por João Carlos Graça
[*]
É necessário diagnosticar adequadamente os males da economia
portuguesa, ou seja, identificar corretamente os seus problemas fundamentais.
Por detrás da escassez imediata de meios de pagamento está
evidentemente a enorme dívida externa acumulada. E por detrás
desta última, estão sucessivos défices da balança
de pagamentos, os quais se foram agravando non-stop ao longo de todo o tempo em
que o Euro esteve em vigor e em que Portugal fez parte da União
Económica e Monetária.
Se considerarmos o período 2001-2010, entretanto (e já deixo de
lado o "ano horrível" de 2011, com "crescimento
negativo", bem como as previsíveis sequelas para pior ainda),
verificamos também com facilidade que a economia portuguesa divergiu da
média quer da União Europeia quer da União
Económica e Monetária. Ao contrário do que se passou com
países como por exemplo a Irlanda e a Grécia, que nesse
período convergiram com a média, Portugal foi-se afastando do
"pelotão da frente", e isto precisamente no período em
que teria ficado consumado e oficialmente consagrado o nosso esforço
coletivo de
catching up
, do qual a própria pertença ao restrito "clube
europeu" sempre foi maioritariamente percebida pela
população portuguesa enquanto pleno reconhecimento internacional
e correspondente recompensa simbólica.
Deixando de lado o nível dos discursos e dos mitos e procurando
considerar a factualidade económica, todavia, sempre foi razoavelmente
óbvio para quem seguisse de perto os acontecimentos que um problema
enorme estava a acumular-se, e que pura e simplesmente não havia
dispositivos institucionais (nem nacionais nem "europeus") que
permitissem tratar disso. A UEM, disse-se e repetiu-se à saciedade
aquando da sua fundação, seria uma nova unidade territorial
adentro da qual passaria a NÃO fazer sentido discutir problemas de
balança de pagamentos deste ou daquele estado, aliás tal como
hoje em dia não discutimos a balança de pagamentos dos
Açores, ou a do distrito de Bragança.
Acontece, porém, que este discurso (em boa medida o discurso
"europeu" oficial, prevalecente até ao eclodir do problema das
"dívidas soberanas") sempre traduziu sobretudo um enorme peso
do delírio, ou talvez mais exatamente da mitomania, na
perceção oficial das realidades económicas, inclusive, ou
sobretudo, as "europeias". A UEM, tratou-se afinal de contas de
esclarecer depois, NÃO É uma "união de
transferências". O peso do "orçamento europeu", o
correspondente à Comissão Europeia, anda aliás à
roda de um mísero 1 por cento do PIB do conjunto dos países da
UE. A Comissão, de resto, tão-pouco tem legitimidade para pedir
mais do que isso, porque não se trata de um órgão
democrático resultante do debate político europeu pensado
enquanto tal para o que precisaria de ficar diretamente dependente do
Parlamento Europeu , mas de um órgão emanando do Conselho
Europeu, isto é, da lógica da diplomacia, da influência dos
mais fortes e da negociação de bastidores, fora e longe do
escrutínio e da publicidade que o debate político
democrático exige, regulada não pela noção de
"interesse geral" ou de "bem comum" europeu, mas pelos
normalíssimos interesses dos estados na normal interação e
coexistência "internacional".
Para além de consagrar princípios excluindo a ideia de
"união de transferências", a União Europeia, e
sobretudo a UEM, na sequência das respetivas tradições de
tratadística, consagram pelo contrário, e clarissimamente, ideias
de:
a) Defesa a todo o transe da "estabilidade de
preços" enquanto objetivo macroeconómico primordial, ao qual
ficam submetidos todos os demais, em particular o do pleno emprego;
b Defesa da noção de
"concorrência livre" no interior do espaço europeu,
nomeadamente impedindo políticas económicas ativas de apoio a um
qualquer sector por parte de um qualquer dos estados-membros.
