Cem anos para aprender História
por Rui Namorado Rosa
UM SÉCULO DE TRANSFORMAÇÕES PROFUNDAS
O século XIX foi o do apogeu do império britânico, da
afirmação pujante do capitalismo mercantilista, da
expansão colonial e da partilha do mundo pelas potencias
industrializadas, da revolução industrial e do liberalismo
político, um feixe de fenómenos que podemos individualizar
mentalmente mas que eram causas e efeitos de um mesmo processo histórico.
O século XX foi uma era de revolução científica e
técnico e de acelerado crescimento demográfico, de
competição e conflito devastador entre potências
capitalistas, de emergência de dois campos de organização
político-económica de concepções opostas -- um
capitalista e o outro socialista, da luta anti-colonial e de
libertação nacional de povos colonizados, e do apogeu do
imperialismo, fase superior do capitalismo.
No confronto pela hegemonia económica e política mundial, o
declínio do império britânico é perceptível
desde o último quartel do século XIX. Foi então patente a
intensa competição entre as potências então
emergentes, com destaque para os EUA, a Alemanha e o Japão que,
concluídos os respectivos processos de consolidação
interna iniciavam a expansão externa, entre si e as potências
tradicionais -- a Grã-Bretanha, a Rússia, a Turquia, a
França e a Áustria. Desde então e até ao
início da Primeira Grande Guerra, multiplicaram-se intrigas, fizeram-se
e desfizeram-se alianças explícitas ou secretas. A
Conferência de Berlim (1884-5), que realizou a partilha do
mundo entre as potências europeias, é sintomática do
declínio do império britânico até então
incontestado, e assinalou também um novo passo na escalada da
globalização capitalista. O capitalismo carecia de acrescido
espaço vital para manter o seu crescimento e essa foi a
solução pacífica então encontrado,
à custa da autonomia, recursos e cultura dos povos colonizados. Por essa
altura também, os EUA lançaram guerras expansionistas contra
colónias espanholas, anexando Cuba, Porto Rico e Filipinas.
No início do século XX já estavam constituídos
diversos grandes grupos monopolistas, na sequência da
concentração de capital acelerada pelas crises económicas
de 1873 e 1900, a par da fusão do capital bancário, industrial e
especulativo em capital financeiro. Os monopólios surgem em resultado da
livre concorrência que leva à eliminação
de uns por outros competidores mediante a força
económica (ou quaisquer outros meios). O imperialismo é uma
entidade objectiva, etapa da evolução necessária do
capitalismo que emerge e contradiz a etapa anterior de capitalismo
mercantilista. Esses monopólios centravam-se nos países
industrializados, mas estendiam-se aos territórios colonizados ou
dependentes.
Os principais sectores monopolizados por cartéis de poucas mas poderosas
corporações eram então o carvão e o aço, a
electricidade, os caminhos-de-ferro, a marinha e até já o
petróleo (este no caso dos EUA). No vértice do edifício
imperialista, uma oligarquia de plutocratas e de directos executantes e
beneficiários do poder, constituíam a classe capitalista.
Ao longo do século XX, porém mais rapidamente após o termo
da Segunda Guerra Mundial e na sequência das crises económicas de
1971, 1987 e 1995, os monopólios cresceram em novos sectores industriais
onde a sua expressão era anteriormente menor, alargaram ainda mais a sua
área de influência geográfica, e a sua
integração vertical e horizontal foi levada muito mais longe.
O progresso científico e a inovação tecnológica
criaram oportunidades para a emergência desses novos sectores
económicos e para o reforço do dinamismo de outros. As agora
populares tecnologias da comunicação e da
informação já existem desde o início do
século XX, mas ainda não constituíam então as bases
dos monopólios que viriam a constituir-se em importantes
Corporações Transnacionais nos ramos da Electrónica e das
Telecomunicações, no último quarto do século. A
biotecnologia que era então incipiente, é agora a chave do
sucesso de poderosos monopólios nos ramos Farmacêutico e
Agro-industrial. O poder económico e político das
Corporações Transnacionais é enorme. As 200 maiores
transnacionais reúnem um volume de produção estimado em um
quarto do PIB mundial, em diversificados ramos económicos, mas com
destaque para as Telecomunicações, Energia, Serviços
Públicos, Comercio por Grosso e Distribuição, Militar,
Agro-industrial, Automóvel, Aeroespacial, Comunicação
Social, etc.
