A promover o império da América: Golpe, pilhagem e duplicidade
por James Petras
O regime Obama, em coordenação com seus aliados serviçais,
relançou uma virulenta campanha de âmbito mundial para destruir
governos independentes, cercar e finalmente subverter competidores globais, e
estabelecer uma nova ordem mundial centrada nos EUA-UE.
Prosseguiremos com a identificação dos "ciclos"
recentes da construção do império estado-unidense; os
avanços e recuos; os métodos e estratégias; os resultados
e perspectivas. Nosso foco principal é na dinâmica imperial que
conduz os EUA rumo a maiores confrontações militares, até
e incluindo condições que podem levar a uma guerra mundial.
Ciclos imperiais recentes
A construção do império estado-unidense não tem
sido um processo linear. As décadas recentes apresentaram amplas
evidências de experiências contraditórias. Sumariamente
podemos identificar várias fases nas quais a construção do
império experimentou avanços amplos e recuos drásticos
com as devidas cautelas. Estamos a examinar processos globais, nos quais
também há contra-tendências limitadas. Em meio a
avanços imperiais em grande escala, regiões particulares,
países ou movimentos resistiram com êxito ou mesmo reverteram a
investida imperial. Em segundo lugar, a natureza cíclica da
construção do império de modo algum põe em
dúvida o carácter imperial do estado e da economia e seu
implacável impulso para dominar, explorar e acumular. Em terceiro lugar,
os métodos e estratégicas que dirigem cada avanço imperial
diferem de acordo com mudanças nos países alvo.
Ao longo dos últimos trinta anos podemos identificar três fases na
construção do império.
O avanço imperial da década de 1980 a 2000
No período aproximadamente de meados da década de 1980 ao ano
2000, a construção do império expandiu-se a uma escala
global.
(A) Expansão imperial nas antigas regiões comunistas.
Os EUA e a UE penetraram e hegemonizaram a Europa do Leste; desintegraram e
pilharam a Rússia e a URSS; privatizaram e desnacionalizaram centenas de
milhares de milhões de dólares do valor de empresas
públicas, meios de comunicação social e bancos,
incorporaram bases milhares por todas a Europa do Leste na NATO e estabeleceram
regimes satélites como cúmplices voluntários em conquistas
imperiais na África, Médio Oriente e Ásia.
(B) Expansão imperial na América Latina.
A partir do princípio da década de 1980 até o fim do
século, a construção do império avançou por
toda a América Latina sob a fórmula de "mercados livre e
eleições livres".
Desde o México até a Argentina, regime neoliberais, centrados no
império, privatizaram desnacionalizaram mais de 5000 empresas
públicas e bancos, beneficiando multinacionais dos EUA e da UE.
Líderes políticos alinharam-se com os EUA em fóruns
internacionais. Generais latino-americanos responderam favoravelmente a
operações militares centradas nos EUA. Banqueiros
extraíram milhares de milhões em pagamentos de dívida e
lavaram muitos milhares de milhões mais de dinheiro ilícito. O
"North American Free Trade Agreement", com a amplitude do continente
e centrado nos EUA, pareceu avançar de acordo com o programa.
(C) Avanços imperiais na Ásia e na África.
Regimes comunistas e nacionalistas deixaram cair suas políticas de
esquerda e anti-imperialistas e abriram suas sociedades e economias à
penetração capitalista. Em África, dois países
"de esquerda", Angola e a África do Sul pós apartheid
adoptaram "políticas de mercado livre".
Na Ásia, a China e Indochina moveram-se decisivamente em
direcção a estratégias capitalistas de desenvolvimento;
investimento estrangeiro, privatizações e
exploração intensa do trabalho substituíram o
igualitarismo colectivista e o anti-imperialismo. A Índia e outros
estados capitalistas, como Coreia do Sul, Formosa e Japão, liberalizaram
suas economias. Avanços imperiais foram acompanhados por maior
volatilidade económica, um aguçamento da luta de classe e uma
abertura do processo eleitoral para acomodar facções capitalistas
competidoras.
A construção do império expandiu-se sob o slogan de
"livres mercados e eleições justas" mercados
dominados por multinacionais gigantes e eleições, as quais
asseguram os êxitos da elite.
