Obama subjuga a Europa: Sanções aprofundam a recessão
A Administração Obama pressionou activamente a Europa para impor
duras sanções à Rússia a fim de defender a violenta
tomada do poder ("mudança de regime") na Ucrânia. A
Inglaterra, França, Alemanha e o resto dos regimes europeus cederam
às exigências de Washington. A Rússia respondeu impondo
sanções recíprocas, especialmente nos bens
agro-alimentares, estabelecendo parcerias comerciais alternativas e aumentando
o comércio com a China, Irão, América Latina e
África.
As políticas de sanções ocorrem numa altura em que as
economias da Europa estão em crise económica profunda,
exacerbando a estagnação a longo prazo e a recessão
crónica. Este documento identifica e analisa a crise e como as
sanções conduzidas pelos EUA estão a fracturar a
União Europeia. Em segundo lugar, analisaremos como as politicas
imperiais militaristas de Washington estão a minar a Europa
economicamente e a desestabilizar o resto de mundo militarmente. Em terceiro,
discutiremos como os líderes europeus são aguilhoados por
Washington, dizendo isto brutalmente, através de um agressivo
"processo de subjugação", para entregarem a sua
soberania económica e como a capitulação perante o
projecto dos EUA na Ucrânia levará ao seu declínio e
decadência a longo prazo. Finalmente, discutiremos as perspectivas a
longo prazo para uma
economia mundial realinhada
em que os conflitos militares podem resultar em mudanças de grande
escala.
Da estagnação à recessão, das sanções
à depressão
Por toda a Europa, sem excepção, a recessão espreita as
economias. Os países dominantes, Alemanha, França e Itália
estão afundados na recessão, severamente exacerbada pelas
sanções contra a Rússia ditadas por Washington. Da
Finlândia, passando pelos Estados Bálticos até à
Europa Central e do Sul, a "recuperação" da Zona Euro
está "kaput"! A "tripla maldição"
do desinvestimento capitalista, das sanções económicas e
das guerras provocou um aprofundamento da crise económica.
Alemanha: Um regime "lambe botas" assusta o sector industrial e o
financeiro
A confiança no mercado financeiro alemão está em colapso
devido ao apoio da chanceler Merkel ás sanções contra a
Rússia e a resposta em reciprocidade do presidente Putin. Várias
centenas de milhares de postos de trabalho na indústria alemã
estão em risco; as importações de petróleo e
gás natural russo estão em perigo; investimentos em grande escala
e a longo prazo, bem como exportações lucrativas, estão em
jogo. Estes receios e incertezas conduziram a um declínio do
investimento e a um sem precedentes crescimento
negativo
de 0,2% na economia alemã no segundo trimestre de 2014. As ondas de
recessão na Alemanha espalham-se através da Europa
afectando sobretudo a Polónia, a República Checa, a Hungria e a
Europa do Sul.
A servil capitulação de Merkel ao comando do presidente dos EUA
para sancionar um dos maiores parceiros comerciais da Alemanha, pode prejudicar
seriamente o seu futuro económico. As exportações
industriais para a Rússia ascendem a 36 mil milhões de euros;
há 20 mil milhões de investimentos e mais de 400 mil
trabalhadores alemães estão empregados em empresas que exportam
para a Rússia... Joe Kaeser, presidente da Siemens, argumentou
explicitamente que "as tensões políticas põem
sérios riscos para o crescimento da Europa neste ano e no
próximo". As vendas em alguns sectores caíram 15% desde
Junho de 2014. A economia alemã já enfrentava a
estagnação mesmo antes do golpe de Kiev... exportadores de
máquinas estão especialmente preocupados acerca da perda do
mercado russo porque outros mercados estão em declínio. Exemplo:
as vendas para o Brasil caíram cerca de 20%.
Além disto, os agricultores alemães sofrerão perdas. As
exportações carne e seus produtos montam a 276
milhões anuais ou 21% das suas exportações para fora da
UE. Os exportadores de lacticínios facturam 160 milhões no
comércio com a Rússia, 14% do total para fora da UE.
