As consequências da destruição da URSS
por Juozas Ermalavichyus
[*]
A criação da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas como reunião de povos e federação de
Estados comprometidos na construção socialista foi um
extraordinário acontecimento, sem precedentes na história
mundial. Antes do nascimento da União Soviética, a
história global da humanidade nunca conhecera uma tal
associação voluntária em tão grande escala de
nações e nacionalidades num único Estado.
Esta experiência foi tornada possível pela vitória da
Grande Revolução Socialista de Outubro, que libertou os povos do
Império Russo, da opressão social e exploração,
proporcionando-lhes uma perspectiva de desenvolvimento livre. É por isso
que o socialismo soviético foi o supremo grau de progresso
histórico da humanidade no século XX.
Não é portanto surpreendente que a destruição da
União Soviética tivesse resultado em consequências
catastróficas para os povos do nosso país multinacional e a
humanidade no seu conjunto.
Tendo como objetivo a destruição da União
Soviética, a contra-revolução imperialista não
tinha nenhuma ideia real das possíveis consequências desta brutal
agressão de dimensão mundial. A contra-revolução
não tinha uma percepção adequada e muito menos uma
compreensão científica da realidade histórica de como se
encontrava a humanidade moderna nas últimas décadas do
século XX. Ela voltava as costas às leis objetivas do
desenvolvimento social da comunidade mundial, ignorava o impacto transformador
a nível mundial da revolução tecnológica e
distorcia a natureza global do agravamento da crise geral do capitalismo.
A contra-revolução não podia imaginar que, devido ao alto
grau de integração e interdependência da comunidade
internacional, o desmembramento da União Soviética iria
inevitavelmente conduzir à ruptura do equilíbrio no
desenvolvimento social global e ao mesmo tempo provocar uma completa
desestabilização do processo histórico global. A
contra-revolução era guiada pela estratégia fascista do
imperialismo dos EUA, para estabelecer o domínio global e a
restauração completa do capitalismo em todo o planeta, o que,
objectivamente, era impossível.
A criminosa destruição da União Soviética
significou uma derrota grave do sistema socialista mundial, um enfraquecimento
do processo revolucionário mundial, uma deterioração da
democracia política e do progresso social no mundo e a extrema
intensificação da crise global do capitalismo. Com o
desmembramento da União Soviética desencadeou-se a
agressão imperialista contra a humanidade, na medida em que tinha sido
perdido o seu principal fator de dissuasão. Foi assim que o imperialismo
dos EUA se ocupou a provocar guerras civis, conflitos étnicos e
religiosos, viu-se prosperarem bandos armados em vários "pontos
quentes: no Cáucaso, Balcãs, Ásia Central,
Médio Oriente, Norte da África, Ucrânia e outras partes do
mundo. Por último, a guerra de interesses agravou-se de modo
significativo em toda a parte.
O colapso da União Soviética foi um choque económico,
social, político e espiritual de dimensão mundial, afetando o
desenvolvimento histórico da humanidade. Como resultado da
desintegração da União Soviética, a
contra-revolução imperialista ela própria foi arrastada
para uma configuração particular do desenvolvimento social
global, que não podia dominar, condenando-se ela própria a uma
morte inevitável. Constituindo uma anomalia no processo histórico
natural, o desmembramento da União Soviética foi marcado por
consideráveis consequências devastadoras em todos os
países. Como resultado, a crise global atingiu o paroxismo. Em
última análise, com a destruição da União
Soviética começou a fase final do colapso do sistema capitalista
mundial e a ordem social baseada na propriedade privada. O afundamento da velha
ordem mundial tem conhecido uma significativa aceleração tomando
o aspeto de uma avalanche.
A destruição da União Soviética foi imediatamente
seguida por colocar em condições de escravidão colonial o
país, aniquilando em grande escala as suas forças produtivas, a
transformação do seu território num apêndice de
matérias-primas para os monopólios transnacionais e o
genocídio de seu povo. O papel destrutivo principal foi desempenhado
pela privatização dos meios de produção, para a
restauração do capitalismo no país desmantelado.
Diretamente oposta à principal lei objectiva de desenvolvimento da
produção material a sua socialização
a lei de privatização resultou numa falha catastrófica da
economia nacional e um colapso completo da produção social. As
consequências sociais da privatização foram o enorme
empobrecimento da população, a polarização social
da sociedade, a extinção da população do
país. Os povos da União Soviética encontraram-se sob a
ameaça do fim da sua existência como comunidade histórica
de pessoas.