Recuos e reveses imperiais: 2000-2008
Os custos brutais do avanço do império levaram a uma
contra-tendência global, uma onda de levantamentos anti-neoliberais e de
resistência militar a invasões dos EUA. Entre 2000 e 2008 a
construção do império esteve sob sítio e em recuo.
Rússia e China desafiam o império
A construção do império estado-unidense cessou a sua
expansão e conquista em duas regiões estratégicas: a
Rússia e a Ásia. Sob a liderança do presidente Vladimir
Putin, o estado russo foi reconstruído; a pilhagem e
desintegração foram revertidas. A economia foi aparelhada para o
desenvolvimento interno. Os militares foram integrados num sistema de defesa
nacional e segurança. A Rússia mais uma vez tornou-se um grande
actor na política regional e internacional.
A viragem da China rumo ao capitalismo foi acompanhada por uma presença
dinâmica do estado e um papel directo na promoção do
crescimento a dois dígitos durante duas décadas: a China
tornou-se a segunda maior economia do mundo, deslocando os EUA como o grande
parceiro comercial na Ásia e na América Latina. O império
económico dos EUA estava em retirada.
América Latina: o fim do império neoliberal
O neoliberalismo e a integração centrada nos EUA levou à
pilhagem, crises económicas e grandes levantamentos populares,
provocando a ascensão de novos regimes de centro-esquerda e esquerda.
Administrações "pós neoliberais" emergiram na
Bolívia, Venezuela, Equador, Brasil, Argentina, América Central e
Uruguai. Os construtores do império estado-unidense sofreram
várias derrotas estratégicas.
Os esforços dos EUA para assegurar um acordo de livre comércio de
âmbito continental foram deixados de lado e substituídos por
organizações de integração regional que excluem os
EUA e o Canadá. Em substituição, Washington assinou
acordos bilaterais com o México, Colômbia, Chile, Panamá e
Peru.
A América Latina diversificou seus mercados na Ásia e na Europa:
a China substituiu os EUA como seu principal parceiro comercial.
Estratégias de desenvolvimento extractivo e altos preços das
commodities financiaram maior despesa social e independência
política.
Nacionalizações selectivas, regulação estatal
acrescida e renegociações de dívida enfraqueceram a
alavancagem dos EUA sobre as economias latino-americanas. A Venezuela, sob o
presidente Hugo Chavez, desafiou com êxito a hegemonia dos EUA no Caribe
através de organizações regionais. Economias do Caribe
alcançaram maior independência e viabilidade económica
através da adesão à PETROCARIBE, um programa
através do qual recebiam petróleo da Venezuela a preços
subsidiados. Países da América Central e andino aumentaram a sua
segurança e comércio através da organização
regional ALBA. A Venezuela proporcionou um modelo de desenvolvimento
alternativo à abordagem neoliberal centrada nos EUA, na qual os ganhos
da economia extractiva financiaram programas sociais em grande escala.
Desde o fim da administração Clinton até o fim da
administração Bush, o império económico estava em
recuo. O império perdeu mercados asiáticos e latino-americanos
para a China. A América Latina ganhou maior independência
política. O Médio Oriente tornou-se "terreno
contestado". Um estado russo revisto e mais forte opôs-se a novas
intrusões nas suas fronteiras. A resistência militar e derrotas no
Afeganistão, Somália, Iraque e Líbano desafiaram a
dominância estado-unidense.
Ofensiva imperial: Avança o império de Obama
Todo o mandato do regime Obama tem sido dedicado a reverter o recuo da
construção do império. Para este fim Obama desenvolveu
primariamente uma estratégia militar de (1) confrontação e
envolvimento da China e da Rússia, (2) minagem e derrube de governos
independente na América Latina e re-imposição de regimes
clientes neoliberais, e (3) lançamento encoberto e assaltos militares
abertos a regimes independentes por toda a parte.
A ofensiva de construção do império do século XXI
difere daquela da década anterior em vários aspectos cruciais: As
doutrinas económicas neoliberais estão desacreditadas e os
eleitorados não são tão facilmente convencidos dos
benefícios de cair sob a hegemonia dos EUA. Por outras palavras, os
construtores do império não podem confiar na diplomacia, em
eleições e na propaganda do livre mercado para expandir o seu
braço imperial como faziam na década de 1990.
