As vacas leiteiras das dívidas pessoais
A indústria do cartão de crédito e o capitalismo
predatório
O negócio em expansão dos cartões de crédito
é uma das indústrias mais lucrativas e destrutivas que já
emergiram na inventiva mente capitalista. O Citibank está ajuntar mais
dinheiro do que a Microsoft e a Wal-Mart. São realizados lucros
obscenos sem levantar um dedo para efectuar qualquer trabalho físico.
Em 2004, uma única companhia de cartões de crédito
a MBNA realizou 1,5 vezes mais lucros do que a McDonald's, o gigante da
indústria do
fast food.
Receber sobre as dívidas de cartões de créditos é
um negócio muito lucrativo.
Com origens no Dakota do Sul, a moderna indústria dos cartões de
crédito começou a realizar lucros obscenos devido à
desregulamentação. O Supremo Tribunal também desempenhou
um papel chave na expansão dos lucros da indústria
bancária ao elevar os limites para a quantidade de taxas adicionais que
as companhias de cartões de créditos poderiam cobrar aos seus
clientes. Agora, o céu é o limite. A
desregulamentação da indústria resultou na
espoliação sistémica dos clientes através de
práticas que só podem ser descritas como deliberadas e
predatórias por natureza.
Estima-se de diversas maneiras que este ano os cartões de débito
representarão cerca de 26% do volume das vendas a retalho entre os
feriados do Dia de Acção de Graças
[1]
e o Natal, mais 3% do que em 2005. O período de compras mais intenso do
ano não ocorre na Sexta-feira Negra
[2]
, como é geralmente relatado, mas entre 11 e 17 de Dezembro. Durante
este intervalo os americanos provavelmente gastarão US$ 34 mil
milhões em compras com cartões de crédito e de
débito; e aproximadamente US$ 86 mil milhões entre o Dia de
Acção de Graças e o Natal. Milhares de milhões
mais serão gastos em cartões de crédito emitidos por
lojas. No total, os americanos aumentarão a dívida com
cartões de crédito em mais US$ 135 mil milhões neste
período festivo.
Até à data, o volume de cartões de crédito
está a ser 11% mais elevado do que no ano passado. A National Retail
Federation estima que os consumidores americanos gastarão mais US$ 454
mil milhões durante o período festivo deste ano, incluindo
compras a dinheiro. Isto representa um aumento de 5% em relação
ao ano passado, ao passo que a VISA USA estima que as vendas a retalho globais
para o período festivo de 2006 aumentem 7,5%. Este números
são tão incríveis que se tornam difíceis de
percepcionar.
Pagar apenas as quantias mínimas mensais, como fazem muitas
famílias em dificuldades, pode exigir mais de trinta anos para liquidar
um vestido ou uma ferramenta comprada no centro comercial local na Sexta Feira
Negra. Isto os tornam prendas muito caras e todos os anos dívida
adicional acumula-se à velha, de modo que a sua destrinça
é muito difícil ou mesmo impossível. Mas esta é a
ideia por trás do capitalismo predatório. Os que estão ao
par da indústria referem-se à pequena percentagem de possuidores
de cartões que não conseguem um equilíbrio mensal por
estarem 'inteiramente exauridos'. As armadilhas para o consumidor são
engendradas dentro do sistema de modo a quase garantir que os utilizadores do
cartão acabem por atrasar os seus pagamentos ou exceder os seus limites
de crédito.
Quando os utilizadores do cartão atrasam seus pagamentos, como os
complexos algoritmos utilizadores pelos emissores do cartão
prevêem que façam, as taxas de juro ascendem dramaticamente e
múltiplas taxas de utilizador são acrescentadas à conta
mensal. Milhões de utilizadores de cartão gastam a maior parte
do seu rendimento a pagar taxas de utilizador exorbitantes, sem reduzir o
balanço mensal nem mesmo minimamente. Os banqueiros estão a
arrecadar milhares de milhões, enquanto famílias da classe
trabalhadora estão a tornar-se escravas da dívida junto ao
capitalistas predatórios da indústria do cartão de
crédito. Isto foi tornado possível com as
bênçãos do Congresso, a operar sob a influência dos
lobbystas corporativos que enxameiam o Capitol Hill como vermes sobre um
cadáver.