Consideremos primeiro a alínea a). A "filosofia" da
construção europeia realmente existente tem sido, e já ao
longo de décadas, sem qualquer sombra de dúvida, uma
emanação das convicções "neoliberais",
particularmente as associadas à chamada escola das "expectativas
racionais", segundo a qual as assunções fundamentais do
"consenso keynesiano" estariam basicamente erradas: nomeadamente, o
famoso
tradeoff
inflação-desemprego correspondente à chamada "curva
de Phillips" constituiria uma falácia, pelo que se tratava, para os
decisores políticos, de propiciar a criação de um ambiente
social em que os preços permanecessem tão perto quanto
possível da completa estabilidade, e onde os agentes económicos
pudessem como consequência fazer valer as potencialidades associadas
à racionalidade das suas condutas. Inflação perto de zero
quer dizer juro também muito reduzido, o que supostamente propicia o
acumular dos recursos necessários para o crescimento económico; e
obviamente implica também finanças públicas
"consolidadas", isto é, almejando obstinadamente a
redução do défice orçamental, visto como
supostamente um grande propiciador de inflação e nesse sentido um
grande estorvo para a conduta dos tais "agentes racionais". Em
particular, este grupo de novas/velhas assunções levou a teoria
económica mainstream a tender deliberadamente e esquecer uma importante
aquisição do período de ascendência keynesiana,
nomeadamente a noção de "regulação
automática" do défice orçamental, a qual faz
evidentemente propender à desvalorização deste enquanto
objetivo autónomo de política económica: maior
défice público (assim dizia a sabedoria oficial keynesiana)
induziria expansão económica, o que ao mesmo nível de
incidência fiscal faria aumentar as receitas fiscais, assim se
auto-anulando o défice; por outro lado, superavit implicaria pelo
contrário "arrefecimento" da economia, o que, tudo o mais
permanecendo igual, acarretaria menos receitas fiscais, logo
auto-anulação do superavit. Em todo o caso, as despesas
públicas são aqui pensadas com outros objetivos em mente, que
não a "consolidação orçamental". Fazer
comprimir o défice das finanças públicas não
é o objetivo central.
Quanto à alínea b), traduziu-se quer no impedimento estrito da
adoção de medidas de política económica visando o
apoio discricionário a sectores tais ou tais, quer em grau mais amplo, e
enquadrada pela tendência geral para a "harmonização
fiscal" europeia isto é, o impedimento de que estes pudessem
ter fiscalidades significativamente diversas das dos demais países
europeus , numa tendência geral de reforço das vantagens
existentes, já mesmo à partida, nos diversos sectores e por parte
dos diversos países. Relativamente ao comércio internacional em
geral, designa-se isto por tendência para o
"kicking away the ladder"
: tal como enunciado em meados do século XIX por Friedrich List e
redescoberto nesta última viragem de século por Ha-Joon Chang,
fazendo-se conviver em ambiente de "comércio livre" economias
com graus de desenvolvimento muito diversos, aquelas que gozam de vantagens
iniciais tendem (mais frequentemente do que não) a ver essas vantagens
reforçadas, sendo por isso beneficiadas pela "concorrência
livre", enquanto as mais atrasadas vêem essa convivência
agravar as desigualdades, isto é, o respetivo atraso comparativo. Quem
já usou "a escada" dos apoios institucionais em
períodos anteriores atira-a fora através do "comércio
livre", isto é, impede os outros de ter acesso mais tardio ao mesmo
tipo de vantagens.
Em termos gerais, pode dizer-se que este conjunto de fatores operou como um
enorme rolo compressor no sentido do combate à importância
económica dos estados no âmbito da UE. Quer a lógica da
"harmonização fiscal", quer a da defesa da
"estabilidade de preços", ou mais exatamente o conjunto das
duas, determinou uma tendência para o alinhamento dos níveis de
fiscalidade por baixo, tendo-se revelado o "projeto europeu"
não uma fonte de mais "Europa social" (como em determinada
altura se propagandeou abundantemente e se fez de facto massivamente crer), com
salário mínimo europeu, benefícios sociais universais
correspondentes, etc, mas exatamente o contrário disso: um tolher da
capacidade dos estados, em particular os mais pequenos, mais periféricos
e/ou mais pobres, para disporem de meios próprios que lhes permitissem
assegurar quer o desempenho das suas reconhecidas "funções
sociais", quer a garantia dos ritmos de crescimento económico a
longo prazo que fornecessem os fundamentos, os alicerces seguros reclamados por
aquelas mesmas "políticas sociais".