Para reverter o recuo e avançar a construção do
império no século XXI, Washington percebeu que tinha de confiar
na força e na violência. O regime Obama destinou milhares de
milhões de dólares para financiar armas para mercenários,
salários para combatentes de ruas e despesas de clientes empenhados em
desestabilizar campanhas eleitorais adversárias. Duplicidade
diplomática e acordos rompidos substituíram ajustes negociados
numa grande escala.
Ao longo de todo o mandato de Obama nem um único avanço imperial
foi assegurado através de eleições, acordos
diplomáticos ou negociações políticas. A
presidência Obama procurou e assegurou a massificação da
rede de espionagem global (NSA) e os assassinatos quase diários de
adversários políticos através de drones e por outros
meios. Operações encobertas de assassínio das US Special
Forces expandiram-se por todo o mundo. Obama assumiu prerrogativas ditatoriais,
incluindo o poder de ordenar o assassinato arbitrário de cidadãos
dos EUA.
O desdobramento do esforço global do regime Obama para deter o recuo
imperial e relançar a construção do império foi
montada quase exclusivamente sobre instrumentos militares: serviçais
armados, assaltos aéreos, golpes e tomadas de poder putschistas.
Brutamontes, populaça, terroristas islâmicos, militaristas
sionistas e uma mixórdia de retrógrados assassinos separatistas
foram as ferramentas do avanço do império. A escolha de
serviçais imperiais variou conforme o momento e as circunstâncias
políticas.
Confrontando e degradando a China:
Envolvimento militar e exclusão económica
Confrontado com a perda de mercados e os desafios da China como competidor
global, Washington desenvolveu duas importantes linhas de ataque: 1. Uma
estratégia económica destinada a aprofundar a
integração de países asiáticos e latino-americanos
num pacto de livre comércio que exclui a China (o Trans Pacific Trade
Agreement); e 2. Um plano militar concebido pelo Pentágono de Batalha
Ar-Mar, o qual tem a China continental como alvo com um assalto aéreo e
com mísseis em plena escala se a actual estratégia de Washington
de controlar o comércio marítimo vital da China falhar (FT,
10/Fev/14). Apesar de a estratégia de ofensiva militar ainda estar na
mesa de desenho do Pentágono, o regime Obama está a acumular uma
armada marítima a escassas milhas da costa chinesa, a expandir suas
bases militares nas Filipinas, Austrália e Japão e a apertar o
nó em torno das rotas marítimas estratégicas da China para
importações vitais como petróleo, gás e
matérias-primas.
Os EUA estão a promover activamente uma aliança militar
indo-japonesa como parte da sua estratégia de envolvimento da China.
Manobras militares conjuntas, coordenação militar em alto
nível e reuniões entre oficiais militares japoneses e indianos
são encaradas pelo Pentágono como avanços
estratégicos no isolamento da China e reforço do controle dos EUA
sobre rotas marítimas da China para o Médio Oriente, o Sudeste
Asiático e mais além. A Índia, de acordo com um dos seus
principais semanários, é encarada "como um parceiro
júnior dos EUA. A Indian Navy está a tornar-se rapidamente o
chefe de polícia do Oceano Índico e a dependência militar
indiana do complexo militar-industrial dos EUA é crescente..."
(Economic and Political Weekly (Mumbai), 15/Fev/14, p. 9. Os EUA também
estão a escalar o seu apoio a movimentos separatistas violentos na
China, nomeadamente os tibetanos, uighurs e outros islamistas. A reunião
de Obama com o Dalai Lama foi emblemática dos esforços de
Washington para fomentar inquietação interna.
A grosseira intervenção política do embaixador
estado-unidense cessante, Gary Locke, na política interna chinesa
é uma indicação de que a diplomacia não é o
principal instrumento de política do regime Obama quando se trata da
China. O embaixador Locke encontrou-se abertamente com separatistas uighurs e
tibetanos e menosprezou publicamente os êxitos económicos e o
sistema política da China enquanto encorajava abertamente a
oposição política (FT, 28/Fev/14, p. 2).
