O regime Obama inventou uma "conspiração do terror" em
defesa da polícia de estado
por James Petras
Democracias representativas e ditaduras autocráticas respondem a crises
internas profundas de modos muito diferentes: as primeiras tentam justificar-se
junto aos cidadãos, explicando causas, consequências e
alternativas; as ditaduras tentam aterrorizar, intimidar e distrair o
público acenando com falsas ameaças externas, a fim de perpetuar
e justificar a dominação por métodos de estado policial e
evitar enfrentar as crises auto-infligidas.
Tal falsificação é evidente no presente anúncio do
regime de Obama de uma iminente "ameaça terrorista" global
[1]
diante das múltiplas crises, fracassos políticos e derrotas por
todo o Médio Oriente, África do Norte e Sudoeste da Ásia.
A tagarelice da Internet evoca uma conspiração global e
ressuscita a guerra global ao terror
Toda a ofensiva de propaganda da conspiração do terror,
lançada pelo regime Obama e disseminada pelos mass media, basea-se nas
fontes mais frágeis que se possam imaginar e nos pretextos mais
risíveis. Segundo fontes da Casa Branca, a National Security Agency, a
CIA e outras agências de espionagem afirmaram ter monitorado e
interceptado ameaças não especificadas da Al-Qaeda,
conversações de duas figuras da Al Qaeda incluindo Ayman
al-Zawahiri
[2]
.
Ainda pior: a alegação do regime Obama de uma ameaça
global da Al-Qaeda, obrigando ao encerramento de 19 embaixadas e consulados e
um alerta mundial a viajantes, choca-se claramente com afirmações
públicas reiteradas ao longo dos últimos cinco anos de que
Washington desferiu "golpes mortais" à
organização terrorista que minou a sua capacidade operacional
[3]
com os "êxitos militares" dos EUA no Afeganistão e no
Iraque, o assassinato de Bin Laden, os ataques de drones no Iémen,
Paquistão, Somália e a invasão da Líbia apoiada
pelos EUA. Ou o regime Obama estava a mentir no passado ou o seu presente
alerta de terror é uma invenção. Se, como afirmam Obama e
a NSA, a Al Qaeda reemergiu como uma ameaça terrorista global,
então doze anos de guerra no Afeganistão e onze anos de guerra no
Iraque, o gasto de US$1,46 milhão de milhões, a perde de mais de
sete mil soldados estado-unidenses
[4]
e a mutilação física e psicológica de mais de uma
centena de milhar de combatentes dos EUA foi um desastre total e absoluto e a
assim chamada guerra ao terror é um fracasso.
A alegação de uma ameaça global de terror, baseada na
vigilância da NSA de dois líderes da Al Qaeda com base no
Iémen, é tão frívola quanto implausível.
Todos os dias por todo o ciberespaço um ou outro indivíduo ou
grupo terrorista islâmico discute tramas de terror, fantasias e planos
sem grande consequência.
O regime Obama falhou em explicar porque, dentre milhares de
"conversações" diárias na Internet, esta
particular, neste momento particular, representa uma viável
operação terrorista em curso. Não é preciso um
milhão de espiões para recolher uma tagarelice jihadista acerca
de "atacar Satã".
Durante mais de uma década, operacionais da Al Qaeda no Iémen
têm estado empenhados numa guerra por procuração com
regimes apoiados por Washington e durante o mesmo período de tempo o
regime Obama tem estado empenhado em missões assassínio por
drones e Forças Especiais contra militante iemenitas e figuras da
oposição
[5]
. Por outras palavras, o regime Obama engrandeceu eventos que são
habituais, relacionados com um conflito em andamento conhecido do
público, numa nova ameaça terrorista global tal como revelado
pelos seus espiões mestres devido à sua muita apregoada proeza de
espionagem!
É mais do que óbvio que o regime Obama está empenhado numa
falsificação global concebida para distrair a opinião
pública mundial e, em particular, a maioria dos cidadãos dos EUA,
da espionagem da polícia de estado e das violações de
liberdades constitucionais básicas.
Ao acenar com uma falsa "ameaça terrorista" e a sua
detecção pela NSA, Obama espera relegitimar o seu desacreditado
aparelho de polícia estatal.
Ainda mais importante: ao levantar o espectro de uma ameaça terrorista
global, o regime Obama procura encobrir as sua políticas mais
vergonhosas, os desprezíveis "julgamentos espectáculo"
e as duras condições de aprisionamento de denunciantes do
governo, assim como derrotas e fracassos diplomáticos e militares que
têm abalado o império no presente período.