Neste contexto, um certo número de características comuns emerge
neste século nos países da periferia europeia, os chamados
"PIIGS", a par de um certo número também de
distinções individuais importantes. Traço comum é o
acumular de défices das balanças de pagamentos, implicando uma
enorme dívida externa no final do período para todos eles:
dívida que foi primeiro sobretudo dívida privada, e que depois o
rebentar da bolha especulativa em 2008 e os anos subsequentes
transformaram/ampliaram também em dívida externa pública.
Existem, repito, significativas diferenças de caso para caso. A
Itália, por exemplo, partiu de níveis de dívida muito
superiores, mas Portugal convergiu com ela nisso, ou seja, precisamente naquilo
em que não devia
A Grécia, por outro lado, vê na
década o seu PIB convergir, crescer mais depressa do que a média
europeia, ao contrário do que acontece connosco, mas entretanto, do
ponto de vista dos critérios de Maastricht, tem uma
situação pior do que a portuguesa em matéria
orçamental, com saldos negativos atingindo sistematicamente percentagens
do PIB superiores às nossas.
Traço comum a todos estes países é decididamente o facto
de a taxa de conversão das respetivas moedas no Euro ter ficado
manifestamente sobreavaliada, pelo que todos eles desenvolveram a
correspondente tendência para acumulados défices da balança
de pagamentos. Isto foi correlativo ao desincentivo dos recursos produtivos
nestes países a uma utilização em sectores ditos
"transacionáveis", isto é, sectores potencialmente
exportadores (agrícolas, industriais ou outros), e ao incentivo à
aplicação em sectores
"não-transacionáveis": construção civil,
restauração, etc. Nalguns destes países, a
consequência direta foi a produção duma bolha
imobiliária de proporções monumentais: é o caso
sobretudo da Irlanda e da Espanha. Noutros, como Portugal, a bolha
imobiliária também existiu, mas foi consideravelmente mais
reduzida. Em geral, a conjugação de menor bolha
imobiliária com relativo cumprimento dos critérios
orçamentais de Maastricht levou a economia portuguesa a um desempenho
paupérrimo ao longo do período: 0,7 por cento de crescimento
anual médio do PIB, de 2001 a 2010; um crescimento económico
abaixo de medíocre, escapando à condição de
"lanterna vermelha" apenas porque a Itália nos fez o favor de
conseguir ter um desempenho ainda pior (aliás dos campeões do
pior, dos titãs da estagnação à escala mundial, uma
verdadeira proeza!)
Face a este estado de coisas, e não estivéssemos nós na
UEM, há muito tempo que toda a gente teria já concluído
pela óbvia necessidade imperiosa de se proceder a uma
desvalorização monetária, dessa forma procurando
relançar as exportações e inibir as
importações, induzindo a deslocação de recursos dos
sectores "não-transacionáveis" para os
"transacionáveis". Naturalmente, esta operação
está associada à perda momentânea de capacidade aquisitiva
internacional dos portugueses, e em particular ao encarecimento de um certo
número de bens (nomeadamente, produtos alimentares e petróleo)
que se podem revelar problemáticos, dado serem em boa medida bens
insubstituíveis, ou com uma procura "rígida".
Ainda assim, se eu der a escolher aos portugueses, diretamente e sem rodeios,
entre uma desvalorização de 20 ou 30 por cento da nossa moeda, a
qual poderá traduzir-se numa "inflação
importada" de 6, ou 8, ou mesmo 10 por cento, ou a chamada
"desvalorização interna" que seja o sucedâneo da
tal desvalorização cambial de 20-30 por cento, isto é, uma
"desvalorização interna", uma descida dos
salários nominais e das pensões em 40 e tal ou 50 por cento
duvido, sinceramente, que a maior parte da população opte
pela segunda via. Mais exatamente: creio bem que a maioria esmagadora escolhe
rapidamente a primeira.
