Notas acerca de uma década perdida
1-
Fixando-nos nestes 10 anos que hoje já muitos apelidam de uma
década perdida o que podemos ver é o ciclo de governos do Bloco
Central no essencial com as mesmas políticas, as mesmas desculpas e o
endereçar das respectivas facturas das privatizações, do
domínio do capital estrangeiro, da desindustrialização, da
adesão ao Euro e da adesão com cotação do escudo
elevada, aos mesmos de sempre.
2-
Guterres pediu sacrifícios aos portugueses prometendo dias melhores para
um futuro próximo, em nome da necessidade da adesão ao Euro e da
necessidade de se cumprir o "Pacto de Estabilidade e Crescimento".
Acabou no "pântano". Seguiu-se-lhe Durão Barroso com o
discurso da "tanga", mais sacrifícios pedidos, acabou na
doçura do Conselho Europeu. Seguiu-se-lhe o parêntesis de Santana
Lopes e depois Sócrates que com a ajuda do Banco de Portugal se serviu
outra vez do défice orçamental, para continuar a política
de privatizações, de austeridade para com os trabalhadores e de
generosos apoios ao grande capital, designadamente ao capital financeiro. Foram
mais dez anos de política de concentração de riqueza nas
mãos de meia dúzia de famílias e sempre com a lenga lenga
do "menos Estado", isto é, menos Estado para os trabalhadores
e camadas médias e mais Estado para os grandes senhores do dinheiro.
Na verdade nestes dez anos o que nos dizem os resultados de uma política
que no quadro do Pensamento Único sempre nos foi vendida como a
única possível, como a que melhor servia Portugal e os
portugueses!
Em 1987, o PIB per capita em paridade do poder de compra era no nosso
país
de 76,1 tomando a UE a 27 como 100. Em 2008, o PIB per capita é inferior
ao de 1987. Ficou-se em 75,3. Mas isto é apenas uma média.
Vejamos então a distribuição desta média, ou seja a
distribuição Rendimento Nacional.
Em 1953 esta distribuição era de 55% para o capital e 45% para o
trabalho. Entre 1974 e 1976 a distribuição foi a seguinte: 59,5
para o trabalho e 40,5% para o capital. Em 2005 segundo os últimos
números disponibilizados, a distribuição foi de 59,4% para
o capital e de 40,6% para o trabalho. Isto é, inverteu-se a
situação verificada com o 25 de Abril. Estes dados valem por mil
palavras. Se paralelamente olharmos para os lucros dos principais grupos
financeiros (CGD, BCP, Santander Totta, BES, BPI) verificamos que o total de
lucros acumulados entre 2005 e 2008, ultrapassou os 1 545 milhões de
euros! No primeiro semestre do ano passado o total de lucros destes Bancos
atingiu os 988 milhões de euros! E tudo isto no quadro de crise e da
arenga governamental de que todos temos que fazer sacrifícios!
Por sua vez a variação do salário real da
Função
Pública entre 2000 e 2009 foi sempre negativa à
excepção de 2009, ano de eleições e ano em que
houve uma previsão errada da evolução da
inflação favorável aos trabalhadores! É a lei do
funil, larga para uns e estreita para outros!
3-
Um outro plano do agravamento da nossa situação tem a ver com a
dívida externa que o PCP há muito tinha alertado.
Hoje já todos falam do peso asfixiante da dívida externa e
não
há economista que se preze que não nos brinde com a respectiva
receita: é necessário aumentarmos as exportações,
é necessário aumentar a produtividade e a competitividade, a
chave dizem, para ultrapassarmos os nossos problemas.
Mas como? Sobre esta questão o que mais se ouve é o
silêncio ou
o recitar dos velhos dogmas do "menos Estado", da necessidade de se
redefinir as funções do Estado que o mesmo é dizer
desresponsabilizar o Estado designadamente das suas funções
sociais, privatizando ainda mais os serviços essenciais (saúde,
ensino) na serôdia lógica neoliberal de que quem quer saúde
e ensino que o pague e cujos resultados todos conhecemos.
