Bombas de Boston
Detonador para mobilizar o aparelho de segurança dos EUA
Podem mudar o mundo para o pior!
por James Petras
A relação entre os suspeitos bombistas da Maratona de Boston e o
Federal Bureau of Investigation (FBI), a Polícia Estadual de
Massachusetts (MSP) e a Polícia de Boston (BP) é um ponto de
discórdia e de controvérsia.
O FBI, a princípio, afirmava nada saber sobre os suspeitos das bombas
mas depois foi forçado a reconhecer que tinha recebido pelo menos dois
relatórios de informações, um de funcionários
russos e outro da CIA, identificando um dos suspeitos bombistas, Tamerlan
Tsarnaev, como possível ameaça para a segurança
ligado a uma organização terrorista chechena.
O depoimento dos pais de Tsarnaev indica que o FBI se empenhou em seguir,
importunar e interrogar o suspeito antes das bombas. Apesar das directivas
gerais dos Departamentos americanos da Justiça e da Segurança
Nacional, que impõem que a segurança dos EUA persiga
agressivamente 'terroristas islâmicos', o FBI afirma não ter feito
qualquer tentativa para verificar os alertas da segurança russa e da
CIA, especialmente depois de Tamerlan Tsarnaev ter regressado do estado russo
do Daguestão no ano passado onde alegadamente se encontrou seis vezes
com um conhecido terrorista checheno, Gadzhimurad Dolgatov, numa mesquita
fundamentalista salafita.
As versões oficiais do governo e dos principais meios de
comunicação afirmam que o FBI pode ter 'minimizado' o risco de
segurança apresentado por Tsarnaev. Os críticos do Congresso
argumentam que o FBI foi 'negligente' por não seguir as pistas
fornecidas pelos russos e pela CIA. Uma explicação mais
provável é que o FBI estivesse activamente envolvido com Tsarnaev
e tenha encorajado deliberadamente a conspiração com o fim de
daí tirar proveito.
A hipótese mais simples é de que o FBI estava a usar Tsarnaev
como um meio para se infiltrar e assegurar informações sobre
outros possíveis 'terroristas'. Uma hipótese plausível
é de que o gabinete do FBI de Boston tivesse montado uma
operação com os dois irmãos a fim de reforçar as
suas credenciais anti-terroristas e que a 'operação' tenha
fugido ao seu controlo dado Tamarlan ter o seu próprio programa.
A hipótese mais provável é de que o FBI facilitou as
bombas a fim de avivar o destino enfraquecido da 'guerra contra o terrorismo'
impingida a um público americano cansado da guerra e economicamente
deprimido.
O FBI em Boston tem uma longa e conhecida história de trabalhar com
certos líderes do crime organizado e de os proteger, em troca de
informações sobre rivais escolhidos: O exemplo mais conhecido
é a 'parceria' de 20 anos do FBI com um dos assassinos chefes de gang
mais temidos de Boston, James 'Whitey' Bulger, em que o gangster gozava de
protecção e de colaboração em troca das suas
informações sobre uma família criminosa rival e sobre
outros rivais. Em 2012, Bulger acabou por ser condenado por 19
assassínios, na sua maioria praticados sob a 'protecção'
do FBI embora um dos seus parceiros mais chegados afirme que ele
assassinou 40 pessoas durante toda a vida.
As 'Bombas de Boston' serviram como detonador para mobilizar todo o aparelho de
segurança dos EUA; levaram à suspensão das garantias
constitucionais. Foram acompanhadas por uma intensa campanha de meios de
comunicação que glorificaram as operações do estado
policial e pela imposição de uma autêntica lei marcial na
área metropolitana de Boston com mais de 4,5 milhões de
habitantes. A operação militar policial e a campanha dos meios de
comunicação desencadearam o medo e o terror entre o
público. O psicodrama instantâneo produziu a
adoração das massas pelos 'heróicos' polícias:
foram retratados como tendo salvo o público de um número
desconhecido de terroristas armados escondidos nos seus bairros.
A polícia, o FBI e todo o aparelho de segurança foram
'homenageados' em espectáculos públicos, desportos e festas
cívicas, elogiados como 'guardiões' e 'salvadores'. O papel
sórdido do FBI na organização de operações
armadilhadas nem sequer foi referido. As centenas de milhares de milhões
desperdiçadas em fúteis 'guerras contra o terrorismo'
esvaíram-se pelo buraco da memória. A oposição aos
cortes de Washington nos programas sociais foi desviada quase de um dia para o
outro para o apoio a um novo financiamento para a intervenção
militar dos EUA na Síria e na Coreia do Norte, para um maior
reforço de armamento em Israel e para a segurança interna.
As 'Bombas de Boston' coincidiram com a altura em que a Casa Branca
impõe uma nova ronda de medidas estatais da polícia interna e o
lançamento duma série de movimentos militares agressivos na
Ásia, no Médio Oriente e na América latina. O
Pentágono organizou os seus maiores e mais ameaçadores
exercícios militares por ar, por mar e por terra mesmo junto às
fronteiras da Coreia do Norte. A Casa Branca encorajou e fomentou a
posição militar beligerante do Japão contra a China em
relação às disputadas ilhas no Mar da China meridional. O
secretário de Estado Kerry reforçou a ajuda militar aos
terroristas sírios em pelo menos 130 milhões de dólares e
enviou centenas de Forças Especiais para a Jordânia para treinar
os mercenários jihadi contra o governo sírio. A Casa Branca
engendrou acusações de que Damasco utilizou armas químicas
contra os rebeldes, para justificar a intervenção militar directa
dos EUA na Síria. Mais perto de casa, a Casa Branca deu apoio
incondicional à violenta campanha pós-eleitoral da
oposição venezuelana, destinada a provocar uma guerra civil
ao mesmo tempo que se recusou a reconhecer a vitória eleitoral
certificada internacionalmente do Presidente Maduro.
É muito claro que o regime de Obama deseja atrasar o relógio uma
década para recriar o terrível clima político de
2001-2002. Procura fabricar a sensação de uma iminente
ameaça terrorista baseada nas 'Bombas de Boston' a fim de
relançar outra campanha militar global. Em vez do Iraque a
'ameaça' agora é a Síria, o Irão e o Líbano.
Actualmente, a ameaça é a Coreia do Norte amanhã
poderá ser a China. Hoje é a Venezuela a seguir
poderá ser a Argentina, a Bolívia e o Equador
e todo o
edifício da integração regional latino-americana.
As baixas e mortes civis resultantes das 'Bombas de Boston', ligadas ao apoio e
protecção dos EUA aos terroristas chechenos, são um
preço baixo para Washington pagar se resultar na escalada de guerras
globais e numa maior impunidade para o Estado Policial Nacional.
A maior prioridade é relançar uma nova e mais virulenta
versão da construção do império global
militarizado. Os países visados têm um significado global: a
Venezuela e o Irão são gigantescos produtores de petróleo,
a espinha dorsal da OPEP e adversários de Israel. A China é a
segunda maior economia do mundo e o principal rival ao domínio
económico dos EUA. Amedrontar e confundir milhões de americanos
influenciáveis é uma forma de enfraquecer o principal
obstáculo interno para cortes maiores e mais abrangentes aos programas
sociais a fim de financiar as guerras globais.
Na verdade, as "'Bombas de Boston' têm maiores consequências
políticas e económicas; criam as condições para uma
nova ronda de guerras no exterior e mudanças regressivas (e repressivas)
internamente.
30/Abril/2013
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/...
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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