O cronograma da falsificação da ameaça do terror global
Nos últimos anos o público do EUA cansou-se do custo e da
natureza inconclusiva da "guerra global ao terror" (GWOT, na sigla em
inglês). Inquéritos à opinião pública apoiam
a retirada das tropas de guerras distantes assim como programas sociais
internos ao invés de gastos militares e novas invasões. Mas o
regime Obama, ajudado e em conivência com a configuração de
poder pró Israel, dentro e fora do governo, empenha-se numa busca
constante de políticas de guerra que miram o Irão, Síria,
Líbano e qualquer outro país muçulmano que se oponha a que
Israel apague do mapa a Palestina Árabe. Os "brilhantes"
estrategas e conselheiros pró guerra no regime Obama têm seguido
políticas militares e diplomáticas que levaram a desastres
políticos, monstruosas violações de direitos humanos e o
estripamento de protecções constitucionais garantidas aos
cidadãos dos EUA. A fim de continuar na senda de repetidas
políticas fracassadas, foi erguido um gargantuesco estado policial para
espionar, controlar e reprimir cidadãos dos EUA e de outros
países, tanto aliados como adversários.
A falsificada "ameaça do terror" ocorre num momento e como
resposta ao aprofundamento da crise internacional e do impasse político
enfrentado pelo regime Obama um momento de profundo desencanto entre a
opinião pública interna e externa e de crescente pressão
dos que dão prioridade aos interesses de Israel (
Israel Firsters)
no sentido do avanço da agenda militar.
A pancada mais devastadora para a construção do estado policial
são os documentos tornados públicos pelo contratado da NSA Edward
Snowden, os quais revelaram a vasta rede à escala mundial da espionagem
da NSA com violação das liberdades constitucionais dos EUA e da
soberania de países. As revelações desacreditaram o regime
Obama, provocaram conflitos dentro e entre aliados, e fortaleceram a
posição de adversários e críticos do Império
estado-unidense.
Importantes organizações regionais, como o MERCOSUL na
América Latina, atacaram o "ciber-imperialismo"; os
países da UE questionaram a noção de
"cooperação de inteligência". Mesmo dúzias
de pessoas do Congresso dos EUA apelaram à reforma e a cortes no
financiamento da NSA.
As "ameaças do terror" são sincronizadas por Obama para
neutralizar as revelações de Snowden e justificar a agência
de espionagem e suas vastas operações.
O "julgamento espectáculo" de Bradley Manning, no qual um
soldado é torturado, muitas vezes com nudez forçada, em
confinamento solitário durante quase um ano, aprisionado durante
três anos antes do seu julgamento e publicamente pré-julgado pelo
presidente Obama, por numerosos legisladores e pelos mass media (eliminando
qualquer simulacro de "correcção"), por revelar crimes
de guerra dos EUA contra civis iraquianos e afegãos, provocou protestos
em massa por todo o mundo. A "ameaça do terror" de Obama
é exibida para coincidir com a condenação pré
determinada de Manning nesta farsa judicial desacreditada e para
reforçar o argumento de que a sua revelação de brutais
crimes de guerra dos EUA "serviu o inimigo" (ao invés de
servir o público americano, o qual Manning reiteradamente disse ter o
direito de conhecer as atrocidades cometidas em seu nome). Com o
relançamento da "guerra ao terror" e a
intimidação do público estado-unidense, o regime Obama
está a tentar desacreditar heróicas revelações de
Bradley Manning de crimes de guerra documentados no Iraque e no
Afeganistão centrando-se em nebulosas ameaças de terror da Al
Qaeda na Internet!
Na arena política internacional, Obama sofreu uma série de
repetidas derrotas políticas e diplomáticas com
implicações de extremo alcance para o seu projecto
fanático de construção do império. A invasão
mercenária apoiada por Obama e executada por islamistas da Al Qaeda da
nação soberana da Síria sofreu uma série de
derrotas militares e jihadistas, "combatentes da liberdade" por
procuração, foram denunciados pelos mais prestigiosos grupos de
direitos humanos devido aos seus massacres e limpezas étnicas de
populações civis na Síria (especialmente cristãos,
curdos, alevis e sírios laicos). A "aventura" síria de
Obama saiu pela culatra e está claramente a desencadear uma nova
geração de terroristas islâmicos, armados pelos Estados do
Golfo especialmente a Arábia Saudita e o Qatar, treinados pelos
Serviços Especiais turcos e da NATO e agora disponível para
"missões" terroristas globais contra estados clientes dos EUA,
a Europa e os próprios EUA.