O ÚLTIMO MEIO SÉCULO
As viragens de rota observadas na década de 40 permitem compreender
melhor as forças em presença que conduziram à Segunda
Guerra Mundial e as que a superaram, o que ficou definitivamente ultrapassado e
o que veio a ser adquirido não esquecendo as colossais perdas
humanas e materiais.
Após a fim da Segunda Guerra Mundial, a conferência de Brettton
Woods (1944), entre as 44 potências vitoriosas sob a égide dos
EUA, ditou uma nova ordem financeira internacional que superasse
pela via financeira a profunda crise económica que antecedera essa
Guerra. Essa conferência traduziu-se no Acordo de Bretton Woods,
não subscrita pela URSS, que compreendeu a criação, com
sede em Washington, do Banco Mundial (BIRD), do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT)
este em 1947. Os EUA foram o principal protagonista dessa nova
arquitectura, através da qual asseguraram o predomínio do
dólar nos bancos centrais e no comércio internacional.
Após um dilatado período de expansão económica
sequente ao fim da Segunda Guerra Mundial, seguiu-se depois um longo
período de recessão cujo fim não está à
vista. Essa transição ficou assinalada por vários eventos.
Em 1973, assinalamos a guerra de Yom Kippur no Próximo Oriente, o
embargo de fornecimento de petróleo pela OPEP e o sequente choque
petrolífero e, ainda, o abandono definitivo do Acordo de Bretton Woods
no que se refere à desvinculação do dólar da
convertibilidade com o ouro e a flutuação das taxas de
câmbio entre divisas. Estava por esta via facilitado o caminho para os
programas de reajustamento estrutural impostos pelo FMI aos
países em desenvolvimento que, com o rol de privatizações,
redireccionamento da despesa pública, reformas e disciplina fiscais,
etc., conjugados com a liberalização do investimento directo
estrangeiro e do comercio externo e a desregulamentação
aduaneira, impostas através do GATT (agora WTO-OMC desde 1995),
conduziram à acumulação de insolúveis
dívidas externas nos países periféricos e de riqueza e
poder económico em países do centro capitalista.
As normas internacionais foram sendo ditadas pelas potências
capitalistas, com o seu poder diplomático, negocial e a ameaça
quanto necessária. Assim, as cotações de
mercado das
commodities
[1]
ou matérias-primas são fixadas nas bolsas de mercadorias de
Londres e de Nova Iorque, sendo progressivamente depreciadas; enquanto, por
outro lado, as grandes potências aplicam normas ou tarifas
proteccionistas nas suas fronteiras em contraposição à
eliminação de barreiras aduaneiras nos países da
periferia, sob instrução do FMI.
A longa fase de recessão económica mundial que perdura desde
há três décadas, está assinalada por renovada e mais
feroz ofensiva do capitalismo, que procura reverter os avanços
civilizacionais da descolonização e da libertação
nacional, subsequentes ao fim da Segunda Guerra Mundial, para prosseguir a
expansão e concentração do capital a nível
planetário. Esta ofensiva sobre várias formas viria a ser
codificada num decálogo sob a designação de
Consenso de Washington, designação que resume o mínimo
denominador comum das orientações políticas impostas pelas
instituições financeiras internacionais sedeadas em Washington
aos países da América Latina que de facto traduz a
orientação da política imperial para com a generalidade
dos países em vias de desenvolvimento.
Tal como no princípio do século XX, a concentração
prossegue hoje e mais rapidamente ainda, mediante fusões e
aquisições e participações. Como então, uma
oligarquia de milionários que directa e indirectamente controlam
capitais imensamente maiores do que aqueles de que são
proprietários, ou de pequenos investidores que se arruínam ou
enriquecem no jogo da especulação bolsista.
Mas essa é a face mais pacífica do capitalismo. Outra é o
uso da força violenta para a subjugação, a rapina e a
destruição de povos e países inteiros. O século XX
é disso triste memória.
AS GUERRAS MUNDIAIS
A Primeira e a Segunda Guerras Mundiais traduziram a expressão extrema
de conflitualidade entre potências capitalistas que recorrem à
força militar para disputarem recursos e mercados para o crescimento
incessante das respectivas produções industriais, o acesso ao que
eufemisticamente apelidam de espaço vital ou
interesses vitais.
Disputadas duas Guerras Mundiais, em que a Alemanha foi derrotada
consecutivamente, os EUA acabaram por emergir, em meados do século XX,
como o novo centro incontestado do sistema capitalista mundial. Iniciava-se um
novo ciclo do sistema político mundial.
