O baixo nível de escolaridade e de qualificação em
Portugal, que é uma causa estrutural do atraso do país,
não melhorou em 2005
RESUMO DESTE ESTUDO
No 1º Trimestre de 2006, segundo o INE, 76% da população
total portuguesa, 71% da população empregada, e 73% dos
desempregados tinham apenas o ensino básico ou menos.
Em 2005, a percentagem da população portuguesa, com idade
compreendida entre os 25 e 64 anos, que participou em acções de
formação foi apenas 4,6%, ou seja, 2,4 vezes inferior à
média comunitária que atingiu, no mesmo ano, 11%.
Também em 2005, a percentagem de população com idade
compreendida entre os 25 e 64 anos que completou, pelo menos, o ensino
secundário, foi em Portugal de apenas 26,3%, quando a média
comunitária (UE25) atingiu 68,3%, ou seja, 2,6 vezes mais. A
diferença entre Portugal e os 10 novos países que aderiram
à U.E. em 2004 é ainda maior, já que a percentagem da
população desses países que completou, pelo menos, o
secundário em 2005, variou entre 89,9% (república Checa) e 72,8%
(Roménia). Ao ritmo dos últimos 9 anos, Portugal precisava de 89
anos para alcançar a média comunitária actual (68,9%).
O abandono escolar prematuro da população com idade entre os 18 e
24 anos continua a ser em Portugal muito superior à média
comunitária. Assim, em 2005, o abandono escolar atingiu no nosso
País 38,6% quando a média comunitária, no mesmo ano, foi
de 15,2%, ou seja, 2,5 vezes menos, sendo em Portugal muito maior na
população masculina (46,7%) do que na feminina (30,1%). A
diferença entre Portugal e os 10 novos países que aderiram
à U.E. em 2004 é ainda maior, já que a percentagem de
abando escolar nesses países variou, no ano de 2005, entre 4,3%
(Eslovénia) e 20,8% (Roménia). Ao ritmo dos 9 últimos
anos, Portugal precisaria de 140 anos para alcançar a média
comunitária actual (15,2%).
Em Portugal, a despesa por aluno em 2003 no ensino básico correspondeu
a 83,3% da média comunitária; no ensino secundário a
88,7%: e no ensino superior apenas a 55,2% da média comunitária.
Em Portugal, contrariamente ao que sucede na generalidade dos países da
União Europeia, a despesa por aluno do secundário (5.085,9 euros)
é superior à despesa por aluno do ensino superior (4.449,5
euros).
Como os dados oficiais mostram a situação da
educação e da qualificação profissional em Portugal
não melhorou em 2005. Mas o governo agrava o conflito com os professores
provocando a instabilidade, contribuindo assim para os fracos resultados
alcançados. É preciso recordar mais uma vez: O País
não tem condições para suportar por mais tempo a
situação em que se encontra a educação e a
qualificação profissional, nem para mais experiências.
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Os últimos dados publicados quer pelo Instituto Nacional de
Estatística quer pelo Eurostat revelam que a situação no
campo de escolaridade e da qualificação não melhorou em
Portugal no ano de 2005, constituindo um dos obstáculos estruturais mais
importantes que impedem que o país saia do estado de atraso e de crise.
Mesmo medidas muito mediatizadas, como foram o Plano Tecnológico, Novas
Oportunidades, o acordo com a Microsoft, etc., estão a ter resultados
reduzidos, sendo muito delas meramente formais e a nível
mediático.
NO 1º TRIMESTRE DE 2006, AINDA 71% DA POPULAÇÃO EMPREGADA
PORTUGUESA TINHA APENAS O ENSINO BÁSICO OU MENOS
O quadro I foi construído com os últimos dados divulgados pelo
INE, referem-se já ao ano de 2006, e permitem ficar a conhecer a
repartição, por níveis de escolaridade, da
população quer total quer empregada quer desempregada no 1º
trimestre de 2006 em Portugal.
No 1º Trimestre de 2006, em Portugal, ainda 76,2% da
população total, 71,3% da população empregada e 73%
da população desempregado tinha o ensino básico ou menos.
O ensino secundário completo, que é o nível mínimo
indispensável para que o país possa passar de um economia baseado
em trabalho pouco qualificado e de baixos salários para uma economia
assente em trabalho qualificado e de salários elevados, a percentagem
daqueles que possuíam este nível de escolaridade era, em 2006,
apenas de 13,9%, 14,9% e 17,1% respectivamente.
