Discurso de encerramento da Festa do Avante!
por Jerónimo de Sousa
[*]
No limiar do encerramento desta 34ª Festa do "Avante!"
permitam-me que saúde todos aqueles que a projectaram,
construíram, realizaram e nela participaram, contribuindo assim para o
seu êxito e reafirmação de estarmos perante o maior
acontecimento político e cultural que se realiza no país.
Por aqui perpassou a alegria contagiante da juventude, a esperança e a
confiança dos que recusam as inevitabilidades e a
resignação, por aqui passou e passa a solidariedade humana, se
deu o valor ao trabalho, à criatividade, ao que de mais nobre tem a
política, se projectou o sonho e o ideal, sem dúvida mais
avançado que a realidade mas que transformado em luta, levará a
que o sonho e a realidade hão-de acertar o passo.
Uma Festa que é um espaço privilegiado para a cultura e a
criação artística. Aqui, com esforço mas com grande
fraternidade, criamos condições para que artistas e criadores de
todas as formas de expressão encontrem lugar e espaço para
apresentar aos visitantes da Festa os resultados do seu trabalho e do seu modo
de olhar o Mundo.
Também neste aspecto a Festa do "Avante!" tem um
carácter distintivo, contrariando a dura realidade que criadores e
artistas enfrentam diariamente. Enquanto aqui se promove, se incentiva, se
divulga, se apoia o trabalho dos criadores e artistas, lá fora, no
Portugal da política de direita, os criadores e artistas, os
trabalhadores da cultura, vêem a sua actividade e os seus projectos
entravados e bloqueados por uma política cultural que é a
última das prioridades, elitizada e concentrada em meia dúzia de
equipamentos e iniciativas, a cujo sub-financiamento crónico se vieram
juntar este ano as drásticas medidas adoptadas na sequência do PEC
PS/PSD.
Neste ano de 2010, com o segundo orçamento mais baixo para a cultura
desta década, o Ministério da Cultura veio ainda agravar a
situação com escandalosos cortes nos já magros apoios
à criação, cortes que são totais no que diz
respeito ao segundo semestre do ano.
Nós saudamos daqui os criadores e trabalhadores, pela significativa
resistência que têm oposto a estas medidas, e apelamos a que
prossigam o seu combate. Para nós, comunistas, a arte e a cultura
são companheiras de caminho indispensáveis, que connosco
participam no processo de libertação e de
emancipação humana e de transformação do mundo e da
vida que são a nossa razão de existir.
O trabalho e a arte, os dois principais elementos construtores da humanidade,
estão indissoluvelmente ligados à identidade da nossa Festa do
"Avante!". Uma Festa que, tendo profundas raízes no povo
trabalhador do nosso País, sendo expressão da sua cultura, se
afirma também como uma bela e viva expressão do internacionalismo
do PCP, da nossa solidariedade para com aqueles que prosseguem, nas mais
diversas condições, a luta pelo progresso social, pela paz, a
amizade e a cooperação entre os povos, pela
transformação revolucionária da sociedade, e pela
alternativa que se constrói na luta e através dela, o Socialismo.
Uma Festa em que sentimos o abraço caloroso de todos aqueles aqui
representados pelas dezenas de delegações de Partidos Comunistas
e Progressistas de todo o Mundo. A todos eles queremos saudar e reiterar a
nossa disponibilidade para estreitar os laços de amizade e solidariedade
que nos unem e para aprofundar a nossa cooperação em defesa dos
interesses dos trabalhadores e dos povos no fortalecimento da luta
anti-imperialista.
Uma cooperação que é tão mais importante, quanto
hoje os trabalhadores e os povos sofrem violentamente as consequências do
aprofundamento da crise do capitalismo. Uma crise que, como o PCP previu,
está longe de ser ultrapassada, se aprofunda e revela as profundas
contradições do sistema capitalista, o seu carácter
explorador, desumano e destruidor, os seus limites e a necessidade
histórica da sua superação revolucionária.
VALIDADE DO MARXISMO-LENINISMO
Uma crise que, apesar das intensas manobras de propaganda e das tentativas de
reabilitação da ideologia dominante, nos mostra que o sistema
capitalista contém em si mesmo a crise, trazendo para a ribalta da
reflexão política e ideológica a actualidade e validade
das teses fundamentais do marxismo-leninismo sobre o funcionamento do
capitalismo.
Alguns dirão que estamos desfasados no tempo e na História com
tal afirmação. A esses respondemos que são eles que
estão desfasados e deslocados! Não só no tempo e na
História, mas também da realidade. A realidade, a
"modernidade" como eles dizem, é a do aumento exponencial do
desemprego, da pobreza a crescer de dia para dia, dos milhões e
milhões de seres humanos que sobrevivem na indigência, das
gritantes injustiças e desigualdades.
Esta é a realidade que aqueles que nos atacam com velhos e estafados
chavões se recusam a reconhecer, a realidade que é o mais
poderoso libelo acusatório contra a sua ideologia, as suas
opções de classe e o sistema que está a conduzir a
Humanidade a um beco sem saída. Por isso, as classes dominantes
lançam-se, como alertámos há exactamente um ano aqui
mesmo, numa perigosa e criminosa fuga para a frente face ao aprofundamento da
crise.
Aí estão já os efeitos das medidas que visam levar a cabo
uma regressão histórica de séculos através do
criminoso ataque a direitos conquistados pela luta do movimento operário
e dos trabalhadores, uma tentativa que só por si demonstra como falsos
foram os discursos já esquecidos da "responsabilidade" e da
"regulação" com que enfeitaram a sua estratégia
de mudar o necessário ou seja nada para que tudo ficasse
na mesma.
O FAMIGERADO TRATADO DE LISBOA
Exemplo deste ataque em toda a linha aos direitos dos trabalhadores e dos
povos, e de simultâneo apoio ao grande capital, é a
situação na Europa. Armada com o famigerado Tratado de Lisboa
imposto antidemocraticamente aos povos, com a ultra-neoliberal
Estratégia 2020, com as peregrinas ideias do governo económico
europeu e da aprovação prévia dos orçamentos de
Estado, a União Europeia confirma-se neste cenário de crise como
um poderoso instrumento de domínio e exploração
capitalista.
É hoje por demais evidente que o tão propalado "escudo
europeu" contra a crise se revelou afinal como uma autêntica peneira
que atira a palha para os trabalhadores e as economias mais frágeis e
dependentes, como a portuguesa, guardando o limpo e valioso trigo para os
grandes grupos económicos e financeiros e as economias mais poderosas,
como a alemã.
Àqueles que insistem na estafada ideia de "mais Europa" para
fazer frente à crise respondemos que mais dessa sua "Europa"
significará mais crise, pois os seus fundamentos são os mesmos
fundamentos do sistema que está em crise. Para todos esses que querem
impor a sua Europa a Europa neoliberal, militarista e federalista, a
União Europeia da exploração e da opressão a
nossa resposta só pode ser uma: Luta! Luta por uma outra Europa
pela Europa dos trabalhadores e dos povos, da paz e da
cooperação, do direito ao desenvolvimento económico e
social, à produção, à soberania como
expressão do exercício da democracia.
É por outra Europa que estamos em luta. E na luta por essa outra Europa
não estamos sozinhos. Deste comício queremos saudar muito
calorosamente todos aqueles que, seja em Portugal ou na Grécia, seja na
vizinha Espanha, em França, na Itália, no leste europeu e em
muitos outros países, têm protagonizado importantíssimas
jornadas de luta social e de massas.
Uma luta social que tanto mais forte se tornará quanto mais fortes forem
os Partidos Comunistas e mais ligados às massas estiverem.
BATALHA CONTRA O MILITARISMO
Uma luta de classe que por isso mesmo se tem de interligar com outras frentes
como a importante batalha pela paz contra o militarismo, o imperialismo e os
perigos imensos que a Humanidade enfrenta.
Muitos de vós estarão decerto relembrados dos discursos que
marcaram o ano de 2009. Falava-se muito de "mudança" e do
"diálogo". Foi o tempo, que alguns parecem agora fingir
não ter vivido, do Prémio Nobel para Obama e das promessas
esfarrapadas da paz mundial e do fim do unilateralismo. O Mundo ia mudar,
dizia-se
Aqueles que tanto criticaram o PCP quando afirmámos a necessidade de
confirmar com os factos esses elaborados discursos, que falem agora! Que falem
e nos digam o que pensam da profusão de focos de tensão em todo o
Mundo.
A CHACINA EM CURSO NO AFEGANISTÃO
Que falem e nos dêm a sua opinião sobre o que pensam das novas
formas de colonização como a dita retirada do Iraque que se
saldou afinal na permanência de 50.000 militares dos EUA naquele
país por tempo indeterminado. Que falem e nos contem dos seus
sentimentos relativamente à chacina em curso no Afeganistão, ao
alargamento da guerra para o Paquistão. Que falem e nos digam o que
pensam sobre a estratégia de tensão e ingerência em todo o
Médio Oriente.
Que falem e nos contem como avaliam a hipocrisia dos EUA e da NATO
relativamente à questão nuclear, ao mesmo tempo que reabilitam em
várias partes do Mundo a guerra das estrelas de Reagan, de Bush e agora
de Obama e apoiam incondicionalmente Israel, a única potência
nuclear no Médio Oriente.
Que falem e nos façam chegar o que pensam dos sucessivos crimes de
Israel contra os povos da região como o Libanês e o mártir
povo palestiniano, que daqui saudamos e a quem transmitimos a nossa profunda
solidariedade.
Que falem e nos digam o que pensam sobre as manobras de
desestabilização e militarização em curso no
continente latino-americano ou ainda sobre as continuadas ingerências,
conspirações e ameaças presentes nesse continente e
especialmente contra a Venezuela Bolivariana e contra Cuba Socialista a quem
saudamos muito calorosamente afirmando deste comício que podem contar
connosco!
CONTRA A CIMEIRA DA NATO EM PORTUGAL
De facto, a situação é tal que alguns se calaram mesmo,
comprometidos e, atrevemo-nos a dizer, envergonhados. Mas há outros que
não. Há os que insistem na criminosa estratégia belicista
do imperialismo e de fortalecimento dos blocos político-militares como a
NATO. Esses saudarão com toda a certeza a cimeira da NATO que se vai
realizar no nosso País em Novembro. Saudarão o aumento dos gastos
militares e o novo Conceito Estratégico que afirma que a NATO
intervirá em qualquer parte do mundo, quando entender e sob qualquer
pretexto. Dirão que para a Europa ter mais peso precisa gastar mais na
indústria da morte.
Na fotografia desta cimeira, tal como na cimeira da guerra das Lajes,
estará o Governo Português. Barroso será substituído
por Sócrates. E essa imagem do Primeiro-ministro,
Secretário-geral do PS, anfitrião da primeira Cimeira da NATO em
Portugal, ficará para a História como a mais sublime prova do
seguidismo e participação da política externa do governo
do PS nos projectos do imperialismo Mundial.
Mas ao reunirem em Lisboa em mais um exercício de hipocrisia visando
novas ameaças para a paz Mundial, terão em Lisboa, na Avenida que
da Liberdade tem nome, todos aqueles que não se conformam, não se
resignam, lutam verdadeiramente pela Paz e a cooperação entre os
povos e que vão gritar "Paz Sim, Nato Não!".
E o PCP lá estará, como sempre, ao seu lado! Nesta e em todas as
lutas que contribuam para travar o passo ao imperialismo que nestes tempos
parece todo poderoso mas que, como a realidade demonstra, não tem as
mãos totalmente livres e se confronta com a resistência e luta,
seja no Médio Oriente e Ásia Central, aqui na Europa ou na
América Latina onde os povos protagonizam processos
revolucionários de afirmação da sua soberania e
independência e se lançam na construção de novas
avenidas da esperança e do futuro.
É POSSÍVEL RESISTIR
Sabemos que os tempos são difíceis. Temos consciência que,
por vezes, a situação parece esmagadora e nos é
apresentada como inevitável. Mas a História já nos ensinou
e a realidade confirma-o, que é possível resistir, trilhar
caminhos, engrossar fileiras e construir paulatinamente, sempre com as massas,
passo a passo, etapa a etapa, a terra sem amos de que nos fala a nossa
Internacional.
A ofensiva a que assistimos no plano internacional, sob o comando dos grandes
directórios do capitalismo europeu e mundial, concretiza-se em Portugal
pela mão e iniciativa conjunta das forças da política de
direita, particularmente pela acção concertada do governo do PS e
do PSD que acordaram e têm em curso um projecto comum para impor aos
trabalhadores e ao povo português um brutal retrocesso nas suas
condições de vida. São os mesmos que, juntamente com o
CDS, têm conduzido o país para a grave situação de
crise económica e social em que se encontra, que estão a conduzir
a nova escalada da ofensiva, a coberto de fingidas zangas e encenadas
divergências.
No nosso país que há muito vive a sua própria crise, a
nova escala que está em curso, que prolonga a trajectória de
regressão económica e social de anos de governação
à direita, tem efeitos sociais devastadores que atingem cada vez mais
largas camadas da população portuguesa e os seus degradados
padrões de vida.
O DISCURSO FARSA DE SÓCRATES
Há um ano com as eleições à porta, o PS,
José Sócrates e o seu governo, perante a evidência da
dimensão da crise, da gravidade dos problemas económicos e
sociais e o receio da derrota e da perda da sua maioria absoluta, anunciavam ao
país a necessidade de reconsiderar as suas políticas. Era o tempo
das promessas de mais investimento para criar emprego. Do anúncio de
mais apoios sociais para combater as consequências da crise. Da
renúncia em palavras às orientações do
neoliberalismo dominante. Era o discurso farsa de distanciamento em
relação à direita e de demarcação em
relação às actividades predadoras do grande capital
especulativo.
Passadas as eleições, garantidos os votos, não tardou a
dar dito por não dito e em aliança com a direita que prometia
combater e contra a qual afirmava um projecto alternativo, a retomar a mesma
política de sempre, agora de forma agravada, com a caricata
justificação que o mundo tinha subitamente mudado.
Nessa altura afirmámos, a partir desta tribuna da nossa Festa, que o PS,
tal como o PSD, tinham uma agenda escondida que ocultava aos portugueses os
seus reais propósitos que não coincidiam com o programa
anunciado. Não nos enganámos. Essa agenda é hoje muito
clara: imposição de novos e mais gravosos sacrifícios para
os trabalhadores e as classes e camadas populares; drástica
redução do valor dos rendimentos do trabalho;
redução e anulação de direitos e apoios sociais,
mais privatizações, novo ataque aos serviços
públicos e mais benesses para o grande capital.
PEC, PROGRAMA DE INSTABILIDADE SOCIAL
É este o seu verdadeiro programa, elevado a programa comum do PS e do
PSD e inscrito no PEC, nesse famigerado Programa chamado de Estabilidade e
Crescimento que ambos acordaram para concretizar até 2013 e que mais
não é do que um programa de instabilidade social, mas igualmente
de retrocesso e declínio nacional.
De instabilidade social, porque as medidas previstas vão tornar ainda
mais difícil e precária a vida de milhões de portugueses,
avolumando mais as injustiças e desigualdades na
repartição do rendimento nacional, através de medidas como
o roubo nos salários com o aumento das taxas de IRS, o agravamento do
IVA e consequente aumento dos bens e serviços de primeira necessidade.
Mas também o aumento da pobreza e das desigualdades sociais que se
ampliam com a criminosa política de cortes nos apoios sociais que acabam
de entrar em vigor e que atingem particularmente as camadas da
população mais desprotegidas os desempregados, os mais
velhos e os pensionistas de mais fracos rendimentos, os doentes, os
deficientes, os que estão na fronteira da exclusão social.
Cortes que se estão a concretizar na redução das
comparticipações nos medicamentos, nas taxas moderadoras, na
acção social escolar, na restrição dos apoios aos
desempregados, no Rendimento Social de Inserção, no apoio aos
doentes acamados e a outras prestações sociais. Desde anteontem
milhares de pessoas desesperadas estão a dirigir-se à
Segurança Social com o papel na mão que os informa que vão
ficar sem nenhum apoio.
Mas igualmente um Programa de retrocesso e declínio nacional, porque
comporta uma estratégia suicida de renúncia a uma política
de crescimento, desenvolvimento e emprego, para dar lugar ao regresso a todo o
vapor da ditadura do défice, novamente instituído erradamente
como o problema central do país.
Um Programa dirigido contra a própria economia nacional que verá
acentuar-se a actual tendência para a estagnação com o
abandono do investimento público, as anunciadas
privatizações de importantes empresas e sectores
estratégicos, mas também com o ataque ao poder local e a
eliminação de serviços públicos.
Com esta política, nem se combate a crise, nem se resolvem os problemas
nacionais que assumem uma nova e mais preocupante dimensão. O resultado
está à vista no elevadíssimo desemprego que permanece a
níveis nunca antes atingidos e sem perspectivas de inversão; no
prolongamento da estagnação económica com
destruição da capacidade produtiva nacional que preocupantemente
prossegue com novas falências e novos encerramentos; no aumento da
sufocante dívida externa global (pública e privada); no
agravamento das balanças externas e na crescente dependência do
país, no empobrecimento relativo do país e dos portugueses; na
persistência dessa larga mancha de pobreza que atinge dois milhões
de portugueses.
Mas igualmente na amplitude da precariedade das relações laborais
que estão a contribuir, juntamente com o desemprego, para o acelerado
retrocesso das condições de vida da grande massa trabalhadora,
particularmente dos jovens. Uma chaga social que urge combater, lutando para
que o Estado assuma como política o combate ao trabalho precário,
assegurando na lei que a um posto de trabalho permanente corresponda um
contrato efectivo de trabalho. É isso que faremos com a
reapresentação em breve de um Programa Nacional de combate
à precariedade e ao trabalho ilegal.
O FRACASSO DO II GOVERNO PS
Neste primeiro ano do II governo do PS de José Sócrates o que
sobressai não é apenas o fracasso de uma política e de uma
governação que não tem respostas para os problemas do
país, é o Portugal das injustiças e das desigualdades que
prossegue. Prossegue sob a farsa da defesa do "Estado social" que
serve ao PS para as suas guerras do "alecrim e manjerona" com o PSD
sobre o Serviço Nacional de Saúde e sobre a
Educação, que não tem correspondência com a
prática da sua governação e que apenas têm um
objectivo: - manter à tona de água a política de direita!
O PS e o seu governo apresentam-se como paladinos da defesa do "Estado
social", mas não têm feito outra coisa que o fragilizar,
desmantelar e mutilar, passo a passo, medida a medida, de forma avulsa ou sob a
capa das reformas estruturais inadiáveis para o salvar. Temos visto nas
alterações à legislação laboral, na chamada
reforma da segurança social, na actual ofensiva anti-social. Vemos isso
no ataque ao direito à saúde e à educação
que são hoje motivo de grande preocupação dos portugueses.
Na Educação o Governo mais não faz do que hipotecar a
Escola Pública ao mesmo tempo que a tem conduzido para o objectivo da
perpetuação das assimetrias e injustiças, tornando-a num
mecanismo reprodutor das desigualdades e das relações dominantes.
O Governo prepara-se para inaugurar em 5 de Outubro umas dezenas de escolas,
algumas já em funcionamento ou apenas melhoradas no seu aspecto, mas o
que é relevante na política educativa deste como do anterior
governo é a palavra de ordem de "cortar e encerrar" que
já levou ao fecho, em quatro anos, de mais de 3.500 escolas, à
redução do apoio a dezenas de milhar de crianças com
necessidades educativas especiais, ao aumento da precariedade do corpo docente
e não docente e ao aumento dos custos com a educação para
as famílias.
No Ensino Superior aí está a confirmação do que
há muito o PCP denunciou: a integração do nosso sistema de
ensino no chamado "processo de Bolonha", as alterações
introduzidas no seu Regime jurídico, o sub-financiamento crónico,
os cortes na Acção Social Escolar e o crescimento do valor das
propinas que, para além do que significa de desvalorização
do Ensino Superior em Portugal, tem o objectivo claro de colocar as
instituições na dependência dos grandes interesses
económicos, limitando desta forma o acesso da grande maioria dos jovens
portugueses ao conhecimento.
São por isso justas a nossa luta e a nossa proposta que defende como
prioridade estratégica o investimento na Escola Pública de
qualidade, com gratuitidade de todo o ensino público. Objectivo a
atingir de forma progressiva, num prazo máximo de seis anos, com a
distribuição gratuita dos manuais escolares no ensino
obrigatório já no presente ano lectivo.
A RETÓRICA E A REALIDADE DO SNS
Também na saúde, são evidentes as
contradições entre a retórica do discurso dos governantes,
de defesa intransigente do Serviço Nacional de Saúde e uma
estratégia que têm vindo a executar meticulosamente de
privatização do SNS, bem patente no facto de 60% dos gastos em
saúde serem feitos no sector privado, que já detém cerca
de 50% dos serviços de saúde.
Privatização que tem sido garantida seja por reforço da
compra de serviços a prestadores privados, de que o escandaloso
negócio da ADSE é um exemplo, a par da restrição do
investimento público, seja por entrega da gestão a grupos
privados, criação de sociedades anónimas ou através
de Parcerias Público/Privadas e que encerra sempre o conceito de
mercado.
A defesa de serviços públicos de saúde para todos os
portugueses estará sempre presente no nosso combate, particularmente
quando existe o risco iminente da desagregação da rede de
Cuidados de Saúde Primários, que impõe a
adopção imediata de um Plano de Emergência que previna
situações de ruptura na prestação dos
serviços e que assegure as condições de reabertura dos
serviços encerrados sem alternativa eficaz, designadamente os SAP ou
similares.
DEGRADAÇAO DA DEMOCRACIA POLÍTICA, ECONÓMICA, SOCIAL E
CULTURAL
O rumo que o país segue é o da degradação da
democracia política, da democracia económica, social e cultural
que se reflecte e atinge todos os domínios da nossa vida colectiva e
subverte o próprio regime democrático. Degradação
que atinge também a Justiça. O nosso Partido sempre tem
denunciado o processo de cerco à independência da Justiça e
dos tribunais e as tentativas e iniciativas de controlo cada vez maior do poder
judicial pelo poder político e económico.
Temos denunciado o caminho percorrido pelo PS e PSD, nomeadamente com o seu
Pacto da Justiça, mas também pelo CDS no terreno legislativo,
político e institucional em conformidade com as exigências dos
grandes interesses económicos e financeiros.
Temos criticado o acentuar do conteúdo de classe da justiça, cada
vez menos acessível aos trabalhadores, mais cara e mais demorada, tal
como temos feito propostas para contrariar esta tendência.
REDE DE "MALHA LARGA" PARA OS PODEROSOS
Temos denunciado a Justiça da "malha larga" para os poderosos,
a impunidade de que gozam, os processo (Face Oculta, Portucale, Furacão
e Submarinos, entre outros) onde reinam as prescrições, o
arquivamento e as penas irrelevantes, em resultado das campanhas, das medidas
legislativas, dos compromissos do poder, do cerco e das pressões a que,
como temos visto, estão sujeitos os tribunais e os magistrados. Uma
situação que está a causar danos na Justiça, na sua
imagem e credibilidade. Mas também é justo reconhecer que no caso
Casa Pia foi feita justiça ao fim destes longos anos, o que é bom
para a justiça e sobretudo para as vítimas deste processo que
viram condenados como criminosos os seus agressores.
Daqui queremos afirmar: o compromisso do PCP é com uma política
que assegure, no respeito pela Constituição da República,
uma justiça mais igualitária, o acesso de todos à
justiça, a autonomia do Ministério Público e a verdadeira
independência dos tribunais.
É perante esta evolução, inseparável de uma
política de absoluto favorecimento dos interesses dos grupos
económicos e do capital financeiro que nós dizemos que o
país precisa de tomar outro rumo e que é urgente travar o passo a
esta política que compromete o futuro do país e degrada e
destrói a vida dos portugueses.
É necessário assegurar a ruptura com a política de
desastre nacional que PS, PSD e CDS têm vindo a prosseguir ano
após ano e afirmar uma política patriótica e de esquerda
que relance o país na senda do progresso e do desenvolvimento. Uma
política que aposte decisivamente na produção nacional,
valorize os nossos recursos, apoie as pequenas e médias empresas e as
suas actividades quer para o mercado externo, quer para o interno e tenha como
objectivo o pleno emprego e o trabalho com direitos. Uma política que
coloque no centro das suas prioridades uma mais justa repartição
da riqueza, a valorização do trabalho, a protecção
social dos portugueses na doença, no desemprego, na velhice e promova a
justiça social. Aqui sim é que era preciso ter coragem e
não a falsa coragem para atacar os trabalhadores. Uma política
que enfrente com coragem os grandes grupos económicos, pondo fim ao
chocante regime de mordomias e benesses fiscais existente e ao mesmo tempo
combata a evasão fiscal, para apoiar e dinamizar o desenvolvimento
económico geral do país e melhorar a vida dos portugueses.
Não são apenas os milhões de euros de lucro obtidos pela
extorsão dos recursos nacionais 32 mil milhões desde que o
PS é governo e relativos aos 17 principais grupos económicos e
que são um insulto aos rendimentos dos portugueses. São os
milhões que não pagam ao fisco. Caso da banca que nestes
primeiros seis meses do ano já lá vão 216 milhões.
Pagam pouco mais de 10% de impostos, menos que qualquer pequena empresa ou
trabalhador. Veja-se o caso da venda da participação da Portugal
Telecom na Vivo à Telefónica onde os interesses nacionais
foram, afinal, mandados às urtigas e em que os accionistas da PT
alcançaram mais de 6 mil milhões de euros de mais-valias
bolsistas, fazendo-os passar por um paraíso fiscal na Holanda, sem
pagarem um euro de imposto no nosso país!
O DÉFICE MAIS PREOCUPANTE
Mas essencialmente uma política que combata o défice mais
preocupante e decisivo que o país enfrenta o défice de
produção e criação de riqueza que está na
origem de todos os outros nossos défices. Inverta a
situação criada por décadas de governos de política
de direita, onde os sectores essencialmente produtivos agricultura,
silvicultura, pescas e indústria viram o seu peso reduzido quase
a metade, em contraste com a crescente financeirização da
economia nacional e o endividamento do país.
Portugal em vez de produzir cada vez menos e se endividar cada vez mais, como
está a acontecer, o que precisa é de produzir cada vez mais para
dever cada vez menos. E porque este é o verdadeiro caminho para combater
a crise, garantir a soberania do país e o bem-estar dos portugueses, o
nosso Partido dará uma renovada centralidade na sua acção
política nos próximos meses à concretização
de uma campanha em defesa da produção nacional sob o lema
Portugal a produzir.
O país não pode aceitar o que está a acontecer. Temos
aí o exemplo dos cereais, num momento em que aumenta o preço do
pão. Portugal no presente ano vai registar uma das piores colheitas de
cereais das últimas décadas. Nos últimos 20 anos as
colheitas de cereais de inverno caíram mais de 60%, em resultado do
abandono das terras e da reforma da PAC.
POR UMA NOVA REFORMA AGRÁRIA
Esta é uma realidade que dá cada vez mais razão e
actualidade ao que vimos afirmando e propondo, quando dizemos que Portugal
precisa de uma nova política agrícola para o país e de uma
nova Reforma Agrária nos campos do Sul. Uma Reforma Agrária que
ponha fim à cultura do subsídio sem correspondência com a
produção que alimenta o absentismo latifundiário e
entregue a terra a quem a trabalhe, incluindo aos pequenos agricultores. Uma
reforma que concretize a nossa proposta de criação de um Banco de
Terras, no imediato para zona irrigada de influência do Alqueva e de
forma crescentemente abrangente para toda a zona da grande propriedade
latifundiária.
Uma Reforma Agrária nos campos do Sul e uma nova política
agrícola e florestal para os campos do Norte que a recente vaga de
incêndios veio tornar inadiável. Uma nova política que
respeite e considere estratégica a agricultura familiar e os pequenos e
médios agricultores, lhes permita garantir um rendimento justo e
compensador, salvaguardando a soberania alimentar do país.
Portugal precisa de adoptar uma política de Estado em defesa e
promoção da produção nacional, incluindo, a urgente
definição e concretização de um programa nacional
de desenvolvimento industrial, condição para a
modernização do país.
NÃO SE RESIGNEM!
Existem políticas alternativas, é preciso um governo para as
concretizar! Por isso dizemos aos trabalhadores, ao nosso povo, aos
portugueses, não se resignem! Engrossem a corrente de luta que dê
uma forte resposta à ofensiva que aí está e ao mesmo tempo
lutem pela afirmação de uma verdadeira alternativa,
patriótica e de esquerda para o país!
A cada medida, a cada investida que vise esmagar os interesses populares
é preciso responder, levantando a cabeça, tomando nas mãos
a luta, as pequenas e as grandes lutas, rompendo o cerco das injustiças,
para passar à ofensiva!
Daqui saudamos todos os que por esse país fora lutam nas empresas, nos
campos na rua pelos seus interesses colectivos, pelos interesses dos
trabalhadores e do povo e expressamos a nossa solidariedade e o nosso decidido
empenho para o êxito das lutas que estão em curso, nomeadamente na
grande jornada nacional do próximo dia 29 de Setembro, convocada pela
CGTP-IN. E desta tribuna queremos saudar o seu quadragésimo
aniversário a celebrar em Outubro. Confiantes de que continuará a
ser a grande Central Sindical dos trabalhadores portugueses, alicerçada
nos seus princípios unitários, democráticos, de
independência, de massas e de classe.
No horizonte da nossa actividade e do nosso trabalho estará a
dinamização e intensificação da luta e do
reforço do movimento de massas organizar, dinamizar e juntar na
mesma luta todos os que, vitimas desta política, aspiram à
mudança. Esta é uma tarefa central! Nós não
desarmaremos, nem renunciaremos aos combates que é preciso travar. Mesmo
quando travamos a luta de resistência estamos a pensar na luta que
constrói.
ANULAR AS MEDIDAS DE AUSTERIDADE CONTRA O POVO
É preciso continuar a exigir a anulação das medidas de
austeridade contra os trabalhadores e o povo. Travar a ofensiva do PEC e a sua
concretização através do Orçamento do Estado para
2011. Um Orçamento marcado pela suicida e inaceitável
decisão da antecipação do calendário da
redução do défice. Um Orçamento que se anuncia, por
isso, com mais gravosas medidas de austeridade, novos cortes nos direitos
sociais, contra os serviços públicos e
Administração Pública, aumento da carga fiscal para as
diversas camadas da população trabalhadora e congelamento do
investimento. Um Orçamento assim só pode ter o nosso mais firme
combate, com denúncia e com propostas.
Daqui anunciamos iniciativas orientadas para o aumento dos rendimentos do
trabalho, elemento essencial para melhorar as condições de vida
dos trabalhadores e para potenciar o desenvolvimento económico. Desde
logo a revogação já no próximo Orçamento da
taxação adicional do IRS que constitui um verdadeiro roubo nos
salários. O claro estabelecimento do objectivo do aumento do
salário mínimo pelo menos até 600 euros em 2013. A
fixação de um aumento salarial para os trabalhadores da
Administração Pública que permita compensar parte do poder
de compra perdido nos últimos 10 anos. Assim como retomaremos a proposta
para alargar o acesso ao subsídio de desemprego.
Apresentaremos as iniciativas urgentes que os cortes no acesso às
prestações sociais exigem para eliminar as injustas e
arbitrárias limitações nos critérios de acesso a
prestações como o complemento solidário para idosos, o
subsídio social de desemprego e o abono de família, entre outros.
Para PS e PSD, sempre laxistas com as benesses e trapaças do capital, os
pobres têm de provar que são cada vez mais pobres. Não nos
conformamos com este caminho e esta opção de classe. É
para confrontar o Governo com esta brutal injustiça que o PCP
levará a debate este problema, já na próxima semana,
à reunião da Comissão Permanente da Assembleia da
República e aí proporá a imediata revogação
destas medidas.
NOVAS MEDIDAS FISCAIS
Como daqui enunciamos o firme propósito de retomar no próximo
Orçamento do Estado as propostas que temos vindo a apresentar no plano
fiscal para introduzir maior justiça e recolher receitas para o Estado
onde elas podem ser recolhidas, ou seja junto dos que mais têm. Aí
se incluem: um novo imposto sobre as transacções em bolsa e
transferências financeiras para os paraísos fiscais; a garantia de
que a taxa de 25% prevista no IRC se aplique efectivamente a todos os grupos
económicos com lucros superiores a 50 milhões de euros,
designadamente a banca, impedindo assim o regabofe da utilização
de benefícios fiscais que levam à aplicação de
taxas de metade ou menos do que a lei prevê; o fim das
isenções e benefícios para as empresas financeiras no
offshore da Madeira; a aplicação de uma taxa adicional sobre os
bens de luxo, iates, aviões a jacto, carros de elevado valor,
imóveis de valor superior a 1 milhão de euros. Como ainda
proporemos medidas tendentes ao congelamento dos preços da electricidade
e dos combustíveis, que sistematicamente aumentam, engordando os lucros
da GALP e da EDP à custa da generalidade dos portugueses e da economia
nacional.
À volta do Orçamento para 2011 temos assistido a uma
espécie de "jogos florais de Verão" entre PS e PSD,
onde cada um mostrou os seus dotes criativos na arte dramática, da
dissimulação e da pantomina. Encenaram uma crise política,
para melhor camuflar as suas conivências, os seus acordos, as suas
responsabilidades e disfarçar a identidade das suas políticas e
manter aberta a via do rotativismo da alternância sem alternativa!
O PS aproveitou para dissertar sobre um país pintado a cor-de-rosa que
não existe. O PSD para disfarçar o seu apoio e o seu acordo com o
PS sobre o corte nos salários e nos apoios sociais e o aumento dos
impostos.
Ninguém se iluda! Se com o PS nada mudou na difícil vida dos
portugueses, ao contrário tudo piorou, com o PSD com ou sem o CDS, nada
mudará, tudo continuará a agravar-se! Com uns e com outros
é a política ao serviço dos grandes interesses que
continua! É a política das injustiças sociais e da
concentração da riqueza que permanece!
É conhecida a intolerância da política de direita para com
a Constituição da República. Ao longo de mais de trinta
anos, PS, PSD e CDS legislaram em conflito com a Constituição,
violaram disposições e valores constitucionais, agrediram
direitos e conquistas que ela consagra, conspiraram à margem da
Assembleia da República para impor novas mutilações em
cada processo de revisão. Todos e cada um por si, inconformados com os
valores e direitos que ela consagra procuram, no que governam e no que
legislam, fazer dela letra morta enquanto congeminam novos ataques na
revisão que se segue.
Aí está, novamente, pela mão do PSD um novo projecto de
subversão constitucional. E aí está de novo o PS a
fazer-se de chocado e indignado com o que o PSD propõe quando é
conhecido que muito do que este agora propõe de mutilação
de direitos e de alterações muito negativas da dimensão
económica e social da Constituição está em curso
pela acção governativa do PS. E aí estão de novo,
PS e PSD, acenando com aquela troca de galhardetes que todos sabemos acabar em
amistosa mesa de negociação de oferta e venda de direitos
do tipo dá cá orçamento leva lá direitos ou
funções sociais - que conduziria, se os deixarem, a remover da
Constituição o que atrapalha a sua política de retrocesso
social e económico.
É no quadro desta ofensiva e destes projectos que as
eleições presidenciais assumem uma inegável
importância no quadro da actual situação do País.
Quando Portugal está confrontado com uma situação marcada
pelas injustiças, o retrocesso social e o declínio nacional,
quando pesam sobre o regime democrático novas ameaças, quando se
adensam novos ataques aos direitos e interesses dos trabalhadores e do povo e
à Constituição da República, quando a soberania e a
independência nacionais são comprometidas as
eleições presidenciais, pelo seu processo, dinâmica e
decisões sobre as opções e orientações do
órgão de soberania Presidência da República,
exercerão uma importante influência nas condições
para defender os valores de Abril e abrir caminho a uma nova fase da vida
nacional.
A CANDIDATURA DE FRANCISCO LOPES
É por tudo isto que a candidatura do PCP, assumida e bem pelo camarada
Francisco Lopes, emerge com redobrada actualidade e importância. Uma
candidatura distinta e distintiva, que se apresenta perante os trabalhadores e
o povo com um projecto claro de mudança decidida a afirmar e mobilizar
em torno de um grande projecto político, patriótico e de
esquerda, capaz de enfrentar a gravidade da situação a que o
País chegou e lançar Portugal no caminho do desenvolvimento, da
justiça e do progresso social. Uma candidatura empenhada na
denúncia da prática negativa do actual Presidente da
República e na contribuição para a derrota do candidato da
direita. Uma candidatura singular e um candidato, únicos no seu percurso
e projecto, sem comprometimentos ou cumplicidades com a política de
direita, sem ambiguidades ou equívocos perante a ruptura e
mudança indispensáveis ao país, liberta de apoios dos que
são responsáveis pelo caminho de injustiças,
exploração, retrocesso social e declínio económico
na vida nacional.
Uma candidatura comprometida com as aspirações dos trabalhadores,
presente e solidária na sua luta por uma vida melhor e mais digna,
portadora de um projecto de ruptura e mudança, confiante e determinada,
dirigida aos trabalhadores, aos jovens, a todos os democratas e patriotas.
Decidimos bem! Estamos confiantes que o camarada Francisco Lopes vai dar boa
conta desta responsabilidade, afirmando que vai contar com o nosso empenhamento
solidário e militante.
A concretização do conjunto dos objectivos que propomos e da
alternativa à política de direita pela qual lutamos exige o
desenvolvimento da luta de massas, mas exige igualmente um PCP mais forte. Um
Partido mais forte na sua organização, intervenção
e influência, na militância e na sua ligação profunda
com os interesses, as aspirações e as lutas dos trabalhadores e
do povo. Um partido mais forte que construímos todos os dias e que se
materializa com a acção "Avante! Por um PCP mais
forte", como o demonstra o facto de desde o inicio do ano entrarem para as
nossas fileiras mais 1 200 novos militantes, 55% dos quais com menos de
quarenta anos!
O PCP cumpre o seu papel, o PCP avança confiante e determinado.
Avança com os trabalhadores e o povo, avança com o seu poderoso
colectivo militante que daqui saudamos. Saudamos os membros do Partido que, em
condições exigentes, constroem e reforçam as
organizações das empresas e locais e trabalho, bem como as
organizações locais. Saudamos os militantes pela
realização das mais diversas tarefas, das mais evidenciadas
às menos visíveis, mas não menos importantes, e aqui
registamos o trabalho dos que quotidianamente se empenham na recolha das
quotizações e dos fundos do Partido, dos que todas as semanas se
encarregam da distribuição e venda do "Avante!".
Tarefas tanto mais relevantes quando, por imposição da Lei de
Financiamento dos Partidos, em que por entendimento do PS, PSD e CDS se criou
um regime que colide com os princípios constitucionais e em que aumenta
o financiamento público aos partidos políticos e talham à
medida a limitação das actividades e livre iniciativa
própria e a organização do PCP.
A SANHA CONTRA O PCP E A FESTA DO AVANTE!
É o caso das normas estabelecidas na Lei para as iniciativas de
angariação de fundos, designadamente aquelas que envolvem a
oferta de bens e serviços, como a Festa do "Avante!". É
absurdo que se imponham à partida limites de financiamento a iniciativas
deste tipo ou de iniciativas legítimas similares, que em nada afectam a
transparência do financiamento do partido promotor. É o caso da
descabida limitação a 50 salários mínimos anuais de
pequenas receitas em numerário, obrigando, por exemplo, a que as quotas
ou contribuições dos militantes dos partidos fossem, na sua quase
totalidade, pagas por cheque ou outro meio bancário. É o caso
ainda da norma que penaliza todos os que angariam pelos seus próprios
meios contribuições para a campanha eleitoral com a
redução da subvenção do Estado no montante obtido,
distribuindo-se esse valor pelos restantes partidos. Um outro absurdo!
Sob a capa da transparência, o que verdadeiramente desejam é
impedir a realização da Festa do "Avante!" e limitar a
participação militante na angariação de fundos,
transformando os partidos em repartições públicas vivendo
às custas do Orçamento de Estado. Uma lei que visa impedir ou
condicionar a realização da maior iniciativa política,
cultural do país e põe em causa a militância
partidária não é uma lei transparente nem é uma lei
democrática.
O PCP continua a defender e a exigir a transparência em matéria de
financiamento partidário, mas as regras de transparência
não podem ser confundidas com ingerência na liberdade de
organização de cada partido. Vamos continuar a propor que tais
entorses da lei sejam corrigidas, mas não pensem que por esta via acabam
com a Festa do Avante ou com a independência do PCP.
Mas se saudamos e valorizamos os que se empenham nessa importante tarefa da
recolha de fundos para o Partido, saudamos igualmente os que trabalham nas
organizações de massas e nas instituições. Saudamos
as mulheres comunistas e a sua crescente participação
partidária. Saudamos a Juventude Comunista Portuguesa, o êxito do
seu IX Congresso realizado sob o lema " Com a luta da juventude, construir
o futuro", a sua combatividade, criatividade e iniciativa.
Falando do Partido da sua organização e fortalecimento, da sua
constante renovação e rejuvenescimento, saudamos os novos
militantes a sua adesão e participação e dirigimo-nos a
todos aqueles que querem um rumo novo de desenvolvimento, justiça e
progresso social e entendem que chegou o momento de agir, dizendo-lhes que o
seu lugar é no PCP. Que o seu lugar é no partido cuja identidade
e compromisso lhe dá esta distinta forma de ser, de estar e de agir,
expressão de generosidade e dedicação, que o seu lugar
é neste grande colectivo, ímpar na sociedade portuguesa, sempre
ao serviço dos trabalhadores, do povo, de Portugal, sempre orientado
pela solidariedade internacionalista e a amizade entre os trabalhadores e os
povos de todo o mundo.
As adversidades e os obstáculos não nos intimidam como sempre o
demonstrámos na nossa longa história. O PCP é um partido
de confiança, que está na linha da frente dos grandes combates
que hoje se travam, que analisa e denuncia corajosamente a
situação e os problemas, o único que mobiliza, organiza e
dá confiança à luta dos trabalhadores e do povo.
O PARTIDO TEM UM PROJECTO ALTERNATIVO PARA O PAÍS
O Partido que tem propostas, soluções, um projecto alternativo
para o País. O Partido que assume uma intensa, coerente e qualificada
intervenção nas instituições e está
determinado a assumir todas as responsabilidades que o povo português lhe
entenda atribuir.
Nos tempos difíceis que se vivem, como em todas as
situações, a juventude, os trabalhadores, o povo e o País
podem contar com o PCP, partido necessário, indispensável e
insubstituível na luta contra o capitalismo, a exploração,
o desemprego, as injustiças e desigualdades sociais. Partido que
abraça o ideal e projecto comunista com uma inigualável
força nas convicções e na justeza do combate que trava,
como demonstraram ao longo de uma vida toda a camarada Sofia Ferreira e o
camarada Dias Lourenço, que nos deixaram este ano.
Partido cujo projecto se identifica com a perspectiva de um País mais
desenvolvido e mais justo, que luta por uma democracia avançada e pelo
socialismo, por uma sociedade livre da exploração e da
opressão que concretize as mais profundas aspirações dos
trabalhadores, da juventude, do povo. Aqui reafirmamos esse compromisso de
tantas gerações, que projectamos no presente e no futuro. Assim
é e tudo faremos para que seja o Partido Comunista Português.
05/Setembro/2010
[*]
Discurso no comício de encerramento da Festa do Avante! 2010. Os
inter-títulos são da responsabilidade de resistir.info.
O original encontra-se em
www.festadoavante.pcp.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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