A consolidação do ciclo económico e da hegemonia
política dos EUA foi coadjuvada pela progressiva
dolarização das reservas dos bancos centrais e do comércio
mundial (com o apoio do FMI/BM/OMC). A partir da década de 1970,
porém, o declínio económico relativo dos EUA resulta da
perda de sustentabilidade global, ainda que dissimulado pela progressiva fuga
para a acumulação de capital financeiro especulativo, por uma
intensificação dos fluxos internacionais de mercadoria e de
capitais, tendo em vista o mais agressivo saque de recursos, e pela
difusão da doutrina neo-liberal nos planos económico e
ideológico.
No plano político-militar é claro, desde o fim da Segunda Guerra
Mundial, o propósito de os EUA assumirem a hegemonia unipolar do sistema
capitalista mundial, embora inicialmente confinado pelo bloco socialista. Tendo
o bloco socialista sido derrotado no confronto da Guerra-Fria, a partir do
início da década de 1990 os EUA logo passaram a exercer o seu
poder hegemónico já sem limites. Assim, lançaram as
Guerras do Golfo e nos Balcãs, a primeira ainda com mandato da ONU a
segunda ainda no quadro da NATO. Mas a sua vontade de acção
unilateral vai-se afirmando progressivamente, quer no plano da legalidade
internacional estabelecida (auto-excluindo-se dos tratados internacionais) quer
no plano da decisão e da acção militar concreta.
O partido da guerra tomou o poder em Washington; primeiro, nas
eleições presidenciais (Dezembro 2000); depois, com o Patriot Act
(Novembro 2001) e legislação subsequente que privou os
cidadãos norte-americanos de direitos e garantias constitucionais e
conferiu poderes de excepção ao Presidente dos EUA; e tem uma
doutrina militar, a da guerra preventiva contra um inimigo omnipresente. A
guerra tornou-se um modo de pensar e de estar permanente. Ela traduz as
necessidades e as soluções dos interesses dos grupos monopolistas
já planetários e do complexo militar-industrial em particular.
As intervenções sucessivas que pontuam a artificiosa
geo-estratégia militar norte-americana no Médio Oriente e na
Ásia Central, são oportunidades para fazer jogos de
alianças furtivas com facções políticas
vulneráveis, tirando partido da heterogeneidade étnica, religiosa
ou outra existente nesses países de fronteiras mal definidas e de
poderes centrais difusos. A presença norte-americana alarga-se assim
rapidamente nos planos económico e diplomático e sobretudo
militar, no Oceano Índico, na Arábia Saudita, nos principados
árabes, no Afeganistão, no Uzbequistão, no
Quirguistão. A presença militar dos EUA conta agora com um eixo
de bases aéreas e navais que vai do Mediterrâneo Oriental
até ao coração da Ásia Central, na fronteira com a
China. Antes da Guerra do Golfo eram 10 bases; pouco mais de uma década
mais tarde esse número atingia já 22.
Estas bases não são meras recordações das guerras
que aí aconteceram, são sobretudo pontos de apoio para guerras
futuras que o imperialismo que estarão para vir.
O complexo militar-industrial constituiu-se durante a Segunda Guerra Mundial
nos EUA. A cooperação íntima entre o governo e a grande
indústria foi para isso determinante e teve protagonistas como R.
MacNamara. A US Air Force produziu 300 mil caças no período
1940-45. A guerra do Vietname e a guerra das estrelas foram
acrescidas oportunidades para o desenvolvimento de novos armamentos (cada vez
mais sinistros) e o financiamento federal das corporações activas
na indústria de guerra. O fim da guerra-fria criou um
compasso de expectativa que não durou muito. Armas que estavam no
arsenal das armas de utilização problemática num mundo
bipolar foram trazidas para acções encobertas e para o campo de
batalha (caso das munições de urânio empobrecido, novas
versões de bombas de fragmentação e de bombas
termobáricas, super-bombas convencionais MOAP, bombas Sujas RDD, feixes
de micro-ondas de alta potência, bombas e ogivas penetrantes EPW, etc). O
conceito de guerra ao terrorismo abriu novas oportunidades ao
negócio do complexo militar-industrial após o episódio de
11 de Setembro. O orçamento militar norte-americano retomou a prioridade
e cresceu para mais de US$ 420 mil milhões em 2006 -- excedendo os
orçamentos militares da Rússia, China, Reino-Unido e
França reunidos -- em prejuízo de todos os programas sociais.
