As rupturas necessárias em Portugal
1. A CONFERÊNCIA E O PATRIMÓNIO DE ANÁLISE, DEBATE E
PROPOSTAS DO PCP
Com as 4 sessões plenárias de hoje e amanhã da
Conferência sobre Questões Económicas e Sociais,
completa-se o vasto trabalho desenvolvido pelo colectivo partidário
desde que em Outubro do passado ano o Comité Central do PCP decidiu
avançar para a sua realização.
Concretizamos assim a oportuna decisão do CC, e simultaneamente
acrescentamos o vasto e valioso património de análise, debate e
proposta do PCP sobre a realidade do País que fomos e somos.
Acrescentamos assim ao património das diversas Conferências que o
PCP realiza desde 1976, a análise da situação do
País e a resposta dos comunistas aos problemas que Portugal enfrenta
neste tempo, quando dobramos já metade da primeira década do
século XXI, e neste espaço do planeta Terra feito lugar comum de
todos nós! Damos também assim sequência ao papel
insubstituível do PCP na organização e apoio à
resistência e luta dos trabalhadores, dos agricultores, dos pescadores,
dos pequenos empresários, do povo português, contra as
políticas de direita e as malfeitorias de sucessivos Governos,
destruindo Abril. Camaradas, Abril não devolveu apenas a liberdade e a
democracia ao povo português e pôs fim à guerra colonial.
Abril abriu caminho às necessárias respostas aos problemas,
atrasos e estrangulamentos económicos e sociais herdados da ditadura
fascista. E devemos sublinhar camaradas, que não foi o menor
prejuízo, o desânimo e redução de expectativas,
até à instalação de um clima de medo e anomia
cívica em muitas camadas da população portuguesa, com que
as políticas de direita travaram a massiva, confiante e viva
intervenção dos portugueses após a Revolução
na resolução dos problemas nacionais. A persistente e
cínica doutrinação para reduzir a
intervenção cívica dos cidadãos ao acto de votar. O
ódio manifestado ao que foi o empenhamento dos portugueses, na
resolução de intrincados problemas económicos e sociais,
na resposta às mais gritantes carências e défices que a
ditadura deixou em testamento. Quem viveu os exaltantes dias da
Revolução nos já longínquos anos de 74 e 75
não esquecerá aquela força que literalmente, removia
montanhas, que abria estradas, que criava cooperativas, que geria grandes
empresas, que electrificava a escuridão em que Salazar tinha deixado
mergulhadas tantas terras, e aprendia, sim aprendia a ler e escrever. Aquela
energia criadora, que só um povo reconciliado com a sua dignidade, com o
seu destino, é capaz!
2. O DEBATE PREPARATÓRIO E O PESADO SILÊNCIO MEDIÁTICO
Após o lançamento público da Conferência em
Março passado pelo Secretário-geral do PCP, que um vasto e
diversificado trabalho de análise, reflexão, estudo e debate foi
realizado. Pese as múltiplas e exigentes tarefas assumidas pelo
colectivo partidário, houve disponibilidade para se concretizarem mais
de três dezenas de iniciativas que abordaram algumas das mais
estruturantes e estratégicas questões do desenvolvimento
nacional. Iniciativas que se somaram a debates regionais e locais. Trabalho que
se consolidou nas mais de 500 assembleias plenárias onde mais de 7 mil
militantes elegeram os delegados a esta Conferência e discutiram o
texto-base. Trabalho que está bem reflectido, embora muito parcialmente,
nas mais de 200 emendas ao Texto-base.
Mas este valioso trabalho, se reflecte a qualidade democrática do debate
partidário no PCP, o esforço dos comunistas no sentido de
conhecer, aprofundar e dar rigor à nossa análise política
dos mais ingentes problemas nacionais, abriu-se também à
contribuição das opiniões de homens e mulheres mais dos
mais diversos quadrantes políticos e ideológicos. Duas
anotações.
A primeira para saudar e agradecer a todos quantos não sendo comunistas,
participaram e contribuíram para o êxito da CES, pela sua
participação de viva voz ou através de textos escritos.