Por sua vez, a derrocada síria tem tido um grande impacto sobre a
Turquia, aliada NATO de Obama, onde protestos em massa estão a desafiar
o apoio militar do primeiro-ministro Erdogan a mercenários islamistas,
que têm bases ao longo da fronteira turca com a Síria. A
repressão selvagem de Erdogan a centenas de milhares de manifestantes
pacíficos, a prisão arbitrária de milhares de activistas
pró democracia e os seus próprios "julgamentos
espectáculo" de centenas de jornalistas, oficiais militares,
estudantes, intelectuais e sindicalistas certamente desacreditaram o principal
aliado "islamista democrático" de Obama e minaram a tentativa
de Washington de ancorar sua dominância a uma aliança triangular
Israel, Turquia e monarquias do Golfo.
Novo descrédito da política externa de Obama de cooptar
"regimes eleitorais" islamistas verificou-se no Egipto e está
pendente na Tunísia. A política pós Mubarak de Obama
procurava um arranjo de "partilha de poder" entre o democraticamente
eleito presidente Morsi da Irmandade Muçulmana, os militares da era
Mubarak e políticos neoliberais, como Mohamed El Baradei. Ao
invés disso, o general Sistani tomou o poder à força
através do exército, derrubando e aprisionando o civil presidente
Morsi. O exército egípcio sob Sistani tem massacrado
pacíficos muçulmanos pró democracia e expurgado o
parlamento, a imprensa e vozes independentes.
Obrigado a escolher entre a ditadura militar constituída pelo homem do
confiança do antigo ditador Mubarak e a Fraternidade Muçulmana
com base de massa, o secretário de Estado John Kerry apoiou a tomada de
poder militar como uma "transição para a democracia"
(recusando-se firmemente a utilizar a expressão "golpe de
estado"). Isto abriu uma porta ampla para um período de
repressão em massa e resistência no Egipto e enfraqueceu
gravemente uma ligação chave no "eixo de
reacção" no Norte de África (Marrocos,
Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto).
A incapacidade de Obama para tratar das novas aberturas de paz do presidente
Rouhani, recentemente eleito no Irão, foi evidente na
capitulação da administração a um voto do Congresso
(420 20) em favor de novas e mais severas sanções
concebidas, segundo os autores AIPAC da lei, para "estrangular a economia
petrolífera iraniana". A oferta do secretário de Estado
Kerry de "negociar" com o Irão, sob sanções
económicas e um bloqueio imposto pelos EUA, foi vista em Teerão,
e pela maior parte dos observadores independente, como um gesto teatral vazio,
de pouca consequência. O fracasso de Obama em restringir o controle total
israelense-sionista sobre a política externa dos EUA em
relação ao Irão e em concluir um acordo assegurando um
Irão livre de armas nucleares, assegura que a região
continuará a ser um barril de pólvora político e militar.
Nomeações por Obama de eminentes fanáticos sionistas para
posições políticos estratégicas em
relação ao Médio Oriente asseguram que os EUA e o regime
Obama não tem opções para o Irão, Palestina,
Síria ou Líbano excepto seguir aquelas ditadas por Tel
Aviv directamente aos seus agentes estado-unidenses, os 52 presidentes das
Major American Jewish Organizations, os quais, juntamente com seus
colaboradores sionistas internos, são co-autores do roteiro
político do Congresso dos EUA e da Casa Branca.
As negociações da paz israelense-palestina do regime Obama
são encaradas pela maior parte dos observadores como os esforços
mais distorcidos e bizarros até à data naquela farsa cruel.
Washington comprou os líderes da "Autoridade" Palestina com
subornos de muitos milhões de dólares e abriu caminho para a
acelerada tomada de terra de Israel na Cisjordânia ocupada e para
construção de colonatos "só para judeus", bem
como a expulsão em massa de 40 mil beduínos dentro do
próprio Israel.
Para assegurar o resultado desejado um fiasco total Obama nomeou
como seu "mediador" um dos mais fanáticos radicais pró
Israel de Washington, o tri-nacional Martin Indyk, conhecido em círculos
diplomáticos como "advogado de Israel" (e o primeiro
embaixador dos EUA a ser despojado de permissão de segurança
(security clearance)
devido ao uso abusivo de documentos).
