O desemprego em Portugal ultrapassou o meio milhão
por Eugénio Rosa
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O DESEMPREGO JÁ ATINGE 516.500 TRABALHADORES SEGUNDO O INE O 1º ministro afirma que os sacrifícios dos portugueses terminaram. No entanto, os dados sobre o desemprego, que é o problema mais grave com que se debatem os trabalhadores em Portugal, referentes ao 3º trimestre de 2004, que o INE acabou de publicar, revelam precisamente o contrário. Assim, para além da taxa oficial de desemprego que já foi divulgada pelos órgãos de comunicação social e que, entre o 2º e o 3º trimestres de 2004, aumentou 7,9% pois passou de 6,3% para 6,8%, o que é um crescimento muito significativo num único trimestre, o INE também publicou outros dados sobre o emprego e desemprego em Portugal que é importante conhecer para se poder ficar com uma ideia clara da dimensão deste gravíssimo problema social e económico, que está a causar sacrifícios crescentes a centenas de milhares de famílias, assim como a sua previsível evolução no futuro. O quadro I, construído com dados publicados pelo INE e disponíveis para toda a gente, permite fazer um balanço da evolução verificada, num campo fundamental para os trabalhadores, nos últimos três anos. Quadro I Evolução do desemprego oficial e do desemprego corrigido em Portugal
De acordo com o INE, os Inactivos Disponíveis, que constam do quadro anterior, são pessoas desempregadas, que desejam trabalhar e que estão disponíveis para isso, mas que pelo facto de não terem feito diligências para arranjar emprego nas últimas 4 semanas anteriores ao inquérito do INE, apesar de estarem desempregadas, não são consideradas no cálculo da taxa oficial de desemprego. E o subemprego visível, também constante do quadro, inclui aqueles que trabalham menos de 15 horas por semana, apenas pelo facto de não encontrarem um emprego com horário completo, apesar de terem declarado que desejam trabalhar mais horas, mas que também não são consideradas no cálculo da taxa oficial de desemprego. Os dados do quadro anterior mostram que, entre 3º trimestre de 2001 e o 3º trimestre de 2004, o desemprego oficial, passou de 209 mil para 375,9 mil (+166.900 desempregados), enquanto o desemprego corrigido, que se obtém somando ao número oficial de desempregados os números do INE relativos aos inactivos disponíveis e ao subemprego visível constantes do quadro I, que são de facto desempregados, cresceu de 315,9 mil para 516,5 mil (+200.600 desempregados). Em percentagem, no 3º trimestre de 2004, de acordo com os dados do INE, a taxa oficial de desemprego atingiu 6,8% dos activos, enquanto a taxa corrigida de desemprego alcançou 9,4% da população activa, ou seja, mais 38,2% que a taxa oficial. NUM ANO FORAM DESTRUÍDOS EM PORTUGAL 141.200 POSTOS DE TRABALHO O INE também publicou dados do emprego por profissões. E esses dados, constantes do quadro II, mostram bem a dimensão da gravidade da situação que atinge fundamentalmente os trabalhadores de menor qualificação profissional e/ou escolaridade. Quadro II - Profissões onde se está a verificar destruição de emprego
No último ano (entre 3T2003 e 3T2004), foram destruídos em Portugal 141.200 postos em apenas nas quatro profissões constantes do quadro II que representam mais de metade da população activa portuguesa, o que dá uma média mensal de 11.766 postos de trabalho destruídos nestas profissões, ou seja, 392 postos de trabalho destruídos por dia, incluindo sábados e domingos. DESEMPREGO DE LONGUISSIMA DURAÇÃO AUMENTOU EM PORTUGAL 67% NO ÚLTIMO ANO Como consequência da destruição maciça de postos de trabalho principalmente nas profissões ligadas à agricultura e à pesca, e nos grupos profissionais operários, artífices e similares, operadores de instalações, máquinas e trabalhos de montagem e trabalhadores não qualificados, o desemprego de longa duração está a aumentar de uma forma muito significativa em Portugal, como mostram os dados do INE constantes do quadro III
Assim, num ano apenas, o desemprego de longa duração com um ano ou mais cresceu 39,1% em Portugal, mas o desemprego de longuíssima duração com 25 meses ou mais de duração aumentou 67,3%. Esta evolução revela uma dificuldade crescente da população que é lançada no desemprego em encontrar novo emprego. MAIS DE 74% DOS DESEMPREGADOS TÊM APENAS O ENSINO BÁSICO OU MENOS A conclusão anterior é reforçada pelos dados do INE sobre a escolaridade dos desempregados constantes do quadro seguinte. Quadro IV Nível de escolaridade da população desempregada
Cerca de 74% dos desempregados têm apenas o ensino básico ou menos, o que dificulta a sua nova reinserção no mercado de trabalho. Por outro lado, os dados do INE também revelam que 97.200 desempregados (cerca de 26% do total de desempregados) têm o ensino secundário ou o superior, o que é um elevadíssimo desperdício de mão de obra altamente qualificada ou potencialmente qualificada num País de baixa escolaridade. O CRESCIMENTO DAS VERBAS APROVADAS PELO GOVERNO PARA PAGAR SUBSÍDIOS DE DESEMPREGO EM 2005 É MENOS DE METADE DO AUMENTO DE 2004 De acordo com os Relatórios que acompanham o Orçamento da Segurança Social, anexo ao Orçamento do Estado, para os anos de 2004 e 2005, as verbas para pagar subsídios de desemprego aumentaram da forma constante do quadro V: Quadro V- Evolução do gasto e orçamento para pagar subsídio de desemprego
Embora o desemprego em Portugal continue a aumentar da forma preocupante como
os dados anteriores do INE revelam, observa-se uma forte quebra no crescimento
das verbas aprovadas pelo governo para pagar fundamentalmente subsídios
de disponibilizadas em 2005..
20/Nov/2004
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Economista,
edr@mail.telepac.pt
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