por Carlos Carvalhas
Há um golpe em curso.
Como no Brasil não se trata de um golpe militar, mas um golpe de
pantufas, lento, burocrático, hipócrita.
A opinião pública vem há muito a ser preparada e
intoxicada para o aceitar, designadamente através dos meios de
comunicação oficiais com destaque para a RTP.
O país está em estagnação desde que o Euro entrou
em circulação. Com o governo PSD /CDS a economia afundou-se, o
PIB teve uma queda histórica, bem como o investimento público e
privado.
Aumentou dramaticamente o desemprego, a emigração e a
dívida pública e nem saímos da situação de
défice excessivo.
Se se continuasse com a mesma política a situação era hoje
bem pior, pois nem sequer teríamos o estímulo do consumo interno
no quadro do abrandamento da economia europeia e da forte quebra de importantes
mercados das nossas exportações. A que há que juntar as
situações apodrecidas do BANIF, Caixa e Novo Banco vindas do
governo anterior e os inaceitáveis constrangimentos do défice a
limitarem fortemente o aproveitamento dos fundos europeus e portanto o
investimento público.
Isto é conhecido.
No entanto continua-se a carregar nas tintas pretas, como se o peso da
situação não viesse de trás.
As grandes acusações feitas a este governo , embora nem sempre
explicitadas são: a reposição dos vencimentos dos
trabalhadores da função publica, modesta, as 35 horas, a
diminuição do IVA na Restauração. "O exacto
oposto do que deveriam fazer" dizem os agentes da Troika,
opinião sempre amplificada por certa comunicação social e
pelos bitates dos Schaubles e Dijsselbloens. Só que a opinião
destes últimos e as ameaças de sanções da
Comissão já tiveram efeito negativo nas taxas de juros sobre a
dívida pública portuguesa, factura que lhes devia ser endossada.
Pintado o quadro de negro e não se dando saída para o
investimento público, o golpe está em marcha e uma das suas
etapas decisivas já está marcada para 21 de Outubro.
O executante na sombra será o BCE seguindo as orientações
mais ou menos explícitas, dos Schaubles e dos Dijsseelbloens e contando
com as habituais posições à Pilatos dos Holandes, Renzis e
companhia.
Antes disso teremos mais uma intensa campanha de preparação da
opinião pública que terá o seu auge a 15 de Outubro, com
Bruxelas a pressionar e a chantagear com as propostas do Orçamento de
2017 e com as medidas ditas exepcionais em alternativa às
sanções e a direita a falar na "teimosia do governo".
Depois da preparação da opinião pública o quadro
político será analisado e o BCE ponderará pois
terão sempre que medir as consequências de uma nova crise na UE
crise em Portugal, Espanha, Itália com referendo prometido
perto das eleições alemãs e francesas. Se o clima for
favorável o BCE será tentado a sugerir à sua correia de
transmissão a agência de rating canadiana DBRS a
baixar numa primeira fase as perspectivas da dívida portuguesa de
estável para negativa com as consequentes aumentos de juros ou mesmo a
baixar o rating permitindo o corte de financiamento do BCE. O golpe final de
baixar o rating pode ser decidido mais tarde, mas tudo isto feito debaixo da
aparência de neutralidade técnica e com a direita em pose pesarosa
a justificar a decisão da agência de rating.
Na realidade tratar-se-á de uma decisão puramente política
visando punir os maus exemplos.
Pode ser que as circunstancias da altura não aconselhem o desencadear do
golpe, mas que ele está ensejado, está!
Como afirmou recentemente Stiglitz enquanto Portugal se mantiver no Euro
estará sempre sujeito a este tipo de golpes e chantagens e nós
acrescentamos: e pressionado a compensar as perdas de competitividade devido ao
Euro pela redução dos salários e pensões e com
taxas de crescimento ao nível da estagnação.
Saberá o PS tirar as conclusões que se impõem.
11/Setembro/2016
Continua a preparação do golpe
Continua a preparação, manipulação da
opinião pública para o golpe de uma forma aparentemente
displicente e casual.
Pouco tempo depois do actual governo tomar posse e sem qualquer
justificação plausível o ministro das Finanças
alemão afirmou que Portugal caminhava para um segundo resgate.
Confrontado com a enormidade o ministro alemão veio de forma pouco clara
negar o que disse. Na altura o alcance de tal afirmação,
atabalhoadamente desdita, passou despercebida parecendo mais uma caturrice de
tal personagem. No entanto o que hoje se percebe é que naquela
precipitação foi revelada a idealização do golpe.