Merkel conscientemente sacrificou a indústria, a agricultura e o emprego
ao submeter-se às políticas de Obama
"subjugação dos seus aliados europeus". Por outro lado
as sanções contra a Rússia não têm
praticamente impacto sobre os interesses económicos dos EUA. Só
os europeus sentirão o golpe. O apoio de Merkel ao golpe dos EUA-NATO em
Kiev e o assalto militar em curso contra os democratas anti golpe no Leste da
Ucrânia está a levar a um ressuscitar das políticas de
confronto da Guerra Fria para com a Rússia, constrangem a maioria dos
produtores e exportadores alemães, bem como a população
alemã.
Itália: Crise capitalista e sanções
A Itália é atingida por uma profunda recessão que dura
há meia década e continua em 2014. O PIB caiu 0,2% no segundo
trimestre, ficando ao nível de 2000! As sanções contra a
Rússia custarão à Itália mais de 1 000 M em
exportações perdidas, que vão refletir-se sobretudo no
Norte da Itália, provocando a ira dos conservadores da Liga do Norte. As
grandes empresas de energia com elevados investimentos na Rússia,
enfrentam ainda maiores perdas. Agricultores, da Toscânia à
Sicília, estão a sofrer grandes perdas nas suas
exportações. Por outras palavras, com as sanções a
economia italiana, cronicamente doente, perdeu qualquer hipótese de
recuperação e previsivelmente passará da recessão
para a depressão.
França: Do crescimento zero à recessão
A França entrou num período de perpétua recessão. O
desemprego excede os 11%, o subemprego excede 20%. O PIB paira em níveis
de recessão entre os zero e 0,5%. A austeridade, envolvendo cortes nos
programas sociais em larga escala, isenções e benefícios
nos impostos para o capital, desgastou as despesas de consumo sem aumentar o
investimento. As sanções de Obama contra a Rússia
prejudicarão ainda mais os exportadores franceses, em particular o seu
sector agrícola e os fabricantes de armamento
[NR]
. O híper-militarista-socialista presidente Hollande exacerbou os
problemas da balança de pagamentos enviando o exército e a
força aérea para intervirem em três continentes. Isto levou
a que 82% dos eleitores escolhessem partidos alternativos, impulsionando o
partido nacionalista de direita, a Frente Nacional, para o primeiro lugar.
As traseiras da Europa: Espanha, Grécia e Portugal
Profundamente mergulhados numa depressão que dura há uma
década, com desemprego que anda nos 26% na Espanha e na Grécia e
16% em Portugal, a reciprocidade das sanções da Rússia
relativamente às exportações agrícolas atingem
severamente os seus sectores agroalimentares, levando a que montanhas de
tomates, uvas e outros produtos estejam a apodrecer nos campos. Toneladas de
produtos do Sul da Europa acabarão sob a forma de composto fertilizante.
Dezenas de milhares de agricultores enfrentam os maiores problemas e muitos
serão forçados à falência devido às
imposições de Washington.
Os agricultores espanhóis estão expostos a perder 158 M
pelas sanções contra os seus frutos frescos e nozes, 22% do total
das suas exportações para fora da UE; os agricultores gregos
perderão 107 M, 41% do total das suas exportações
para fora da UE. Os exportadores de carne espanhóis perderão 111
M ou 13% do total das suas exportações para fora da UE.
A UE, pelo seu lado oferece magras compensações esperando
que milhares de agricultores duramente pressionados se submetam às
exigências de Obama. Enquanto a Rússia estabelece mercados
alternativos na América Latina, a UE enviou emissários à
América Latina, pedindo aos governos para rejeitarem os negócios
de milhares de milhões de dólares com a Rússia e
conformarem-se com as sanções dos EUA e UE. Até agora
todos os países latino-americanos rejeitaram a ofensiva de
sedução da UE. O Presidente do Equador, Rafael Correa, ripostou
escarnecendo da UE: "Nós não temos de pedir permissão
a ninguém para exportar para países amigos. Tanto quanto sei a
América Latina não faz parte da UE." O Egipto e a Turquia
estão a preparar-se para substituir os agricultores da UE e dos EUA nas
suas exportações para a Rússia.