Lockheed Martin, Northrop Grumman, General Dynamics, General Atomics, General
Electric, Boeing, United Technologies, Raytheon são as principais
executantes e beneficiárias deste novo alento militarista. Mas agora
não só constroem as plataformas, os lançadores, as armas
para a guerra no solo, no mar, no ar e no espaço, e os respectivos
sistemas de comando integrado. Uma nova dimensão, de facto já
concebida e operacionalizada durante a Segunda Guerra Mundial e
institucionalizada logo após (1947) entre os EUA e o Reino Unido, com
apoio e adesão de vários outros países amigos,
são sistemas de vigilância (espionagem em todos os aspectos) de
âmbito global e permanente [
http://www.heise.de/tp/r4/artikel/6/6929/1.html
]. A vigilância electrónica global, abarcando desde
observações a partir de estações orbitais
até à monitorização da Internet, servindo para
todos os fins legítimos ou ilegítimos, é apresentada ao
público em geral como segurança e suporte para a
guerra ao terrorismo.
Na realidade, o poder militar é o único domínio em que o
poder dos EUA é incontestado e sólido. É o braço
armado do capitalismo imperial sem fronteira.
O SAQUE COMO PROPÓSITO E CONSEQUÊNCIA DA GUERRA
Quando olhamos para o que foi a história do século XX, vemos como
nela foi importante a indústria petrolífera. A necessidade
visceral de acesso ao petróleo para a sustentação da base
económica do crescimento capitalista é um factor objectivo da
agressividade e da actuação geopolítica imperial.
Ao longo de um século a indústria petrolífera adquiriu
progressiva importância, associada a igual importância adquirida
pelas indústrias automobilística, aeronáutica e
petroquímica, a que a indústria de explosivos está
associada. Todos estes ramos industriais se desenvolveram na base da
disponibilidade do petróleo e em íntima convergência de
interesses capitalistas.
A indústria do petróleo começou realmente nos EUA ainda no
último quartel do século XIX, primeiro com pacíficos fins
iluminantes, depois como combustível ideal para os primeiros motores de
combustão interna. O petróleo tinha já uma
importância primordial por ocasião da Primeira Grande Guerra, pois
que se provou a sua vantagem como combustível na propulsão de
veículos de transporte terrestre, navios e mesmo aviões
militares, para além do fabrico de explosivos.
A prospecção de petróleo e o controle das correspondentes
reservas passou então a ser de importância estratégica. O
Médio Oriente e a Ásia Central, com a bacia do Mar Cáspio
e o Golfo Arábico-Persa, acabaram por se revelarem como a área
geográfica de longe mais dotada em hidrocarbonetos
petróleo e gás natural do mundo.
O domínio do Golfo Arábico-Persa tornou-se muito apetecido. A
Primeira Guerra Mundial desencadeou a corrida ao petróleo e todas as
potências procuraram obter posições no negócio. A
Grã-Bretanha, que antes da Guerra já controlava o petróleo
recentemente descoberto na Pérsia, suspeitava que a vizinha
província da Mesopotâmia do império Otomano (Turco), seria
igualmente dotada. Com o fim da Grande Guerra e o colapso do império
Otomano, a Grã-Bretanha obteve mandato da Sociedade das
Nações para administrar a Mesopotâmia, a Península
Arábica e a Palestina. Procurou talhar a província da
Mesopotâmia (actual Iraque) como um reino sob sua
protecção; mas na Conferência de Paz de Versailles, os
primeiros-ministros da Grã-Bretanha e da França brigaram pela
partilha do petróleo da Mesopotâmia; estando a Alemanha e a
Turquia derrotadas, a França recebeu a parcela anteriormente detida pela
Alemanha; e os EUA, tendo exigido partilhar os despojos da guerra, receberam
também uma parcela. Após longas e intricadas
negociações, a Companhia de Petróleo Turca foi finalmente
reestruturada em Companhia de Petróleo do Iraque (CPI) em 1928, com
capitais da Shell (anglo-holandesa), BP (britânica), CFP (francesa,
actual Total-Fina-Elf) e da Exxon e Móbil (norte-americanas). As
sinuosas negociações que conduziram à
constituição da CPI em 1928 desenvolveram-se em curioso paralelo
com a luta pela independência do Iraque, desde as
insurreições árabes de 1920 até ao reconhecimento
final pela Liga das Nações em 1932. As primeiras
eleições para o parlamento do reino coincidiram com a primeira
concessão de direitos de exploração de petróleo a
um consórcio internacional, no ano de 1925.