Para os povos da União Soviética, a destruição de
seu Estado federal causou uma catástrofe nacional no primeiro semestre
de 1990, devido ao colapso da base económica comum da sociedade
soviética, minando os fundamentos da vida material e produtiva das
populações. A queda da produção social foi mais
importante que os danos sofridos pela economia nacional da União
Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Em consequência,
assistiu-se a um declínio acentuado do nível e da qualidade de
vida, a grande maioria das massas encontrou-se abaixo da linha da pobreza, uma
grande parte da população do país foi atingida pelo
desemprego, a
lumpenisação,
a pauperização. Em alguns lugares eclodiram guerras civis
sangrentas, marcadas por numerosas vítimas humanas e causando a
fragmentação das antigas repúblicas soviéticas. A
consequência foi a degradação social dos povos
soviéticos, a diminuição da população total
do país desmembrado, tendo a destruição do
Estado-União Soviética arruinado as principais fontes da sua
viabilidade.
A restauração do capitalismo na União Soviética
desintegrada caracterizou-se, acima de tudo, pela destruição
acelerada das forças produtivas da sociedade soviética. O
país, que anteriormente era auto-suficiente, provendo totalmente as
necessidades da sua população, perdeu neste desastre sectores
industriais inteiros como a construção de
máquinas-ferramentas, equipamentos, engenharia eléctrica,
electrónica e outros domínios do progresso científico e
tecnológico. A restauração capitalista transformou a
ex-União Soviética, numa região atrasada, desesperada,
cinzenta. Os povos da URSS foram destruídos sob o domínio do
capital comprador, com a privatização da economia fez-se passar a
riqueza social para o controlo ou mesmo posse direta de monopólios
estrangeiros. É a própria soberania dos povos
ex-soviéticos que está ameaçada.
A restauração do capitalismo na União Soviética
afetou o sistema capitalista mundial, porque provou-se incompatível com
as leis objetivas do desenvolvimento social. Portanto, a
restauração do capitalismo na União Soviética
desencadeou tendências destrutivas à escala global, como a
desestabilização do desenvolvimento social global, a extrema
intensificação da crise geral do sistema capitalista mundial, a
desintegração completa dos sistemas económicos e
políticos no mundo, a aceleração da derrocada do sistema
social baseado na propriedade privada, etc. Seguiu-se uma
repartição territorial do mundo, um importante agravamento dos
problemas e contradições globais, um aumento significativo da
ameaça de uma catástrofe global na humanidade. Todas estas
condições tiveram por efeito um caos generalizado e global:
acelerou-se o colapso da velha ordem social, rejeitada no mundo inteiro que
recusa o poder egoísta das forças políticas atuais. Mas
quando o caos mundial começa gerir o desenvolvimento social global,
é a própria existência da humanidade que está em
perigo.
A desintegração da União Soviética tem
contribuído para o aumento da agressão imperialista global contra
a humanidade que vai até à real ameaça de uma
catástrofe nuclear. Mas na realidade histórica, tornou-se
evidente que os imperialistas destruidores da União Soviética
acabaram como reféns de seus atos criminosos. Eles são incapazes
de controlar a situação crítica do mundo, porque com o
desmembramento do Estado Soviético transpuseram o limite do
aceitável no processo histórico mundial.
Portanto, todas as suas aspirações egoístas transformam-se
no seu oposto, dando origem a consequências desastrosas para eles
próprios. Não podia ser de outra forma dado que as forças
políticas no poder na maioria dos países vão contra as
leis objetivas do desenvolvimento social. É algo que está
determinado pela lógica objetiva da história do mundo. A
dialética da história orienta as nações do mundo
para a formação de uma nova união de Estados, mais
poderosa que a antiga União Soviética. O exemplo da União
Soviética uma Federação Socialista multinacional
servirá como protótipo a uma União mundial dos
povos do planeta, que só é verdadeiramente realizável numa
base socialista. A agressão imperialista global não faz
senão reforçar os espasmos de sua agonia.
