por Aleksei Kettunen
Na quarta-feira 14 de Janeiro a UE manteve negociações com a
Gazprom em Moscovo. Os negociadores da UE tinham três objectivos:
-
Pressionar a Rússia a estender o preço especial de Inverno dos
fornecimentos de gás à Ucrânia até o fim de
Março;
-
Obrigar a Rússia a novas concessões unilaterais forçando
todas as compras europeias de energia a serem feitas através de um
comprador único: uma nova "União Europeia da Energia";
-
Pressionar a Rússia a ressuscitar o projecto cancelado do gasoduto
South Stream e construí-lo de acordo com as regras restritivas impostas
pelo Terceiro Pacote Energético
[NT]
.
A resposta russa foi um balde de água gélida.
Em primeiro lugar, a Gazprom disse não haver necessidade de qualquer
acordo especial de Verão para as compras ucranianas de gás uma
vez que já existe um contrato válido.
Na prática, isto significa que todas as concessões recebidas por
Kiev para o período do Inverno são temporárias e
não há espaço para negociação. Se a UE
quiser assegurar o trânsito do seu gás através da
Ucrânia deve então pressionar Kiev a cumprir os acordos
existentes. Se Kiev precisar de gás e não puder pagá-lo
pondo portanto em perigo as entregas que transitam para países da
UE isso não é problema da Rússia. O mesmo se aplica
às dívidas de gás de Kiev; a UE terá de pagar tanto
as dívidas ucranianas como quaisquer compras futuras.
Em segundo lugar, a Gazprom anunciou que o projecto do gasoduto South Stream
está morto e não será executado. O projecto entrou em
colapso sob a pressão dos EUA e da UE. O maior obstáculo
verificou-se ser o Terceiro Pacote Energético que entrou em vigor, pois
a Comissão Europeia pretende agora que ele seja aplicado
retroactivamente.
A solução da Rússia é como se segue: a Gazprom
construirá o gasoduto através da Turquia estendendo-o até
a fronteira turco-grega. O gasoduto terminará num centro
(hub)
de distribuição próximo à fronteira da UE. Se a UE
quiser comprar gás, terá de construir um gasoduto até a
Turquia às suas próprias custas. Ela também
precisará expandir a capacidade de transporte de gás entre
países membros do Sul da Europa e fazer isso sob os
constrangimentos impostos pelo seu próprio Terceiro Pacote
Energético.
O golpe final à arrogância da UE foi a declaração da
Gazprom de que após a conclusão do centro de
distribuição de gás e do gasoduto turco cessará
todo o trânsito de gás através da Ucrânia. O
gás russo só estará disponível através da
Turquia! A rede ucraniana de gasodutos agora existente será utilizada
exclusivamente para o fornecimento de gás à Ucrânia. A
Gazprom baseou a sua decisão na instabilidade da Ucrânia e nos
altos riscos do trânsito do gás.
Maro efèoviè, que é desde há uma semana
Comissário Europeu para a União Energética, deve ter tido
o pior dia da sua vida. A arrogância da UE chocou-se com um muro de
tijolo. E está a fermentar um grande escândalo pois a Alemanha
implacavelmente garantiu o seu próprio abastecimento de gás
através do gasoduto North Stream e a seguir utilizou todos os meios
possíveis para sabotar o gasoduto South Stream. Não pode haver
uma causa melhor para inflamar o conflito Norte-Sul dentro da UE. Os
utilizadores em perspectiva do gasoduto South Stream certamente sentirão
uma "gratidão eterna" aos Estados Unidos por terem morto o
projecto.
A Turquia, perpétua candidata à UE, sentirá um prazer
maldoso ao observar os apuros da UE enquanto vai calculando as suas futuras
receitas pelo trânsito do gás. Acontece que a Turquia
também é o segundo maior cliente da Gazprom, após a
Alemanha. O maior perdedor será a Ucrânia, o supremo desviador
(siphoner)
de gás e chantagista.
Apesar de toda a conversa arrogante, a UE não tem alternativa realista
ao gás natural russo. Bruxelas tem de engolir seu orgulho e cair na
realidade.
Agora aguardamos ansiosamente a interpretação que
os media ocidentais vão dar a toda esta história.
[NT] O Terceiro Pacote Energético da UE proíbe que a empresa
fornecedora do gás natural e a empresa que opera o gasoduto tenham o
mesmo proprietário. Como disse Michael Hudson, esta
exigência equivale a ser dono do Empire State Building mas não dos
elevadores do edifício: estes teriam um outro proprietário
que cobraria o que quisesse para transportar passageiros aos diferentes pisos.
Fontes:
vz.ru/news/...
(em russo)
vz.ru/news/...
(em russo)
Ver também:
Russia Cuts Off Ukraine Gas Supply To 6 European Countries
O "Turk Stream", outra proeza de Moscovo
Gazprom
O original encontra-se em
vineyardsaker.blogspot.pt/...
. Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.