[
http://www.globalpolicy.org/security/oil/2003/0425byzantine.htm
]
Após a Segunda Guerra Mundial, durante a qual o Iraque foi um importante
ponto de aprovisionamento e de apoio para as forças aliadas e a URSS, o
nacionalismo árabe iria alterar a influência do proteccionismo
britânico que havia reinado na região. A monarquia foi derrubada e
um regime republicano instaurado em 1958; em 1963 o partido Baath tomou o
poder; e a Companhia de Petróleo do Iraque foi nacionalizada em 1972,
nas vésperas da guerra de Yom Kippur.
No decurso das primeiras décadas do século XX a Pérsia,
mantendo estatuto de estado independente, atravessou muitas vicissitudes de
organização política interna agravadas pela
intromissão e presença de forças militares estrangeiras.
Subjacente, entre outros factores, estava já a disputa pelos recursos
petrolíferos do seu território. De facto, a Pérsia foi, no
Médio Oriente, um país pioneiro na prospecção
petrolífera onde, por iniciativa de um empresário
britânico, a produção veio a arrancar em 1908. Semanas
antes do início da Primeira Guerra Mundial, o governo britânico (a
conselho de Winston Churchill) adquiriu a maioria do capital da empresa e
constituiu a Companhia Anglo-Persa de Petróleos (mais tarde BP). O
controle do país foi, por essa época, disputada entre
britânicos e russos. Em 1935, na sequência de um movimento militar,
a Pérsia tornou-se monarquia autoritária sob uma nova
dinastia, com a designação de Irão.
Após a Segunda Guerra Mundial, o primeiro-ministro nacionalista M.
Mossadegh nacionalizou as concessões exclusivas britânicas e
fundou a National Iranian Oil Company (1951).
Esse foi um episódio histórico que viria a repercutir-se na
apropriação nacional dos recurso de hidrocarbonetos por países do
mundo arabe e na criação da OPEP (em 1960).
Mossadegh foi na sequência deposto em 1953, em resultado de uma
conspiração anglo-americana, e a produção
petrolífera passou a ser partilhada por um consórcio
anglo-americano. Contudo, na sequência do embargo de 1973, em que o
Irão não foi parte activa, as
condições políticas levaram a reverter para a NIOC o
controle da produção nacional e a renegociar a partilha da
produção.
O Irão ocupa um posicionamento único na articulação
do Médio Oriente com o Extremo Oriente, a Ásia Central e o Oceano
Índico. Por isso, o seu território está na
trajectória das mais interessantes e necessárias linhas de
transporte e escoamento de hidrocarbonetos (quer petróleo quer
gás natural). E, a par da Arábia Saudita, detém as maiores
reservas mundiais de hidrocarbonetos (no seu caso mais gás do que
petróleo).
Em 1932, ano da independência do reino Saudita, a norte-americana
Standard Oil Company (actual Chevron-Texaco) descobriu petróleo no
Bahrain, próximo da costa da Península Arábica. No ano
seguinte, adquiriu uma primeira concessão para prospecção
na Arábia Saudita. A Arabian American Oil Company (Aramco) foi
constituída em 1944, com capital da Standard Oil e da Texaco (1936), a
que mais tarde (1948) se juntaram as também norte-americanas Exxon e a
Mobil (estas violando o Red-Line Agreement a que estavam obrigadas desde 1928
como partes do cartel constituído pelos antigos accionistas da Turkish
Petroleum Company/Iraq Petroleum Company). A primeira descoberta substantiva da
Aramco data de 1940; o reservatório super-gigante de Ghawar (o maior do
mundo, ainda em produção, embora já em declínio)
veio a ser plenamente reconhecido em 1948. A Arábia Saudita é
reconhecida como detentora das maiores reservas mundiais de petróleo; de
facto a par do Irão, contando o petróleo e o gás natural.
