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							Até à Vitória Final
						
								
									por João Vilela
								
							 
							 A cada 25 de Abril que passa, se olho para trás e vejo os anos e anos de
							luta contra o fascismo e contra a burguesia que o ergueu e o sustentava,
							não sei ser politicamente correcto. Não sei ser simpático
							e ver o lado positivo. Não sei contentar-me. Não sei achar
							que tudo correu como o previsto. A cada 25 de Abril que passa, penso sempre:
							"não foi para isto". 
 Homens e mulheres morreram, foram presos e torturados, foram forçados ao
							exílio, impedidos de exercer a sua profissão, de escrever os seus
							livros, de falar em público, de criar e de pensar, durante 48 anos. O
							seu sofrimento foi atroz. Ouvir as histórias de luta e heroísmo
							de tantos deles, sentir na nossa pele por empatia a descrição das
							sevícias, das amarguras, das dores e das crueldades, recorda-nos
							insensivelmente que não foi para que um dia os seus filhos e netos
							pudessem falar livremente  mas trabalhassem a recibo verde; pudessem
							fazer manifestações (usualmente
) sem medo da polícia
							 mas não pudessem sair de casa dos pais; pudessem organizar-se em
							associações, sindicatos, pudessem reunir-se sem pedir
							autorização, pudessem escrever sem censura ou simplesmente estar
							em grupo na rua sem que a polícia viesse para desmobilizar o ajuntamento
							 mas passassem anos consecutivos de desemprego, ou contassem, desde o dia
							em que o salário lhes foi pago, os cêntimos para o café,
							para o autocarro, para a conta da luz.
 
 Porque a luta não era, e esta verdade cumpre recuperá-la e
							reafirmá-la sempre, contra a casca fascista da dominação
							de classe, deixando intacto o miolo abjecto da exploração
							capitalista. Ninguém morreu em Cabo Verde, ninguém foi espancado
							em Caxias, ninguém foi forçado a sair de Portugal, ninguém
							sofreu os horrores da tortura para que homens e mulheres continuassem a ser
							esmagados, a temer o despedimento, a calar opiniões para o patrão
							não ouvir, a viver na condição de gente de baixo, de gente
							esmagada, de gente oprimida. Lutava-se ferozmente contra o fascismo, sim 
							porque o fascismo era o método de que o capital se servia para oprimir o
							povo. Na guerra, não se quer derrotar tanques  quer-se derrotar
							inimigos de carne e osso, para quem os tanques e as metralhadoras são
							só instrumentos de luta. O fascismo era um utensílio dos
							Espíritos Santos, dos Mellos, dos Champallimauds, dos capitalistas quer
							de dentro quer de fora. Dos mesmos a quem hoje Passos Coelho passa a mão
							pelo pêlo, e a quem amanhã António Costa continuará
							a dar mimos.
 
 Pelo que a cada 25 de Abril que passa, se olho para trás e penso nos
							anos e anos de luta contra o fascismo e contra a burguesia que o sustentou,
							recordo-me sempre que a luta não está acabada. Que a cada
							vitória se deve preparar a vitória seguinte. Que a cada derrota
							se deve preparar a vitória seguinte. Que a cada momento se deve preparar
							a vitória seguinte. Que só com esta consciência, esta
							determinação, esta permanente disposição combativa,
							se pode efectivamente chegar à vitória seguinte e, um dia,
							à vitória final.
 
 Honra e glória, neste dia, aos presos, aos torturados, aos resistentes,
							aos mortos da luta antifascista. Herdeiros de Militão Ribeiro, herdeiros
							de Catarina Eufémia, herdeiros dos marinheiros de '36, dos
							operários da Marinha Grande de '34, dos camponeses grevistas de '62, dos
							soldados e capitães de '74, sabemos que luta era a deles, sabemos que
							luta é a nossa  é a luta contra a exploração.
							A luta contra a burguesia. A luta pelo socialismo. E essa luta não
							estará ganha, e não será deixada por nós,
							até à vitória final.
 
 
								25/Abril/2015
							O original encontra-se em
								 conscienciavisceral.wordpress.com/2015/04/25/ate-a-vitoria-final/ 
 Este artigo encontra-se em
								 http://resistir.info/
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