Em que consistem as diferenças entre a desvalorização
cambial e a "interna"? Antes de todas, a já aludida assimetria
social da segunda. Trata-se aqui de embaratecer os produtos do país
atalhando direta e exclusivamente em salários, pensões,
subsídios, "funções sociais do estado", deixando
todavia de fora lucros, juros e rendas. Ou seja, é uma
opção socialmente muitíssimo enviesada, aliás
marcadamente "anti-trabalho", ou "pró-capital" e
"pró-propriedade", se se preferir.
As razões pelas quais a esquerda política oficial não diz
isto mesmo, clara e liminarmente (ou pelo menos não o sublinha)
são elas próprias sem dúvida algo obscuras. Em parte,
trata-se inegavelmente da clássica "hegemonia" em sentido
gramsciano. A esquerda tem um discurso próprio, claro que tem, mas ele
é subalterno e condicionado. E condicionado, esclareça-se, antes
de tudo pelo respetivo alinhamento pela "ideologia europeia", na
variedade de "europeísmo de esquerda"
O qual, para
observadores que procurem ficar mais distanciados, todavia se revela
rapidamente como um tremendo "ópio dos intelectuais", algo em
que as elites políticas e culturais da maior parte dos países
europeus, sobretudo a dos mais periféricos e dependentes, se habituou a
crer, tomando tipicamente a parte pelo todo, ou a árvore pela floresta,
isto é, assumindo que os benefícios laterais momentâneos
que essas elites sem dúvida recolheram da respetiva
"pertença à Europa" seriam: mais amplos, mais
socialmente dispersos (diretamente ou por capilaridade) do que realmente
são; mais firmes, mais garantidos, mais duradouros do que (assim viemos
todos mais recentemente a descobrir, através dum duro acordar para a
factualidade) de facto se pode legitimamente pretender.
De forma mais profunda, questão emergente é como é que a
esquerda política pôde, de todo, aprender a esquecer a
importância social das subidas continuadas de preços, e mais
amplamente o papel a longo prazo democratizador da distribuição
do rendimento que a inflação pode adquirir. Eis um tópico
de conversação decerto muito interessante, o qual todavia
não cabe na exígua dimensão deste ensaio. A
indagação acerca da rapidez da esquerda nesse "
learn to forget
" terá de ficar para melhor ocasião.
Deste modo, e em conclusão parcial, deparamos com a necessidade
incontornável de:
1) Denunciar o "memorando de entendimento",
impondo pelo contrário a renegociação da dívida
para níveis e para modalidades em que o pagamento da mesma não se
torne sufocante da possibilidade do próprio crescimento económico;
2) Assumir a necessidade imperiosa duma
desvalorização monetária como alternativa socialmente
menos má, e economicamente muito mais eficaz, do ponto de vista do
combate ao excruciante problema dos saldos negativos acumulados da
balança de pagamentos;
3) Recuperar as mãos livres para o
exercício da política democrática ao único
nível a que esta verdadeiramente existe, isto é, ao nível
do estado-nação. Portugal precisa absolutamente de recuperar a
sua condição como país soberano, quer pelo possibilitar da
manobra de salvamento geral que constitui a desvalorização
cambial, quer pela imperiosidade de proceder à adoção de
políticas económicas ativas, visando o apoio às
exportação e/ou a substituição de
importações, quer ainda pela necessidade de levar a cabo
políticas fiscais redistributivas, visando conscientemente a
redução das desigualdades, as quais são hoje em dia
impossibilitadas ou pelo menos muito dificultadas pela adoção do
"consenso de Bruxelas".
Mas não seria isto, retorquir-se-á, "
beggar thyself and thy neighbour
", ou seja, fazer uma desvalorização a que os outros
países responderão com outras, de tal forma que todos acabaremos
por lesar a todos, prejudicando com isso as possibilidades abertas pelo
próprio comércio internacional? Creio que na resposta a isso
já se antecipou, e muito bem, o grupo de investigadores do
Research on Money and Finance
através dos respetivos relatórios (ver aqui, sff:
http://www.researchonmoneyandfinance.org/
). Prejudicar aos vizinhos e ao próprio, lesar aos outros e a si mesmo
é, isso sim, pode retorquir-se, precisamente aquilo que fez ou deixou
fazer ao longo destes anos a UE, ao permitir o acumular de recorrentes
excedentes da balança de pagamentos na Alemanha e nos países do
centro, enquanto a orla de PIIGS acumulou défices. Para resolver estas
situações entre si diferentes, e mesmo opostas em natureza,
impõem-se políticas cambiais também opostas. Não
faz qualquer sentido reclamar da Alemanha que aceite medidas visando a
desvalorização do Euro, porque a indústria alemã se
porta aparentemente bem, e mais do que bem, mesmo com máquinas e
automóveis alemães caros para terceiros. Se tem superavit
para quê desvalorizar? Claro que esse facto tem por sua vez na base a
compressão continuada dos salários alemães, aliás
sob ameaça direta da "reserva de mão-de-obra" (e ainda
por cima qualificada!) a Leste, e em particular na orla imediata:
Polónia, República Checa, Eslováquia e Hungria. Tudo isto
dá, como se vê, "pano para mangas" em discussões
multímodas e decerto interessantíssimas
Mas voltamos ao mesmo: "E nós, pá?" Nós, bom,
antes de mais será evidentemente recomendável que reaprendamos a
importância de sabermos andar pelos nossos próprios pés,
sem mantermos relativamente à tal de "Europa" a
relação de dependência psicológica coletiva que,
como já muito bem se disse, representa fundamentalmente um enorme
tranfer
da dependência mental que em temos tivemos relativamente às
colónias, ao "Ultramar": do qual se "sabia", ou pelo
menos se cria (a população portuguesa tinha sido
brainwashed
em profundidade para crer) que "precisávamos
absolutamente"
mais ou menos da mesma forma que hoje
"sabemos", ou pelo menos cremos que precisamos d'"a
Europa", mesmo que "a Europa" nos diga e repita que vamos bater
a outra porta, porque ela não é, nem pode ser, nem quer ser, uma
"união de transferências".
E se "a Europa" realmente não é, nem quer ser, aquilo
que nós gostaríamos que fosse; se pelo contrário a UEM
significou para nós sobretudo acumular de atrasos relativos; se
manifestamente fazer a desvalorização sem a fazer (que é o
em síntese que nos pedem) é uma missão impossível,
e ainda por cima socialmente violentíssima; se em todo o caso esperar
ajuda d'"a Europa" configura um perigoso quadro mental no qual damos
livre expressão às nossas tendências para a "fuga da
liberdade", porque insistimos em viver dependentes de outros, enquanto
povos, e porque desaprendemos a própria democracia, deixando enquanto
cidadãos de poder pedir responsabilidades aos nossos eleitos para
quê, sinceramente, insistir em permanecer neste estado coletivo de
negação?
A saída terá riscos? Sim, claro que terá. Que procedimento
cirúrgico é que não os tem? E pomos nós, por isso,
por princípio de parte a cirurgia? Saída da UEM;
renegociação da dívida; desvalorização
cambial e correspondentes controlos temporários dos movimentos de
capitais; políticas económicas ativas com apoio aos sectores
exportadores; reforma fiscal redistributiva e de pendor progressivo,
igualitário. Mais amplamente ainda: renacionalização da
maior parte da banca e dos sectores eminentemente monopolistas e descaradamente
"rentistas" do nosso aparelho produtivo (EDP, GALP, etc.),
assunção plena do estado como "estratega" de
políticas visando a promoção não apenas de maior
justiça social, mas também do crescimento económico
sustentado. É muito? Talvez seja. Mas talvez pareça, à
primeira vista, bem mais difícil do que realmente é.
Quanto aos realinhamentos políticos necessários para pôr em
prática este programa? Bom, isso é decerto conversa
muitíssimo mais ampla, e este texto já vai decididamente
demasiado longo
Lisboa, 3 de Outubro de 2012
[*]
Economista.
Comunicação apresentada no Congresso Democrático das
Alternativas. Este texto, contudo, não foi aceite para
publicação no respectivo sítio sob a
alegação de que fora entregue "fora do prazo".
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.