As leis da bancarrota que outrora proporcionavam às pessoas
trabalhadoras um meio de escaparem à dívida já não
estão disponíveis como caminho de saída. Deveria ser
observado, entretanto, que os tribunais de bancarrotas permanecem abertos para
as corporações e proporcionam-lhe alívio da dívida,
uma oportunidade para recomeçarem com um passado limpo.
Assim, os banqueiros ladrões continuarão a roubar as
famílias trabalhadoras até a morte as levar, e então o
fardo da dívida é passado para o parente. Mais do que uma vaca
leiteira concebida para defraudar o povo do seu rendimento ganho duramente, a
dívida dos cartões de crédito é também um
meio de controlar os devedores e mantê-los na linha, e é uma
grande frente de batalha na guerra de classe que assola através do
continente.
Tal como as galinhas geneticamente modificadas para terem grandes peitos
anormais, o consumidor americano é adestrado para consumir e ser
consumido pelos capitalistas predatórios. Eles são capturados
por campanhas de publicidade sedutoras que alimentam a compulsão para o
consumo, não importa quão destrutivo para si próprio ou
para o planeta.
Os contratos de cartões de créditos são tão
complexos e deliberadamente enganosos que poucos consumidores, ou mesmo
juristas, podem compreende-los plenamente; e eles são minados com
armadilhas escondidas e ciladas que garantem produzir dívidas para toda
a vida.
A partir das estatísticas citadas anteriormente deveria ficar claro que
as pessoas apresentam-se nuas e vulneráveis diante dos capitalistas
predatórios e dos seus comparsas no governo. A dívida pessoal
maciça é ainda outro exemplo de um sistema orientado para o lucro
que não funciona para o povo trabalhador deste país. A
confiança que deveria prosperar entre pessoas e governo já
não existe, deixando a maioria dos cidadãos sem
representação. O capitalismo predatório cria enorme
riqueza para uns poucos privilegiados através da
exploração de trabalhadores que estão a tentar sobreviver
trabalhando em múltiplos empregos que rendem salários que
não dão para viver, e poucos ou nenhuns benefícios.
Virtualmente todas as instituições financeiras neste país,
incluindo a Reserva Federal, estão dispostas contra as famílias
trabalhadoras. O Congresso está a operar para o big business e
não para famílias trabalhadoras, como se evidencia nas suas
decisões políticas e registos de votos. Vamos ser claros acerca
do lado em que eles estão.
Métodos cada vez mais criativos de espoliar o povo estão a ser
armados nas salas dos conselhos de administração da
América e diligentemente transformadas em lei pelo Congresso.
Milhões de trabalhadores encontram-se então enterrados sob uma
avalanche de dívida da qual nunca escaparão. Os devedores
são uma vaca leiteira para as indústrias do cartão de
crédito e da banca cujo abastecimento de leite é
infindável. Finalmente exigirão de nós que trabalhemos
até morrer, pois nossos credores e o Congresso trabalham em conluio para
sangrar-nos até à morte e empanturrarem-se com o nosso trabalho e
o nosso sofrimento.
A baixa estima em que os trabalhadores são tidos na América pela
plutocracia dirigente sublinha a realidade de que ninguém olha pelos
nossos interesses. Mas devemos lembrar que abrangemos cerca de 95% da
população. Nosso baixo posicionamento nos degraus
económicos da escada assegura que permaneceremos no fundo da escala
social, tanto a sobreviver como a perecer com as migalhas que caem das mesas
dos ricos, garantindo dessa forma a nossa contínua servidão para
com eles. Isto também demonstra a necessidade de nos organizarmos como
classe e ascendermos em conjunto contra os predadores corporativos que
estão a sangrar-nos da vida, liberdade e busca da felicidade.
14/Dezembro/2006
[1] Dia de acção de graças nos EUA: Feriado na
quinta-feira da quarta semana de Novembro.
[2] Sexta-feira negra: o dia seguinte ao Dia de acção de
graças. É o dia que os comerciantes americanos consideram que
saem do vermelho (prejuízo) e começam a ter lucro.
Fontes: BCS Alliance www.Cardweb.com PBS Frontline, November 28, 2006
[*]
Fotógrafo, escritor free-lancer e activista social de West Virginia,
EUA. O autor agradece comentários para o email
csullivan@phreego.com
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O original encontra-se em
http://www.uruknet.de/?p=m29017&hd=&size=1&l=e
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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