Mercado mundial e "globalização" capitalista
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"A guerra é um massacre entre gente que não se conhece, em
proveito de gente que se conhece mas que não se massacra".
Paul Valéry
"Quem controla a alimentação controla as
populações, quem controla a moeda controla o mundo".
Henry Kinssinger
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O Mercado Global
No recente documento "Estratégia de Segurança Nacional dos
EUA", assinado por Donald Trump e elaborado por diversos serviços
da Administração, designadamente militares, é sublinhado
que o objectivo central é "colocar a América em primeiro
lugar para que seja segura, próspera e livre e para isso é
necessário ter força e vontade para exercer a liderança
dos EUA no mundo".
Segundo o documento, a "China procura tomar o lugar dos EUA na
região do Pacífico..." e a "Rússia procura
recuperar o seu estatuto de grande potência e estabelecer esferas de
influência junto às suas fronteiras. Pretende enfraquecer a
influência dos EUA no mundo e afastar-nos dos nossos aliados e
parceiros". Por isso, "vamos competir
com todos os instrumentos
do nosso poder nacional, para garantir que as regiões do mundo
não sejam dominadas por uma só potência".
Ou seja, como já alguém disse, garantir que todos estejam
dominados pelos EUA.
Entre "todos os instrumentos" a que o documento se refere
estão, obviamente, os serviços secretos, a CIA, e o sector
militar.
Uma vez mais e sempre, a dominação dos mercados!
Marx, mostra-nos como o "dinheiro é transformado em capital, como
por meio do capital se faz mais-valia e da mais valia se faz capital".
Historicamente é referido que com a revolução industrial e
a produção de uma massa sempre crescente de mais valia, a
pilhagem directa dos países coloniais deixou de ser a fonte principal de
enriquecimento das classes dominantes no "Ocidente", sem desaparecer
totalmente.
À acumulação do capital europeu à pilhagem, sucedeu
o comércio com efeitos tanto ou mais devastadores do que as guerras de
conquista. O entrelaçamento entre as duas formas de
exploração, a forma violenta, por via da exploração
directa e a forma "pacífica" pela via das trocas desiguais, do
financiamento, das dívidas, da dominação, manteve-se,
embora com particularidades e especificidades, até aos nossos dias.
Na realidade a conquista do mercado pela indústria capitalista
não se concretizou apenas por meios puramente económicos. A
pressão diplomática, as chantagens e a força militar
tiveram aqui um papel importante, se não, decisivo. São por
exemplo, as condições de desigualdade económica,
financeira e política e os tratados leoninos impostos pela
Grã-Bretanha, à Índia e à China, que lhe permitem
no tempo da sua hegemonia, conquistar o mercado mundial.
Uma vez essa conquista realizada, a proclamação do dogma
universal do livre-cambismo é imposto de novo às vítimas
de ontem, tendo-se tornado no instrumento essencial dos países
dominantes na altura (Grã-Bretanha, França...) para destruir a
indústria nascente nos países asiáticos e para travar por
longo tempo a sua industrialização. Os países dominantes
sempre impuseram o livre-cambismo ou o proteccionismo em função
do interesse das classes dominantes.
Sem procurar paralelismos históricos refira-se que o Tratado de Methuen
teve os mesmos efeitos e traduziu-se numa fonte de dependência de
Portugal relativamente à Inglaterra, "embora tenha reforçado
a Casa de Bragança e os interesses fundiários, ou seja, a
aristocracia e a Igreja". A industrialização iniciada com o
conde de Ericeira, ruiu. "O elevado défice crónico, criado
por este tipo de divisão internacional de trabalho, na Balança de
Pagamentos de Portugal, levou ao facto de o ouro brasileiro (1700- 1760) passar
a ser escoado de Portugal, na sua quase totalidade, em direcção a
Inglaterra, onde, dadas as diferentes condições contribuiu para a
industrialização daquele país, muito mais que em Portugal,
cujas manufaturas tinham sido sacrificadas aos interesses ligados à
produção de vinho. O défice permanente da balança
de pagamentos com a Inglaterra, equilibrada pelo ouro brasileiro do XVIII e por
empréstimos estrangeiros no séc.XIX, contradiz a teoria dos
custos comparativos... Os efeitos negativos "deste género de
divisão internacional de trabalho na economia portuguesa negam
também a afirmação de Smith, que o Tratado de Methuen era
"evidentemente vantajoso para Portugal e contradizem o princípio de
Ricardo que o comércio internacional, baseado na doutrina da vantagem
comparativa, era benéfica para todas as partes".