APENAS 4,6% DA POPULAÇÃO PORTUGUESA ADULTA PARTICIPOU EM
ACÇÕES DE FORMAÇÃO /EDUCAÇÃO EM 2005,
OU SEJA, MENOS DE METADE DA MÉDIA DA UE25
Uma forma de compensar o baixo nível de escolaridade seria investir
fortemente na qualificação profissional da
população empregada. No entanto, como mostra o quadro II,
construído com dados publicados pelo Eurostat, em 2005, a percentagem da
população activa que participou em acções de
qualificação profissional continua a ser extremamente baixa em
Portugal.
Apesar do Código do Trabalho estabelecer que, em 2005, todos os
trabalhadores por conta de outrem tinham direito a, pelo menos, 25 horas de
formação certificada, no entanto, como revelam os dados oficiais
do quadro, somente uma reduzida percentagem de trabalhadores 4,6% -
participaram em acções de formação /
educação.
Por outro lado, e como revelam também os dados do quadro, o fosso que
separa, para pior, Portugal da média comunitária, no lugar de se
reduzir, até tem aumentado nos últimos anos. Assim, em 2001, a
percentagem portuguesa era inferior à média da UE25 em -4,4pp
mas, em 2005, essa diferença já tinha aumentado para -6,4pp, ou
seja, a diferença aumentou mais de 45%.
A POPULAÇÃO QUE COMPLETOU O ENSINO SECUNDÁRIO EM 2005
É 2,6 VEZES INFERIOR À MÉDIA COMUNITÁRIA. PORTUGAL
PRECISARIA DE 89 ANOS PARA ALCANÇAR A UE25
O baixo nível de escolaridade está-se a perpetuar em Portugal
como se conclui do quadro III, construído com dados publicados pelo
Eurostat em 2006.
Como mostram os dados do quadro a diferença entre Portugal e a
média da UE15 e da UE25 é muito grande ( a percentagem em
Portugal em relação à média da UE25 é
inferior em 2,6 vezes).
Ao ritmo verificado entre 1996 e 2005 (entre 1996 e 2005, o aumento foi apenas
de 0,477 pp ao ano), Portugal precisaria de 89 anos para alcançar a
média comunitária actual (68,9%).
Mas se comparamos a situação portuguesa neste campo fundamental
para o desenvolvimento com a situação dos novos países que
aderiram à União Europeia em 2004, a conclusão que se tira
é dramática. Mesmo a Roménia, que é o país
menos desenvolvido, a percentagem da população que terminou pelo
menos o ensino secundário em 2005 é 2,8 superior à
portuguesa.
Esta é uma das causas estruturais da baixa competitividade da Economia e
das empresas portuguesas que urge alterar rapidamente. E não se
verificou qualquer melhoria em 2005, como revelam os dados do Eurostat,
apesar da campanha mediática do governo neste campo como em outros.
O ABANDONO ESCOLAR EM PORTUGAL É AINDA 2,5 VEZES SUPERIOR À
MÉDIA COMUNITÁRIA. A ESTE RITMO PORTUGAL PRECISARIA DE 140 ANOS
PARA ALCANÇAR A UE25
A agravar a situação no campo da educação, e a
tornar mais difícil a recuperação que é urgente ,
está a continuação do elevado e prematuro abandono escolar
da população com idade entre os 18 e 24 anos, que continua a ser
mais do dobro da média comunitária, como os dados do quadro IV
mostram.
Entre 1996 e 2005, A percentagem da população com idade entre os
18 e 24 anos que abandonou prematuramente a escola em Portugal, diminuiu de
40,1% para 38,6%, ou seja, apenas 1,5 pontos percentuais (1,5 pp), o que
dá uma média de 0,166 pp ao ano. Como, em 2005, a
diferença entre Portugal e a UE25 era de 23,4 pp, isto significa que com
tal ritmo de redução Portugal precisaria de 140 anos para
alcançar a média comunitária actual que é 15,2%.
É importante registar, como revelam os dados do Eurostat, que, entre
1996 e 2005, o abandono escolar em Portugal aumentou na população
masculina, pois passou de 45,6% para 46,7%, tendo a redução total
sido conseguida somente através da diminuição do abandono
escolar da população feminina que, no mesmo período,
passou de 34,4% para 30,1%.