Os que nos dizem que temos que aumentar a nossa competitividade, fazem por
esquecer que com as privatizações e a não defesa e
valorização da produção nacional, aumentou o
domínio do capital estrangeiro, se desindustrializou o país e
diminuiu a produção material e que com a submissão ao
Pacto de Estabilidade, tivemos uma política de desincentivo do
crescimento económico. Com a quebra substancial da
produção material, indústria, agricultura, pescas, e a
substituição da produção nacional pela estrangeira
deu-se o inevitável endividamento externo, que alguns pensam que se pode
ultrapassar pela mera poupança interna esquecendo o que nestes
últimos anos, já sai do país em lucros do capital aqui
investido. A diferença entre o PIB e PNB, como já há muito
tínhamos alertado, tem-se vindo por isso a acentuar pelo que já
não é indiferente medir-se o crescimento do país por um ou
por outro indicador. De futuro o crescimento do país terá que ser
avaliado pelo PNB.
A evolução desta década nos indicadores oficiais mais
relevantes evidência com clareza o que estamos a afirmar.
Entre 2005 e 2009 tivemos um crescimento médio do PIB metade do da zona
euro
o que significa que em vez de nos aproximarmos da média nos
afastámos. Se olharmos para a estrutura do PIB verificamos que em 1986 a
indústria contribuía para o PIB com 28,3% e a agricultura e
pescas com 9,9% enquanto às actividades financeiras e
imobiliárias correspondia uns 10,1%. Qual foi a evolução?
Em 2008 a indústria contribuía apenas com 14,9% e a agricultura e
pescas com 2,5%. Paralelamente as actividades financeiras e imobiliárias
subiram para 15,3%.
A financeirização da economia, as privatizações e a
liquidação do aparelho produtivo traduziu-se num défice da
Balança Corrente e de Capital de 9% do PIB em média entre 2005 e
2008! E num endividamento externo líquido em percentagem do PIB que
passou de 10,4% em 1996 para 108,5% em 2009!
Estes números falam por si e são, na sua frieza, a
condenação de uma política e das teorias económicas
que a suportaram.
E a comprometer o presente e o futuro do país temos a
evolução do investimento: segundo as contas nacionais do INE e a
previsão do Banco de Portugal para 2010, nesta última
década a sua evolução foi de menos 2,5% ao ano.
[1]
Uma regressão clara que vamos pagar caro nos próximos anos!
4-
As consequências sociais são também conhecidas
designadamente a evolução do desemprego.
A taxa de desemprego que era de 3,9% em 2000 atingiu os 9,4% em 2009 e
será de 13,1% para 2010, segundo as previsões oficiais.
No plano de emprego constata-se que a população empregada é
agora menor do que no início da década. Resumindo: esta
década foi também em termos de emprego, como não poderia
deixar de ser, uma década perdida já que não houve
criação líquida de emprego e o desemprego duplicou.
Paralelamente na última década o endividamento das
famílias passou de 60% do PIB em 2000, para 96% em 2009, isto é,
um aumento de 50%!
5-
Quem olhar com atenção para os diversos indicadores
económicos desta década, não pode deixar de verificar que
a nossa situação, agravada pela crise capitalista mundial
é certo, não resulta fundamentalmente desta crise, mas das
políticas seguidas e das debilidades estruturais agravadas com a
ofensiva contra as conquistas do 25 de Abril e as políticas neoliberais
e de concentração de riqueza prosseguidas pelos governos do bloco
central.
6-
E agora ainda com a crise às costas e depois de se ter afirmado que as
ajudas do Estado e o investimento público eram fundamentais para criar
emprego e reanimar a economia desde que não agravasse substancialmente a
nossa dívida externa, reapareceram de novo as vozes neoliberais e as
empresas de notação que em coro de tenores afirmam e reafirmam
que é necessário reduzir os défices, criando sérios
problemas à economia portuguesa e às economias mais débeis
da União Europeia.
O ministro das Finanças criticou e bem estas agências de
rating
afirmando que "não podemos estar sujeitos, muitas vezes aquilo que
podem ser interesses de estratégia comercial de agências que
procuram aumentar a sua quota de mercado".
A questão não é bem esta. A independência destas
agências é relativa. A sua dependência mais directa ou
indirecta dos mega Bancos é uma evidência. Estas actuam no
fundamental segundo os interesses daqueles.
A sua credibilidade viu-se nesta crise em que muitos dos papeis avaliados como
de
primeira água, não passavam afinal de "lixo
tóxico" e viu-se também, por exemplo, no caso Madoff.
Porque razão se começou então a falar tanto das
agências de "rating" a começar pelos Moady's e Fitch!
Qual a razão para que de um momento para o outro tenha surgido a
artilharia
pesada da comunicação social orquestrada no sentido de que
"é preciso imperativamente reduzir défices
públicos", tal como na arte da guerra em que a
preparação psicológica da opinião pública
é o prelúdio de uma ofensiva generalizada!