As relações de dominação, as conquistas de mercados
e matérias primas, aparecem sempre disfarçadas e teorizadas como
mutuamente vantajosas até aos nossos dias, até à moeda
única, em que Portugal se situa cada vez mais como um país
comandado de fora, dominado, colonizado.
O aumento da composição orgânica do capital e a
tendência para a queda da taxa média de lucro colocam a
questão da dominação, da conquista dos mercados e das
matérias primas, isto é, a questão do domínio do
mercado mundial no centro e epicentro da política imperialista.
As guerras imperialistas na superação temporária das
contradições e dos conflitos de concorrência, e na
modificação das zonas de influência, aparecem como uma das
principais vias pela qual a concentração e
centralização internacional de capitais se concretiza. Foi assim
na I e II guerras mundiais e foi assim mais recentemente, nas invasões
do Iraque e é assim na Síria. "A burguesia não pode
existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de
produção, portanto as relações sociais todas".
(
) "A necessidade de um mercado em constante expansão para os
seus produtos persegue a burguesia por todo o globo, Tem de se fixar em toda a
parte, estabelecer-se em toda a parte, criar ligações em toda a
parte. A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, deu
uma forma cosmopolita à produção e ao consumo de todos os
países "
Em 1916, Lenine retoma a teoria da acumulação de Marx e lega-nos
"
O imperialismo fase superior do capitalismo
" em que, depois de uma profunda e sistemática análise do
mercado mundial
nas condições do capitalismo no início do séc. XX,
define o conceito de imperialismo e os seus cinco traços distintivos
entre eles, o da exportação de capitais.
A revolução de Outubro de 1917, a vitória da
revolução chinesa, a expansão dos países que
seguiam a via não capitalista, os acontecimentos na Coreia, Vietname e a
revolução Cubana, retiraram ao mercado capitalista um
terço do mundo, no qual as mercadorias e capitais do mundo capitalista
deixaram de exercer o seu domínio.
As derrotas do socialismo deram-lhe um novo alento, teorizando alguns, que se
tratava de um triunfo definitivo e total, abrindo as portas à
realização do capital e à superação das suas
contradições antagónicas e às suas crises!
As forças anti-imperialistas ficaram substancialmente enfraquecidas, a
desistência, as divisões, a desorientação campearam
mas a luta continuou e continua, e as crises, as contradições do
capitalismo aí estão condenando milhões e milhões
de seres humanos à miséria, a retrocessos sociais e
civilizacionais em contraste com os avanços científicos e
técnicos.
O mercado e o sistema reprodutivo do capital
O sistema reprodutivo do capital globalmente era caracterizado por Marx da
seguinte maneira:
"A tendência para criar o mercado mundial existe imediatamente na
noção de capital. Qualquer limite lhe aparece como um
obstáculo a vencer. Começará por submeter cada elemento da
produção de valores de uso imediato que não entram na
troca [
] O capital sente qualquer limite como um entrave, supera-o
idealmente, mas não na realidade: como cada um desses limites
está em oposição com sua determinação, a sua
produção entra em contradições constantemente
superadas, mas igualmente criadas de novo. Mas mais do que isso. A
universalidade para a qual tende incansavelmente encontra limites na sua
própria natureza que, a certo nível da sua
evolução, revelam que ele próprio é o principal
entrave a essa tendência e o empurram portanto, para a sua
abolição."
A sua abolição é uma imperiosa necessidade de toda a
humanidade e "continua inscrita como uma possibilidade real e como a mais
sólida perspectiva de evolução da humanidade", tendo
em conta as experiências históricas, as derrotas, os fracassos e
os factos negativos verificados, mas também os aspectos positivos das
experiências da construção do socialismo.
As crises do sistema capitalista sucedem-se. Perante a repetição
das crises em prazos relativamente mais curtos do que anteriormente, mesmo os
apologetas do capital vão afirmando que a próxima se vai
verificar inevitavelmente, só não se sabendo quando,
acrescentando que estas crises fazem parte da evolução da
economia, suprimindo nas suas afirmações a
qualificação de que economia se trata, isto é da economia
capitalista!
Procura-se assim desvalorizar os "terramotos" sociais, financeiros e
económicos das crises, dando-lhe um ar de naturalidade e banalidade,
trazendo até para a macroeconomia as fantasias da
"destruição criativa de Schumpeter e o seu empresário
inovador, ocultando que as "crises cíclicas" se estão a
produzir no quadro do "imperialismo" e de uma crise estrutural, com
uma cada vez maior financeirização das economias, facilitada pela
grande conquista do capital, "a livre circulação de
capitais", assente numa montanha de dívidas sem precedente a
começar pela dos EUA, a maior depois da II Guerra Mundial . Ocultam
também os efeitos muito mais devastadores no plano social, financeiro e
económico de uma nova crise. Seria apenas, segundo estes, um novo
"colapso financeiro, hoje mais facilmente superável" como se
houvesse uma separação entre a chamada "economia real e a
economia financeira".
A Banca comercial cria moeda, bem público e cria, pelo crédito
momentaneamente poder de compra. O pior é quando os devedores já
não conseguem solver as suas dívidas e isto atinge a
expressão de massas. Um bem público como a moeda não pode
estar nas mãos dos caprichos e das decisões e interesses pessoais
de banqueiros.
As crises não são fenómenos exógenos do capitalismo
que aparecem e reaparecem por uma espécie de maldição
satânica. São inerentes ao sistema.
Proclama se que as crises são imprevisíveis e que sendo
fenómenos imprevisíveis não têm responsáveis.
Mas a sua amplitude, intensidade e grau de devastação social,
designadamente nas crises com acento tónico no sistema financeiro,
não estão desligadas da desregulação dos mercados,
da chamada "banca sombra", da especulação com a
"titularização criativa", da passividade ou
conivência dos "reguladores", das políticas defendidas
pelos governos e partidos que são uma extensão política
dos interesses da Banca e do capital financeiro.
As chamadas políticas não acomodatícias, ou
políticas não convencionais, injecção de liquidez
por parte dos diversos Bancos Centrais tendo por objectivo estimular a
economia, tornar mais suportáveis as dívidas públicas,
permitindo até a sua redução pelos pagamentos antecipados
e substituição por outras em melhores condições,
proporcionou também que o sistema bancário aumentasse
substancialmente o crédito dirigido às actividades produtivas mas
sobretudo às de natureza especulativa.
Desde a crise 2007/2008, o crédito tem aumentado muito mais que o PIB.
Os defensores do sistema estão no dilema: aparentemente é
necessário aumentar o crédito num ritmo superior ao do PIB para
que as economias cresçam,mas isso leva ao sobre endividamento, depois
à crise, depois à recessão, Este é o dilema e o
esquema mental em que estão encerrados.
A recente "volatilidade das Bolsas" como dizem, talvez não
indique ainda a hora da hecatombe, da onda do pânico geral, mas é
um sinal claro de que a montanha da dívida pode desabar mais cedo do que
se esperava.
A sobre acumulação e a consequente sobre-produção
tem cada vez mais dificuldades de saída nos mercados cuja
expansão pelo crédito encontram os seus limites.
O famoso e falso teorema de Helmut Schimidt, de que "os lucros de hoje
são os investimentos de amanhã e os empregos depois de
amanhã", tem servido para as classes dominantes fazerem aceitar os
"super lucros" e a sua não taxação, mas como os
multimilionários entesouram ou colocam uma boa parte dos seus meios na
especulação financeira, os mercados nacionais e o mercado mundial
não se alargam com a sua "crescente riqueza"! Apesar de mil
vezes negada, sobretudo por aqueles que nunca a entenderam, a lei tendencial da
diminuição da taxa de lucro continua a manifestar-se!
Por que é que a teoria económica dos dominantes e a vulgata dos
seus comentadores de serviço, continua, ainda hoje, incapaz de ver
chegar a catástrofe, continuando a defender que "é na
ausência de qualquer intervenção do Estado que os mercados
financeiros melhor funcionam"?
Por que razão é que a visão macroeconómica que
ditou a não intervenção do Estado, e elaborou modelos
matemáticos complexos, denominados modelos de equilíbrio geral
"Dynamic, Stochastic Equilibrium D.S.G.E -" e os modelos dos
"ciclos reais" chegando estes a ser os instrumentos de
previsão de universidades e de instituições
internacionais? O FMI no seu relatório de 2006, sobre a Estabilidade
Financeira Global afirmava que os bancos estavam mais resilientes a qualquer
choque externo e descreveu em detalhe como a inovação financeira
tinha estabilizado o sistema financeiro global!
A OCDE previu em 2007, que 2008 seria um ano excecional, uns meses depois
"rebentou" a crise.
A razão está em que estas instituições estão
ao serviço do Imperialismo e com a financerização das
economias estas teorias, na sua aparente cientificidade, dissimulam a
exploração, a "troca desigual" e são as que
melhor servem o capital, a acumulação e os rentistas, aqueles que
"enriquecem dormindo" na expressão de Mitterrand, para o
efeito dificilmente qualificável de tendenciosa.
"A lenda do pecado original teológico, conta-nos como o homem foi
condenado a comer o seu pão com o suor do seu rosto; a história
do pecado original económico, porém revela-nos como é que
há pessoas que não precisam de o fazer! " (Marx)
Com a monumental dívida privada, o excesso de crédito e os
brutais desequilíbrios entre países, a crise está no
horizonte, resta saber se os economistas do sistema ainda terão
capacidade para a atenuar.
Mas a "finança", o "grande capital" e todos os que
beneficiam com esta "ordem" das coisas não vêem os
perigos que se perfilam no horizonte?
Alguns vêem o perigo com lucidez crítica, mas por um lado os
decisores pensam que este é o caminho, que em caso de crise estão
melhor preparados, que esta será passageira ou que, no caso de
hecatombe, dos "grandes senhores do dinheiro" só muito poucos
serão os que ficarão pelo caminho e servirão de exemplo
até para a difusão da falsa ideia de que a crise atinge todos.
Depois sabem que uma crise fará o "saneamento do mercado"
intensificando a concentração, a centralização de
capitais e pensam que a grande factura será paga pelos trabalhadores,
pelos que ocupam os lugares de baixo da pirâmide, através da
intervenção dos seus governos e dos seus partidos
políticos, como aconteceu com as anteriores crises. Nestas alturas a
intervenção do Estado já é bem-vinda e teorizada:
os grandes bancos, são grandes demais para falirem e os grandes
especuladores e banqueiros grandes demais para irem para a cadeia. Qualquer
excepção só servirá naturalmente, para confirmar a
regra.
Mas podem vir a enganar-se nos seus cálculos. A criatura pode não
vir a ser controlada pelos seus criadores!
Procura-se sempre ocultar "o aprofundamento da contradição
entre o carácter social da produção e o carácter
individual da apropriação", a
sobre-acumulação, a sobre-produção em que o
sub-consumo das massas é uma condição necessária a
todas as formas da sociedade que repousam na exploração e que
só na forma capitalista leva às crises.
A sobre-acumulação, a sobre-produção e a
correspondente fraca procura solvável das massas trabalhadoras agudizam
contradições que a expansão do crédito
"fácil" não as supera, dando uma falsa roupagem de
prosperidade com o capital fictício a ultrapassar todos os limites e a
"banca sombra" a ultrapassar todas as ditas regulações!
"A economia de casino" planetária em que vivemos com a
desenfreada especulação e acentuação das
desigualdades mostra a "ilusão" dos que chegaram a afirmar que
o capitalismo regulado, "o capitalismo dos reguladores", era o
caminho. O caminho que no nosso País é exemplarmente verificado
na banca, na energia, na PT, nos CTT... A economia de casino, em que vivemos,
com efeitos cada vez mais globais pela livre circulação de
capitais no mercado global mostra-nos a premência da reconquista da
soberania dos Estados e da soberania monetária.
O Estado continua a ser a expressão e o garante do domínio dos
monopólios, socializando prejuízos, privatizando lucros, drenando
recursos públicos para a banca e o sector privado, através dos
benefícios fiscais, das parcerias público privadas, das rendas,
das compras e adjudicações, e é o garante da
internacionalização e da deslocalização das grandes
empresas. Encontrando dificuldades em valorizar as quantidades colossais de
capitais que acumularam, os monopolistas procuram por todas as formas
"mercados de substituição" para assegurarem a sua
expansão. A ausência de novos mercados, a ausência de novos
campos de investimentos rendíveis para os capitais disponíveis
encontra no "mercado de substituição dos armamentos"
uma grande saída, tendo o Estado como principal cliente, estreitando
ainda mais a sua simbiose com os monopólios. Os complexos militares
industriais nas principais potências capitalistas, a indústria do
armamento, da aeronáutica, da electrónica, da
comunicação, dos satélites, é cada vez mais
importante.
O papel crescentemente desempenhado por tais "Complexos" permitindo
sobretudo a "colocação do capital" da
secção I, torna-se também um factor subsidiário nas
guerras imperialistas, como paliativo para a crise, a realização
de super lucros e a conquista de mercados, com os ciclos económicos a
sincronizarem-se com o ciclo das guerras.