A tentativa do regime Obama de promover o império na Ásia
através da confrontação militar e de pactos militares, os
quais excluem a China, levou este país a desenvolver sua capacidade
militar para evitar o estrangulamento marítimo. A China responde
à ameaça comercial dos EUA avançando sua capacidade
produtiva, diversificando suas relações comerciais, aumentando
seus laços com a Rússia e aprofundando seu mercado interno.
Até à data, a temerária militarização do
Pacífico pelo regime Obama não levou a uma ruptura aberta nas
relações com a China, mas o caminho militar para avançar o
império a expensas da China ameaça uma catástrofe
económica global ou pior, uma guerra mundial.
Avanço imperial: Isolando, cercando e degradando a Rússia
Com a vinda do presidente Vladimir Putin e a reconstituição do
estado e da economia russa, os EUA perderam um cliente vassalo e uma fonte de
pilhagem de riquezas. Os construtores do império de Washington
continuaram a procurar a "cooperação e
colaboração" russa minando estados independentes, isolando a
China e prosseguindo suas guerras coloniais. O estado russo, sob Putin e
Medvedev, procurou acomodar os construtores de império estado-unidenses
através de acordos negociados, os quais promoveriam a
posição da Rússia na Europa, reconheceriam fronteiras
estratégicas russas e reconheceriam preocupações russas de
segurança. Contudo, a diplomacia russa conseguiu poucos ganhos e
transitórios ao passo que os EUA e a UE obtiveram grandes importantes
ganhos com a cumplicidade e passividade russa.
A agenda não declarada de Washington, especialmente com o impulso de
Obama para relançar uma nova onda de conquistas imperiais, era minar o
ressurgimento da Rússia como um actor importante na política
mundial. A ideia estratégica era isolar a Rússia, enfraquecer sua
crescente presença internacional e retornar ao status de vassalo do
período Yeltsin, se possível.
Desde a tomada da Europa do Leste pelos EUA-UE, dos estados dos Balcãs e
Bálticos e sua transformação em bases militares da NATO e
estado capitalistas vassalos no princípio da década de 1990,
até a penetração e pilhagem da Rússia durante os
anos Yeltsin, o primeiro objectivo da política ocidental tem sido
estabelecer um império unipolar sob dominação
estado-unidense.
A UE e os EUA actuaram para desmembrar a Jugoslávia em mini-estados
subservientes. Eles então bombardearam a Sérvia a fim de tomar o
Kosovo, destruindo um dos poucos países independentes ainda aliados
à Rússia. Os EUA então avançaram a fomentar
levantamentos na Geórgia, Ucrânia e Chechenia. Eles bombardearam,
invadiram e posteriormente ocuparam o Iraque um antigo aliado russo na
região do Golfo.
A estratégia condutora da política estado-unidense era envolver e
reduzir a Rússia ao status de potência fracas, marginal, e minar
os esforços de Vladimir Putin para restaurar a posição da
Rússia como uma potência regional. Em 2008 o regime fantoche de
Washington na Geórgia testou a têmpera do estado russo ao
lançar um assalto à Ossécia do Sul, matando pelo menos 10
russos das forças de manutenção da paz e ferindo centenas
(para não mencionar milhares de civis). O então presidente russo,
Medvedev, respondeu com o envio das forças armadas russas para repelir
tropas georgianas e apoiar a independência da Abcazia e da Ossécia
do Sul.
Os acordos diplomáticos dos EUA com a Rússia têm sido
assimétricos a Rússia devia concordar com a
expansão ocidental em troca de "aceitação
política". A duplicidade vencia a diplomacia aberta. Apesar de
acordos em contrário, bases e instalações de
mísseis dos EUA foram estabelecidas por toda a Europa do Leste,
apontando à Rússia, sob o pretexto de que estavam "realmente
a apontar ao Irão". Mesmo quando a Rússia protestos pela
ruptura de acordos pós Guerra Fria, o império ignorou queixas de
Moscovo e o envolvimento avançou.
