Lissabonner Requiem
por César Príncipe
Um agente da Central de Inteligência Portuguesa decidiu, por rebate de
consciência ou imperativo constitucional, violar o Segredo de Estado.
Convocou uma Conferência de Imprensa-Relâmpago. Irrompeu
(encapuzado). E justificou a acção de cara encoberta: Interceptei
um Correio Diplomático Berlim-Lisboa. Trata-se do Ultimato do Segundo
Mapa Cor-de-Rosa
. O primeiro, o Inglês, de 1890, levou à perda de soberania
africana; o segundo, o Alemão, de 2011, levou à perda de
soberania metropolitana.
Avançarei com um enquadramento histórico.
Terminarei com a cibertelegrafia diplomática.
Há 124 anos, o Povo saiu à rua e cobriu de crepes a
estátua de Camões, dois artistas compuseram
A Portugueza
(que ainda se vai entoando) e até o Monarca Carlos da Boa Mesa & da Boa
Cama & dos Adiantamentos da Fazenda, num Solene Gesto de Desagravo (a fim de
limitar os custos de imagem), protagonizou uma rábula: devolveu as
condecorações ao Nosso Mais Velho Aliado. O Ultimatum elevou a
febre patriótica, contribuiu para uma agitada reportagem
RTP/Regicídio do Terreiro do Paço, acelerou a Queda da
Multissecular Monarchia, alargou a Base Social da República.
E agora qual a postura das Novas Agremiações do Rotativismo?
Acabado de assinalar o centenário do Regime Republicano (2010), a Troika
da Submissão correu a subscrever o Memorando de Entendimento do Ocupante
Germânico (2011), Nosso Mais Recente Aliado, no cânone protocolar.
Nem sequer devolveu uma insígnia ou redigiu uma nota de desafronta. O
vexame supera as raias da insolência e roça as vaias da
indecência. Visa anular o último sentimento/signo de identidade
nacional. Espera-se que o Poboo de Fernão Lopes acorra (ainda neste
século) a tomar os rossios e os palácios, que os letristas e
compositores reescrevam o Hino e que o Ilustre Peito Lusitano manifeste a Mais
Profunda IndigNação. De Norte a Sul se confia que o épico
dos Descobrimentos se junte às multidões espoliadas e humilhadas
e retire o seu Alto Patrocínio à Cerimónia do Adeus a
Portugal.
Na verdade, da Troika Interna pouco ou nada haverá a esperar além
de servilismo, colaboracionismo, negocismo, inevitabilismo, embustismo, com voz
grave ou de falsete. Seja no Parlamento da Moeda Única, seja no Governo
do Pouvoir à Trois, seja na Presidência de Vichy à
Portugaise. Os trigémeos juraram vassalagem a Angela Dorothea Merkel,
soberana da Casa Reinante da Idade das Trevas Electrónicas, aclamada
pela Europa dos Bancos & pelos Ministérios da Propaganda. Não
merecem perdão eleitoral nem judicial. Foram avisados com a devida
antecedência das
bofetadas da Pérfida Álbion
& das
monstruosidades do Flagelo Átila.
[1]
No entanto, muito prezaríamos que algum(a) agraciado(a) ousasse ler o
Elektronische Post da Chancelaria do IV Reich, num 10 de Junho, na Tribuna das
Ordens Honoríficas, perante as Autoridades Civis, Militares e
Religiosas, principalmente ante Thomaz II, que Deus cubra com a SIC/Sua
Infinita Compaixão e faça acompanhar de Katia, anja-música.
Eis o post.
Eis o diktat.
O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (no antigo
regime Dia de Camões) passará a denominar-se Lissabonner Requiem.
[2]
Bundeskanzleramt
Will-Brandt-Straße 1, 10557 Berlim
Notas
[1] Antunes/Acácio (1853-1927),
A Bofetada Ingleza, Carta a Sua Magestade El Rei e Senhor D. Carlos 1º,
Tip. Mattos Moreira, 1890, Cota: 7-34-10-18/BGUC/Universidade de
Aveiro/Fundação Portugal-África; Junqueiro/Guerra
(1850-1923),
O Monstro Alemão. Átila e Joana D`Arc.
Officinas de O Comércio do Porto, 1918, CDU: 869.0-9 Junqueiro, G.
Opúsculo oferecido à Junta Patriótica do Norte e cujo
produto de venda se destina à sua obra de assistência aos
órfãos de guerra.
Uma das conclusões e um dos prenúncios de Junqueiro:
A Alemanha unificando-se, pangermanizou-se (
)
[2] Tabucchi/Antonio (1943-2012),
Lissabonner Requiem (Requiem de Lisboa),
dtv Deutscher Taschenbuch Verlag, München, 1998, ISBN 9783423126144;
Hanser Verlag, München, 2002, ISBN 9783446201736.
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