O país "normal" de Cavaco Silva
por Daniel Vaz de Carvalho
[*]
Aparentemente a lucidez do PR começa a levantar dúvidas.
Será que sabe mesmo o que diz? Vejamos, diz que é
necessário "prosseguir o programa de ajustamento, para ir aos
mercados e permitir o crescimento e o emprego". Mas tudo isto é
contraditório.
Dois anos e meio de ajustamento e o país está pior do que estava
sob todos os aspetos. Os "mercados" puseram o país no
"lixo" e não têm intenções de o tirar de
lá, os juros são uma proporção cada vez maior do
PIB e do défice; recessão, desemprego, falências são
o resultado obtido com o "ajustamento".
Que diz o PR? Prosseguir
para regressar aos "mercados". Mas os
"mercados" não são nenhuma solução,
são o problema!
Para o PR, o país tem de parecer normal aos "mercados". Um
país normal?! Um milhão de desempregados nos dados oficiais
(milhão e meio efetivos), mais metade sem receber subsídio,
emigração em larga escala, dezenas de falências de MPME por
dia, défice e dívida descontrolados, sucessivas revisões
do OE, retroatividade de cortes em reformas atribuídas, constante
redução de salários e aumento de impostos sobre a
população, generalizada precariedade, aumento da pobreza e
desigualdades, montante dos juros superior ao défice previsto para 2014.
Normal é, pois, os sucessivos OE serem anticonstitucionais. Normal
é o governo governar contra a Constituição, errar tudo o
que prevê, mentir no que promete e não haver
eleições que reponham uma real normalidade democrática.
E tudo isto é um êxito, é "normal" e tem de
prosseguir
com serenidade. Isto é, as pessoas deixem de pensar, de
exercer a sua cidadania e direitos, paguem e calem-se. Senão
ai os
"mercados", o que será de nós!
A DIREITA POLITICAMENTE ATACADA DE DOENÇA BIPOLAR
A direita está como aqueles seres mentalmente perturbados daquelas
tragédias de Shakespeare em que aparecem fantasmas, neste caso
são os "mercados".
A direita tem sucessivos ataques de agorafobia, entra em pânico,
vislumbrando ficar perdida em situações sem conseguir ajuda
dos "mercados".
Mais grave, são os sintomas de doença bipolar: ora estamos sem
soberania, somos um protetorado devido ao programa da troika, temos que nos
libertar da troika, ora se trata da "ajuda" pelos mesmos reclamada,
negociada, aplaudida como a salvação para a qual era
necessário fazer mais ainda. Ora é para cumprir custe o que
custar, ora estamos a fazer sacrifícios, a ter medidas muito duras e,
como dizia a ministra das Finanças, "queríamos ter um
défice menor, mas os mercados não deixaram". Porém,
no momento seguinte regressar aos mercados é apresentado como a via para
o paraíso!
Os comentadores de serviço estão atacados da mesma doença,
num momento há criticas ao governo, no outro dizem que está a
fazer o que tem de ser feito.
O governo vive alternâncias ciclotímicas de euforia ora como o
"sucesso" da ida aos "mercados" e de um sazonal
acréscimo no PIB, ora transmitindo depressão e pânico pela
ação do Tribunal Constitucional ou se for criada
"instabilidade", que ele próprio nos dois casos origina.
As jornadas parlamentares do PSD-CDS, exaustivamente propagandeadas na TV,
foram dos mais completos indícios de esquizofrenia vistos na cena
política. O governo transmitiu durante um dia, como se não
tivesse mais nada que fazer, perante uma plateia apática e seguidista,
as suas alucinações, ilusões e crenças falseadas da
realidade.
Estas "jornadas parlamentares", mais a normalidade que o PR assume,
recordam-nos aquela frase de Shakespeare, no Hamlet: "Life is a tale,
plenty of sound and fury told by an idiot and meaning nothing"
[*]
Engenheiro.
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