Num novo desastre diplomático, a Rússia e a China assinaram no
Conselho de Segurança das Nações Unidas um acordo de
autoria estado-unidense para permitir à NATO efectuar "voos
humanitários" na Líbia. A NATO imediatamente tomou isto como
o "sinal verde" para atacar e converter a
"intervenção humanitária" numa devastadora
campanha de bombardeamento aéreo que levou ao derrube do governo
legítimo da Líbia e à sua destruição como
estado viável e independente na África do Norte. Ao assinar na
ONU o acordo "humanitário", a Rússia e a China perderam
um governo amigo e um parceiro comercial na África! Anteriormente, os
russos haviam permitido aos EUA transportar armas e tropas através a
Federação Russa para apoiar a invasão do estado-unidense
do Afeganistão ... sem nenhum ganho recíproco (excepto talvez uma
ainda maior inundação de heroína afegã).
Diplomatas russos concordaram com sanções económicas da
ONU, contra de autoria de sionistas dos EUA, contra o não existente
programa de armas nucleares do Irão ... minando um aliado
político e um mercado lucrativo. Moscovo acreditou que ao apoiar
sanções dos EUA contra o Irão e conceder rotas de
transporte para o Afeganistão no fim de 2001 receberia algumas
"garantias de segurança" dos americanos em
relação a movimentos separatistas no Cáucaso. O governo
americano "retribuiu" com novo apoio a líderes separatistas
chechenos exilados nos EUA apesar das campanhas de terror em curso contra civis
russos até e mesmo depois da carnificina chechena de centenas de
escolares e professores em Beslan em 2004...
Com os EUA sob Obama a avançarem no seu envolvimento da Rússia na
Eurásia e no seu isolamento na África do Norte e Médio
Oriente, Putin finalmente decidiu traçar uma linha com o apoio ao
único aliado remanescente da Rússia no Médio Oriente, a
Síria. Putin pretendeu assegurar um fim negociado à
invasão mercenária de Damasco apoiada por monarquias pró
ocidentais do Golfo. Com pouco proveito: Os EUA e a UE aumentaram carregamentos
de armas, treinadores militares e financiamentos aos 30 mil mercenários
islâmicos com base na Jordânia quando eles se empenhavam em ataques
transfronteiriços para derrubar o governo sírio.
Washington e Bruxelas continuaram seu impulso imperial rumo ao centro da
Rússia ao organizarem e financiarem uma violenta tomada de poder
(putsch) na Ucrânia ocidental. O regime financiou uma
coligação de combatentes de rua neo-nazis armados e
políticos neoliberais, ao custo considerável de 5 mil
milhões de dólares, para derrubar o regime eleito. Os putschistas
quiseram acabar com a autonomia da Criméia e romper tratados com acordos
militares de longo prazo com a Rússia. Sob enorme pressão do
governo autónomo da Criméia e da vasta maioria da
população e enfrentando a perda crítica das suas
instalações navais e militares no Mar Negro, Putin, finalmente,
vigorosamente deslocou tropas russas num modo defensivo na Criméia.
O regime Obama lançou uma série de movimentos agressivos contra a
Rússia para isolá-la e escorar seu vacilante regime fantoche em
Kiev: sanções económicas e expulsões estavam na
ordem do dia ... a tomada da Ucrânia por Obama assinalou o começo
de uma "nova Guerra Fria". A captura da Ucrânia faz parte da
grande estratégia em curso de Obama de avanço do império.
O sequestro do poder na Ucrânia assinalou o maior desafio
geopolítico para a existência contínua do estado russo.
Obama procura estender e aprofundar a varredura imperial através da
Europa até o Cáucaso: o violento golpe no regime e a subsequente
defesa do regime fantoche em Kiev são elementos chaves na minagem de um
adversário chave a Rússia.
Depois de pretender "parceria" com a Rússia, enquanto talhava
seus aliados nos Balcãs e no Médio Oriente durante as
décadas anteriores, Obama fez o seu movimento mais audacioso e mais
imprudente. Jogando fora todas as desculpas de coexistência
pacífica e acomodação mútua, o regime Obama rompeu
um acordo de poder partilhado com a Rússia sobre a
governação da Ucrânia e apoiou o putsch neo-nazi.
O regime Obama assumiu que tendo assegurado anteriormente a anuência da
Rússia face ao avanço do poder imperial no Afeganistão,
Iraque, Líbia e região do Golfo, os construtores de
império de Washington tomaram a fatídica decisão de testar
a Rússia na sua mais estratégica região
geopolítica, uma região que afecta directamente o povo russo e
seus activos militares mais estratégicos. A Rússia reagiu na
única linguagem entendida em Washington e Bruxelas: com uma importante
mobilização militar. O avanço de Obama com
"tácticas de construção de império via
salame" e duplicidade diplomática está a aproximar-se do fim.