Hungria, Bulgária, Polónia, Lituânia, Dinamarca e Holanda
O Presidente da Hungria Viktor Orban está furioso com as
sanções e ameaça romper as fileiras se Budapest se
confrontar com perdas em exportações e a ameaça
energética ao seu país, energeticamente dependente da
Rússia. O Presidente da Bulgária sucumbiu às
pressões de Bruxelas e denunciou um contrato de 40 mil milhões de
dólares para um gasoduto, assinado entre a Rússia e empresas
búlgaras, precipitando uma enorme crise bancária e o colapso do
segundo maior banco Corbank. Os depósitos de milhares de
búlgaros foram congelados ou simplesmente desapareceram. Quando Bruxelas
pressiona os búlgaros, eles deixam falir os seus próprios bancos.
A Finlândia, em tempos o "menino bonito" dos ideólogos
da "Terceira Via", está há muito em depressão. A
economia afundou-se ao longo de quatro anos consecutivos e mesmo os otimistas
do regime estimam que precisará de 10 anos para recuperar-se. O
primeiro-ministro finlandês, Alex Stubs, um ideólogo do
"free-market", é um firme defensor das sanções
contra a Rússia embora estas reduzam drasticamente as
exportações de produtos alimentares (lacticínios, carne,
peixe, etc). Stubbs defende a sua catastrófica capitulação
à tomada de poder da NATO em Kiev proclamando que "os nossos
princípios (sic) não estão à venda, acreditamos nas
instituições internacionais, acreditamos no império da
lei". A Finlândia, sob o seu Presidente, "escravo da lei",
perderá pelo menos 253 M este ano, 68% das suas
exportações para países fora da UE. Por outras palavras,
esta marionete política sacrifica o bem-estar de centenas de milhares de
produtores finlandeses para apoiar o regime imposto pela NATO em Kiev, que
está a enviar unidades de neonazis para matar civis e combatentes da
resistência ucraniana.
As exportações agrícolas da Polónia para a
Rússia colapsaram, levando Varsóvia a pedir a Washington e a
Bruxelas subsídios de emergência e implorar aos exportadores de
maçãs americanos para comerem maçãs polacas. Os
produtores polacos de flores perderão 317 M em vendas, 61% das
suas exportações para países fora da UE. Os exportadores
de carne, perderão 162 M, 20% das suas exportações
para países fora da UE. Os produtores de lacticínios
perderão 142 M, 32% das suas exportações para
países fora da UE.
Os polacos que assumiram a mais reacionária postura
"russofóbica" e estão profundamente implicados na
organização e treino dos gangs neofascistas que derrubaram o
governo eleito da Ucrânia, estão agora a empurrar carros pelas
ruas de Varsóvia com maçãs e salchichas, em vez de
fornecerem as prateleiras dos supermercados da Rússia gemendo
para que os nova-iorquinos renunciem às maçã de outros
Estados e suportem as perdas.
A Lituânia perderá 308 M na exportação de
frutos frescos para a Rússia ou 81% das suas exportações
para países fora da UE, os produtores de lacticínios
perderão 161 M em vendas, 74% das suas exportações
para países fora da UE. A Dinamarca e a Holanda perderão mais de
800M em exportações agrícolas para a Rússia,
agravando a sua recessão.
Conclusão
O sempre persuasivo reacionário de Washington, Presidente Obama,
pressionou os líderes da UE a afundarem ainda mais as suas economias na
recessão, para que ele pudesse lançar uma nova Guerra-fria contra
a Rússia. Os EUA enterram-se em confrontos militares no Iraque,
Ucrânia e Síria. Obama parece ter perdido o controlo sobre os
programas de ajuda militar que estão no caos. Os aliados sionistas de
Netanyahu no Congresso conseguiram fazer o bypass à casa Branca e ao
Departamento de Estado e aprovar embarques adicionais de armas do
Pentágono para Israel, minando qualquer iniciativa da
Administração sobre o genocídio em curso em Gaza.
O Japão juntou-se às sanções contra a Rússia
exacerbando a sua própria crise económica. Em 2014 o Japão
vive a pior contração desde 2009, com uma queda de 7,1% no
segundo trimestre. O crescentemente impopular primeiro-ministro Abe está
comprometido com o rearmamento militar. Vários políticos
japoneses visitam o santuário de Yasukuni, o templo militarista que
honra os criminosos de guerra, despertando as horríveis memórias
das vítimas do imperialismo japonês. Há, de forma
crescente, confrontações com a China sobre alguns rochedos no Sul
do Mar da China. À medida que as manobras militares de Obama na
Ásia aumentam, a economia japonesa afunda-se.