[2]
A verdadeira razão desta campanha não é o velar pelo dogma
da inflação a dita estabilidade de preços, que
não corre o risco de uma qualquer intensificação
exponencial nos próximos tempos. A verdadeira razão está
no facto de os Bancos Centrais terem começado a restringir as
disponibilidades de liquidez ilimitados e a baixo custo que os mega Bancos
aproveitaram, não para servir as economias, mas para jogar na roleta de
casino da especulação, alimentando uma nova "bolha"
financeira.
[3]
A verdadeira razão está nas necessidades em Fundos
próprios resultantes das pressões do Banco de Pagamentos
Internacionais e na crença de que esta procura de dinheiro levará
ao aumento das taxas de juro designadamente nos títulos obrigacionistas.
Como afirmou o
Jornal de Negócios
de 29/01/2010 "os Bancos são pela natureza da sua actividade, as
empresas que mais recorrem ao endividamento". A Banca é o primeiro
veículo que permite ir buscar dinheiro ao exterior, o que leva a que
seja a primeira afectada..." com os custos do financiamento. Em resumo
é para responder às necessidades de financiamento dos Bancos que
os Estados devem travar o seu endividamento seguindo uma lógica
irredutível: é necessário aliviar o mercado obrigacionista
para que os Bancos se possam financiar ao melhor custo em resultado da
diminuição progressiva das medidas de apoio de que têm
beneficiado e que têm alimentando uma "bolha financeira
potencialmente perigosa para o sistema financeiro".
[4]
É uma evidência que a independência das empresas de rating
estão para os mega Bancos, como as Entidades Reguladoras estão
para o governo português.
Não deixa por isso, de ser irónico que umas boas almas tenham
defendido na
Assembleia da República uma "agência de notação
de risco europeia" de forma a "credibilizar" e "criar
regras de transparência" no sector e a inverter o sentido de
desestabilização dos mercados financeiros. Uma agência
intergovernamental poderia ter mais credibilidade, não se pode ter a
ilusão de que uma agência de notação pelo facto de
ser europeia e de poder ter o mais delicodoce código de conduta
actuará de forma independente do capital financeiro e muito menos que
tal agência possa "inverter" o sentido de
"desestabilização dos mercados financeiros"? Esta
é uma descoberta destas "boas almas" para solucionar as crises
capitalistas.
7-
Neste quadro de crise e de atoleiro a que os governos do Bloco Central
conduziram o país, as saídas para alguns vão sempre na
mesma direcção. Diminuir os salários reais. Vivemos acima
das nossas possibilidades, dizem. Mas os que o afirmam não estão
a pensar nos seus salários, nos seus lucros, nas suas mordomias. Vivemos
acima das nossas possibilidades ou abaixo das nossas potencialidades? E quem
é que vive acima das suas possibilidades?
É curioso que perante o aumento das dificuldades se comece a ouvir da
boca dos
mais prosélitos defensores das políticas seguidas, surpreendentes
opiniões, como se nada tivessem dito ou defendido no passado. Alguns
exemplos:
Daniel Bessa, que numa semana antes tinha dito que não há
verdadeira redução de despesa sem a privatização de
serviços incluindo escolas e hospitais veio afirmar agora que Portugal
teria de suspender a sua manutenção do Euro até recuperar;
Luís Filipe Meneses em artigo de opinião disparou contra aquilo
que considera uma "globalização suicida", defendendo
que a Europa deveria exigir novas regras e a inefável Teresa de Sousa no
jornal
Público
de quarta-feira diz-nos com toda a serenidade, como se sempre tivesse
defendido tais opiniões: "o que há de mais indecoroso nesta
história é a forma como as agências da rating regressam
à cena como se nada tivesse acontecido, partindo dos mesmos pressupostos
e decretando, com a mesmíssima imperturbável verdade, as regras
do jogo económico. Mais, fazendo com que os efeitos criados pelas suas
avaliações dêem muito dinheiro a ganhar a alguns e muito
dinheiro a perder a outros que basicamente são os mesmos".
Fantástico! Mas não fica por aqui. Mais adiante afirma: "A
Europa e os Estados Unidos têm de se concentrar sobre as novas regras a
impor ao sistema financeiro, desde o tamanho dos Bancos até à
segurança das suas actividades". E remata: "Mas é
também preciso dar um sinal às pessoas de que a lógica de
"casino" que levou à extrema desigualdade entre os rendimentos
do capital e do trabalho ou a elevação de alguns banqueiros e CEO
à categoria de "masters of the univers", com a respectivas
compensações faraónicas, tem de ser substituído por
uma lógica mais equilibrada e mais racional".