CUSTOS ELEVADOS E RESULTADOS INSUFICIENTES: o País não suporta
mais atrasos na resolução do problema do baixo nível de
escolaridade e de qualificação profissional
O governo afirma que as despesas com a Educação em Portugal
são iguais ou mesmo superiores às verificadas em outros
países da União Europeia. Confrontemos essa
afirmação governamental com os dados oficiais Para isso
observe-se o quadro V, construído com dados do Eurostat.
Em 1999, a despesa por aluno em Portugal (inclui todos os níveis de
ensino) correspondia a 83% da média comunitária, enquanto em 2003
já representava 78%. Por níveis de ensino, as disparidades
são muito grandes. Por ex., em relação ao ensino
básico, em 1999, a despesa por aluno em Portugal correspondia a 99,4% da
media comunitária e, em 2003, a 83,3%. Facto esclarecedor é que,
em Portugal, a despesa por aluno do nível superior é inferior
à despesa por aluno do ensino secundário, tanto em 1999 como em
2003, situação que não se verifica a nível da
União Europeia, onde a despesa por aluno do nível superior
é maior do que a do nível secundário, e esta é
superior à do nível básico. Finalmente, entre 1999 e 2003,
a despesa por aluno cresceu em Portugal menos do que na União Europeia,
em relação a todos os níveis de ensino.
Apesar das despesas por aluno em Portugal serem inferiores à
média comunitária, exceptuando o caso do ensino superior, onde a
despesa em Portugal, em 2003, correspondia apenas a 55,2% da media
comunitária, que é um valor muito baixo e manifestamente
insuficiente, em relação aos restantes níveis de ensino,
em que a percentagem em a relação à média
comunitária varia entre 83,7% (ensino básico) e 88,7% (ensino
secundário), é evidente que Portugal está a fazer um
esforço financeiro importante com a educação.
Apesar dos elevados recursos investidos na educação os resultados
obtidos são manifestamente insatisfatórios, como análise
feita mostrou. Os resultados obtidos revelam também a falta de
capacidade dos sucessivos governos que se alternaram no poder de uma forma
pendular para resolver esta problema estrutural da sociedade portuguesa. A
tentativa do actual governo de resolver de uma forma artificial e meramente
formal este atraso, de que é exemplo o chamado Programa Novas
Oportunidades, que visa, no fundo, entregar de diplomas do 9º ano e
do 12º ano sem mudar, de facto, nada a nível real de escolaridade e
de qualificação da população empregada, parece ser
mais do mesmo.
Uma coisa é certa, que o actual governo ainda não compreendeu,:
não é possível resolver os problemas da
educação em Portugal, sem o empenhamento e o envolvimento activo
nomeadamente dos professores no processo de mudança que é urgente
e indispensável que se faça, o que passa necessariamente pelo
respeito dos seus interesses legítimos, sendo isso incompatível
com a prática do governo de humilhação dos professores e
dos outros trabalhadores da Administração Pública, de
simulacro de negociações (este governo está-se revelar
cada vez mais autista), e de conflito permanente com os trabalhadores.
Não é possível melhorar o ensino sem estabilidade e
não é possível com a politica que está a ser
seguida. É urgente desenvolver uma cultura de
responsabilização e de exigência, de
actualização permanente, pois o conhecimento não se
adquire sem esforço continuo. Incutir na juventude e nos adultos de que
é possível adquirir conhecimento sem esforço continuo
é condenar o País ao atraso
O País não sairá também do atraso em que se
encontra, enquanto leis como a que obriga as empresas a realizarem anualmente,
pelo menos, 35 horas de formação certificada para os seus
trabalhadores, forem violadas de uma forma generalizada, como provam os dados
divulgados pelo Eurostat de que, em 2005, apenas 4,6% dos adultos participaram
em Portugal em acções de formação. Mais que a
formação dada pelo Microsoft, que se está a revelar um
grande negócio para esta empresa multinacional à custa do
Orçamento do Estado Português, o que o País necessita
é de formação orientada para o posto de trabalho, portanto
uma formação que represente, tanto para o trabalhador como para
a empresa, uma mais valia real, o que exige que as empresas cumpram, pelo
menos, o que já está estabelecido no artº 125 do
Código do Trabalho
O País não tem condições para suportar por mais
tempo as consequências do baixo nível de educação e
a qualificação profissional existente, e os reduzidos resultados
que continuam a ser obtidos nestas áreas, como se verificou em 2005.
10/Agosto/2006
[*]
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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