A agonia universal em que mergulha o sistema capitalista mundial não
é devida ao colapso da União Soviética. As causas mais
fundamentais e mais antigas estão relacionadas com a
revolução científica e técnica. Durante esta enorme
revolução no desenvolvimento das forças produtivas da
humanidade, o capitalismo esgotou todas as suas possibilidades e entrou
naturalmente na etapa histórica do fim irreversível da sua
existência. Tendo sofrido o impacto transformador da
revolução tecnológica, a economia mundial não pode
desenvolver-se espontaneamente sob o sistema obsoleto das
relações de produção baseado na propriedade
privada. Ela está esgotada e cai sob os golpes da crise global. O
capital financeiro monopolista que domina no campo capitalista rompeu com a
produção material e está imerso na
especulação a nível global. Assim, o capital financeiro
transformou-se em ficção, funcionando apenas por inércia e
tende a esgotar-se de maneira inexorável e irreversível. A
especulação capitalista degenera numa agonia universal do modo de
produção capitalista, com todas as consequências que isso
implica nos planos económico, social, político e espiritual, que
se combinam na destruição do sistema social capitalista no
planeta. A desintegração da União Soviética
não fez senão acelerar e aprofundar este processo
histórico natural.
Todas essas manifestações da crise global tomadas como um todo
testemunham a formação no final do século XX, de uma
situação revolucionária a nível mundial. É
caracterizada por uma completa desestabilização das
relações internacionais, o aumento das tendências
catastróficas e caóticas no desenvolvimento social dos povos do
mundo. É marcada pelo desencadear no cenário mundial de
forças sociais e políticas da regressão social e da
agressão militar, a agressão mundial do imperialismo contra a
humanidade, a perda de controlo das forças contra-revolucionárias
sobre os processos no mundo. Pela sua própria natureza, ela reflete a
inevitabilidade da destruição da ordem social fundada na
propriedade privada. E portanto, a situação de crise aguda
à escala planeta está ligada ao objetivo condicionamento pela
revolução científica e técnica à escala
global da via socialista de desenvolvimento da comunidade mundial das
nações. Esta situação revolucionária mundial
abre novas perspectivas de uma vaga de revoluções socialistas
primeiro na maioria dos países, mais tarde sobre o resto do planeta.
O imperialismo agonizante tornou-se extremamente agressivo e perigoso. A
agressão mundial da reação fascizante do imperialismo
empurra a crise global para uma escalada que pode conduzir à
catástrofe universal e à autodestruição da
humanidade. A única alternativa para a autodestruição da
humanidade é a transformação revolucionária da
sociedade, de acordo com princípios socialistas na maioria dos
países. É uma verdadeira alternativa que tiraria os povos do
mundo da crise global, iria compromete-los na construção de uma
sociedade socialista sem classes, a liberdade social, a justiça e a
igualdade. Não há outro meio de sair da crise mundial. Tanto mais
que a revolução científica e técnica torna
acessíveis capacidades produtivas suficientes para satisfazer as
necessidades humanas de toda a população do planeta. A
implementação desta oportunidade estratégica para a
humanidade pressupõe o triunfo global do socialismo.
O imperialismo agonizante pode ainda destruir dezenas de nações e
atirar a humanidade para longe do caminho do seu desenvolvimento
histórico. Mas o imperialismo não é mais capaz de sair
vivo de sua própria crise, que encerra a história secular da
civilização baseada na propriedade privada. A sua crise global
é a última crise na história do mundo. A
transformação das características básicas do
capitalismo no seu oposto durante o século XX conduziu à
degeneração económica do capital. Devido à
especulação, tornou-se virtual, fictício, ilusório.
Transformou-se num pseudo capital. Paralelamente a isto seguiu-se uma
degenerescência social da sociedade burguesa e a sua
desumanização e dessocialização, a ferocidade e a
barbárie. Essas tendências refletem as últimas
convulsões do sistema capitalista mundial.
Após a agonia do imperialismo no processo histórico mundial
acontece naturalmente o socialismo, cuja fase inicial já foi percorrida
pelos povos soviéticos. Confrontados com o problema da sua
conservação e sobrevivência, os povos da URSS
destruída ampliam cada vez mais os seus movimentos de protesto contra a
restauração do capitalismo no nosso país dividido. A
salvação e a sobrevivência dos povos soviéticos
situa-se no socialismo renovado num nível superior de desenvolvimento
social ao que foi construído e implementado na URSS no século XX.
Este objectivo estratégico será seguido por outros povos do
mundo. A sua passagem para um modo de vida socialista é objetivamente
imposta pela revolução científica e tecnológica em
todo o mundo. Não há nenhuma outra via.
[*]
Juozas Ermalavichyus, doutorado em ciências históricas, professor
O original encontra-se em
kprf.ru/party-live/opinion/160190.html
e a versão em francês em
www.legrandsoir.info/les-consequences-de-la-destruction-de-l-urss.html
. Tradução de DVC.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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