Os fracassos de Gaspar nas previsões não começaram agora
Vitor Gaspar era o director do Gabinete de Estudos do
Ministério das
Finanças no tempo em que o ministro Braga de Macedo anunciava na AR a sua
"teoria do oásis"
por Vanessa Cruz
Não é de agora que Vítor Gaspar falha nas previsões
para a economia portuguesa. O filme de 2012 já tinha acontecido em 1993.
O único ano de recessão na década de 90 teve o dedo do
atual ministro das Finanças.
Na altura, quem mandava nessa pasta era Braga de Macedo, o ministro otimista,
de tal forma que as suas estimativas até ficaram conhecidas como a
"teoria do oásis".
No ano anterior, em 1992, Gaspar era diretor do departamento de estudos
económicos do Ministério das Finanças. Portanto, esteve
por detrás das previsões feitas para 1993.
O "oásis" acabou por se traduzir numa recessão, menor
do que a vivemos hoje, mas uma recessão. Previa-se um crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) de 2% em 1993, mas a economia acabou por recuar
0,7%. Uma grande diferença face ao ano anterior, em que a riqueza criada
tinha aumentado 3,1%.
No Orçamento do Estado para 2012, o cenário era outro: as
estimativas já estavam marcadas pelo pessimismo uma
recessão de 2,8%, a maior dos últimos 30 anos. Afinal será
de 3%. Ainda pior. O balanço final só será feito em 2013.
A ilação que se pode tirar até agora é que
não acertou à primeira. Parece que o pessimismo, afinal,
até tinha sido otimista.
Receita fiscal: 20 anos depois, as semelhanças
Porém, é mesmo na receita fiscal que se verifica o maior
desfasamento em relação ao projetado inicialmente e ao que a
execução orçamental vem apurando. O Orçamento do
Estado para 2012 previa que aumentasse 2,9%.
Mas, este ano, as derrapagens foram sucessivas. Passou-se do sinal (+) para o
sinal (-) num instante, logo em janeiro, mês em que a receita fiscal
afundou 7,9%. De lá para cá, o encaixe com impostos foi de mal a
pior. Segundo a execução orçamental de outubro
últimos dados conhecidos a derrapagem já ia em 4,6%. Os
dados de novembro serão divulgados no final desta semana.
As previsões foram "excessivamente" otimistas. O Conselho de
Finanças Públicas por diversas vezes o repetiu. O Governo
lá acabou por rever os números, mas o relatório do OE2013
ainda aponta para uma receita de 1.400 milhões de euros em 2012, para a
qual a Unidade Técnica de Apoio Orçamental diz que (UTAO)
"não se encontra justificação". A UTAO vaticina:
as receitas fiscais vão deixar um buraco de 0,4% no PIB este ano.
Recuemos, pois, vinte anos. Em 1993, o Orçamento do Estado aprovado
previa um encaixe à volta de 3.340 milhões de contos (16.660
milhões de euros) com as receitas correntes.
Mas o Orçamento final, corrigido de alterações
orçamentais, já estimava menos 364,7 milhões de contos
(1,8 milhões de euros). E isso aconteceu porque a receita fiscal teve um
desempenho bem pior do que se estava à espera: verificaram-se
"decréscimos nos impostos diretos, de que fazem parte o IRS e o IRC
(-163 milhões de contos) [ou 813 mil euros] e nos impostos indiretos
(-210,3 milhões) ou [1 milhão de euros]", como o IVA,
lê-se na Conta Geral do Estado desse ano.
Embora depois, na execução orçamental, estas rubricas
tivessem sido melhores do que no Orçamento final, a revisão de
previsões já lá estava. E, no final de contas, o que
é facto é que as receitas correntes efetivamente cobradas
caíram 5,3% em relação a 1992 (-4,8% no caso dos impostos
diretos, -0,2% no caso dos indiretos).
Portanto, o otimismo em relação à evolução
da receita fiscal de um ano para o outro não tinha razão de ser.
As contas, preto no branco, revelaram outra realidade.
Do "oásis", 1993 ficou isolado na década de 90 com o
carimbo da recessão. Ela voltou depois em 2003 (-0,9%), 2009 (-2,9%),
2011 (-1,6%) e, claro, agora em 2012. Sabe-se que 2013 também não
escapará, prevendo-se que a economia contraia 1%. Na última
revisão de estimativas feitas pelo Governo, o dedo de Gaspar deixou esta
intacta.
22/Dezembro/2012
O original encontra-se em
www.agenciafinanceira.iol.pt/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|