Nenhum país europeu pode beneficiar do apoio ao regime falido de Kiev. A
moeda da Ucrânia está em queda livre classificando-se
abaixo do papel higiénico. As suas maiores indústrias, totalmente
dependentes do comércio com a Rússia, estão em bancarrota
ou foram bombardeadas pelo regime golpista da NATO em Kiev. As
exportações agrícolas estão devastadas. Entretanto,
as famílias ucranianas foram aconselhadas a cortarem madeira ou
escavarem o seu próprio carvão antecipando um inverno totalmente
sem gás russo dado que os oligarcas em Kiev têm sido incapazes de
pagar a monstruosa dívida energética.
Pelo seu firme apoio ao regime de Kiev, em bancarrota, dirigido por um oligarca
bilionário, por apoiar os "princípios" tão
louvados pelo Presidente finlandês, um milhão de agricultores
europeus enterrarão as suas maçãs, irão vazar leite
pelas ruas e esvaziar as suas uvas, laranjas e tomates em pilhas para
apodrecer. É por isto que os seus líderes, Obama, Cameron, Merkel
e Hollande podem apoiar os seus verdadeiros "princípios" de
expansão territorial, extensão de operações
militares para as fronteiras da Rússia e posicionar-se como guerreiros
enquanto destroem a economia produtiva dos seus países levando à
falência agricultores e industriais e mais milhões de
trabalhadores para o desemprego, agravando os custos e angústias da
recessão.
A Ucrânia junta-se à lista de países, Líbia, Egipto,
Síria, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Somália,
Iémen, que Washington e a NATO têm "salvo"
(parafraseando um general americano)
sendo destruídos.
Uma vez mais a construção do império militar conduzido
pelos EUA, ilude o desenvolvimento económico. Guerras destrutivas e
sanções destroem mercados viáveis e empobrecem sectores
inteiros da economia. Impor sanções a países estrangeiros
convida à retaliação o efeito boomerang aniquila a
produção no próprio país. Á medida que o
comércio mundial se afunda, a estagnação torna-se
endémica, as recessões aprofundam-se e a
recuperação permanece uma quimera distante. A imprensa
financeira, o
Wall Street Journal
e o
Financial Times,
que foram megafones pára os senhores da guerra ocidentais, já
não publicam hinos ao mercado livre, mas sim trechos ácidos
clamando por guerra e sanções
que fecham mercados e destroem
a confiança dos investidores.
Encostados à parede por Obama, os lambedores de botas europeus levam as
suas economias à bancarrota, passando a pedir esmola.
A Itália enfrenta a realidade de uma década de
estagnação. A economia de Portugal está arruinada e
arrasta-se. A indústria de máquinas da Alemanha pára. Os
"princípios" da Finlândia sentem os efeitos boomerang. A
Inglaterra está convertida numa cidade-estado de lavagem de dinheiro na
qual um terço das crianças vive na pobreza. A Polónia
consome-se a si própria, embriagando-se com material de guerra e
maçãs podres.
Num mundo submetido à doutrina de Washington da guerra permanente, a
Europa afasta-se da única via que a poderia manter fora de uma crise
permanente: a coexistência pacífica. Os ultra de Washington e os
lambe botas da Europa escolheram as sanções em vez de
comércio e a destruição em vez de prosperidade.
Estão a pagar um preço: instabilidade interna,
deslocação dos mercados para países emergentes e a
ascensão do caos como
"way of life"
na Europa Ocidental.
24/Agosto/2014
[NR] Em 03/Set/12 Hollande sucumbiu às pressões dos EUA/NATO e
suspendeu a entrega do primeiro dos dois navios porta helicópteros Mistral
encomendados em 2011 pela Rússia ao preço de US$1,6 mil
milhões.
Ver também:
European businesses call for no more sanctions
Warning to the World: Washington and its NATO and EU Vassals are Insane
Pauvre, pauvre France!
Mistral Perdant
[*]
Professor aposentado (Emérito) de Sociologia da
Universidade de Binghamton, Nova York, e professor adjunto da Universidade de
Saint Mary, Halifax, Nova Escócia, Canadá.
O original encontra-se em
petras.lahaine.org/?p=1999
. Tradução de DVC.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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