A ruptura das negociações já está prevista. Obama,
capturado na teia das suas próprias antigas alianças e lealdades
reaccionárias e obcecado com soluções militares,
desenvolveu um talento especial para se empenhar em prolongadas guerras
perdedoras, multiplicar inimigos e alienar aliados.
Conclusão
O resultado de prolongadas guerras impopulares de agressão tem sido a
construção maciça de uma monstruosa polícia interna
de estado, espionando generalizadamente todo o mundo e o cometimento de
chocantes violações da Constituição dos EUA. Isto,
por sua vez, tem levado a "conspirações de terror"
grosseiramente cozinhadas a fim de encobrir os repetidos fracassos de
política externa, assim como difamar e perseguir corajosos denunciantes
e ameaçar outros patriotas americanos decentes.
A recente declaração de mais uma "conspiração
de terror", a qual serviu para justificar as actividades ilegais das
agências de espionagem dos EUA e "unificar o Congresso",
provocou uma histeria que perdurou menos de uma semana. A seguir,
começam a pingar informações mesmo nos obedientes mass
media dos EUA, desacreditando as bases da alegada conspiração
global de terror. Segundo uma reportagem, a muito propagandeada
"conspiração Al Qaeda" verificou-se ser um
esforço falhado para explodir um terminal petrolífero e um
oleoduto no Iémen. Segundo observadores regionais: "Quase toda
semana são atacados oleodutos no Iémen"
[6]
. E assim um ataque jihadista sem êxito contra um oleoduto numa parte
marginal do mais pobre estado árabe transmutou-se no anúncio
ofegante do presidente Obama da dita ameaça terrorista global!
Uma pilhéria ultrajante foi encenada pelo presidente, sua
administração e seus seguidores no Congresso. Mas durante esta
grande "pilhéria" orquestrada, Obama desencadeou uma
dúzia de ataques de drones assassinos contra alvos humanos da sua
própria escolha, matando dúzias de cidadãos iemenitas,
incluindo muitos transeuntes inocentes.
O que é ainda menos jocoso é que Obama, o Mestre do Engano,
simplesmente avança nesse rumo. Suas "reformas" propostas
dizem-se destinadas a restringir actividades da NSA; mas ele insiste em
continuar a "colecta em massa" (centenas de milhões) de
comunicações telefónicas de cidadãos dos EUA (FT
8/12/13 p2). Ele mantém intacto o aparelho de espionagem da
polícia estatal, mantém seus decisores políticos
pró Israel em posições estratégicas, reafirma sua
política de confrontação com o Irão e escala
tensões com a Rússia, China e Venezuela. Obama abraça uma
nova onda de ditaduras militares, a começar, mas não a terminar,
pela do Egipto.
Face ao apoio interno e externo decrescente e ao declínio da
credibilidade das suas grosseiras ameaças de "terror", pode-se
perguntar se o sempre activo aparelho clandestino realmente encenaria na vida
real o seu próprio sangrento acto de terror, um bombardeamento
"false flag"
apoiado por um estado secreto, para convencer um público cada vez mais
desencantado e céptico. Isto seria um acto desesperado para o Estado,
mas estes são tempos desesperados que confrontam uma
administração fracassada, a perseguir guerras perdidas nas quais
os Mestres da Derrota só podem confiar nos Mestres do Engano.
O regime Obama está infestado com a "política tóxica
do terrorismo" e este vício tem-no conduzido a perseguir, torturar
e aprisionar aqueles que buscam a verdade, denunciantes [de crimes] e
verdadeiros patriotas que se esforçam (e continuarão a se
esforçar) por acordar o gigante adormecido, na esperança de que o
povo da América se levante outra vez.
14/Agosto/2013
Notas
[1] BBC News 8/16/13; Al Jazeera 9/16/13
[2]
La Jornada
(Mexico City) 8/16/13, p. 22;
Financial Times
8/10-11/13T he exact threat to US missions has yet to be made
public..
[3]
Financial Times
8/8/13, p. 2 e
Financial Times
8/10-11 2013 p 2; McClatchy Washington Bureau 8/5/13
[4] Information Clearing House Web Page
[5]
Financial Times,
8/8/13, p. 2.
[6]
Financial Times,
8/8/13, p. 2.
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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