As relações privilegiadas entre a Arábia Saudita e os EUA
não se limitam ao negócio do petróleo. O rei Abdul Aziz
ibn Saud e o presidente Franklin Roosevelt encontraram-se em 1945 e presume-se
terem feito um acordo ainda hoje confidencial mas cujo conteúdo é
presumível. Mas a relação é necessariamente
contraditória, no interesse estrito da família real saudita e do
governo e das petrolíferas norte-americanas, mas em
oposição aos interesses do povo saudita (em larga
proporção jovem e imigrante) e de outros países
importadores e empresas petrolíferas, e assume aspectos aparentemente
inopinados. Em 1960 a Arábia Saudita foi um dos fundadores da OPEP, um
novo cartel constituído para regular a cotação do
petróleo e as quotas dos países exportadores; em 1973 alinhou no
embargo que ditou o primeiro choque petrolífero; e em 1980 a Aramco foi
expropriada, passando a ser gerida sob a responsabilidade do governo, ainda que
mantendo relações comerciais privilegiadas com os anteriores
accionistas. Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita é um importante
cliente da indústria de guerra norte-americana, é um importante
investidor na Wall Street e oferece facilidades logísticas aos EUA no
seu território para fins militares.
O nacionalismo árabe, a par dos movimentos de libertação
nacional e anti-colonialistas, conduziu à progressiva
nacionalização de recursos na região. É
episódio memorável do nacionalismo árabe a
nacionalização do Canal do Suez, como significativa foi a
intervenção militar anglo-francesa (1956) procurando manter o seu
controle. Significativa, ainda, a intervenção diplomática
dos EUA e da URSS que desalojaram a Grã-Bretanha e a França do
Egipto.
Mas não obstante a luta do nacionalismo árabe, o reordenamento do
Médio Oriente esteve sempre sob a mira e a acção, via
diplomática e militar, das antigas potências coloniais, agora dos
EUA também, tendo em vista manter um quadro político
frágil, instável e susceptível de permanente
intervenção e intromissão, directa ou indirecta. A
constituição do estado de Israel, para acolher o movimento
Sionista (em 1947) e de diversos estados feudais árabes como o Koweit
(1961) e o Bahrain (em 1971), ilustram bem a estratégia de controle a
longo prazo, sistematicamente prosseguida pelo sistema capitalista mundial na
região, sob a hegemonia da Grã-Bretanha, primeiro, dos EUA,
depois. A Guerra do Golfo em 1990, a invasão do Afeganistão em
2001 e a ocupação do Iraque em 2003 são apenas
manifestações mais violentas dessa intervenção
geopolítica.
RECORDANDO A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O primeiro ataque nazi na frente Leste foi a operação Barbarossa
que, em 1941, levou os exércitos alemães até à
vizinhança de Moscovo e de Leninegrado, aí travados pela
inabalável resistência do povo soviético e do
Exército Vermelho. Em Abril de 1942, a frente de combate alemã
foi dirigida para o Sul. Nesse Verão, o principal objectivo militar nazi
era os campos petrolíferos do Cáucaso. Procurando proteger esses
campos petrolíferos, o Exército Vermelho foi forçado a
deslocar todas as suas reservas para o Sul. E a sua eventual conquista pelo
exército alemão superaria a sua carência crítica de
combustível, por um lado, e seria uma perda irremediável, a que o
Exército Vermelho não poderia sobreviver muito tempo.
Um exército alemão avançou na direcção de
Baku, nas margens do mar Cáspio, e um outro para a cidade de
Estalinegrado, na margem do Volga, ponto-chave dos transportes e
comunicações no Sul da URSS e importante centro industrial. O
controle de Estalinegrado manteve aberto o corredor entre o Danúbio e o
Volga e o caminho para o Cáucaso e o Cáspio. Ambos os lados
colocaram todas as suas forças nesse desenlace crucial. A batalha
tristemente memorável foi disputada casa a casa rua a rua; o
exército soviético executou um movimento de envolvimento que
deixou o grosso do exército alemão sitiado, derrotado e
finalmente rendido (2 Fevereiro 1943). A ofensiva nazi fora detida na frente
Leste; as perdas humanas e os recursos materiais aí dissipados, bem como
o insucesso em conquistar os desejados campos petrolíferos do
Cáspio, repercutiram-se determinantemente na capacidade futura de todo o
exército alemão e contribuíram decididamente para a
derrota do nazi-fascismo.
24/Abril/2005
1-
Commodities
sãs mercadorias suficientemente homogénea para poderem ser
comercializadas em Bolsas de Mercadorias. São constituídas
geralmente por produtos primários agrícolas (chá,
café, açúcar, algodão, etc), metais (cobre,
estanho, etc) e outros produtos minerais (petróleo, etc). As principais
Bolsas de Mercadorias são as de Londres e Nova York, que cotam as
commodities
tanto no imediato como no mercado a termo
(futurs).
A palavra
commodity
não tem tradução exacta em português pois a
expressão "mercadoria" pode designar qualquer tipo de produto.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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