Colmatando o fosso entre torturadores e vítimas
Novas revelações de que os torturadores dos EUA na 'guerra ao terror'
foram dirigidos pessoalmente pelo secretário da Defesa estado-unidense
por John Pilger
No novo livro de Andrew Cockburn,
Rumsfeld
, a lacuna entre o poder desenfreado
e as suas vítimas distantes é colmatado. Ali se revela que
Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos EUA até o ano passado e
projectista do banho de sangue no Iraque, dirigiu pessoalmente do seu gabinete
no Pentágono a tortura de seres humanos, seus semelhantes, explorando
"fobias individuais, tais como o medo de cães, para induzir
stress" e o uso de "uma toalha molhada e água gotejante para
induzir a percepção equivocada de sufocação".
A prova documentada de Cockburn mostra que outros mafiosos de Bush, tais como
Paul Wolfowitz, agora presidente do Banco Mundial, "já haviam
concordado em que Rumsfeld deveria aprovar tudo excepto as opções
mais severas, tais como a toalha molhada, sem restrição".
Em Washington, perguntei a Ray McGovern, antigo responsável
sénior da CIA, o que ele dizia da observação de Norman
Mailer de que a América havia entrado num estado pré-fascista.
"Espero que ele esteja certo", respondeu, "porque há
outros a dizerem que já estamos num modo fascista. Quando se vê
quem está a controlar os meios de produção aqui, quando se
vê quem controla os jornais e periódicos, e as
estações de TV, a partir das quais a maior parte dos americanos
recebe as suas notícias, e quando se vê como a chamada guerra ao
terror está a ser conduzida, começa-se a entender para onde somos
direccionados
É perfeitamente claro que hoje a ameaça
nuclear deveria ser vista em primeiro lugar e sobretudo como vinda dos Estados
Unidos da
América e da Grã-Bretanha".
McGovern era o autor do resumo diário de inteligência da CIA para
o presidente. Entrevistei-o há mais de três anos, e suas palavras
prescientes são tão fulminantes hoje quanto a
revelação de Cockburn da vida secreta de Rumsfeld é
esclarecedora. Sua descrição do fascismo no interior de uma
sociedade nominalmente livre recorda a advertência de George Orwell de
que o totalitarismo não exige um estado totalitário.
As mentiras que provocaram estes tempos extremamente perigosos são
entendidas e rejeitadas pela maioria da humanidade. Isto foi ilustrado de
forma viva em 15-16 de Fevereiro de 2003 quando uns 30 milhões de
pessoas foram às ruas de cidades de todo o mundo, incluindo a maior
manifestação na história britânica. Foi ilustrada
outra vez há poucos dias na América Latina, a qual George W. Bush
na sua viagem tentou recuperar como "quintal" perdido da
América. "O distinto visitante", notou um comentador em
Caracas, " foi recebido com medo e ódio".
Há muitas conexões na América Latina com o sofrimento no
Médio Oriente. O esmagamento de governos populares e reformistas pelos
EUA e a instalação de regimes de tortura, desde a Guatemala
até o Chile, reflecte-se desde o Irão até o
Afeganistão. Os ataques actuais dos media ao governo de Chávez
na Venezuela, os quais Ray McGovern descreve como sendo "domesticados pelo
seu desejo de servir", são essenciais para recusar o direito dos
pobres a encontrarem outro caminho.
Eleito em Dezembro último com o record esmagador dos votos de três
quartos da população eleitora sua 11ª vitória
eleitoral Hugo Chávez exprime a espécie de genuína
democracia exuberante há muito abandonada na Grã-Bretanha, onde a
classe política apresente ao invés disso as artríticas
piruetas de Tony Blair, um criminoso, e do tesoureiro Gordon Brown, o mestre
pagador de aventuras imperiais combatidas por soldados de 18 anos de idade que,
no seu retorno à casa, estão tal mal tratados que já
não podem sequer mudar o saco da sua colostomia.
Chávez, tendo-se libertado do mortífero FMI da América
Latina, ousa utilizar a riqueza do petróleo da Venezuela para unir os
povos latino-americanos e expulsar um sistema económico estrangeiro que
se autodenomina liberal e é a fonte do sofrimento histórico.
É apoiado por governos e por milhões por toda a América do
Sul dos quais decorre o seu mandato.
Você não saberia isto em ambos os lados do Atlântico a menos
que investigasse cuidadosamente. A propaganda que converte uma democracia viva
e aberta numa ditadura "autoritária" é escrita sobre as
cruzes enferrujadas dos camaradas de Salvador Allende, de quem se dizia o
mesmo. Ela é disseminada pelos fracos amargurados cujo herói
liberal era Blair, até que ele fez uma confusão
embaraçosa, e que agora clamam a respeitabilidade da
"esquerda" a fim de disfarçar seu apoio pelos afins de
Wolfowitz, sua promoção do ridículos "império
islâmico mundial" de Dick Cheney e, acima de tudo, sua paixão
por guerras cujo sangue derramado nunca é o deles.
Rumsfeld: His Rise, Fall, and Catastrophic Legacy
, de Andrew Cockburn, foi publicado nos Estados Unidos pela Scribner.
14/Março/2007
(a encomenda do livro através dos links acima permite que
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O original encontra-se no New Statesman e transcrito em
http://www.uruknet.de/?p=m31379&hd=&size=1&l=e
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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