8- A necessidade uma nova política
Os que afirmam que é necessário desde já reduzir o
défice público e que isso passa pela redução da
Despesa Corrente, o que estão a pensar é na
diminuição dos salários reais dos trabalhadores da
Função Pública e nas privatizações das
funções sociais do Estado. Nunca se lembram do corte dos
benefícios fiscais inaceitáveis, ou nas verbas
orçamentadas para a consultoria dos escritórios dos amigos,
correligionários e afilhados, ou nas descomunais derrapagens de
milhões nas obras públicas.
E quando falam de impostos se se trata de aumentos é para os impostos
indirectos e nunca para impostos directos que incidam sobre as mais valias
bolsistas, as transacções financeiras ou as grandes fortunas. Se
se trata de diminuição no que pensam é no imposto sobre
os lucros.
Também nunca se lembram dos offshores: 15 mil milhões de euros,
foi quanto os portugueses investiram em offshores desde 1996. Só em
2009, entre Janeiro e Novembro, esse investimento foi de 2 mil milhões
de euros!
Os responsáveis pela grave situação em que o país se
encontra e todos aqueles que apoiaram as políticas seguidas são
os mesmos que agora se apresentam a apontar soluções. Que
credibilidade têm para com o mesmo ar de sapiência venderem as
mesmas receitas? O país precisa de uma nova política, que
promova, valorize e defenda a produção nacional. Que dê
primazia às actividades produtivas e não às actividades
financeiras e especulativas, que valorize e respeite a força de trabalho.
O aumento das exportações e a diversificação das
nossas relações económicas externas é uma
direcção importante. Mas tão importante como as
exportações é a política de
substituição de importações, isto é, a
produção de bens e serviços que no espaço aberto em
que estamos sejam concorrenciais e ganhem mercado. É por isso que os
apoios que são dados às empresas exportadoras também devem
ser dirigidos para as empresas que produzem para o mercado interno, bens ditos
transaccionáveis. O país necessita também de uma
política fiscal e de "rendimentos e preços" que corrija
as crescentes desigualdades que se têm verificado no nosso país.
E para a definição e execução de uma política
que sirva os interesses nacionais, o país necessita de reforçar o
sector empresarial do Estado e designadamente no sector financeiro.
Como questão pontual quero também deixar expresso que o
país
necessita de uma política de gestão das reservas do ouro com
maior visão, que tenha em conta que o ouro continua a ser uma valor
refúgio, que o mundo não chegou ao fim da história e que o
capitalismo não superou as suas contradições e as suas
crises.
No plano da União Europeia e deixando agora de lado as questões do
Orçamento Comunitário e a sua mínima função
redistributiva, é necessário continuar a desmascarar a
política do Banco Central Europeu e a política neoliberal da
Comissão e do Conselho. A sobrevalorização do euro,
[5]
as deslocalizações e o não cumprimento do
princípio da coesão económica e social continuam a minar
na União Europeia os países de economias mais débeis. E
vendo as pressões que as agências de notação,
Comissão Europeia e grandes potências estão a exercer na
Grécia, Portugal e Espanha a questão que se coloca é para
que serve uma União Económica e Monetária que não
exerce nenhuma prática de solidariedade e coesão. Uma
União Europeia e Monetária que para a abertura dos mercados
internos nos fala na Europa das Regiões, mas quando se trata das
dívidas públicas já o que conta é a Europa das
Nações!!!
Há alguma razão científica para se chegar a 2013 com
défices
inferiores a 3%? Nenhuma, a não ser a ideia de disputar ao dólar
espaço como moeda de pagamentos internacionais. Veja-se as
declarações do ministro das Finanças alemão.
Não há nenhuma razão para a redução dos
défices
ser uma urgência europeia. Respondem-nos, mas os mercados reagem mal! E o
que é isso dos mercados? Será que os mercados não
têm bilhete de identidade? Os mercados, leia-se a banca, o capital
financeiro... Como já alguém disse, o procedimento dos
"mercados financeiros em relação à Grécia,
Portugal e Espanha, faz lembrar a operação George Soros em
relação à libra britânica em 1992.
[6]
Mas esta operação contra Portugal podia ser abortada
imediatamente se
a União Europeia ou o BCE quisessem. É de lembrar que a FED pode
comprar a dívida pública norteamericana e que o Banco Central
Europeu está impedido de o fazer estatutariamente por pressão
fundamentalmente da Alemanha! Mas este impedimento pode alterar-se.