O avanço do império no Médio Oriente e América
Latina
O avanço imperial da década de 1990 chegou ao fim nos meados a
primeira década do novo milénio. Derrotas no Afeganistão,
retirada do Iraque, a morte de regimes fantoches no Egipto e na Tunísia,
perda de eleições na Ucrânia e a derrota e afundamento de
regimes neoliberais pró EUA na América Latina foram exacerbadas
por uma crise económica profunda nos centros imperiais da Europa e da
Wall Street.
Obama tinha poucas opções económicas e políticas
para avançar o império. Mas o seu regime estava determinado a
acabar com o recuo e avançar o império; ele recorreu a
tácticas e estratégias mais parecidas com as do século XIX
colonial e de regimes totalitários do século XX.
Os métodos foram violentos o militarismo foi o eixo a
política. Mas numa época de exaustão imperial interna,
novas tácticas militares substituíram forças invasoras em
grande escala sobre o terreno. Mercenários armados por
procuração ganhara o centro do palco no derrube dos regimes
alvejados pelos EUA. Afinidades políticas e ideológicas foram
subsumidas sob o eufemismo genérico de "rebeldes". Os mass
media alternavam entre pressionar por maior escala militar e endossar o
nível existente de guerra imperial. Todo o espectro político na
Europa e nos EUA comutou para a direita mesmo quando a maioria do
eleitorado rejeitou novos compromissos militares, especialmente guerras no
terreno.
Obama escalou tropas no Afeganistão, lançou uma guerra
aérea que derrubou o presidente Kadafi e transformou a Líbia no
estado arruinado e fracassado. Guerras por procuração tornaram-se
a nova estratégia para o avanço imperial na
construção do império. A Síria foi alvejado
dezenas de milhares de extremistas islâmicos foram recrutados e
financiados por regimes imperiais e monarquias despóticas do Golfo.
Milhões de refugiados fugiram, dezenas de milhares foram mortos.
Na América Latina, Obama apoiou o golpe militar em Honduras derrubando o
governo liberal eleito do presidente Manuel Zelaya, no Paraguai reconheceu um
golpe do Congresso que expulsou o governo eleito de centro-esquerda enquanto se
recusou a reconhecer a vitória eleitoral do presidente Maduro na
Venezuela. Face à vitória de Maduro na Venezuela, Washington
apoiou durante vários meses de violência nas ruas numa tentativa
de desestabilizar o país.
Na Ucrânia, Egipto, Venezuela e Tailândia, "a rua"
substituiu eleições. Os objectivos estratégicos imperiais
de Obama centraram-se na reconquista e pilhagem da Rússia e no seu
retorno ao status de vassalo dos anos Boris Yeltsin, no retorno da
América Latina aos regimes neoliberais da década de 1990 e na
China à docilidade da década de 1980. A estratégia
imperial tem sido "conquistar a partir de dentro" estabelecendo o
cenário para a dominação a partir de fora.
A avançar o império: Israel e o desvio do Médio Oriente
Um dos grandes paradoxos históricos do recuo imperial dos EUA no
século XXI foi o papel desempenhado pela influência de Israel e
sua Quinta Coluna Sionista incorporada dentro da estrutura de poder
político estado-unidense. As guerras de Washington e as
sanções no Médio Oriente foram em grande medida sob as
ordens de influentes "Israel Firsters" na Casa Branca,
Pentágono, Tesouro, Conselho de Segurança Nacional e Congresso.
Foi em grande medida porque os EUA estavam empenhados em guerras no Iraque e no
Afeganistão que Washington "deixou de lado" as crescentes
proezas económicas da China. Ao concentrar-se nas "guerras por
Israel" no Médio Oriente, os EUA não estavam em
posição de desafiar a ascensão do nacionalismo e populismo
na América Latina. As prolongadas "guerras por Israel"
esgotaram a economia dos EUA e o entusiasmo do público americano por
novas guerras terrestres alhures.
