Centrismo ou linha revolucionária
por Catarina Casanova
[*]
"A dimensão da investida do capital exige um Partido que esteja
à altura não apenas daquilo que já foi, do que é,
mas do que virá a ser. Ou seja, se por um lado os comunistas têm
de defender e reforçar as conquistas de Abril, por outro lado têm
que assumir o seu papel de vanguarda dirigindo as massas na ruptura com o
capitalismo, tendo como objectivo a revolução socialista."
Não é correcto considerar que a linha revolucionária
é um ponto intermédio entre o esquerdismo e o reformismo.
O esquerdismo caracteriza-se pela inconsequência e a
desorganização no uso de formas violentas de luta e
reivindicações desajustadas ao grau de consciência das
massas que, deliberada ou inconscientemente, acaba por dar armas ao capital. O
reformismo arma também o capital, mas na medida em que prende as massas
nas formas legais de luta, jogo esse que os trabalhadores nunca poderão
ganhar: a democracia burguesa
[1]
. Ora, se é princípio leninista
explorar todas as formas de luta, não se rejeitam as formas legais, nem
se abandonam as ilegais.
O que leva um comunista a defender tal ou tal forma de luta? Para isto,
é importante fazer a análise concreta da situação
concreta, entendendo, em cada momento, se estão reunidas as
condições para determinada acção. E ponto
fundamental quando determinada circunstância histórica
exige determinadas formas de luta, compete aos comunistas organizar as massas
de forma a serem capazes de as desenvolver. A rejeição deste
trabalho organizativo para as acções necessárias e
não para as acções possíveis é uma
capitulação.
Um comunista não pode virar as costas ao seu papel histórico de
organizar as massas para todas as formas de luta pois se o fizer, deixa de ser
comunista. O esquerdismo e o reformismo são duas faces da mesma moeda: a
sobrevalorização de determinada frente de luta, seja a
institucional, seja a ilegal. A solução é escolher a forma
adequada em cada conjuntura não é utilizar uma
táctica de meio-termo entre ambas. Isso, em termos marxistas, chama-se
centrismo.
Na actual conjuntura, a decisão sobre o caminho a seguir é uma
tarefa de grande responsabilidade. A dimensão da investida do capital
exige um Partido que esteja à altura não apenas daquilo que
já foi, do que é, mas do que virá a ser. Ou seja, se por
um lado os comunistas têm de defender e reforçar as conquistas de
Abril, por outro lado têm que assumir o seu papel de vanguarda dirigindo
as massas na ruptura com o capitalismo, tendo como objectivo a
revolução socialista. Só assim estarão à
altura dos que tombaram nas prisões fascistas, que foram torturados e
forçados ao exílio.
A opção que os comunistas tomam nunca poderá ser o
centrismo, o reformismo ou o esquerdismo: é a linha
revolucionária na preparação das massas para a tomada do
poder, a destruição do estado burguês e a
construção de um novo estado, o do proletariado utilizando todas
formas de luta que as diferentes conjunturas exigem.
13/Abril/2016
[1] A democracia burguesa é na verdade a ditadura do grande capital onde
uma classe exerce a sua dominação sobre a outra. "No
mais
democrático Estado burguês, as massas oprimidas deparam a cada
passo com a contradição flagrante entre a igualdade formal, que a
"democracia" dos capitalistas proclama, e os milhares de
limitações e subterfúgios reais que fazem dos
proletários escravos assalariados. É precisamente esta
contradição que abre os olhos às massas para a
podridão, a falsidade e a hipocrisia do capitalismo" (Lenine 1918).
É precisamente esta contradição que os comunistas
denunciam a todo o momento perante as massas a fim de as preparar para a
revolução.
[*]
Professora Associada da Universidade de Lisboa
O original encontra-se em
http://www.odiario.info/?p=3982
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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