Claro que os direitinhas dirão que isto é teoria da
conspiração!
Mais recentemente tivemos o episódio da entrevista de Centeno denunciada
no sítio "Truques da Imprensa portuguesa":
O truque: A CNBC colocou no título uma frase supostamente
atribuída a Mário Centeno: "We'll do all we can to avoid a
second bailout". Uma frase que, observando a entrevista, o ministro nunca
disse. Ao trazer a informação para o contexto nacional, o
Negócios
foi prudente. Percebendo que havia, no mínimo, um lapso, atribuiu a
informação à CNBC logo no título. Não
foi Centeno que disse, foi a CNBC que disse que Centeno disse. Já
os jornais que o sucederam na pesca ignoraram a complexidade da questão
e como quem conta um conto acrescenta um ponto, aí vai: "Centeno
diz estar a fazer tudo para evitar um novo resgate." Do mito se fez facto.
Lendo a entrevista percebe-se que, ao dizer que "é a sua principal
tarefa", Centeno referia-se à "estabilização da
economia" e não ao segundo resgate, como, aliás, mais
à frente fica totalmente esclarecido.
O tema "resgate" por esta e por aquela forma "mantêm se em
actualidade" para que os ouvidos se vão habituando.
Ontem o
Público,
certamente também por mera casualidade, entrevistou o ministro das
Finanças grego que na altura negociou o "resgate", em que este
lembra que o BCE tem a chave do Reino pois dele depende a liquidez da banca e a
Alemanha a palavra decisiva.
Também ontem Maria Luis Albuquerque em tom de sonsa foi entrevistada,
por acaso, no
Negócios
tendo à pergunta sobre um eventual resgate respondido com um angelical:
Eu não colocaria a questão dessa forma, mas acrescentando que o
governo ainda está a tempo de mudar de rumo...
Hoje no
Expresso Curto
o tema regressa:
"O resgate. Qual resgate?
Bom dia, "O stress pós-traumático é uma
perturbação por ansiedade causada por eventos muito stressantes,
assustadores ou perturbadores".
A definição de stress pós-traumático do
Serviço Nacional de Saúde britânico serve, na
perfeição, de preâmbulo para um dos temas que marcou o dia
de ontem.
Num país que viveu três resgates do FMI, que pouco cresce e onde a
dívida pública está acima de 130% do PIB, é normal
que o resgate seja um papão terrível.
E ontem foi um fantasma que pairou sobre Maria Luís Albuquerque (a
ex-ministra das Finanças) e Mário Centeno (o atual
responsável da pasta). Justiça lhes seja feita, a 'culpa' foi
dos jornalistas que decidiram puxar o assunto. Vale pena ouvi-los em discurso
direto (e em vídeo) no
Negócios
e na
CNBC
.
O que surpreende, no entanto, é a forma diferente como Maria Luís
Albuquerque e Mário Centeno lidam com o 'trauma'.
Enquanto Maria Luis diz, preto no branco, que "não colocaria a
questão nesses termos", Centeno admite que evitar um novo resgate
é a sua "principal tarefa". O que, para quem pretende afastar
esse cenário, não parece uma estratégia muito adequada.
Afinal, há risco ou não de um novo resgate? De quê? De um
resgate. Ah, o resgate. Qual resgate?
Para se juntar à festa, a
ARC Ratings a antiga Companhia Portuguesa de Rating
manteve ontem Portugal um degrau acima de 'lixo'
e reviu a perspetiva para negativa. A agência não tem o peso dos
gigantes que marcam o ritmo dos mercados internacionais mas não deixa de
ser um sinal.
Sexta-feira fala uma das grandes a Standard & Poor´s que tem
Portugal em 'lixo' com perspetiva estável".
Como é evidente a campanha está em curso para que o golpe a ser
dado pela DBRS sob a orientação do BCE, a meados de Outubro
apareça como a reacção natural, anódina e
lógica dos mercados.
E a verificar-se, os que estão na programação do golpe
ficarão na sombra e os comentadores de direita em hipocrisia solene
dirão que foram repetidamente avisando, no puro estilo do Conselheiro
Acácio.
Maria Luís Albuquerque, Cristas e Passos dirão com voz pesada e
semblante carregado: depois de tantos esforços os portugueses não
mereciam isto...
13/Setembro/2016
O original encontra-se em
foicebook.blogspot.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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