e Obama cuidaram sempre de minar a estabilidade que Roosevelt obtivera, enquanto Thatcher, Major, Blair e o atual primeiro-ministro britânico cuidaram de romper o acordo social que havia entre as classes no Reino Unido. No Canadá, Austrália e Nova Zelândia, os políticos também cometeram o erro de entregar o poder a elites privadas e privatizantes, mesmo que ao preço da estabilidade social e econômica. Gerald Celente prevê que as elites não sobreviverão ao ódio, à fúria, à ira que estão atraindo sobre si mesmas. Suspeito que esteja certíssimo. A classe média norte-americana está sendo destruída. A classe trabalhadora já é um proletariado; e o sistema de bem-estar social está sendo destruído para reduzir o défice do orçamento causado pela perda de arrecadação resultante da exportação de postos de trabalho e das despesas com guerras, bases militares em terras distantes e resgate de bancos e financeiras falidos. O povo norte-americano está sendo forçado a padecer, para que as elites preservem suas agendas. [5] As elites nos EUA já pressentiram o que as espera. Por isso, precisamente, criaram um ministério do Interior de estilo nazi-fascista, chamado "Segurança da Pátria" [orig. Homeland Security], armado com munição suficiente para matar cinco vezes cada cidadão norte-americano e com tanques em quantidade suficiente para neutralizar qualquer direito que a 2ª Emenda garanta aos norte-americanos. [6] Pistolas e rifles nada podem contra tanques, como os davidianos descobriram em Waco, Texas. A necessidade de proteger um pequeno punhado de membros da elite, contra a ira dos cidadãos norte-americanos que eles oprimem, é o que explica também a crescente militarização da polícia, e motivo pelo qual as polícias estão sendo postas sob direto comando de Washington e serão armadas com drones suficientemente potentes para assassinar os verdadeiros líderes do povo dos EUA que não estão nem no Legislativo, nem no Executivo, nem no Judiciário: estão nas ruas. Campos de concentração de prisioneiros nos EUA já parecem ser realidade, sem teoria da conspiração. [7] A ameaça que o governo dos EUA impõe contra o povo dos EUA já foi detectada e registrada dia 7/3/2013, por dois senadores (Republicanos), Ted Cruz (TX) e Rand Paul (KY), que apresentaram projeto de lei para impedir que o governo dos EUA assassine os próprios cidadãos: "O governo federal não pode assassinar cidadão norte-americano que esteja nos EUA", a menos que a pessoa "represente ameaça iminente de morte ou grave ferimento corporal a outra pessoa. Nada deve ser introduzido no texto dessa lei para sugerir que a Constituição poderá autorizar seja como for o assassinato de cidadão dos EUA sem o devido processo legal." [8] O "povo indispensável" com seus presidentes Bush e Obama inaugurou o século XXI com morte e violência. É o legado deles, seu único legado. A morte e a violência que Washington desencadeou voltar-se-ão sobre Washington e as elites corruptas por todo o mundo. Como diz Gerald Celente, a primeira grande guerra do século XXI já começou. [1] www.counterpunch.org/2013/03/08/obituaries-for-hugo-Chávez ; fair.org/take-action/media-advisories/in-death-as-in-life-Chávez -target-of-media-scorn/ ; [2] www.fair.org/... [3] Comissão do Senado dos EUA que investigou as atividades da CIA, presidida pelo sen. Frank Church (D-ID), em 1975. A comissão investigou várias atividades ilegais da CIA e do FBI (de experiências ilegais em seres humanos à invasão de moradias sem autorização legal, interceptação de comunicações sem autorização judicial, assassinatos e outras atividades) trazidas à tona pelo chamado "escândalo de Watergate". Todos os relatórios da Comissão Church podem ser lidos em www.aarclibrary.org/publib/contents/church/contents_church_reports.htm . Em www.aarclibrary.org/publib/contents/church/contents_church_reports_ir.htm reúnem-se os resultados das investigações sobre inúmeros complôs da CIA para assassinar governantes e líderes políticos no exterior [NTs]. [4] http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Northwoods [5] www.globalresearch.ca/... / kingworldnews.com/... [6] http://www.informationclearinghouse.info/article34259.htm / www.forbes.com/... [7] http://www.youtube.com/watch?v=FfkZ1yri26s / http://info.publicintelligence.net/USArmy-InternmentResettlement.pdf [8] http://www.cruz.senate.gov/record.cfm?id=339952
12/Março/2013
[*] O seu livro mais recente é The Failure Of Laissez Faire Capitalism And Economic Dissolution Of The West. O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/2013/03/12/hugo-chavez-paul-craig-roberts-4/ Tradução de Vila Vudu. Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |