O PCP tornado invisível pela comunicação social
por José Pacheco Pereira
[*]
Esta semana, a chamada Marcha Nacional A Força do Povo, feita em nome da
CDU, mas na realidade feita pelo PCP, juntou muitos milhares de pessoas em
Lisboa. O assunto foi tratado de passagem nas televisões, sem grandes
meios e cobertura apenas de circunstância, e na maioria dos casos
"existiu" nas páginas interiores dos jornais, também
quase por obrigação de agenda.
Eu conheço os argumentos de muitos jornalistas para não darem
importância nenhuma (e por isso não noticiarem a não ser
por obrigação, ou seja, mal) às
manifestações do PCP, mas não me convencem. Não tem
novidade, é o que é esperado, é sempre a mesma coisa,
já sabemos que o PCP tem esta capacidade única de levar pessoas
para a rua. Vêm de todo o País, vêm em centenas de
autocarros, são os comunistas convencidos e mais umas franjas,
não alteram nada da vida política. Atenção a este
último argumento não alteram nada porque aí
começamos a tocar no lado sensível e ideológico do
objectivo desprezo com que estas manifestações são
tratadas pela comunicação social. E não é o
resultado de uma conspiração dos grandes interesses na
comunicação social, muito colados à
"situação" (também é, principalmente
pelas escolhas das chefias), mas algo que vem das próprias
redacções. Uma pequena iniciativa cultural na moda, que nem uma
centena de pessoas junta, é muito mais bem tratada.
Há muitas razões de ordem geracional, cultural, de vida, de
mentalidade do meio, da precariedade que se vive nas redacções
para justificar esta falta de interesse. Mas que o mundo que desfila em Lisboa,
à torreira do sol, feito de gente com causas bizarras como os baldios,
não interesse a uma jornalista de vinte e poucos anos, saída de
uma escola de comunicação social, estagiária, mas na
prática desempregada, que não sabe o que é um sindicato,
detesta greves e do mundo conhece o que vem na
Time Out
, percebe-se. O que não se percebe é que na sua
redacção não se vá mais longe e se perceba que
"aquilo" no Portugal dos dias de hoje é mais excepcional do
que parece, "aquilo" implica mais esforço e cidadania do que
andar horas a discutir a migração de treinadores entre clubes,
como se o mundo estivesse parado nessa logomaquia futebolística.
"Aquilo" é o outro Portugal que não tem nada a ver com
os salamaleques do "meu caro Pedro", "meu caro Paulo",
muito mais bem tratados do que a vida de centenas de milhares de pessoas
invisíveis porque não são o "arco da
governação certo", do País
"europeísta", da classe social certa. "Aquilo"
é uma parte da sociedade portuguesa que existe e que protesta, e que se
não protestasse não existia para ninguém. Eles são
parte da economia
expendable
dos nossos tecnocratas, a mesma que impede a jovem jornalista de conhecer
mais mundo, ter sido mais bem preparada na escola, e ter um emprego conforme as
suas qualificações. Um emprego e não um estágio. E
que, a seu tempo, pode precisar do seu sindicato e, imagine-se, ter de fazer
greve e protestar. Nesse dia, ela perceberá melhor a
condição das pessoas que ali estão a protestar, podendo
até ela ser
do PSD, do PS ou de nada.
12/Junho/2015
[*]
Militante do PSD.
O original encontra-se em
www.sabado.pt/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|