Como escreveu o economista Paul Krugman, Nobel de 2008 "se lermos muito do
que
se tem dito por pessoas respeitáveis, acreditaríamos que os
défices são sempre, e em todo o lado, a principal fonte de
problemas económicos. Mas, sabemos, que isso não é
verdade". Veja-se o caso do Japão e vamos ver qual a sua
evolução este ano.
Neste particular também vale a pena convocar a opinião do
economista
Stiglitz que declarou esta semana na Grécia em 02/02/2010, que a
União Europeia e o BCE deveriam criar um mecanismo de crise para ajudar
os países mais endividados. O BCE empresta regularmente dinheiro aos
Bancos nacionais, a taxas mais baixas do que a dos mercados internacionais mas
a mesma opção não se verifica para os governos e,
sublinhou Stiglitz "se vós estais disponíveis para emprestar
aos Bancos porque não emprestar aos governos?". "A Europa
não tem confiança nos governos que a constituem?". E
acrescentou que essa ajuda poderia vir por intermédio do BEI ou do BCE,
com a emissão de euro-obrigações. Também o Primeiro
Ministro Grego defendeu o lançamento de títulos obrigacionistas
da União Europeia. Um instrumento deste tipo segundo este, permitia a
países como a Grécia e Portugal obter financiamentos a taxas
muito mais baixas e muito mais próximas das grandes potências como
a Alemanha. Esta proposta do Governo grego não mereceu do Governo
português qualquer comentário! Significativo!
A defesa dos interesses nacionais não se concretiza com uma
política de subserviência mas com uma política de firmeza
na UE e com uma política de ruptura com os dogmas neoliberais, com a
política de concentração de riqueza e com as teorias
elevadas à categoria de ciência económica e que não
passam de charlatanices ao serviço das classes dominantes.
Notas
1- Entre 2001 e 2005 o crescimento médio foi de menos 2,2% e entre 2006 e
2010 será de menos 2,8%. Taxa de Variação anual em volume
2- O ministro das Finanças alemão Wolfgang Shaube, defendendo o
combate ao défice afirmou: é de interesse vital que a nossa moeda
mantenha a sua credibilidade e se mantenha como um elemento estabilizador face
aos potenciais desenvolvimentos erráticos nos mercados financeiros
mundiais.
-Jean Claude Juncker
disse: o euro grupo deveria levar à prática uma vigilância
mais ampla no sentido de identificar os problemas prioritários de cada
Estado e emitir assim avisos sobre políticas que ponham em risco o bom
funcionamento da UEM.
-Almúnia
fez uma proposta visando dotar o Eurostat de competências de auditoria a
fim de controlar melhor os Estados. E anteontem com as suas
declarações sobre a Grécia e Portugal acendeu o rastilho
de novas quedas bolsista.
3- Apelo de Trichet em 12/01/2010, em Basileia na reunião dos Bancos
Centrais "Não recomecem como antigamente. Não vos lanceis em
operações de risco, nas actividades especulativas, não
criem novas bolhas!". Nesta reunião Larry Summers Conselheiro
Económico de Barack Obama afirmou: "a retoma está nas
estatísticas, mas a recessão está na vidas das
pessoas"
4- B. P. Jaurion . L. Clark de 28/01/2010
5- A pressão sobre a Grécia, Portugal e a Espanha, para que
combatam os seus défices não está desligado da
fracção mais especulativa do capital financeiro que coloca acima
de tudo a disputa de terreno ao dólar para o euro. Mas o que estes
não contam é com o contágio das Bolsas, com a
reacção da opinião pública, com a luta dos povos e
com o descrédito geral que toda esta política traz à
União Europeia descredibilizando o Euro, desvalorizando-o como aconteceu
nestes últimos dias!
6- É inaceitável que por toda a Europa e não só, os
cidadãos e as economias locais sejam as primeiras vítimas dos
especuladores! Depois de terem assistido ao "assalto do
século" como já alguém lhe chamou com a
transferência de milhões e milhões dos bolsos dos
contribuintes para a Banca, assiste-se agora a novas operações
especulativas contra a Grécia, Portugal e Espanha. Depois da imensa
acumulação de capital fictício temos de novo a
especulação!
[*]
Economista. Intervenção em 06/Fevereiro/2010 no seminário
"Exigência de ruptura", organizado pelo PCP em Lisboa.
Este discurso encontra-se em
http://resistir.info/
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