Esta é uma questão que passa ao lado dos críticos
democrata-liberais do capitalismo, de académicos que querem salvar o
capitalismo, "Salvar o Capitalismo dos capitalistas" seguindo a
utopia da "grande moderação": uma
inflação fraca e estável combinada com uma estabilidade
macroeconómica. Mas passa ao lado também do radicalismo
pequeno-burguês, que concentra as suas análises nos aspectos
técnico-económicos do movimento do capital negando ou esquecendo
a sua natureza socioeconómica, a análise dos aspectos
históricos e sociais da acumulação e da essência
interna desse processo, revelando a incapacidade de unir na teoria os seus elos
dialeticamente interligados na vida real. Ao mesmo tempo citam Marx para
colorir as suas posições de "esquerda" e alguns
até se denominam de " Marxistas erráticos ". A crise
2007/2009, a mais profunda dos últimos decénios mostrou com
clareza o subjetivismo e o anti- historicismo da Economia Política
académica capitalista, forçou os bancos centrais a entrarem na
fuga para a frente das taxas de juro próximas do zero que prosseguem
há mais de seis anos e a injectarem liquidez nos bancos como nunca se
viu. A corrida aos armamentos não está desligada da crise
estrutural do capitalismo, nem das tendências autocráticas, o
ascenso da extrema direita e as teorias que visam pôr a democracia entre
parêntesis, com o mercado a sobrepor-se ao "Estado
democrático"
"O aspecto distintivo da teoria marxista do capital consiste em que este
não é estudado como coisa, dinheiro ou tempo, mas, acima de tudo,
como valor, como expressão concentrada da média de trabalho
abstracto socialmente necessário. Ao mesmo tempo, o capital distingue-se
em princípio do valor. Encarna a relação social,
típica e específica do capitalismo, que determina precisamente a
capacidade de auto-acrescentamento do capital".
No quadro do mercado mundial temos hoje uma "moeda mundial",
inconvertível que alguns denominam de dólar/dólar, mas que
com mais propriedade se diria dólar/petróleo.
A forma contemporânea é a de uma moeda -o dólar- assente na
crença dos indivíduos, empresas e Estados, que os EUA, a FED,
garantirão a sua convertibilidade em mercadorias. O dólar, como
moeda mundial tornou-se ainda mais claramente um instrumento do poder do Estado
e do seu domínio. A força militar e o dólar são os
dois principais vectores do domínio dos EUA no mercado mundial.
As brutais reacções dos EUA, em relação à
China e à Federação Russa e a todos os países, que
de uma ou outra forma põem em causa o dólar, são a
demonstração clara das colossais vantagens que esta moeda confere
aos EUA e de como estes a consideram vital.
O dinheiro, como representante da riqueza universal aparece para as diversas
identidades na dinâmica mercantil, como tendo valor em si independente da
relação de valor. "O dinheiro, por isso, é o
Deus
entre as mercadorias " Marx.
No entanto, continua sem resposta a questão levantada por Larry Summers,
Secretário de Estado do Tesouro, aquando da implosão do Lenhan
Brothers, "por quanto tempo será possível que o maior
devedor mundial continue a ser o país hegemónico"?
A aplicação do marxismo nas condições
históricas de cada época, o seu aprofundamento e desenvolvimento
criativo à luz dos novos fenómenos, experiências e
processos, é uma missão que se apresenta perante cada nova
geração dos seus seguidores e naturalmente aos partidos
comunistas, na sua intervenção e na sua luta
revolucionária.
Continuar com os passos de Lenine que, guiando-se pela dialética
marxista e pelas teses básicas de Marx, nos legou a sua análise
da nova fase do desenvolvimento capitalista mostrando que a
acumulação de capital a partir da produção da mais
valia também opera no imperialismo salientando as peculiaridades do
movimento de capital e que nas "
Novas Observações sobre a teoria da Realização
" de Marx, explícita, que esta nos fornece uma arma essencial,
não somente contra a apologética, mas também, contra a
crítica pequeno burguesa do capitalismo.
A obra de Marx está naturalmente marcada pelo seu tempo
histórico, mas o corpo principal da sua doutrina, o método da
análise e as "ferramentas" que nos legou, retomadas por Lenine
e outros marxistas, continuam a ser a mais poderosa arma para o conhecimento da
realidade, a sua transformação e para a emancipação
humana, objectivo que deu e continua a dar sentido à sua vida, à
sua obra e à nossa luta.
[*]
Intervenção na conferência "II Centenário do
nascimento de Karl Marx Legado, intervenção, luta.
Transformar o mundo", Lisboa, 24/Fevereiro/2018
O original encontra-se em
www.pcp.pt/mercado-mundial-globalizacao-capitalista
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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