A segunda para lamentar o silêncio de chumbo que a generalidade dos
grandes órgãos de comunicação social fez cair sobre
a CES e o seu trabalho preparatório ao longo de quase um ano. Não
apenas pelo irrecusável direito do PCP a ver coberta uma sua relevante
iniciativa. Não apenas pela mais valia para os portugueses e o
País do debate proposto pelo PCP. Mas porque esse silêncio,
representa, ele sim, uma barreira ao fluir das opiniões e
participação dos cidadãos na vida política
nacional. Barreira à interacção entre a dita sociedade
civil e esses elementos nucleares de uma sociedade de liberdade e democracia,
que são os partidos políticos com a sua natureza e identidade
próprias e únicas, e cuja autonomia e independência tem
sido sujeitos a tratos de polé pelo partidos do bloco central PS e PSD.
3. ANÁLISE/BALANÇO DA SITUAÇÃO
ECONÓMICO-SOCIAL DO PAÍS
Muitos poderão ser os dados e muitas as fotografias estatísticas
que de forma impressiva evidenciam a situação de desastre
socio-económico a que a política de direita de sucessivos
governos do PS, PSD com ou sem CDS/PP conduziram o País. Muitos os
estrangulamentos a que essas mesmas políticas conduziram sectores e
áreas estratégicas e estruturantes. Três adjectivos
caracterizam os resultados da política de direita.
A desigualdade. A insustentabilidade. A injustiça.
A desigualdade, que evidenciando o reino de uma lei de ferro do capitalismo, a
lei do desenvolvimento desigual, está bem patente no País mais
desigual da Europa. Aquele em que a distância entre ricos e pobres
é maior. No País que pelos critérios comunitários
tem 2 milhões de pobres. No País em que a amplitude do leque
salarial é escandalosa, e onde também por isso, mais de um
terço dos pobres são cidadãos que trabalham, são
trabalhadores pobres. A desigualdade presente no território, com
regiões com dinâmicas de sobrepovoamento e
sobreocupação como contraponto ao esvaimento económico e
social de outras, fundamentalmente na faixa interior e particularmente nas
zonas fronteiriças. A desertificação do mundo rural
contraponto de explosivos e abarracados (desregrados) crescimentos urbanos. O
cavar de desigualdades intra regionais, mesmo em áreas consideradas
desenvolvidas.
A insustentabilidade económica, ambiental e social resultante da
transformação da maximização da taxa de lucro e do
volume dos lucros, no quadro dos cânones do neoliberalismo e do
império da finança em critério supremo de guia e
aferição das políticas. Da consequente anarquia imposta
à localização e afectação de recursos
humanos e dos investimentos.
A insustentabilidade económica decorrente de um mercado abandonado
à voracidade e predação dos grandes grupos monopolistas,
à insaciabilidade do capital financeiro. A insustentabilidade
económica e ambiental de uma politica energética amarrada aos
combustíveis fósseis e de uma politica de transportes centrada na
rodovia e no privado. A insustentabilidade de quem olha os solos como simples
bem mercantil, sob o império da vontade do grande proprietário,
susceptíveis de toda a especulação imobiliária ou
responde aos desequilíbrios e agressões ambientais transformando
os bens ambientais em mercadoria sujeita à lei da oferta e da procura,
como a da regulação das emissões de CO2. A
insustentabilidade de um desordenamento do território, da
degradação das bacias hidrográficas e orlas costeiras.
A insustentabilidade social decorrente de elevado níveis de pobreza,
desemprego, precariedade, potenciadores da exclusão social e graves
fenómenos de marginalidade. Mas fundamentalmente porque os baixos
rendimentos se transformam em efectivas barreiras a uma necessária
progressão social, capaz de vencer as baixas
qualificações, o trabalho infantil, o abandono e o insucesso
escolares. A insustentabilidade social de algumas comunidades de zonas raianas
a ultrapassarem os limiares da possível recuperação
demográfica.
A injustiça social de políticas que remuneram e premeiam a
especulação financeira e bolsista, os proprietários de
grossos cabedais imobiliários e sobretudo imobiliários e
penalizam, ano após ano, os que trabalham ou trabalharam uma vida
inteira. Políticas que penalizam igual e duramente os rendimentos dos
pequenos empresários. Políticas que polarizam em níveis
escandalosos a riqueza produzida pela sociedade nas mãos de alguns
poucos, enquanto falha a estratos numerosos da população com o
rendimento necessário e suficiente para assegurar uma vida digna.
4. OS PRINCIPAIS RESULTADOS DO DEBATE
O debate preparatório permitiu corrigir, desenvolver e consolidar o
projecto de texto-base posto à discussão do colectivo
partidário. Gostaria de destacar, pelo seu particular significado, como
os delegados podem verificar no documento Propostas de Alterações
ao Texto-base: o desenvolvimento do enquadramento internacional da
situação económica nacional, com uma melhor
caracterização da actual ofensiva do imperialismo e o destaque
aos impactos do crescente peso de países como a China, a Índia, o
Brasil, e mesmo a Rússia; a inserção, a par dos
acrescentos à situação da agricultura e das pescas, de um
período sobre a situação actual nos campos do Alentejo e
Ribatejo; o aperfeiçoamento do texto sobre a produtividade; o
acrescentamento de pontos sobre a emigração e a
imigração acrescentamento de um ponto sobre a justiça; a
inserção da tese do combate pelo fim da União
Económica e Monetária (UEM); o acrescentamento de uma
referência, entre outros aspectos, à necessidade de uma profunda
alteração fundiária nos campos do Sul, que concretize, nas
actuais condições, uma reforma agrária, e liquide a
propriedade latifundiária; o acrescentamento de novos pontos com as
propostas para os sectores financeiro, transportes e
comunicações.
5. OS RESPONSÁVEIS PELA SITUAÇÃO
O vasto trabalho preparatório realizado permite confirmar e consolidar a
tese política central de responsabilidade de sucessivos governos do PS,
PSD, com o sem CDS-PP. Da responsabilidade de políticas inteiramente
subordinadas, guiadas, quando não pré-elaboradas, pelo grande
capital, pelos quadros e aparelhos dos grupos económicos.
No campo das batalhas sociais e políticas, e em particular nos combates
acesos das disputas eleitorais, um factor tem desempenhado papel essencial no
condicionamento das opções ideológicas dos
cidadãos, na manipulação e mistificação das
suas escolhas eleitorais, e muito principalmente na ocultação das
responsabilidades políticas pelos problemas e estrangulamentos da
sociedade portuguesa. Trata-se da memória, ou melhor, da sua
ausência, da amnésia que pesa sobre as causas e os causadores
dessas situações. O sistemático "esquecimento"
de que a vida política e social de um país não é
feita de factos isolados, de acontecimentos sem um antes e sem um depois. Bem
pelo contrário, é um fluxo de processos económicos,
sociais e políticos que, segmentados, pautados aqui e ali por momentos
de crise, de explosão ou implosão, respondem ao desenvolvimento
de opções, escolhas, políticas, medidas tomadas pelos
decisores políticos e económicos.
Mas percebemos bem a enorme vantagem política de tal visão,
fortemente sustentada, animada e corporizada pelos média.
Anulam-se os responsáveis e a responsabilidade política - os
partidos, os governos, os seus ministros e deputados - anula-se a
inteligibilidade da vida política. E perante, ou após, cada
eleição, surge uma alternância partidária, limpa de
pecado original, como se passada fosse por pia baptismal, destinada a lavar e
absolver as responsabilidades passadas, já pronta a salvar a
pátria novamente. Sempre com a preciosa colaboração e
cumplicidade dos principais órgãos mediáticos. Não
chegavam todos os minutos desta intervenção para descrever ou,
pelo menos, explicitar alguns dos exemplos mais vivos dessa perda de
memória e da sua patente utilidade, em especial para os partidos do
bloco central.
Não será, contudo despiciendo lembrar alguns dos elementos
centrais das políticas de restauração do capital
monopolista através do seu principal instrumento, as
privatizações, como destinadas a recompor o mercado e a
desenvolver a concorrência. Hoje temos, em sectores e áreas
cruciais da vida económica, uma forte monopolização e
consecutivos e sérios atropelos à concorrência. Como
tardiamente o reconheceram, e à sua custa, a generalidade dos pequenos
empresários portugueses, na banca e nos seguros, no comércio, na
energia, nas comunicações, nas celuloses, nos transportes.
Lembrar as consequências de uma adesão à
integração comunitária/CEE, em 1986, e o sucessivo apoio
aos saltos qualitativos que se foram verificando sem, pelo menos, salvaguardar
mecanismos e meios susceptíveis de reduzir os impactos negativos do que
seria sempre uma aterragem forçada e acidentada da economia nacional.
Lembrar as responsabilidades de quem abandonou também, na
condução da política económica e desenvolvimento
social, qualquer resquício de planeamento, apesar de constitucionalmente
consagrado. Abandono que não é "esquecimento" mas
deliberada política de substituição do comando do Estado
pela anarquia do desenvolvimento capitalista e das orientações
pelo mercado com desarticulação de políticas sectoriais, o
fim de qualquer perspectiva coerente e consistente de fileira produtiva, da
ocorrência de sub e sobreinvestimento, da anulação do longo
prazo, de abandono de qualquer racionalidade na localização das
infra-estruturas e projectos ao serviço do ordenamento do
território e proximidade das populações.
Na campanha pela amnésia política tudo tem valido para
desresponsabilizar os únicos responsáveis políticos e
económicos. Mas, como é do senso comum que as consequências
têm causas, e que não há efeitos sem causas, para lá
dos esforços para a falta de memória colectiva, ou do decretar
puro e simples da impossibilidade em conhecer ou esclarecer as causas e
explicações - um dia destes um editorialista de um importante
jornal diário decretou que "não havia
explicação racional para o aprofundamento do fosso entre os mais
ricos e os mais pobres" - tornou-se também um discurso recorrente o
descobrir e apontar bodes expiatórios.
Muitos têm sido os bodes expiatórios em Portugal. Desde os
"clássicos", que atribuem os problemas do País a
idiossincrasias do nosso povo, às suas particulares
características psicológicas, marcadas ao que parece, por um
espírito negativista e pela resignação e fatalidade do
destino, pela falta de confiança e autoconfiança, até ao
ressurgir da tese da pobreza "natural" do País.
Mas os bodes expiatórios por excelência para sucessivos governos,
suas maiorias e seus partidos, são os trabalhadores portugueses e, muito
acentuada e explicitamente, nos últimos anos, os trabalhadores do
Estado. Os trabalhadores portugueses são, para essa gente, claramente os
responsáveis pelos baixos níveis de produtividade das empresas
portuguesas. Os responsáveis pela baixa competitividade da
produção nacional. Têm uma tendência doentia para a
doença, a preguiça, a fraude. Uma obsessão por
urgências hospitalares. Não se responsabilizam pelo acompanhamento
escolar dos seus filhos. Ou então essa tendência, talvez inscrita
nos genes, para se endividarem, não por serem baixos os salários,
mas porque gostam de ter dívidas, não sabem consumir nem fazer
orçamentos familiares!
Os trabalhadores da Função Pública são os
responsáveis, sobretudo para este governo, por todos os males acumulados
no funcionamento do Estado ao longo destes anos. E, sem pudor e com evidente
arrogância, os problemas da morosidade da justiça têm origem
nas férias exageradas dos juízes. Os problemas no Serviço
Nacional de Saúde, no despesismo, indisciplina e falta de produtividade
dos médicos, enfermeiros e outro pessoal de saúde. Os
responsáveis pelo estado a que chegou a educação e o
ensino no País são, naturalmente, logicamente, os professores.
Então não são eles que estão nas escolas a
ensinar??? E também, consequentemente, são os trabalhadores da
Administração Central e Local os responsáveis pela
burocracia e por todos os "maus encontros" que os portugueses
têm com a Administração Pública ao longo da vida.
E há uma coisa que esses governos e as suas maiorias parlamentares se
esquecem de perguntar quando olham para o espelho: que fizemos nós de
mais de 50 mil milhões de euros de fundos comunitários e mais de
33 mil milhões de euros de receitas de privatizações nos
últimos 20 anos???
6. ÚNICAS OPÇÕES? ÚNICO CAMINHO?
Quando não encontram, ou não lhes convém encontrar, bodes
expiatórios, outras justificações,
argumentações e explicações são elaboradas e
propagandeadas para justificar o injustificável: as suas
políticas e as suas desastrosas consequências.
A tese da opção única, do caminho único, como em
geral tem sido as justificações para as decisões sobre o
processo de integração comunitária. A tese de que tem de
ser porque o País não tem alternativa diferente. A
opção, em geral, não é apenas única como
inadiável, inevitável e inelutável. Mesmo quando é
evidente que outros países da União Europeia tomaram outras
opções. Por exemplo, não aderiram à UEM e ao euro.
A tese da culpa da globalização capitalista, impondo os processos
de privatização, liberalização,
desregulamentação, a que não poderiam ou poderão
furtar-se os Estados, face aos constrangimentos e possíveis
represálias económicas decorrentes de outras
opções. Uma explicação recorrente para
desresponsabilizar as deslocalizações esquecendo que nenhum
Estado pode abdicar da sua soberania na condução das suas
políticas, sob pena de se negar como Estado. E que o exercício de
soberania não significa assumir posições autárcicas
ou negar a objectividade dos processos de integração
planetária das economias.
A tese dos condicionamentos, imperativos dos mercados financeiros e das suas
consequências inevitáveis no social. É a tese de que
"a política deve ser orientada em função da realidade
supranacional, da concorrência global e de que as expectativas dos
mercados financeiros internacionais são uma expressão dessa
realidade". Ou seja, como diz o ministro por excelência do bloco
central "o exercício da soberania deixou de ser um produto da
vontade política e da coragem colectiva para passar a ser um produto do
rigor, da gestão sustentada de uma estratégia". Isto
é, o eleitorado escolhe quem ocupa o poder, os mercados financeiros
ditam o que faz o poder. É a tese da "unicidade
estratégica", que explica e justifica que todos os governos, da
direita à social-democracia, estão determinados e obrigados
à mesma política económica e social. À que é
ditada pelos mercados financeiros.
Estas teses das únicas opções / do único caminho
para as economias de cada Estado nacional e para o mundo, são tão
categoricamente assumidas que qualquer ensaio, tentativa, exemplo de outras
opções e outro caminho, que as ponham substantivamente em causa,
desencadeiam a histeria de articulistas e comentadores ao serviço da
ideologia dominante. Tudo o que ponha em causa o pensamento único, ou
não existe ou é um absurdo histórico levado a cabo por
dirigentes autoritários, candidatos a ditadores e ditaduras.
O caso da Revolução Bolivariana e do Presidente Hugo Chavez
é um exemplo paradigmático. Porque o "pensamento
único" privatiza e ele nacionaliza. Porque o "pensamento
único" liquida as explorações agrícolas
familiares e ele distribui terra aos camponeses pobres. Porque Chavez promove o
acesso da generalidade do seu povo aos serviços de saúde e
educação e o "pensamento único" propõe a
sua mercantlização. Porque Chavez redistribui o rendimento
nacional e o "pensamento único" realiza a
polarização da riqueza nas mãos de alguns poucos. Porque
Chavez propõe uma cooperação centrada em vantagens
mútuas de Estados soberanos e iguais em direitos, e o "pensamento
único" propõe a união assimétrica, em que uns
mandam e outros obedecem, agravando desigualdades e provocando drásticas
reduções de soberania. Hugo Chavez é um ditador, e a
Venezuela caminha para a ditadura, apesar do seu lugar de presidente, das suas
propostas institucionais, das suas opções políticas terem
vindo a ser esmagadoramente sufragadas pela maioria do Povo da Venezuela. Mas
como não deixam votar ... os mercados financeiros ...
Há, de facto, outras opções e outro caminho.
7. AS RUPTURAS NECESSÁRIAS
A tese do caminho único e das únicas opções
é também a base onde radica a identidade genética e
estrutural das políticas do PS e PSD ao longo dos últimos anos. A
já referida unicidade estratégica. Semelhança de
gémeos univitelinos, porque nasceram do mesmo ovo, resultante da
fecundação da ideologia neoliberal, consubstanciada no Consenso
de Washington pelos interesses do grande capital. Semelhança de
gémeos, que procuram vestir-se de cor diferente e berrante na
oposição para eleitor ver. Semelhança pelo que fazem no
governo, pelo que encenam, nos seus arroubos oposicionistas. Semelhanças
que agradam aos mandantes, de Washington a Bruxelas, que não os
distinguem porque não são distinguíveis.
Semelhanças, identidade genética e estrutural, que concentramos
em 10 eixos centrais, em torno dos quais se articula de forma persistente e
consistente a política de direita levada a cabo nas últimas
três dezenas de anos.
De onde dez rupturas são essenciais, e cujo tempo é o da
urgência, para abrir as portas a uma política económica e
social alternativa, ao serviço do povo e do País.
Ruptura com as opções pelos interesses do grande capital
favorecendo a acumulação capitalista na
consolidação dos grandes grupos monopolistas, os tais que na
avaliação de um primeiro-ministro do PS, seriam "os
elementos racionalizadores das transformações económicas
do País, da modernização e de um novo modelo de
especialização".
Ruptura com uma integração comunitária em que prevalecem
os interesses estratégicos das grande potências e do grande
capital europeu nas instituições, na economia, nas
relações externas e de defesa, bem explícitas no
recentemente aprovado Tratado dito reformador, que querem ratificar nas costas
dos povos, inclusive do Povo Português.
Ruptura com a reconfiguração neoliberal do Estado, que encolhe em
tudo o que é serviço público aos portugueses e conquistas
de Abril, e incha em tudo o que é transferência de fundos,
património, mercados, poderes públicos, para o capital privado.
Ruptura com a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores,
marca indisfarçável da política de classe, que não
só socava o futuro do País, como agride os criadores de riqueza,
e tenta despojá-los da integralidade da sua dimensão humana de
produtores e cidadãos.
Ruptura com a mutilação e subversão das políticas
sociais, transformadas em novos espaços de acumulação
capitalista, abertos pelo recuo da presença dos serviços
públicos, pondo o mercado a regular o acesso à
educação, à saúde ou à
redistribuição pela Segurança Social.
Ruptura com a atribuição ao capital estrangeiro do papel que
deveria caber em primeiro lugar ao Estado Português e complementar ao
capital privado nacional, delapidando-se patrimónios naturais e
ambientais e fundos públicos no apoio ao capital beduíno e, no
presente momento, na estranha "sustentabilidade" do emprego dessas
empresas, à custa de novos e vultuosas benesses fiscais e financeiras.
Ruptura com a super valorização das exportações,
quando a economia nacional é absorvida a 80% pelo mercado interno.
Ruptura com políticas que atingem a soberania nacional, nos instrumentos
soberanos do Estado Português, na ocupação do
território ou no exercício de inalienáveis direitos sobre
o mar português.
Ruptura com a subversão da Constituição da
República. O País encontra-se no triste estado que sabemos,
não por causa da Constituição mas porque ao longo destes
mais de 30 anos pós Abril, PS e PSD, por omissão e
acção, violaram importantes princípios constitucionais.
É urgente a ruptura, porque é urgente uma nova política
para Portugal e os Portugueses.
24/Novembro/2007
[*]
Da Comissão Política do PCP. Intervenção de
abertura da Conferência Nacional do PCP sobre Questões
Económicas e Sociais.
O original encontra-se em
http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=30781&Itemid=381
Este documento encontra-se em
http://resistir.info/
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