Ideólogos sionistas, alcunhados "neoconservadores", foram
instrumentais em moldar a abordagem global militarista para a
construção do império e em marginalizar a sua
construção sob orientação do mercado, favorecida
pelas multinacionais e pelos gigantes da indústria extractiva.
A tentativa de Obama de travar o recuo do império, inspirada pelo
militarismo sionista, não frutificou. Seu esforço para cooptar
sionistas e pressionar Israel a parar de fomentar novas guerras no Médio
Oriente é um fracasso. O seu "eixo na Ásia"
transformou-se numa estratégia cerco militar bruto da China. Suas
aberturas ao Irão foram frustradas pelo bloco de poder sionista no
Congresso pela imposição de termos de negociação
ditados por Israel. Todo o "avanço do projecto de
construção do império", o qual devia definir o legado
de Obama, foi enfraquecido pelo enorme custo de atender aos conselhos e
directivas dos lealistas a Israel dentro da sua administração.
Israel, uma das mais brutais potências coloniais, paradoxalmente e
não intencionalmente desempenhou um grande papel na minagem dos
esforços de Obama para reverter o declínio do império e
avançar as dimensões diplomáticas e económicas da
construção do império.
Resultados e perspectivas: A avançar o império no período
pós neoliberal
O temerário esforço de Obama para avançar o império
na segunda década do século XXI é muito mais perigoso que
o dos seus antecessores no fim do século XX. A Rússia
recuperou-se. Já não é o estado em
desintegração que Bush e Clinton desmembraram e pilharam. A China
já não é mais uma economia de mercado em ascensão
tão ansiosa para comerciar com os EUA enquanto fazia vista grossa a
incursões americanas em águas territoriais chinesas. Hoje a China
é uma grande potência económica, exercendo alavancagem
económica na forma de US$3 milhões de milhões em bilhetes
do Tesouro dos EUA. A China já não tolera interferência dos
EUA na sua política interna está desejosa de suprimir
separatistas étnicos e terroristas apoiados pelos EUA.
A América Latina, incluindo a Venezuela, desenvolveu
organizações regionais autónomas, diversificou seus
mercados para a Ásia e estabeleceu um poderoso consenso pós
neoliberal. A Venezuela transformou seu militares, outrora o instrumento
favorito de golpes engendrados pelos EUA, numa fortaleza da ordem
democrática existente.
O caminho eleitores para a construção do império
estado-unidense foi fechado ou exige duro "supervisão"
imperial para assegurar "resultados favoráveis". A nova
política escolhida por Washington é a violência: recrutar a
ralé para acções, extremistas mercenários,
terroristas islamistas e uighures, neo-nazis e toda a escumalha do mundo para o
seu serviço.
O balanço de seis anos de "avanço do império"
sob Obama é duvidoso. O derrube violento do presidente Kadafi não
levou a um regime cliente estável: a destruição total e o
caos na Líbia solaparam a presença imperial. A Síria
está sob ataque mas por islamistas fanáticos anti-ocidentais. A
derrota de Assad não "avançará o império"
na medida em que expandirá o poder do Islão radical (incluindo a
Al Qaeda).
O regime fantoche na Ucrânia, de neoliberais e neo-nazis, está
literalmente em bancarrota, dilacerado por conflitos internos e enfrentando
profundas divisões regionais. A Rússia está
ameaçada, mas seus líderes adoptaram acção militar
decisiva para defender seus aliados da Criméia e suas bases militares
estratégicas.
Obama provocou e ameaçou adversários mas não assegurou
muito em termos de aliados válidos ou de clientes. Seus esforços
para replicar os avanços imperiais da década de 1990 fracassaram
porque mudaram as correlações de força entre a Europa e a
Rússia, o Japão e a China, a Venezuela e a Colômbia.
Mandatários, drones predadores e as US Special Forces não
são capazes de reverter o recuo. A crise económica cortou
demasiado profundamente; a exaustão interna com o império
é demasiado generalizada. O custo de sustentar Israel é demasiado
alto. Avançar o império nestas circunstâncias é um
jogo perigoso: arrisca uma guerra nuclear maior para ultrapassar a adversidade
e o recuo.
09/Março/2014
O original encontra-se em
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Este artigo encontra-se em
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